Silêncio

Foto de Carmen Lúcia

Doces e amargas lembranças

Invade-me suave nostalgia.
Não chega a ser saudade,
nem a ser doída.
Mescla de melancolia com vestígio de dor,
sequelas de história interrompida
não sei por quem, nem porquê.
Talvez pela própria vida.

Doces e amargas lembranças...
Tons de azul em dégradé
abrindo-se quais cortinas
esvoaçantes como a brisa,
revelando, de relance, seu olhar
que já não vê...que não me vê.
E que gravei pra sempre recordar.

Olhar fixo num horizonte perdido;
isento de brilho, da habitual sensualidade,
declaração febril de amor “eternidade”
que em silêncio, incandescia,
deixando-me estarrecida,
entregue ao torpor da vibração exercida.

Ainda ouço música no ar...
Agora, inexpressiva, sem emoção.
Inacabada...
Outrora, melodia que ensandecia
ritmada,
em sintonia com o pulsar de coração.

Frágeis notas musicais
a derramar seus tristes ais
em gotas pálidas, delicados cristais...
Lágrimas fugazes que se esvaem
como o tempo que já não há mais.

Carmen Lúcia

Foto de betimartins

Na voz do meu poema

Sonho, um belo sonho de amor
Onde tu estás sempre presente
Tua voz preenche o meu coração
Tuas promessas são o amanhecer
Teus abraços à noite que esta a chegar
Eu estou aqui escrevendo um poema
Um poema só para ti, não sei, o que escrever
Todas as palavras são pequenas, curtas
Para tamanho amor, grandioso amor
Que escuta pacientemente, mesmo impiedoso
Mesmo compulsivo, ciumento e genioso
Juntos superamos, tempestades, tumultos
Caminhando, conduzindo as nossas mentes
No nosso amor, juntos de mãos dadas
Galgamos estradas, montanhas e mares
Dançamos à chuva e ao vento, sorrindo
Mesmo no nosso corpo, cansado pelo tempo
Somos ainda jovens, capazes de reescrever
Uma nova história, uma nova vida, sorrindo
Nos sons, na vitalidade do sol, do dia
No ar que respiro e no vento sempre fresco
Na terra que, nós os dois pisamos, quente
Eu ainda sou capaz de me sentir única
Ali contigo, encostada nos teus braços
Olhando o por do sol, no belo entardecer
Ainda sinto arrepios pelo teu terno olhar
Capazes de inspirar apenas um poema a ti
Repleto de belas palavras, palavras ditas a ti
Em segredos, na noite e no dia, que ainda virá
Mas onde! Apenas o silêncio é o nosso poema
Na voz do meu poema feito a ti, amor...

Betimartins

Foto de Paulo Gondim

SOMBRAS

SOMBAS
Paulo Gondim
27/05/2011

As luzes se apagaram, um sonho se foi
Com se foram as ilusões, os desejos
A vontade incontida, que não foi vivida
Tudo se foi, e ficou o sabor de teus beijos

A lua apenas aparece nas nuvens
E nem todas as noites são calmas
Com tua partida, tudo emudeceu
No duro silêncio de nossas almas

Um novo alvorecer ensaiou chegar
Mas logo se dissipou no caminho
Perdeu-se no primeiro vento
O vento que o levou e me faz sozinho

E entre vidas tristes e amargas
Vamos nós, por longas estradas
Como viajantes das negras noites
Como sombras que ficam nas calçadas

Foto de betimartins

No teu silêncio em silêncio

Busco o silêncio, aquele que acalma
Busco a minha alma em silêncio
Talvez para me encontrar a mim mesmo
Mas este silêncio louco me desgasta

Pois sinto confusa no meu silêncio
Foi o silêncio que busquei para entender
Porque sofre a minha alma tanto
E no silêncio ela chora com compulsão

De tanta perda de entes queridos
Eu sei que nada me pertence
Não é meu, nada e para sempre
Mas tento falar contigo meu Deus
No meu silêncio tento ir buscar as respostas
Porque tudo o que mais amo

Me retiram e levam para junto de ti
Eu sei que nada e ao acaso
Talvez a minha dor me faça crescer
Ir para mais perto de ti, em sofrimento

Mas este silêncio me mata em cada segundo
Nesta alma já de si tão sozinha e sofrida
Sei que será no silêncio de meditação
Que saberei as minhas respostas a dor
Meu Deus quanto mais silencio precisa
Esta pobre alma para chegar a ti….

Betimartins

Para escutar entrar aqui por favor

http://www.betimartins.prosaeverso.net/audio.php?cod=5412

No teu silêncio em silêncio‎ - Betimartins
Data: 22/07/2007
Créditos:
BetiMartins_NoTeuSilencio_Voz.FernandoReisCosta.mp3 (2,5MB )

Foto de Jósley D Mattos

ABISMO

Ícaro céu, raso abismo do ser
o cair dos sonhos sem pressa
de vida, asas presas atadas ao não ter...
ao léu, descaso inciso bel-prazer...
acessa meia-luz, sem essa!
Na pele à flor da alma,
consumo lembranças como se fossem bálsamo
mergulho com calma,
no austero útero da dança...o silêncio...o fim!
reconheço o breu, abrigo do avesso...
a cura, a procura...
me acho kamikaze dentro de mim...

Foto de Melquizedeque

Está escrito

Admiro cada palavra que escondo no meu não dizer
Tudo o que penso em ocultar, torna-se gritante no escrever silencioso
Apesar de não falar, certo estou de que do calar não sou escravo
Talvez tenhas razão ao mentires sobre minhas verdades

Cada gota de tinta que pinta meus papéis, um dia pintaram sua etérea beleza
Ao escrever, ando das igrejas aos bordéis à procura do desconhecido
Encontro leveza, a neblina e os mistérios do além. Meus passos não deixam rastros
Meu silêncio escreve enigmas velhos em novas páginas do livro da vida

Toda flor um dia murcha, ou se resseca em livros fechados
O que dizer ao beijar quem se ama? Pra que falar se o outro já entendeu?
Amo o silêncio e me calo sozinho. Por que dizer aquilo já estava escrito?
Pro acalento do útero retorno! Não preciso falar, mas apenas escutar o que já foi proferido.

(Melquizedeque de M. Alemão, 20 de maio de 2011)

Foto de Carmen Lúcia

Entre mágoas e decepções

De mágoa em mágoa vou levando a vida,
tropeço em falsidades e suavizo a caída.
A cada mágoa mais um degrau eu subo,
a cada falsidade, novo valor em mim descubro.

De dor em dor vou lapidando a alma
e a paz que trago em mim é o que me acalma.
Minha autenticidade eu nunca perco,
do essencial eu me acerco.

Decepções permeiam a nossa volta,
são obstáculos a nós impostos
que tendem a se reverter em revolta,
mas superá-los só nos dignifica,
nossa integridade é o que mais importa.

Faço da dor de se perder amigo
um tema triste para minha poesia
deixando o coração falar à revelia,
desabafando em silêncio esse desafio.

_Carmen Lúcia_

Foto de Melquizedeque

O silêncio de um morcego

No sótão da casa de Emília, havia um morcego que ali vivia
Os raios do sol jamais bateram em sua sensível pele
Um fantasmagórico ser que nenhum som emitia
Não era grande nem pequeno, nem filhote ou muito velho

Não se sabia de onde viera, nem parecia ser amigável
De cor negra e grande olhos, em suas asas se escondia
No escurecer do dia o sangue dos ratos o alimentava
Mas para cada rato assassinado, sua sede só crescia

Emília, uma inocente criança, não sabia do horror lhe viria a acontecer
Em uma sexta-feira, de nublado céu e lua cheia, barulhos no sótão escutou
Era meia noite, e seus pais já dormiam. Acorda assustada e, olha a janela
Estava um tanto escancarada e a luz da lua no chão batia

A curiosidade, em seu pequeno coração, aumentava ao som que ouvia
Extremamente aflita e angustiada, lentamente caminha até a porta
O ruído cresce... E o sangue de Emília, por um instante, parece que não existia
Ao olhar da fechadura nada de estranho encontrou

No fim do corredor, mais uma janela aberta avista. Imensa, larga, bucólica e horrenda
Sente um vento frio e sua pele arrepia. Mas o ruído que escutara parece ter uma direção
Ergue seus olhos e vê uma escada. Sobe sem pestanejar, sem ter idéia de para onde iria
O morcego percebe o som da porta que se abre. Voa velozmente para a parte mais sombria

Esse tenebroso ser se cala ao sentir o frenético bater do coração daquela menina
A armadilha é arquitetada pela mente sagaz de um animal ensandecido
Emília pergunta com voz baixa e muito trêmula: Olá! Tem alguém que possa me ouvir?
O morcego lhe responde: Falo pouco, quase nada, mas eu sou um bom ouvinte

Emília fica assustada, paralisada e emudecida. Tenta correr, mas não consegue
Parece estar entorpecida. Sua voz desaparece mesmo dentro de sua mente
O ar frio dá lugar ao quente no respirar dentre os dentes do monstro que lhe mordia
Seus olhos perdem a vida que lhe é totalmente aniquilada

No amanhecer, em seu corpo já não havia mais sangue e nem coração que pudesse bater
Parecia estar dormindo em um sono profundo. O cadáver é iluminado pela luz do novo dia
Seus pais ficaram atormentados à procura da menina. Gritavam bem alto seu nome
Mas o silêncio do sótão continuou... E a busca de seus pais até hoje não se findou.

(Melquizedeque de M. Alemão, 15 de maio de 2011)

Foto de Carmen Vervloet

RECANTO DO TEMPO

RECANTO DO TEMPO

Quando pensamos que veloz caminhava o tempo
sem dó de nós, pobres e frágeis mortais,
descobrimos o seu refúgio, o seu templo,
entre árvores, córregos, flores e animais.

A natureza exuberante intocada,
pela mão que quando toca, tudo aniquila,
pássaros bailando em bandos nas revoadas
orquestrando a vida que nasce tranquila.

O silêncio, a paz, a ímpar beleza
parecem que surgem ao abrir das flores,
na alvorada pincelada com singeleza,
num arco-íres tingido por suaves cores.

Lá começamos a construir nosso ninho
que sonhamos seja de alegrias permanentes,
ciscando as alegrias, como passarinho,
sugando o néctar da felicidade, calmamente!

Carmen Vervloet

Foto de betimartins

O fantasma do hospital pediátrico.

O fantasma do hospital pediátrico.

Era noite o João piorou, o seu câncer alastrava e seu tempo de vida era diminuto o seu caso já era bastante mais avançado, as dores eram muitas e precisava ser de novo medicado. Seus pais, o senhor Alfredo e dona Isabel pegaram no João e arrancaram com ele para o hospital, o seu medico já estava esperando ele, recomendou que fosse melhor internar e vigiar de mais perto.
João fez cara feia, era um menino lindo de olhos verdes, cabeça sem cabelo, mas um sorriso iluminado e franco, era bastante positivo e conformado com a sua doença, às vezes era ele que tranqüilizava a sua mãe. Mala já no carro e foram para hospital oncologia de Lisboa, lá tinham tudo, uma sala, repleta com novidades, desde PC, jogos, livros e até palhaços e pessoas muito simpáticas.
Faziam um bom trabalho, de convívio e auxilio, todos eram simpáticos e o João achou que isso até ia ajudar sua mãe a superar o que vinha ai. Ele sabia que tinha pouco tempo, seu amigo invisível já tinha falado a ele que se preparasse, apenas esperava por ele para fazer a passagem.
Logo lá chegaram, o medico medicou o João e mandou fazer mais uns exames para diagnosticar melhor o estado do João, ele já estava tendo falência de órgãos, seu caso estava mesmo muito mau.
João não era parvo ele lia os olhares das pessoas e sabia o que eles pensavam, sorria e apenas se conformava. Seu quarto era grande, tinha uma cama para sua mãe ficar ou seu pai, olhava para tudo com admiração, mas era muito equipado com maquinas, nada faltava ali. As dores aumentavam à medida que a morfina já não fazia efeito, ele já ficava muito cansado, ele tinha um dom que via o que outros não viam, ele conseguia comunicar com os mortos.
A noite veio e sua mãe adormeceu cansada, ele pode conversar com seu amigo invisível, queria contar as novidades, estranhamente ele o chamou, mas ele não apareceu, nada, estava assustado ele o ajudava a superar o tempo e as dores. A noite já ia alta, eram cerca de três horas da manhã e escutou um riso assustador e um gemido de uma menina, aterrorizada, dizendo:
- Deixa-me, por favor, não faças isso.
Desatando aos gritos, como ela gritava, ele não sabia como fazer, não podia sequer sair da sua cama com os tubos que ligaram nele. Fechou os olhos e pensou no seu amigo com força e pediu a Deus que enviasse seu amigo. Nada, absolutamente nada, que iria ser dele se aquela coisa o atacasse, ele chorou, teve medo, nunca tinha medo, mas naquele exato momento um arrepio atravessou a espinha.
A noite avançava, o silêncio imperava pelo hospital, não se escutava nada e de repente, ele escuta um arrastar de passos, pesados, um cheiro nauseabundo, para exatamente a na sua porta do quarto, o frio percorre seu corpo, queria gritar, não conseguia, a voz sumiu e ficou quieto e dando a impressão que estava a dormir.
A porta abriu-se, entra um palhaço, de aspecto horrendo, mal cheiroso, seus dentes estavam podres e seus olhos esvaiam sangue. Era horrendo, ele caminha em direção de sua cama, rindo de forma assustadora, rindo ele dizia:
- Este aqui vai ser meu, eu o vou levar comigo.
Rindo e maquiavélico, ele saiu do quarto, dando o menino como alma ganha no seu assombroso mundo. Logo ele escutou a voz da menina, chorando e gritando, estava gelado e sem saber o que devia fazer também que ele poderia fazer? Nada estava preso na cama.
A porta se abre de novo e entra uma enfermeira simpática, outra dose para ele ficar sem dor e adormecer, totalmente cansado e sem forças ele adormece.
Entra a luz pela janela do seu quarto, escutando os carrinhos de comida pelo corredor, agitação, vozes, agitação e vida. Satisfeito ele fica agradecido por ser dia, certamente aquela coisa horrenda não o vai chatear, se seu amigo aparecesse logo ele saberia o que fazer.
Na sala estava uma menina linda ainda muito pequenina, teria ai cerca de quatro anos, escutou pela sua voz que era a menina que chorava e gritava. Ela sorriu para o João, nisto ela modificou o seu rosto, ficou pálida, João olhou para onde ela estava a olhar, viu o palhaço horrendo acenando com a sua mão, cheia de sangue. Ele olhou para o João e desatou a rir assustadoramente. Jessica era o nome da menina, desatou a chorar.
- Eu não quero estar aqui, deixa-me ir para casa mama, por favor.
Desolada a mãe ficava sem saber o que fazer ela também estava muito mal já não agüentava mais nenhuma sessão de quimioterapia, já não havia mais nada a fazer, apenas esperar que ela não sofra muito.
João sabia que era naquela noite que algo muito ruim ai acontecer, ele sentia dentro de si, a noite logo veio, sua mãe não parava de chorar, o coração do João estava fraco, os rins quase nem mais funcionavam, os pulmões estavam também falhando, se dessem mais morfina, ele certamente teria falência cardíaca. O câncer ósseo espalhou-se rapidamente pelo seu corpo, a noite estava ficando mais silenciosa, seu amigo nada, sem sombra dele, se ao menos ele aparecesse, poderia o ajudar á Jessica.
Todos dormiam, estava um silêncio pesado, mortal, o ar estava sufocante, o medo invadia seu corpo, de repente escutasse um grito, um grito desesperante, volta o silêncio, que mata. Choros e correria, uma movimentação descomunal, escuta um medico falando no corredor:
- A Jessica, foi forte, apenas não compreendo, ela estava a começar responder ao tratamento e foi-se de repente, estranho.
Desolado ele fica com medo, foi o palhaço e agora sou eu. Olha para sua mãe e afaga seus cabelos, que estava dormindo aninhada em sua cama, ela sorriu dormindo, ele pensa quantas saudades eu vou ter dela e do meu pai.
Um lagrima cai pelo seu rosto, soava a despedida, lembrou as coisas boas e lindas que viveram, com os seus pais, logo tudo ia terminar.
Tudo voltou acalmar, ele queria dormir, mas não conseguia, logo voltou a escutar os passos assustadores, a porta se abre e ele decide não ter medo e lutar contra o palhaço, olhos esvaindo de sangue, voz tenebrosa, o cheiro nauseabundo era tudo o que ele conseguia sentir.
Ele enfrenta o palhaço tenta sugar a sua alma, o menino se defende fazendo uma oração que seu amigo ensinou algo acontece, o palhaço se esfuma e desfaz. Sumiu por completo e estranhamente, ele vê uma luz incrível, dela sai um anjo lindo, era seu amigo invisível, felizes eles, se abraçam e o anjo amigo fala para ele:
- João, tu mereces uma oportunidade, pois superaste a tua doença, foste gentil com os teus pais, foste valente e acreditaste no nosso Pai.
Sorrindo e suas mãos rodeadas de uma luz, uma linda luz verde clara que ele coloca no seu corpo e todo ele começa a vibrar e bilhar como uma magia, uma coisa de anjos mesmo.
Cansado e agradecido ele adormece, logo sua mãe o acorda para ser visto pelo medico, espanto o João estava com os batimentos cardíacos normais. Espantados fizeram exames e verificaram que ele estava curado, completamente curado.
João curou-se e o fantasma tira almas tinha desaparecido de vez, já não voltava para assustar as criancinhas e as levar para a escuridão

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