tristeza

Foto de Arnault L. D.

Das muitas vidas

Pelas infindas possibilidades
de cada história preterida,
de cada plano inconcebido
no decorrer das idades
a nos erudir a vida.
nas quais volto sem ter vivido.

Da curva que troca de estrada
e perde-se noutra e avança,
nos roubando a direção,
que após vê-se desperdiçada.
Perdida em toda esperança
de retornar aquela mão.

Resto como um erro de curso,
um deslocado de onde estou.
Algo de mim caiu no caminho.
E não há nenhum recurso
que torne ao que se acabou.
Em canto distante definho.

Como seria se ficado
qual lágrima, riso e prazer?
Nunca saberei... nunca saberei.
Que teria sido, acontecido
se naquela vida eu fora viver
De onde foste e eu não fiquei.

Foto de Arnault L. D.

As cruzes

Aderidos aos passos,
os problemas e as penas,
as aflições malditas.
Sem adiantar espaços,
veredas que mil trenas
mecem tal infinitas.

Estarão lá... comigo.
Junto a beleza das águas,
das luzes, das flores, tudo.
Nas rotas em que prossigo,
trôpego, pisando mágoas,
tentando ficar desnudo...

Mas, não do traje que conto.
É além dele... é da pele.
Porém, não há como despir ...
esta é como é, e pronto.
sem desligue, mude, sele.
E eles vão por onde eu ir.

No pensamento, no suor,
nas rugas e enxaquecas...
nos calos n’alma e dedo,
na estafa e no não sabor
que se liga as coisas secas
e refutam até o medo.

Foto de Sonia Delsin

NUM PISCAR DE OLHOS

Num piscar de olhos
O rio... tinha sumido
O amado... partido
O dia... morrido
...
O farfalhar das folhas
A nuvem
A estrela
A capela
Ela

...
Ela sempre observando
A mulher da face impassível
A mulher de olhos fixos no vazio
No rio
...
No rio

Foto de Sonia Delsin

DESOLAÇÃO

Mãos apertadas
Mãos atadas
Mãos... separadas

Foto de Sonia Delsin

DESOLAÇÃO

Mãos apertadas
Mãos atadas
Mãos... separadas

Foto de Sonia Delsin

DOIS MUNDOS

no espelho refletido
um mundo sem sentido
você e eu
eu e você
mãos que não chegaram
que não se alcançaram
no abismo do tempo
você e eu
dois mundos
fantasia e realidade
dois mundos conflitantes
nada mais como antes

Foto de Sonia Delsin

DIAS ILUMINADOS – DIAS TRISTONHOS

Recordo dias passados
Iluminados
Linda jovem rodopiando
Prados
Flores por todos os lados
...
Recordo um balanço na árvore
Ela subindo
Subindo
O céu quase alcançando
Ela cantando
...
Recordo um jovem sorrindo
Lindo, lindo
Todo ternura, gentileza
e beleza
...
Recordo um tronco caído
Um ser iludido
Um mundo dividido
...
Recordo o ontem longínquo
A moça do retrato trazendo no semblante tanta melancolia
Tudo por conta de uma despedida
“nunca mais estarei em tua vida”

Foto de Sonia Delsin

DEMORA

Não chega a hora
Demora!
Demora!
Por que não é como outrora?
Que vinhas correndo para meus braços
Que desejavas abraços?
Demora
Vai chegar a hora?

Foto de Arnault L. D.

A cor vermelha

Essa minha calma é falsa,
é desassombro, é escombro,
o ar inerte das ruínas,
a marcar que houve batalha.
Chego a duvidar se há pausa,
a ave que pousa meu ombro,
inerte, ou voa ao que destina?
Ao inexistir que se espalha.

Sequer o sonho movimenta,
esvai a alma em abandono,
se queda, lânguido e lasso.
Mesmo desperto, se assemelha
na inércia amena, que sustenta
a passividade do sono.
Mas, mentirosa a sei, disfarço
a dor; tensão; a cor vermelha...

O ar, só o éter disforme
as minhas vísceras afaga,
envolve, tal morno azeite
mixando ao mundo que dorme.
Torna em si tudo o que traga,
me desarma e sopra, aceite...
Talvez, corpo o limiar nem forme,
seja só o nada que vaga...

Foto de Arnault L. D.

Homem de gelo

Pelejo uma horrível luta,
aquela sem nenhuma glória.
Firo a alma, guerreira bruta
que impele a arroubos de fúria,
mas, não pode... é só a inércia,
sem ganhador, nem disputa.

A guerra de ficar parado,
sem ação, opção, reagir.
Quedo quieto, estagnado,
segurar firme os cães e sorrir,
na tortura de assim resistir.
Apanhar e ficar calado.

De não fazer nenhum apelo,
de aparentar que nunca dói,
que o sangue na veia é gelo,
que a alma a dor não corrói,
que a ferida que abri não dói.
O chorar, melhor não fazê-lo.

A não vitoria é meu missal.
É a viagem sem destino,
ir por ir... sem perguntar final
e cuidar para o desatino
não irromper se raciocino.
Pois o pensar, pode fazer mal.

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