Dança

Foto de Marilene Anacleto

Doce Amor

Uma palavra não dita
inventa coisas
em nossas cabeças
E nossa mente
falante, falante,
deturpa, critica,
julga e condena
a nós mesmos
ou a alguém
Palavra, palavra,
palavra tem poder
poder de trazer
uma discórdia
uma doença.
Poder de trazer
um mal estar
feito uma azia...
Ai que azedume!!!

Vou falar... Vou dizer.
Falei tudo... Desabafei...
Não era o que pensei.
Foi-se o tormento e a dor
Era amor, doce amor.
Palavra, palavra,
palavra dita,
bendita,
traz a mente de paz
traz afeto capaz
do respiro de alívio
sem julgar mais
sem segurar ais.
Palavra, palavra,
que faz a dança
e se reúne ao canto
dos pássaros
em alegria e harmonia.
É um doce amor,
feito bolo de fubá
com banana,
assado na chapa
do fogão de lenha,
na folha da bananeira.
Ai que doçura...
Ai que saudade!!!

Foto de Carmen Lúcia

Morada da poesia

Ainda não sabia de poesia...
E seus olhinhos percorriam a fantasia.
Tudo podia...
Estar aqui ou alcançar estrelas
e sem nenhum esforço, conseguir tê-las.

Ainda não sabia de poesia...
E de seus passos, a mais linda coreografia,
de sua alma a expressão que traduzia
naquela dança, a vida que em si surgia.

Ainda não sabia de poesia...
Fixava seus olhos no desabrochar da flor
e a via pequena, gigante, de toda cor.
Nenhuma outra magia a tiraria desse torpor...

Ainda não sabia de poesia...
Seus pés descalços na água do mar
transformavam sal em açúcar
e as ondas brancas, golfadas de algodão-doce,
batizavam seu corpo de menina e moça.

Percebeu a poesia...
Ao descobrir o descompasso de seu coração.
Pulsações irreverentes, batidas diferentes,
e no papel
registrou o que sentia...

Sentiu a poesia...
Descobriu sua morada.
Por todos os cantos, recantos,
encantos e desencantos.
Viu-se cercada...

E a poesia mora
na lágrima que rola,
no sorriso que esconde a dor,
no riso anunciando amor.
No botão que se transforma em flor.

Ela está por toda a parte.
Basta apenas perceber
e do estado latente,
fazê-la acontecer.

_Carmen Lúcia_

Foto de Marilene Anacleto

Quando Ele Chega

Ele chega de noitinha.
No céu, a argêntea lua cheia
Então, tudo já sai da rotina
Corpo e alma, sua luz faisqueia.

Tira meu coração do peito,
Respirar eu já não posso.
Revira-me avesso a avesso,
Nem sei se sou corpo ou vento.

No beijo, derreto em seus braços,
E depois já não sei se acontece
É alegria, amor ou de esperança.

Só sei que em meio a uma dança
Entre suspiros de côncavo e convexo
Já não sei se sou eu ou se é o universo.

Foto de Marilene Anacleto

Diário de Uma Princesa

Porque eu sou uma princesa
Não podia cantar, dançar nem chorar

Acreditava em contos de fadas
Para sair do palácio e ser eu mesma.

Encontrei o encantado. Casei. Novo palácio
Rosas vermelhas no vaso, tudo no horário marcado

O tempo passou. Risos, rosas, tudo acabou
O príncipe tornou-se sapo e eu muito chorava

- E os ‘felizes para sempre que a senhora me contava?’
Nada pode me responder a rainha encabulada.

Então eu fugi de casa. Sozinha, saí em viagem
Conheci os apuros do mar de emoções

Quase afogada, aprendi a nadar.
Agarrada em troncos na terra de ilusões

Subi as montanhas, entoei o meu canto
Encontrei minha dança, as poesias me encantam

Encontrei minha verdade. A vida é só louvor
Venci as adversidades, reconheço o meu valor
E encontrei um novo e sagrado amor.

Foto de Marilene Anacleto

Jardim

Jardim de jasmim
Jaz a tristeza,
Jaz o “ai de mim”.
Ouvem-se clarins.

Jardim de gnomos e querubins
Espargem perfume de flor de cetim.

Fadinhas tocando seus cornetins
Fazem a dança dos trancelins,
A cheirar os botões da flor carmesim.

Nem espelhos, nem camarins,
Apenas dois seres a dizer ‘sim’,
À volta de lavandas e alecrins.

São só pinceladas desse jardim.
Para minha alma gêmea um vinho,
Um romance e rosas para mim.

Foto de Nailde Barreto

"Folhas Secas".

Folhas secas. ( Nailde Barreto - 05/06/2011 )

Inexplicável razão do sentimento, tormento!
Terapia relutante que faz intrigar o tempo,
Soluço incontestável, com lacrimejar marcante,
Observando a dança das folhas, pairando no vento.

Incabível sensação de loucura,
Cambaleia e contorce o coração,
Ação silenciosa, enigma da atroz prisão,
Como o som das folhas que tocam o chão.

Então, os galhos secos, sofridos,
Envolvidos com laços de emoção,
Acumulam rugas e marcas de uma vida,
Gritam e anseiam por renovação...

Perfeita harmonia, incógnita, paixão!
Previsível desfecho, liberdade!
E, a esperança dos galhos, imprudentemente, despidos,
Os fazem renovar e voltar a viver...

Cuja beleza, estará com a mesma brevidade,
Disposta no chão, contramão!
Enfeitando caminhos, marcando a vaidade,
E você, se foi com as folhas, agora, secas.
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Foto de Carmen Lúcia

Casamento

Já me casei muitas vezes...
Com meu trabalho, minha dança,
minhas mudanças e reveses,
minhas artes de criança...
Com tudo que me aprazia aliar...
Já me casei com alguns amigos,
os que conviveram comigo
e com os quais me identifiquei...
Casei-me com a alegria,
com a harmonia e a fantasia...
Com elas subi ao altar.
Separei-me da tristeza,
da desventura e crueza
que me fizeram chorar...
Casei-me com meus namorados
sem branco, sem aparatos,
sem compromisso no papel.
Vivi várias luas-de-mel!

Hoje me sinto bem...
Faço tudo que me convém,
emocionalmente divorciada,
nem só, nem abandonada...
Pela vida, apaixonada.
Casamento é simplesmente
festa dentro da gente...
Felicidade aparente
é morrer a cada instante,
e cada instante é importante
para a autenticidade da gente.

(Carmen Lúcia)
23/09/2008

Foto de Marilene Anacleto

Torneira

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Torneira lentamente a gotejar
Primeiro impulso: apertar
Para não desperdiçar.

Não. A água está criando
Maneira de se libertar

Por quantos quilômetros presa
Encanamentos e tanques
Recebe química em montes
Não dança mais como antes

Morreu para o cheiro da mata
Esqueceu a companhia das folhas
Não é mais o espelho da floresta
Que abriga ninhos de rolas

Sem vislumbrar o horizonte
Sem respirar o ar puro
Forma bolhinhas de lágrimas
Tenta sair do escuro

Quem sabe ainda leve anos
Para o encontro de irmãos seus
À semelhança dos homens
Em busca dos caminhos de Deus.

Marilene Anacleto

Foto de Jósley D Mattos

ABISMO

Ícaro céu, raso abismo do ser
o cair dos sonhos sem pressa
de vida, asas presas atadas ao não ter...
ao léu, descaso inciso bel-prazer...
acessa meia-luz, sem essa!
Na pele à flor da alma,
consumo lembranças como se fossem bálsamo
mergulho com calma,
no austero útero da dança...o silêncio...o fim!
reconheço o breu, abrigo do avesso...
a cura, a procura...
me acho kamikaze dentro de mim...

Foto de Marilene Anacleto

Aroeira

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AROEIRA

Os braços da memória
Pintam meu coração
Para reviver minha história.

Dos tempos de solidão
E uma alegria intensa
De viver minha emoção

A cada canto sonoro, corria,
Para ver qual era o pássaro
Que dançava a alegria.

A cada pingo de chuva,
Nas folhas, das madrugadas
Corria a abrir a janela
Para sentir o abraço
Das gotas diamantadas.

E o café da manhã
Na alegria do afã
E a dança da aroeira

Carregadinha de flor
Dançando a brincadeira
Dos pássaros ao seu redor

Despenteavam a cabeleira
E derrubavam os enfeites
Da minha rica aroeira.

A minha amada aroeira
Reserva toda a energia,
Agora podada e altaneira,

Vai atrair a passarada inteira
Vai pintar mais flores novas
E transformar-se em vermelha.

Marilene Anacleto

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