Ah, meu amor, me abraça! Me abraça!
E deixa o calor do corpo teu
No meu, agora, que a vida nos desenlaça.
Ah, meu amor, me abraça! Me abraça!
Antes que o dia nasça e o sol
Te leve para sempre, para longe de mim.
A lenta ronda da lua alta
Já vai cumprindo a sua jornada,
E o doido vento da madrugada,
Sem dó, empurra a noite para o fim.
Ah, mas antes que me deixes, aqui,
Neste degredo, me abraça, mais uma vez, me abraça!
Para que teu cheiro fique no meu cheiro,
E eu te respire a cada segundo que viver.
Vê estas mãos, agora tão vivas e cheias de ti?
Pois elas mesmas te mostrarão – quando voltares –
As infinitas mortes que vivi!
Estas mãos, mesmas, que colhem flores,
Sustentarão a espera, e todas as dores,
Tecendo histórias, cheias de amores,
Com a lã de pura e fina memória,
Produzida nas horas em que estavas aqui.
Ah, tivesse minha alma braços
E também ela te abraçava!
Porque a tua ausência pesa e
É sempre tão longe para onde vais...
Não tivesse, eu, a certeza de que voltavas...
Ah, saudade! Saudade!
Que seja efêmera a tua eternidade!
Amado corpo meu,
Agora, que o nosso amor vai embora,
Fiquemos em silêncio...