Silêncio

Foto de Ednaschneider

Delírios

Quero ficar assim um pouco em silêncio
Só ouvindo você respirar...
Deitada sobre teu corpo, eu penso:
Como é bom te amar!

Você agora respira baixinho
E as batidas do coração voltaram ao normal
O sorriso meio sem jeito
Resultado do amor satisfeito
Do ritmo frenético, um pouco em desalinho
Na medida certa do que se chama “sensual”.

As pernas trêmulas,
Meu corpo colado ao teu!
Constatar que não foi prazer apenas.
Que é amor abençoado por Deus!

Ergo o rosto com carinho e desejos
Passeio sobre teu corpo...Vou até sua boca...
Com meus lábios digo com beijos
Que te amo...Que por ti sou louca.

Você se ergue na cama
Teu corpo já descansado...
E volta para mim com sede, com gana
Num ritmo meio apressado...

Deixando-me em chamas
Quando declaras que me quer
Quando declaras que me amas
Que sou tua mulher...
E que em mim derrama
O delírio do amor e do prazer.

Joana Darc Brasil*
*Direitos reservados à mesma.
11 de julho de 2007

Foto de Carmen Lúcia

Meus sentimentos

Quero libertar meus sentimentos
Abrir a gaiola do isolamento,
Deixá-los correr com o vento,
Sem represálias ou contratempos.

Que eles soprem as dunas,
Espalhem areias, revirem os montes,
Que brinquem de esconde-esconde
Nos labirintos e mistérios das ruínas.

Povoem os lugares vazios,
Transformem o silêncio em sonoros delírios,
Percorram terras e mares
E joguem pros ares corações bravios.

Que brilhem tal qual purpurina
Que à luz do sol faísca, fascina,
Que voem quais pássaros que migram
E levem aos poetas as mais belas rimas.

Foto de Fernando Poeta

Esta Tarde (O Livro de Minha Vida)

Em meio ao silêncio, acompanhado apenas de minha solidão,
Decidi vasculhar meu coração, e tentar escrever um livro sobre minha vida.
Não escolhi um título, apenas busquei quais capítulos encontravam-se gravados.

Muito poucas páginas foram escritas nos capítulos alegrias, pessoas que me amaram,
amigos verdadeiros e leais.

Muitas páginas nos capítulos dor, mágoa, sofrimento, insatisfação, descaso e ira.

Nenhuma página sobre qualidades, e muitas e muitas páginas sem fim, com todos os meus defeitos e erros...

Senti muita dor, pois não conseguia ler o livro de minha própria vida...

Sua capa surrada e já desgastada pelo tempo e por tantos sofrimentos e desacertos, continha ranhuras, cicatrizes de momentos infelizes e não esquecidos.

Este não era o livro que quis escrever, e não pensei que seria assim.

Lágrimas chegaram fáceis, silenciosas, precisas e quentes, e só então me dei conta que chorava, e sei que nem sempre é fácil contê-las.

Há muito tempo atrás, perdi a capacidade de rir quando queria chorar...

Tentei escapar e fechar o livro, porém por mais que tentá-se, mais me embrenhava em seu interior. Como se estivesse preso numa poça de lama movediça, que me puxava mais para baixo, neste caso era puxado mais para dentro, a cada movimento que fazia para libertar-me.

E todos os horrores ficaram expostos, todos os momentos que tentei deixar adormecido em meu íntimo e esquecer para sempre, pululavam sobre mim deixando-me tonto, enjoado, enojado.

Tornei-me Juiz, Promotor e Réu e não conseguia encontrar defesa, que justificassem os caminhos errados que segui.

A dor foi insuportável e sabia que não conseguiria sair inteiro desta expedição.

Amaldiçoando-me por ter iniciado essa jornada, busquei emergir deste pesadelo. Tinha de encontrar a saída, buscar uma salvação. Não poderia perecer dentro de meu próprio coração, pois então sim estaria completamente perdido.

Então encontrei a saída...

Descobri que a única saída, era continuar a escrever, era escrever por cima do que lá se encontrava. Escrever e apagar o que havia nos capítulos das dores, mágoas, sofrimento, insatisfação, descaso e ira.
Deveria apagar estes registros de meu coração, subscrevendo com alegrias, perdão, compaixão, paciência, atenção e calma.

E descobri que mesmo não sabendo qual o tempo que ainda teria para escrever, poderia começar desde já...

O início é sempre um começo, mesmo que depois sempre venha o fim...

Foto de Maiakovsky

Corpo de nuvens

Em meu leito minha querida:
teu corpo de nuvens,
tua inavasão torrencial.
Em monumentos de luz:
teu cobertor de verão,
teus céus de primavera,
as aves de tua pele.

Vez por outra, me deparo,
visto-me de teu beijo,
tua chuva, teu canto de silêncio.
Em minha pátria minha querida:
calotas onde moram vértices,
rosa-dos-ventos de teu corpo.

Minhas pernas em tuas pernas:
confusão das línguas de Babel,
ruidosas flautas, colunas romanas.
Cachos áureos de teu rosto,
toda perspectiva incontrolável,
toda folia de teus abraços.

Em minha noite querida minha:
tua aurora possante,
teus polos, teus magnetos,
o chão estrelado de teu colo.

Foto de tathaaa

Noite fria

A lua está tão linda
O vento tão frio, triste!

Meus olhos seguram uma lágrima
Meu coração apertado chora!

As estrelas se escondem,
O vento frio me assusta
O silêncio me afringe!

O seu amor vai pra longe
Vôa cada vez mais
A sua volta eu não sei, desconheço!

Tenho frio, medo, mais ninguem!
Cadê você, onde está?

Será que está pensando em mim?
Sentindo o vento?
Olhando a lua?
Procurando as estrelas?
Aonde você está?

Foto de Carmen Lúcia

Lembranças

Eucaliptos contornam estradas de chão,
Florinhas colorem beirais de caminhos,
Maritacas acordam todos passarinhos,
Olores campestres invadem o rincão.

O ranger das rodas do carro-de- boi
( Saudosa lembrança,tempo que se foi)
Desperta o sorriso no rostinho corado
Da menina que sonha com carro-de-boi-alado.

No morro o gado, o rastelo,o arado,
Vaquinhas leiteiras ... mato capinado,
Sem cercas de arame farpado, som de riacho...
E doce cascata bailando montanhas abaixo.

Os ultra-violetas do sol acariciam manhãs,
Fumaça de fogão à lenha sai das chaminés,
Cheirinho de doce de pêra,de cidra e maçã,
Bolo de fubá sobre a mesa,biscoitos de nata e café.

Ao pé da colina, em branco, uma capelinha,
A cruz trabalhada, telhado em tons rosa-grená,
Na hora da Ave-Maria silêncio e harmonia
E uma romaria sugere ao povo rezar.

Varanda da casa,calada... uma namoradeira...
Que guarda segredos, suspiros da vida inteira,
Nos cantos samambaias,avencas,xaxins pendurados,
Fim de tarde...Um berrante tristonho,chorando...
chamando o seu gado.

Foto de Fatima Cristina

Despedida!

Podias ter-me dito que ias sair da minha vida. A paixão é mesmo isto, nunca sabemos quando acaba ou se transforma em amor, e eu sabia que a tua paixão não iria resistir à erosão do tempo, ao frio dos dias, ao vazio da cama, ao silêncio da distância. Há um tempo para acreditar, um tempo para viver e um tempo para desistir, e nós tivemos muita sorte porque vivemos todos esses tempos no modo certo. Podias ter-me dito que querias conjugar o verbo desistir. Demorei muito tempo a aceitar que, às vezes, desistir é o mesmo que vencer, sem travar batalhas. Antigamente pensava que não, que quem desiste perde sempre, que a subtracção é a arma mais cobarde dos amantes, e o silêncio a forma mais injusta de deixar fenecer os sonhos. Mas a vida ensinou-me o contrário. Hoje sei que desistir é apenas um caminho possível, às vezes o único que os homens conhecem. Contigo aprendi que o amor é uma força misteriosa e divina. Sei que também aprendeste muito comigo, mais do que imaginas e do que agora consegues alcançar. Só o tempo te vai dar tudo o que de mim guardaste, esse tempo que é uma caixa que se abre ao contrário: de um lado estás tu, e do outro estou eu, a ver-te sem te poder tocar, a abraçar-te todas as noites antes de adormeceres e a cada manhã ao acordares. Não sei quando te voltarei a ver ou a ter notícias tuas, mas sabes uma coisa? Já não me importo, porque guardei-te no meu coração antes de partires. Numa noite perfeita entre tantas outras, liguei o meu coração ao teu com um fio invisível e troquei uma parte da tua alma com a minha, enquanto dormias.

Foto de Fatima Cristina

Camisa Branca!

Assim que cheguei à porta de casa percebi que estavas lá dentro. Rodei lentamente a chave na fechadura e nessa fracção de segundos fui assaltado por mil pensamentos. Estarias mesmo ali? Ao fim de tantos meses, depois de um silêncio tão grande? Claro que sim! O aroma do teu perfume é inconfundível e desde que cheguei ao Hall que fui invadido por ele.
Lentamente abri a porta e, como eu desejava, à minha frente estavas tu. Exactamente como sempre te imaginei. Tinhas a minha camisa branca vestida. Adoro ver-te com ela. E tu sabes disso, por isso a escolheste. As mangas levemente dobradas deixam ver a candura da tua pele, os botões, meio abertos, meio fechados, insinuam a curva do teu peito, a brancura do tecido deixa ver os contornos do teu corpo. Atrás de ti, e devido à claridade que entrava pela janela, visualizei a tua lingerie preta, as tuas pernas, e lá estavam as meias-ligas (huumm que sempre achei tão sexys).
Olhei-te nos olhos e percebi que lias os meus pensamentos. Tive vontade de te tirar a camisa branca, de te despir, de fazer amor contigo ali, no hall de entrada, e matar assim, todos os desejos, todas as saudades que tinha tuas. Mas tive medo de te assustar… (talvez por também eu estar assustado).
Aproximei-me, abracei-te com suavidade, com medo que fosses uma miragem e que eu estivesse a delirar. Com medo de te apertar com força e que tu te dissipasses como uma bola de sabão. «- É bom ter-te aqui.» Foi a única coisa que sussurrei enquanto senti o meu rosto tocar no teu. Senti o teu corpo tremer. Nunca percebi se tremias de frio, porque lá fora a neve baptizava os incautos que passeavam na rua, e tu vestias apenas a minha camisa branca, se tremias de emoção por me sentir ali tão perto. Não sei quanto tempo durou aquele abraço, mas senti que podia continuar assim o resto da noite… o resto da vida… e enquanto o abraço durasse, sabia que não ias voltar a partir.
Desprendeste-te do meu abraço e levaste-me para a cozinha. À minha espera estava uma mesa requintadamente preparada. Não esqueceste a elegância da toalha, a magia das velas, o meu vinho e o meu prato favoritos. Durante o jantar falaste de trivialidades e eu olhava-te sorridente e conversadora, com a minha camisa branca, e senti que não te podia voltar a perder, e que o teu lugar era ali.
Fui preparar o café. Continuei a observei-te e percebi que apesar do teu corpo estar ali tão perto, o teu espírito tinha-se ausentado. Vi o teu olhar perdido na janela, observando a Vida a fluir lá fora. Num flashback recuperei a memória dos dias em que te perdias na paisagem da minha janela.
«- É bom voltar a estar aqui.» Disseste, parecendo regressar. Por um momento senti a tua voz embargada e pensei que estivesses a chorar. Olhei-te novamente. Lá estavas tu, debruçada sobre a janela, com a minha camisa branca… e à contra luz voltei a ver os contornos do teu corpo…a tua lingerie preta… a renda das tuas ligas…Como uma trovoada inesperada de Agosto, aproximei-me de ti e tomei-te de assalto. Não pedi licença, não me fiz anunciar, tomei o teu corpo, no meu corpo, porque é meu, porque me pertence, porque ardia em desejo, porque quis fazer amor contigo desde que te vi ao entrar. E tu, entregaste-te como sempre fizeste, sem perguntar como nem porquê, deixaste-te ir como um rio que corre para o mar, como a folha que se deixa guiar pelo vento. E enquanto a neve gemia ao tocar nos vidros lá fora, tu gemias de prazer nos meus braços.
Fizemos amor ali, na mesa da minha cozinha, com a minha camisa branca a testemunhar aquela união dos nossos corpos. Levei-te para o quarto, para aquela cama tão fria desde que foste embora. Fizemos amor o resto da noite, como se quiséssemos recuperar todo o tempo perdido, como se tivéssemos medo que o tempo ainda nos voltasse a separar.
Adormeci exausto. Adormeci feliz. Estavas ali outra vez, em minha casa, no meu quarto, na minha cama, protegida pelos meus lençóis.
De manhã acordei… sozinho… uma brainstorming assolou os meus pensamentos. Teria sonhado contigo? Terias realmente estado ali? Teria feito amor contigo? Sinto tanto a tua falta que já não distingo os sonhos daquilo que é a realidade… mas parecia tão real… Fechei os olhos na esperança de voltar a sonhar contigo, aninhei-me no teu corpo imaginário, deslizei as minhas mãos pelo espaço que naquela cama te pertencia e senti, debaixo da almofada algo que me era familiar… Esbocei um sorriso. Levaste novamente o teu ser, o teu corpo, a tua alma, mas deixaste o teu perfume… na minha camisa branca.

Foto de tchejoao

Me Abraça!

Ah, meu amor, me abraça! Me abraça!
E deixa o calor do corpo teu
No meu, agora, que a vida nos desenlaça.

Ah, meu amor, me abraça! Me abraça!
Antes que o dia nasça e o sol
Te leve para sempre, para longe de mim.
A lenta ronda da lua alta
Já vai cumprindo a sua jornada,
E o doido vento da madrugada,
Sem dó, empurra a noite para o fim.

Ah, mas antes que me deixes, aqui,
Neste degredo, me abraça, mais uma vez, me abraça!
Para que teu cheiro fique no meu cheiro,
E eu te respire a cada segundo que viver.

Vê estas mãos, agora tão vivas e cheias de ti?
Pois elas mesmas te mostrarão – quando voltares –
As infinitas mortes que vivi!
Estas mãos, mesmas, que colhem flores,
Sustentarão a espera, e todas as dores,
Tecendo histórias, cheias de amores,
Com a lã de pura e fina memória,
Produzida nas horas em que estavas aqui.

Ah, tivesse minha alma braços
E também ela te abraçava!
Porque a tua ausência pesa e
É sempre tão longe para onde vais...

Não tivesse, eu, a certeza de que voltavas...

Ah, saudade! Saudade!
Que seja efêmera a tua eternidade!

Amado corpo meu,
Agora, que o nosso amor vai embora,
Fiquemos em silêncio...

Foto de angela lugo

Solidão...O que é?

Solidão... O que é?
É estar só em plena multidão
É sentir um amargor no coração
É cantar e não ter ninguém a escutar

Nada sinto no âmago da minha alma
Somente um imenso vazio fazendo eco
Tento olhar para dentro de mim mesma
Nada vejo apenas uma tenebrosa escuridão

Sinto a brisa passando causando calafrios
Meu corpo já sente a frieza do meu coração
Solidão é tudo o que se sente quando
Dentro da gente não se vê mais esperança

Quando tudo a nossa volta vira melancolia
Quando não percebemos mais o brilho do sol
Quando até a lua se esconde de nós
Quando percebemos quanta ingratidão recebemos

Ah! Esta ingratidão que acaba com nossos sonhos
Devorando-nos aos poucos com fome de silêncio
Fome de destruição de um coração amargurado
Pela falta de amor que o abandonou há tanto tempo

Deixe-me triste solidão... Vai-te embora!
Deixe meu coração libertado deste sentimento
Desta amargura que é estar neste silêncio
Quero esquecer este tempo que esteve a me devorar

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