Blog de Arnault L. D.

Foto de Arnault L. D.

Até vir me acordar

Hoje sonhei com alguem
e lamentei acordar...
Pois, condenei a miragem,
aquele real em sonhar.

Hoje não quero dormir,
não quero ter que acordar.
Sofro aos olhos abrir,
pois, ela não vai estar...

Não quero mais ver espelhos.
Mas, enxergar-me por dentro.
Insone, olhos vermelhos...
Desequilibrar-me o centro.

E assim ficar tão cansado,
que acordado adormeça
e este sonhar, transloucado,
de despertar se esqueça.

Quero o torpor perdurar,
que o devaneio me leve.
Onde este alguem vai estar;
que a noite não seja breve.

Então não vou dormir,
somarei sono até não suportar...
Desfalecer, sem mais despedir,
ir até onde ela vir me acordar.

Foto de Arnault L. D.

Metafísica

O que é um apenas?
Se no mínimo, nada é sólido.
Pois, entre as células há espaços,
entre os milhões de zilhões de dezenas,
átomos flutuam, no inteiro inválido.
Orbitando por magia e não por laços.

O que nos mantém inteiros?
Se as partículas soltas giram
na atração de micro galáxias orbitam,
a compor o barro, vaso, flor e oleiros,
o sábio e os que deliram...
Sendo todos do mesmo, e diversos resultam.

Mas isto, não impede de dizermo-nos um.
O paradoxo, verdadeiro pode ser...
Se nada é inteiro, o todo é unido.
Então, o que nos difere do comum,
de elétrons gravitando no éter... ?
O pensar, etéreo, o querer puro e fluído.

Por isso, quando enlevados de amor
nos sentimos plenos; o querer move a balança.
És parte de mim, por você é: “Nós”.
E isto, é o mais próximo em teor
do inteiro. E há esperança
de dois formar um, e mais que sós.

Foto de Arnault L. D.

Leia-me em seus olhos

Quem sabe se o poeta escreve em tinta
e a poesia é mentira em sua rima?
Se a caneta é de uma cor retinta,
ou se o vermelho é de dor, e lagrima...

O choro que é filtrado em versos,
será que na alma é latente,
ou só do imaginário emersos?
Não se sabe... a ressonância mente.

Mas, se os olhos do poeta viram
as letras antes de escritas que veem...
Omitidas, ou que desprenderam,
virarão de quem as ler também.

No olhar de quem as leu e chora,
é sincera a métrica imposta.
A verdade do poema aflora,
nas retinas de quem “vê” e gosta.

É a verdade do leitor que sabe
se o poeta iludiu, ou se entregou.
Se o versar foi “do que não cabe”
em seus corações e transbordou...

Foto de Arnault L. D.

Nas nuvens e na areia

Nas areias da praia
e nas nuvens do céu,
os sonhos abrem a baia
e se espalham, confetes de papel...

Ali um gato... ou rosto de mulher...
É o vento a brincar de ciranda
e o desejo a compor com o querer,
as figuras que a sorte manda.

Na areia, o desenho de um coração
ou as letras de um nome.
Que as coisas concorrem na erosão.
Na maré, pé, vento... Some...

Mas, o céu permanece.
Com suas figuras a esperar
quem mais as vê e esquece.
Quereres soltos no ar.

E a areia, guarda segredo
do nome e dos corações
riscados num eterno enredo,
d'ora verdade, ora ilusões...

Foto de Arnault L. D.

Caixa de jóias

Olhos verdes feitos esmeraldas,
flora em forma de gema.
Lábios vermelhos, fogo, rubi.
Se há faltas, no calor são saldas.
A pele me traz um dilema:
Do opala ao quartzo-rosa vi...
Mas, nas madeixas. como grinaldas,
da noite, ônix tem o tema.
Todas as pedras são em si...

Na alma, a pureza do cristal,
a transformar o mal no bem.
O coração, o mar e o céu.
Então, Turquesa, o abissal...
E o topázio vejo também:
Sol amarelo, brilho do mel,
da doçura que lhe tão normal.
Como á concha a pérola que tem...
É brilhante, tesouro e não troféu.

Mas, uma riqueza viva, coral,
a crescer, como a luz no diamante.
Como estrelas confinadas no âmbar,
intactas desde o tempo virginal.
Colhidas da safira do azul distante
cravejado de astros, num Quilate impar.
Joias somadas em drusa, não mineral:
De carne e sentir; mulher e amante...
Mina de tesouros,que se abre no amar.

Foto de Arnault L. D.

Enganando Girassóis

Como as pontas atraem relâmpagos
e as abelhas são pelas cores;
como o colibri pelas flores
e as sereias aos náufragos.

Como as estrelas aos apaixonados
e os luares as marés;
o nove a completar-se em dez,
ou a cina aos predestinados.

Assim e você para mim.
A tornar-se a direção,
por meu rumo em colisão
das flores de seu jardim...

Como ferro magnetizado,
que busca uma só intenção.
O norte para o meu coração
é o estar ao seu lado...

Qual me houvesse dois sóis
quando passa brilhante, alegro a sigo.
Ao vê-la, acho que existe o perigo
de se enganarem os girassóis...

Foto de Arnault L. D.

Tricot

Olho a toalha de tricot
metros e metros de linha
curvas e ângulos, de “art deco”,
em cima da escrivaninha.

Infinidade de tramas
a tecer desenhos.
Crescentes e ramas,
como as ideias que tenho...

Pontos difusos em precisão
ocultos no todo a formarem
em detalhe: Confusão!
Nós entrelaçados a se ligarem.

Porém, isso é detalhe isolado.
No todo: Tricot... E beleza...
Feito de nós e emaranhado,
a enfeitar-me a mesa.

Olhar a toalha me alegra...
lembra-me algo seus nós,
lembra de ver na mesma regra
minha vida e a sua, nós.

Foto de Arnault L. D.

Frágil

A vida é frágil.
Os homens são frágeis,
os sonhos são delicados,
podem evanescer...
A vida é hostil,
Um lapso e eis...
Os planos traçados
podem se perder.

Do que tanto vale
perder-se em receio,
se o fim é tão débil,
efêmero e vago.
Pelo orgulho que cale,
ou vergonha do feio,
retira-se do que não se viu
o valor do que não é pago...

A vida é frágil.
Amores são frágeis,
quando estiver sozinho,
o que irá perdurar?
Lembre-se que o rio,
corre com águas, ágeis,
segue seu caminho
esquecendo-se, torna-se mar...

Se a água turvou,
logo é limpa na que torna.
O que era já passou,
enquanto estiver corrente.
A quem do correr privou,
a fluidez não retorna.
O rio assim secou:
Morto lago; mar ausente.

Foto de Arnault L. D.

De todas as formas

Eu a amo, de toda forma.
Desde compara-la a estrelas e flor,
ao silêncio e a mais bela música...
Não existe ao certo uma norma,
que comporte o quanto é o amor.
Uma coisa só não o explica.
Tudo, é assim, mais o que for...

Amo, com o calor da fogueira,
da sua pele quero o transpirar.
Ou trazer o vento, o arrepio frio.
De todo modo, toda maneira,
quero este amor, fazer, a amar.
Até do suor trazer o estio...
Êxtase em prazer, fazer chegar.

Amo você, de forma incerta...
Como se ama uma mulher,
Que tem as fases da maré e da Lua.
Faz maior o mar quando mais perto
e longe ainda o move, por mister.
Minhas vida é tal estivesse nua,
sem o vestido do seu ser.

Foto de Arnault L. D.

A fonte do poema

A fonte do poema é uma mina
que irrompe no solo ressequido.
Tal luz de pirilampo, que ilumina
onde pode, espera, o não cabido.

Tem do indomável o tom de cina
e do saber, além do que é vivido.
É cavalgar apenas tendo a crina.
Galopa Corcel sem ser conduzido...

Brota como a semente inusitada,
que germina no concreto e parede,
sem ter sido ali por ninguém plantada

A fonte do poema é encantada...
Quem dela bebe aumenta sua sede,
pois, é doce a água dela jorrada.

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