A noite me deu um forte abraço
E disse que, agora, precisava ir.
Gentilmente, beijei-lhe o rosto,
E fiquei à janela vendo-a partir.
De oeste, chegava o sol, suando,
Com a pressa que sempre tem,
De ir a tudo e a todos iluminando
Como se o escuro não fizesse bem.
O certo é que pouco importava,
Para mim, aquela movimentação:
Pois, se a um lado se ocultava o nada,
De outro brilhava a desolação.
(Tal qual minh’alma repartida,
Descolorida de desencanto:
Machuca-lhe tanto a despedida,
Mas, melhor, não lhe faz o reencontro.)
Pouco há a se fazer na vida
(Nesta que tenho, não a que anseio):
Senão estar pronto para despedidas,
E seguir sufocando o “Eu Renuncio!”