revolta

Foto de Fernando Vieira

Eco sinistro

Eco sinistro
(Fernando Vieira)

Um UH LÁ LÁ bem sinistro
Pra muitos hipnotizarem
Será isso canção ou feitiço
Ou mensagens subliminares?

Isso é legal pra você?
Aplaudir essa louca varrida?
Tai! Não consigo entender
Como pode ser tão vazia

Ela faz dançar, envolver
Ou será que faz enlouquecer?
Quando canta tamanho absurdo
Poesias que não quero ler

Isso não legal para mim
O que os jovens estão escutando?
Muitas vezes sem mesmo entender
O que a música está passando...

Lamentável e ponto.

Foto de andrelipx

Máquina...

Podes não sentir nada, podes não dizer nada, mas eu sei o porquê desse teu silêncio sofredor, é um silêncio que mexe com as minhas entranhas, que penetra até a veia mais profunda do meu corpo. Não sei porque não falas... Sei que estas ai sempre em baixo e eu tento fazer de tudo por tudo para estares comigo, mas tu desapareces e não dizes nada. És como uma máquina as vezes, ficas sem te mexer e sem dizer nada, silencias e foges. Procuras algo, mas nãos sei o que é, cada vez que te sinto, não sinto nada senão um barulhinho que faz em redor do teu coração. Muda, porque tens que mudar, em vez de humano estas maquina, e em vez de seres sentimental, estás a transformar-te numa pessoa vazia... Só tens cabos dentro de ti, mas sentes algo, não queres exprimir porquê... Gostava de te compreender, mas não consigo, és vazia como uma maquina, mas lá no fundo a maquina ainda entende o que é sentir, o que é falar, e ainda tenta se exprimir. Tu não, é oco, sem nada por dentro, cada fio que tu tens começa a corroer, mesmo sendo de cobre, cada ligação que tens começa a desligar-se e perdes o que tens de melhor...Mas existe outro problema o teu olhar, a tua forma de falar é diferente, gostava de comparar com algo mais bonito, mas só me recai sobre a minha memoria uma coisa, pareces uma maquina.
Cada vez que tento olhar para o teu interior, só vejo ferrugem porque o teu sangue já não é sangue, mas óleo com vinagre, porque o açúcar que tinhas dentro de ti, e que te tornava doce ficou ácido, que agora te torna numa pessoa arrogante. Pensava que te podia mudar, mas o teu cérebro, já não é de carne mas de fios, cada cavidade de pensamento, foi preenchida pela cavidade de ligar uma ficha, cada brincadeira se transformou numa ordem, já não brincas, já não sentes, já não falas, já nada, porque tu és uma máquina. Podia dizer o que ainda em ti é carne, mas não adianta porque és uma maquina, e sendo uma maquina nada te serve o coração. Peço que voltes ao que eras, deixa de lado essa vida de oco, não sei se és feliz, mas volta ao que eras, não sejas maquina...sê humano...

[Texto dedicado a P03tiza]

Foto de Rute Mesquita

Maldito relógio!

Maldito sejas relógio!
Não me dás tempo de descanso…
Só sabes traduzir a minha vida em números…
Lanças vidas iludidas ao remanso
dos teus inúmeros.

Porque te achas com esse direito?
És morfológico?
Porque me chamas para a tua dança?
Se de mim pensas ter proveito,
não, descansa,
sou um ser com mais que um ‘lógico’.

Fazes uma contagem decrescente
corres supérfluo
às 6h marcas o sol nascente
e nos teus ponteiros eu fluo…

Quero acordar,
sem tempos, sem datas,
porque me manténs prisioneira?

Vais perseguir-me a vida inteira,
com a tua cifra,
dízima infinita, periódica…
Na tua racionalidade matemática
marcas o tempo em que matas…
fazes do tempo, uma temática
na qual só te embaraças.

Se recuas e avanças horas,
consoante as estações,
deixa as minhas de fora,
dessas homologações.

Arre! Cronometro, arre!

Foto de Monique Souza

Liberdade Juvenil

Deixe-me viver, pois já posso caminhar sozinha e dar meus próprios passos.
Já cansei de ficar de bobeira na clausura de tua casa, na barra da tua saia.
Quero ser eu mesma.
Quero me apaixonar, pela arte de descobrir novos caminhos á seguir.
Mas nem por isso desejo te deixar.
Não quero que me entendas mal, apenas quero que me aceites como eu sou.
Pois sabes que vim de ti, mas não sabes para onde vou. Na verdade nem eu sei, mas aqui estou.
Pronta para enfrentar o que eu tiver de passar nesse mundo em que você me colocou e me deu amor, mesmo tendo a sua dor.
Deve ser esse o teu maior defeito, o de não querer acreditar que um dia vou crescer e tudo isso irá mudar.
Tens medo do que eu vou fazer.
Tens medo que eu me machuque.
Mas hoje quero te dizer para não se preocupar, pois graças á você, aprendi a me cuidar.
E assim espero seguir o meu caminho sem te ferir, pois não quero ser ingrata com quem me ensinou a sorrir.

Foto de andrelipx

Olhar quebrado...

Quero encontrar-te, quero descobrir-te e quero olhar-te. Perdi o meu olhar, pedir o brilho não sol do anoitecer, por isso procuro-o. Vaguei-o mundos e oceanos a procura do meu olhar, daquilo que me fazia olhar e ver a beleza, será que estou corrompido, ou será que já não consigo olhar tanta beleza? Não sei. Quero-o só para mim, perdi-o, e alguém o encontrou, quero o meu olhar, para poder olhar com intensidade tudo o que há e deve ser olhado, quero ver as flores, as borboletas, os pássaros, as nuvens, o amor, a felicidade, mas não consigo nada, nem ver nem fazer ver. Dá-me uma hipótese, de voltar a olhar, só quero ver o infinito e o finito, quero ver o anoitecer e o amanhecer, não quero mais olhar e ver o que não quero, sinto-me sem brilho, sem algo que me mostre como sou e como devo de ser... Sou sentimentalista, infeliz, romântico, mas sem ti não sou nada... Perdi-te nas correntes do oceano, e tu não me quisestes mais por isso fugistes, só quero uma hipótese para voltar a olhar, para voltar a contemplar e a admirar tudo o que há de belo... Faço, crio, procuro e construo-o palavras para que este brilho me volte a encontrar e a ver-me outra vez. Estou incrédulo, sem fio condutor, sem metal que me ligue ao brilho, sem cobre que faça este brilho trabalhar, só me resta o que construo-o, estas palavras, estas consoantes e vogais, que depois formam um conjunto infinito de Palavras sentimentalistas, quero o meu olhar, o meu brilho, a minha vida... Volta para mim, não me deixes sem ti perco a pouca vida que me resta... Quero voltar a olhar para as flores do meu jardim e ver que não caem, mas sim rejuvenescem...Volta para mim peco-te, suplico-te, ponho-me de joelhos para te ter outra vez... Eu sei que fostes sem mim, mas que um dia vais regressar, e despertar o meu olhar... Ele está morte, e moribundo, com magoas e aguas... Quero que voltes e me dês a vontade de viver, porque afinal és o meu olhar, é o meu viver, é as minha fonte de alegria... Volta olhar...Dá-me uma hipótese, mas volta...

Foto de andrelipx

Tempo Perdido...

Passam-se dias, passam-se horas e eu aqui, sem ninguém e abandonado, quero um relógio novo, quero um que me faça voar e descobrir este mundo, quero um que me tire e que me mude, mas quero um que acima de tudo me torne alguém... Quero descobrir o que está para alem daqueles prados verdejantes onde reina a borboleta e trabalha a abelha, onde cheira a framboesa e deitamo-nos na erva, quero viajar e descobrir o mundo, quero perder-me num campo de flores num campo de frutas, porque aqui não sou nada, dentro dos segundos eu não sou nada, sou mais um ponteiro que roda e conta os segundos, eu quero ser o tempo, para poder viajar e descobrir tudo o que há de bom. Não quero desistir, mas sim lutar, quero sair desta prisão de segundos e passar para a liberdade de tempo. Quero recordar-me do passado de tudo de bom, das alegrias, das vivencias e de tudo de bom...Mas tenho um problema, o tempo parou, o tempo ficou perdido e por isso choro...Choro de tristeza de não puder ver o que quero ver, de não poder sentir o que sinto de não poder olhar o que quero, por isso está perdido, nestas magoas que o ponteiro dos segundos tem, nestas tristezas que ele possui, o ponteiro dos segundos começou a perder a força...Perde-a porque está perdido, neste mar de tristeza, neste mar de emoções más, neste areia sem fim, nestas memorias perdidas, já não trabalha, nem com alimentação vai lá, só chora, só grita, só perde a felicidade... Quer voltar a ser o mesmo, porque ele está perdido, passam-se dias, horas e eu e ele aqui sem saber o que fazer, por isso já não diz nada, fica imóvel, aquele Tic..Tic... deixou de tocar, deixou de falar, porque está a perder as forças, está a perder a vida, porque este tempo perdido reflecte em mim, porque somos um só, num tempo perdido, onde queremos encontrar o que há a encontrar, mas não temos força, para conseguir tudo o que queremos... Estamos perdidos, o tempo está perdido e por isso não há volta a dar, peço-te ponteiro não pares, toca, com força e vivacidade, não me deixes, dá-me o teu Tic...Tic... porque juntos vamos conseguir encontrar este tempo, a guardar este tempo e assim voltaremos a ser felizes... Não pares ponteiro não pares porque se para eu paro... e assim não seremos felizes... Luta e sê forte...

Foto de katielle gomes

deixe-me ir

Por favor
Não olhe mais para mim
Porque não suporto ver sua imagem

Não me dirija mais a palavra
Porque a sua falsa voz
Dói aos meus ouvidos

Por favor
Não diga que me ama
Porque agora
Duvido disso

Não me abrace mais
Porque esse seu carinho
Espanta-me
Entristece-me

Por favor
Deixe-me ir embora
Porque minha gratidão
Força-me a ficar aqui.

Foto de govuro

A UMA CECILIA

Encare-me da enésima com esses olhos andarilhos
Diga adeus sua boca como se ainda um passaro cantasse na aurora
Porque querem partir essas mãos mornas sobre os quadris extasiadas

Nao há nada que eu celebre, nada mais que sentir a chuva cravando-me as faces
E o teu olhar assim fuzilante, mil golpes de navalha, inúmeras noites de estrelas
Volva-me sem piedade e esqueça-me com violência

Porque quero apagar os teus braços suados da alma
Porque a vida ebuliu no fogo da nossa presença
Nas horas que deixamos o tempo fluir como um candeiro aceso

Haja bruma e chuva, ondas frias em que os veleiros se perdem
E te levem nessa enchurada superflua
Para o mais longe dos cais

Crie a vida dolorosas fronteiras, de solidão e de tormenta
Para que recordes dos meus olhos rogando-te mil piedades
E teu peito calando e sumindo
Como a estrela derradeira da alva.

Foto de Joel Fonseca Reis

Desligo o cabo

Desligo o cabo que te liga
À vida dormente
Deste palco de intriga
Qu’ está cheio de gente.

Mendigos não viram,
Deitados no chão
Suplicando a esmola
E um pedaço de pão.

Desligo os cabos que vos ligam
Ao teatro dos interesseiros.
O que querem só me fatigam
Por serem tão carniceiros.

Crianças que gritam
No fundo, inocentes.
Em canos se abrigam
Com frio, rangem os dentes.

Joel Fonseca Reis (16.Junho.2011)

Foto de betimartins

Poema do povo!

Poema do povo!

O povo é o maior poeta da nossa humanidade
Ele consegue em vez das rimas e das estrofes
Sorrindo, ele se transforma de forma capaz
No pouco pão e nas suas magras economias!

Então ele em vez de lindas palavras, floridas
Ele! Apenas se deixa morar em lugares frios
Em morros, em favelas e nas ruas, esquinas
Sorrindo!Alegre para a vida e as estatísticas...

As mães! Essas apenas ficam apenas aflitas
Pelas mãos, que traja uma arma apontada
Em vez de uma caneta de tinta e um caderno
E um simples tiro acerta aquele que fica na mira!

A mulher essa apenas é mais um desabafo
Do homem mal encrencado, mal resolvido
Que a estupra sai da cadeia em indulto, premiado
E logo encontra e desfaz inocência de uma criança...

E este poema é do povo, poema de desamor e de dor
Onde apenas! Na minha escrita correm rios de sangue
Onde não existe respeito, onde apenas existe!A heroína!
E logo, alguém morre ou é roubado pelo maldito vicio...

E que venha daí as leis, os indultos e os ladrões
Será a nossa maquina judiciária a maior punição?
Que na tinta do jornal corre a dor dos que já partiram
E nos telejornais apenas servem para níveis de audiência!

Mas o meu poema é do povo do que usa havaiana
Dos que correm para festas do funk, samba e outros
Onde a cerveja é a nota da rima do coração sofrido
Que apenas quer esquecer seu triste fado da vida aqui...

Pois é e na mesa deste poema aqui, o poema do povo
Apenas se vê feijão, com arroz aquecido numa panela
Já tão velha e gasta que nem sabe a cor dela! Um dia!
Ao som do batuque, das crianças chorando com fome...

Pois é meu poema! Apenas traja retalhos de sentimentos
Onde as palavras caem num esquecimento e se vestem
De um vermelho vivo, que corre pelas ruas e casas e esquinas
De uma justiça adormecida e desumana neste meu Brasil!

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