Em meio ao silêncio, acompanhado apenas de minha solidão,
Decidi vasculhar meu coração, e tentar escrever um livro sobre minha vida.
Não escolhi um título, apenas busquei quais capítulos encontravam-se gravados.
Muito poucas páginas foram escritas nos capítulos alegrias, pessoas que me amaram,
amigos verdadeiros e leais.
Muitas páginas nos capítulos dor, mágoa, sofrimento, insatisfação, descaso e ira.
Nenhuma página sobre qualidades, e muitas e muitas páginas sem fim, com todos os meus defeitos e erros...
Senti muita dor, pois não conseguia ler o livro de minha própria vida...
Sua capa surrada e já desgastada pelo tempo e por tantos sofrimentos e desacertos, continha ranhuras, cicatrizes de momentos infelizes e não esquecidos.
Este não era o livro que quis escrever, e não pensei que seria assim.
Lágrimas chegaram fáceis, silenciosas, precisas e quentes, e só então me dei conta que chorava, e sei que nem sempre é fácil contê-las.
Há muito tempo atrás, perdi a capacidade de rir quando queria chorar...
Tentei escapar e fechar o livro, porém por mais que tentá-se, mais me embrenhava em seu interior. Como se estivesse preso numa poça de lama movediça, que me puxava mais para baixo, neste caso era puxado mais para dentro, a cada movimento que fazia para libertar-me.
E todos os horrores ficaram expostos, todos os momentos que tentei deixar adormecido em meu íntimo e esquecer para sempre, pululavam sobre mim deixando-me tonto, enjoado, enojado.
Tornei-me Juiz, Promotor e Réu e não conseguia encontrar defesa, que justificassem os caminhos errados que segui.
A dor foi insuportável e sabia que não conseguiria sair inteiro desta expedição.
Amaldiçoando-me por ter iniciado essa jornada, busquei emergir deste pesadelo. Tinha de encontrar a saída, buscar uma salvação. Não poderia perecer dentro de meu próprio coração, pois então sim estaria completamente perdido.
Então encontrei a saída...
Descobri que a única saída, era continuar a escrever, era escrever por cima do que lá se encontrava. Escrever e apagar o que havia nos capítulos das dores, mágoas, sofrimento, insatisfação, descaso e ira.
Deveria apagar estes registros de meu coração, subscrevendo com alegrias, perdão, compaixão, paciência, atenção e calma.
E descobri que mesmo não sabendo qual o tempo que ainda teria para escrever, poderia começar desde já...
O início é sempre um começo, mesmo que depois sempre venha o fim...
Comentários
Oi Fernando Poeta
Pode fechar o livro, dar uma pausa e voltara escrever, falar de amores, da beleza e das cores, escrever carinho, compaixão ou até mesmo ilusão... o que não pode é deixar de escrever, mesmo que seja reescrever uma história, um momento que pode mudar uma vida.
Grande abraço.
Fernanda Queiroz
Grande abraço.
Fernanda Queiroz