Mais um gole
Enquanto observo lá fora
Do alto,
Desta janela...
Sentindo o ar frio em meu rosto
Encolhendo-me como a querer proteger...
Proteger do que?
Se minha vontade...
É saber voar
Ir pra onde nada pese...
Meu corpo frio,
Meu cérebro a mil...
Somos pensantes
Ha, Ha, Ha...
Nunca somos um todo
Inteiro, de verdade.
O que me falta, já não sei.
E essa melancolia
Essa gana de não sei o que
Essa precisão...
Essa lucidez saudosa
De tempos, atitudes, horizontes...
Que se foram? Existiram?
Se tem alma
Este corpo a aprisiona...
Este corpo que padece
As ações do tempo
Das irresponsabilidades
De noites mal dormidas
Sabe-se lá com quem...
Sabe-se lá por que...
Dos tragos e tragos a mais...
Das risadas por diplomacia...
Dos choros por conveniência...
...desde o berço...
Dos amores por necessidade...
...de um colo no fim da noite de gemidos e fingimentos...
É tudo irreal, superficial...
Sou sozinha,
Sou uma peça,
Sou o desfecho...
...fundamental
Essa subserviência desnecessária
Esse interesse proposital
Essas décimas quintas intenções...
Não quero mais isso
Isso tudo me acaba
Isso tudo me sufoca
Mas não mata
Nunca mata
Nunca morre
Nunca mata...
O dia seguinte sempre segue
E ainda abro meus olhos
E ainda respiro este ar fétido
De gananciosa poluição
Não vale mais
Nunca valeu
Não tenho mais credibilidade
As fichas acabaram
Os sorrisos sinceros são milimetrados
Esporádicos, anulados
Por bombas caseiras e de efeito moral
Não dá pra ser inteiro,
Sou parte disso
Meus fragmentos sofrem
Como sorrir
Sinto meu sangue pulsar
Do outro lado dos continentes...
Com os mesmos olhos...
Que vêem o que não querem
Calo-me
Mas ainda vejo meu reflexo
Neste maldito espelho
Que não refleti o que o mundo determina
Mas...
Transparece a límpida alma
Que pouco importa
Sempre consigo me anular
Vou à busca dos meus
Este mundo não me pertence
Mas continua a flagelar
Pobres mortais
Dignos da esperança...
De etnias impostas por outrem
A condenar sem motivos
Desencorajando sonhos
Cortando as garras
E começando tudo de novo
Sem um fim plausivo
Agora recosto minha cabeça ao travesseiro
Sem alardes e acontecimentos
Deixo a inércia tomar conta
Do corpo
Da mente
Permitindo...
Querendo mais uma vez
Acalmar minha fúria
Atravessando uma senhora no farol...
Contribuindo pra cola com uma moeda...
Quem irá mudar o prisma do mundo...
Senhora Morrison
28/05/2006
Comentários
Senhora Morrison
Grande vôo pessoano, um poema para ser solvido, ter cada verso lambido língua da alma. Espetáculo de subjetividade.
"Vou à busca dos meus
Enquanto observo lá fora
Do alto,
Desta janela...
O dia seguinte sempre segue
E ainda abro meus olhos
Nunca somos um todo
Inteiro, de verdade.
Sou o desfecho...
...fundamental
Sou parte disso
Meus fragmentos sofrem
Sinto meu sangue pulsar
Do outro lado dos continentes...
Essas décimas quintas intenções...
Agora recosto minha cabeça ao travesseiro
Quem irá mudar o prisma do mundo...
Se minha vontade...
É saber voar
Se tem alma
Este corpo a aprisiona..."
Um canto a embalar o espírito. Meus parabéns Senhora, és Grande, nada deixas a desejar.
O que é isso?!?
Não diga isso Sebastião
Apesar de amar este texto...
Sei que tenho muita estrada pela frente para percorrer até chegar onde você esta no pedestal do meu coração...
Beijos...
~;-)
Sra. Morrison
Sra. Morrison
É tarde
É tarde senhora, agora já disse... A mim me pareceu um grande vôo, aí estão inseridas muitas e muitas sensações, eu gostei, gostei muito. Já o tinha comentado, e repito, traquilidade é ser consciente da tempestade. É um texto complexo, cheio de nuances psicológicas, denso e ritmado, o ritmo é tudo no poema.
Bem, eu já disse, e assim fica. Eu já vou Senhora, é tarde, e, como bem me lembras, ainda falta muita estrada, por todos os lados, tudo que vejo é vastidão, não sei mesmo por onde vou...
Isto tudo pode ser um bem... Mas é um Mal:
............................................."Mas não mata", morre?
...................................."Nunca mata", morre??
............................................."Nunca morre", Mata!!!!
...................................."Nunca mata", morre???
Qualquer um senhora, um só me bastaria, indiferente de tudo, já não me importo... Até Senhora Morrison, que lhe sejam concedidas as chaves e os segredos da Felicidade.