Blog de Sonia Delsin

tua boca tinha um sabor agridoce
ela me trazia
o céu à terra
era convidativa
e ardente
era diferente
ao mesmo tempo me matava
e me fazia viver
tua boca
nunca vou esquecer

Num piscar de olhos
O rio... tinha sumido
O amado... partido
O dia... morrido
...
O farfalhar das folhas
A nuvem
A estrela
A capela
Ela

...
Ela sempre observando
A mulher da face impassível
A mulher de olhos fixos no vazio
No rio
...
No rio

Mãos apertadas
Mãos atadas
Mãos... separadas

Mãos apertadas
Mãos atadas
Mãos... separadas

na intimidade de meus lençóis eu sonhava
ia a lugares inusitados
barcos afundados
encontrava seres naufragados
ia aos confins do mundo
a baías desconhecidas
a remotos mares
ia, ia
e me compadecia
dos seres que encontrava
das situações
questionava quais seriam as razões
que motivos poderiam existir para tanta desolação?
era tudo estranho
e me parecia tão familiar
dentro do sonho eu me perguntava
que é isto? onde fica esse lugar?
foi aí que surgiu alguém
vi uns pés descalços vindo em minha direção
ergui os olhos, firmei a visão
ele transparecia em luz
pensei: é Jesus!

Deito os olhos na paisagem
Que viagem!
Vou de trem pelas campinas
Vejo as meninas
Elas me acenam
Vejo garotos
Tão marotos!
Eles me enviam beijos
Vejo adultos tão atentos
E outros distraídos

Vejo o povoado
O povo amado
Vejo a capela
A janela
E vejo você nela

Preencho o tempo com palavras
Loucas, avessas, travessas
Lindas, suaves, bem vindas
Palavras arredias... que me ferem fugir
E eu as persigo, ligo, digo
Digo...
Construo poesias, desfruto-as, absolvo-as ou as faço cativas
Palavras lascivas

(às vezes simplesmente as deixo flutuando dentro de minha cabeça)
Outras vezes não
Vou correndo escrevê-las
Para que as pessoas possam lê-las

E assim passo a vida entre elas
Por elas, para elas

E o silêncio?
O silêncio é apenas a suavidade da trégua
Da régua
... no medir do tempo

tua voz me chegou
de tão longe
veio me dizendo coisas...
que tanto eu queria ouvir
...
e eu acreditando
e eu sonhando
com tua chegada
eu dando risada
do irreal
do sonho
eu dando risada
plena madrugada!

no espelho refletido
um mundo sem sentido
você e eu
eu e você
mãos que não chegaram
que não se alcançaram
no abismo do tempo
você e eu
dois mundos
fantasia e realidade
dois mundos conflitantes
nada mais como antes

pai, eu acreditava nela
e a temia
temia te perder
...
Deus!
eu não conseguia entender
que não existe o “morrer”
...
pai, naquele instante que partiste
eu fiquei tão triste
não percebi que do teu corpo de carne
apenas te despiste
...
precisei estudar, precisei refletir
precisei começar a entender o “existir”
...
então meu pai
eu voltei a sorrir
...
sinto hoje que tu estás tão perto de mim
tantas vezes sinto que acompanhas o meu olhar pelos jardins do planeta
tem horas que me fazes careta
e me sorris docemente
tuas energias me acompanham
antigamente eu chorava quando finados chegava
agora não
eu apenas faço uma oração
e peço ao Pai Eterno que ela chegue para ti como um conforto
pai, nunca estiveste morto