Era primavera. A exuberância das flores encantava os olhos. Dias amenos, onde a esperança pulsava no coração e a alegria dava um brilho mais intenso ao olhar. Lembro-me bem, final de setembro de 2006.
Nos palanques os mesmos discursos, as mesmas promessas criando uma falsa expectativa para o povo sofrido. Era véspera de eleição, tudo iria mudar para sempre. Hospitais seriam reformados e aparelhados, outros tantos seriam construídos, escolas para todos, desemprego coisa do passado, alimentos fartos, violência eliminada. Os jornais repletos de notícias de programas políticos brilhantemente desenhados em papel.
Maria que catava jornais para sobreviver, nem sabia destas notícias. A pobre coitada era analfabeta, provavelmente por falta de oportunidade, já que Maria não fugia à luta. Os jornais serviam-lhe apenas para conseguir alguns míseros “trocados” para matar a fome da família e, sobretudo para agasalhar seus filhos nas madrugadas mais frias. Eram lençóis, colchões e travesseiros para sua família que vivia sob uma ponte. Pobre Maria! Pobres crianças! Maltratadas, sofridas, criadas nas ruas, esmolando nos semáforos. Maria sofria, Maria chorava! Era analfabeta, miserável, mas amava seus filhos! E como amava... Lutava como uma leoa para proteger suas crias. Lutava e padecia, porque nem o mínimo conseguia. A fome espreitava com olhos de insídia.
Passaram-se dois anos e as promessas se perderam ao vento, os programas não saíram do papel. Os políticos eleitos desviando dinheiro numa corrupção jamais vista no nosso amado Brasil. Dinheiro em cueca, dinheiro em meias, dinheiro em malotes, em cofres residenciais, contas em paraísos fiscais. A impunidade reinando. E Maria continuava lá, na mesma vida miserável. Paulo, o filho mais velho, envolveu-se com drogas e morreu assassinado numa esquina de um bairro nobre da cidade. Teve a cabeça esmagada por uma pedra. Antonio, o filho caçula, morreu de uma simples pneumonia, nos corredores de um posto de saúde por falta de atendimento. Subnutrido não resistiu à doença.
Então Maria, na sua imensa dor disse: Homens, onde está o amor? A vida é dádiva de Deus e todos têm o dever de respeitá-la. Sou pobre, mas sou gente! Tiraram-me dois dos meus três únicos tesouros. Por negligência, por egoísmo, por crueldade, por falta de sensibilidade! O coração de vocês é de pedra! Foi esse coração de pedra que esmagou a cabeça do meu menino. Foi esse coração de pedra que não deu a ele a oportunidade de uma escola, de uma profissão. Foi também esse coração de pedra que desviou o dinheiro destinado à saúde. Vocês mataram meus filhos. Assassinos! Assassinos! Assassinos! E saiu desnorteada pelas ruas, seguida de Pedro, o filho que lhe restou.
Os jornais deram grande destaque ao fato, que logo foi esquecido. E tudo continuou do mesmo jeito. O desamor reinando nos Palácios, os corações secos da seiva do amor. A sujeira cercando a consciência de quem por falta de amor não quer contribuir para a evolução do ser humano, trapos, num monte de lixo.
Neste Novo Ano que se inicia vamos colocar em nossa lista de desejos o nosso pedido a Deus para que ilumine, oriente e guie nossos novos dirigentes para que elevem suas consciências para essa realidade tão triste e feia e que se comprometam de fato para que a fome, a miséria, o analfabetismo, a violência sejam extirpados de vez do nosso rico e amável Brasil. Que possam merecer verdadeiramente a confiança do povo que os elegeu. Assim seja!
Carmen Vervloet
Comentários
Carmen Vervloet/Fernanda Queiroz
Final de mês apertado, dia de prestar contas ao governo das obrigações que compõe os biilhões arrecadados.
Passando rapidamente para apaudir de pé minha querida amiga escritora.
Quero comentar calmamente depois, por hora pormovendo a nossa primeira página, declaro este pré-inicio ao mês de Maria, como "Dia de Maria" em homenagens ao lindo e sofrido textos de todas as "Marias" de nosso mundo.
Com meu mais profundo carinho, te abraço, Carmen
Fernanda Queiroz
Grande abraço.
Fernanda Queiroz
Fernanda Queiroz/CarmenVervloet
Querida Fernanda,
Tão bom seria se realmente o dinheiro dos nossos impostos fosse disponibilizado para que o povo brasileiro tivesse condições de vida mais dignas! Certamente existiriam muito menos "Marias" sofrendo por esse nosso amado Brasil!
Agradeço sinceramente, a honra da primeira página!
Com meu carinho e minha amizade, sempre.
Beijos,
Carmen
P/CARMEN VERVLOET/ CARMEN CECÍLIA
CarmenCecilia
Xará querida!
Comovente teu texto e real...
Quantas Marias existem por esse Brasil afora!
Quanta corrupção, anarquia, egocentrismo, tristeza...
E bem lembrado por Fernanda: final de mes, impostos mil...
Brasil talvez a maior carga tributária do mundo..., pra tanta coisa errada...
200.000.000 de vozes ecoam junto teu protesto...
Parabéns xará!
Beijossss
Carmen Cecilia
CarmenCecilia
Carmen Cecília/xará
Querida xará,
"... o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos tão mesquinhos, vai reduzir as ilusões a pó". (Cartola)
Tão bom seria se nossos governantes reduzissem a pó , não os sonhos e a esperança do povo sofrido e sim a falta de oportunidades, o desemprego, o analfabetismo, a fome, a miséria, etc... etc... etc... etc...
Agradeço seu consciente e sempre oportuno comentário!
Saudades mil!
Beijossssssssssss
Carmen
Carmen Vervloet/Sempre-Viva
...e viva as Marias desse nosso Brasil!
Carmen, como sempre você nos presenteia com uma pérola.
abração
Sempre-Viva
Sempre-Viva
Sempre-Viva/ Carmen
Querida amiga,
Sua presença é sempre um afago no meu coração!
Agradeço a Deus a oportunidade de tê-la conhecido!
Mil beijos,
Carmen
para Xará/Carmen Lúcia
Belíssimo texto, triste realidade!Mas não deixemos a esperança morrer, nem que se esvaneçam nossos sonhos. E que as "Marias"continuem com essa garra, com essa força, com essa abnegação, porque certamente no amor que delas provém está centrada a nossa esperança de um mundo melhor.
"Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida...."(Milton Nascimento)
Grande abraço e parabéns pelo texto!
Carmen Lúcia
Carmen Lúcia
Carmen Lúcia/Carmen Vervloet
Querida xará,
Muito bem colocado seu comentário. E essa gente tem manha, tem graça, tem sonho e a estranha mania de ter fé na vida, graças a Deus!
O povo brasileiro sempre se superando e dando a volta por cima, apesar dos pesares.
"Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Como um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a tudo
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar" (Chico Buarque)
Obrigada minha querida amiga, pelo comentário e presença.
Beijos,
Carmen
P/Carmen Vervloet....
Minha amiga...
Todos já comentaram tudo...
A mim só posso dizer ...Belíssimo texto!!!!...
Tantas Marias existem....e outras tantas virão...se não houver uma solução...
Mas a esperança é que jamais deve ser perdida...
Parabéns amiga...
Beijos:)
Enise
enise