Folhas

Foto de Carmen Lúcia

Outono e saudade

O outono já me fez feliz...
Quando no tapete de folhas douradas
eu corria atrás do tempo
que quase se deixava pegar
pra me fazer acreditar
que apenas queria brincar...
quebrando a seriedade que lhe cabia,
senhor da razão, feitor de marcas e feridas,
e mostrar quão dourada era a vida,

O meu rosto confiante resplandecia
e todo meu corpo estremecia,
hipnotizado pelo reflexo do ouro
trazido pelos raios de sol
numa fusão com a cor da estação,
dando a impressão de que cada arrebol
era prenúncio de chegadas, sem despedidas.

Hoje o outono é saudade...
Não vejo o tapete de folhas,
só a cor destoada,
e encaro a verdade...
o vazio de árvores peladas,
lágrimas vertidas e amareladas.
Vêem o vento roubando-lhes as folhas
que tristonhas se enroscam no tempo
pedindo que as deixem ficar...
e assim eu me sinto...
perdida a vagar...

Carmen Lúcia

Foto de Eugenio Serlam

"Meias Palavras"

"Meias palavras"

Enquanto as palavras são repetidas
Em frases incompletas, soltas e perdidas
Eu tento compreender os teus intentos
E tu se inclina a ouvir o meu silêncio...

Sobre uma colcha de retalhos
De palavras adornadas,de "versos torcidos"
O vento anuncia uma sinfonia de falas
Que confortam os meus ouvidos...

Porém,o que dizer de "meias palavras"
Que foram ditas ou esboçadas
Que elas longe do íntimo olhar
Não conseguem penetrar a alma?

Quisera eu estar próximo dos teus olhos
Mas "tenho medo" das plavras em mim faltar
E se "meias palavras" não servem pra explicar
Que diras pois se só tiveres o meu olhar?

Enquanto "confundimos os sentimentos"
As palavras lançadas como folhas ao vento
Deixam rastros de várias respostas
Que nos teus olhos estão mais do que expostas...

O que fugura na essência de tais palavras
São apenas límpidas metáforas
Que transformam as verdades ditas
Em "meias palavras" reveladas e esquecidas...

Eugenio Serlam
Teresina/ janeiro de 2010

Foto de Carlos Henrique Costa

Cantador

Manhã, luz do sol marejando a brilhar,
Sobre o olhar penetrante de um cantador,
Que escreve um canto, de acalanto e amor,
A flor, que dorme em seu cobertor a sonhar.

Brisas serenas, fazem as serenatas, com soar:
Nas folhas, no moinho, no mar! Com esplendor,
Fazendo suaves e belas cantatas, com louvor,
Para a acordar do sono calmo e gostoso do lar.

Canta também um belo e veloz passarinho,
Que faz num vou e revoou, seu singelo ninho,
Perto da janela, onde dorme a minha Cinderela.

Aragem brisa, música sonífera no vento,
Por todo momento, pinta o céu de aquarela,
Para o nosso amor reviver esse sentimento.

Foto de silviaraujomotta

ENVELHECI SEM NOTAR (POEMA 1582) By Silvia Araujo Motta

ENVELHECI SEM NOTAR (POEMA 1582)

By Silvia Araujo Motta

Vejo nas folhas que caem
que o inverno vai chegar,
Nas estrelas que se apagam,
meu tempo de descansar.
Relógio?Desnecessário.
Valorizo minha hora,
no segundo extraordinário,
vivo pensando no “agora”.
Meio século de vida
e os sete cumpro a somar...
na música, amor, poesia,
Trago a missão bem cumprida
com metas, planos de um dia...
Nos sonhos e fantasias,
um trabalho útil, honroso
de incontáveis alegrias,
fez-me o mundo prazeroso.
Valores transcendentais
aos minutos cultivados
a buscar cada vez mais
espíritos elevados...
Ficarei “sex”? Pois sim!
Com perfeita lucidez?
SEXagenária? Ah! Sim...
Daqui a pouco é minha vez!
SEXOxigenada nos cabelos...
Mais adolescente, talvez...
A história de cada saudade
dos momentos e pessoas...
Olhos miúdos!!!!!Verdade!
Muito para recordar!
Tantos fatos! Coisas boas!
Na infância e maturidade!
Meus quinze ou vinte anos!
Milagres! Maturidade!
Recebi e dei nos carinhos,
amor, atenção, compreensão!
Trabalhei com inteligência,
para gostar do que fazia!
Filhos amados!...Meus amores!
Até netos... quem diria!
Lutei pra ter paciência!
Enfrentei tantos problemas!
Alguns conseguir vencer
pela Fé que me carrega.
Meu espelho interior
Diz-me até...que já cresci!
Da gravidez... na balança,
faço o parto da alegria...
Agradeço todo dia
a Deus, pelo meu talento,
pelo amor, pela alegria
e pelo conhecimento.
O sol nasce acima das nuvens
e a lua inteira brilha no lago
porque alta vive, a cada dia!
Envelheci e não vi...por isso,
começaria tudo outra vez.
Envelheci sem notar...

Foto de DENISE SEVERGNINI

"EU SEI QUE VOU TE AMAR"

Quando o sol deitar-se sobre a noite
E tu te abrires ao luar
Eu sei que vou te amar

_____________________Quando a água descer o véu da cachoeira
_____________________E tu gotejares pingos de mar
_____________________Eu sei que vou te amar

Quando a ave projetar-se sobre os ares
E tu flanares em meus braços
Eu sei que vou te amar

_____________________Quando a brisa revolver as folhas
_____________________E, teu amor, a eu ofertar
_____________________Eu sei que vou te amar

Quando tudo acontecer,
Mesmo que venha se perder
Eu sei que vou sempre te amar!

Foto de AjAraujo poeta humanista

As estações

V er soltas folhas a brincar
na canção da brisa no outono

V E rás livres pássaros, a migrar
no rumo das correntes no inverno

Ve R te a alegria no coração
na florida estação

Ver D e explode em cores e flores a primavera
no celeste céu da vida

Verd A de no perfume que encanta
a mãe-terra

Vere D a o astro-rei aproxima-se do planeta
em calor, praia e fantasia

Vertig E m com tanta luz, é chegado o verão
suor, cerveja, samba marcam a estação

AjAraújo, o poeta humanista.

Foto de Ana Botelho

NATAL PERMANENTE

Que não só nesta noite única,
Mas também, durante o ano inteiro
Todos tenhamos a suave presença
Do Anjo lindo e cristalino do Natal
Assim, o nosso deserto mais árido
Reverdecerá, a cada manhãzinha,
E o afago tranquilo do amor,
Cantará a sua eterna canção matinal
Aí, pediremos ao Anjo, toda vez
Que passar pela Terra, que nos abrace
E nos balsamize com a sua essência salutar
Alegrando os corações por igual
E que a solidão quando chegar,
Não seja importante, nem dure,
Porque Ele em nós sempre estará
Construindo um gesto universal,
Pautado na grande delicadeza,
Do vento, aliviador das agonias,
Que cochicha por entre as árvores
Toda a sua musicalidade habitual.
Seja em quaisquer momentos,
Desde o seco farfalhar das folhas,
Até o pesado murmurar das ondas,
Vencedoras dos recifes em coral,
A fim de que os pesos não arrebentem
Os nossos frágeis e doridos ombros,
Receberemos tão somente os ingredientes
Para temperar, na medida do nosso sal,
Durante os atos rotineiros que praticarmos
Porque eles serão o nosso eterno cartão
Para nos apresentar em qualquer situação
Terão o registro das nossas marcas individuais,
Pois arrastamos o que somos, e seremos,
O acúmulo de tudo o que pensarmos,
Fizermos e desejarmos ao outro, regatos
Perenes, em seus grandiosos mananciais
Que renascem e crescem a cada estímulo,
Onde todo o universo se completa
Entre vidas e sobrevidas intermináveis
Dos nossos preciosos projetos imortais.

Foto de Sonia Delsin

VIDA INTEIRA

VIDA INTEIRA

Cresci num lugar fantástico.
Eu via pássaros, o céu azul, tanto verde, animais...
Ouvia a cachoeira.
...
Pensava comigo.
Quero viver aqui a minha vida inteira.

Nem imaginava que tão cedo meu paraíso eu deixaria.
Minha terra era pura poesia.
Lá ficaram pedacinhos de mim.
Partículas.
Lá ficou meu coração latejando nas folhas das bananeiras.
Nas pereiras.
No jardim onde morava uma roseira príncipe negro.
Nunca cresci.
Nunca.
Esta que aqui vive é a menina que lá morava.
A mesma.
A mesma sonhadora.
A mesma guerreira.
Que armas eu tenho?
Um coração que consegue guardar o imenso, o eterno.
A terra da minha infância. As pessoas, as coisas, os cheiros.
Deus! Ó, Deus! Parece que ainda afundo o rosto nos travesseiros.
Eram de penas.
Não são lembranças apenas.

Foto de Ozeias

Orquestra da natureza

Primeiro, o vento
aquela coisa suave que toca tudo
que faz as folhas chiarem
os cabelos voarem
vento maestro.

Logo a seguir
as gotas começam a cair
fazendo aquele barulho que só ela faz
molhando a terra, renovando a vida
lavando as impurezas

Agora, um som poderoso
um estalo que faz a terra tremer
aquele som maravilhoso
que juro ser a voz de Deus
ordenando a natureza

Seguido, uma fresta de luz
entra pelo céu escuro
e o sol começa a surgir
como numa batalha final
a luz reina acabando com a escuridão

No fim, tem-se uma orquestra
da natureza que nos presenteia
com sua música perfeita
que as vezes não merecemos
que temos e não agradecemos.

Foto de AjAraujo poeta humanista

O Sentido da Amizade

Amizade é um ato de espontaneidade
Que radicaliza a possibilidade
Do encontro e da reciprocidade
Da convivência e da solidariedade

Verdadeira amizade não impõe limites na relação dialogal
Falam com franqueza e sinceridade
Palavras que voam como folhas soltas no clima outonal
Mas é na arte de escutar que se revela mais maturidade

Amigos não se encontram apenas alhures
Inda que a ausência nuble o espírito humano, estão presentes
Despertam vibrações e risos contidos
Libertam das correntes da vida, no simples ato de dizer “vamos”.

Amigos não ficam estáticos
Emergem da força cinética que por vezes nos oprime
E nos reposicionam na roda dinâmica, vívidos
Atos de doação, no compartilhar de uma vida “prime”.

Se há algo que não tem preço, não se compra nem se vende; não se forja; não se ganha; não se inventa; apenas se conquista – ato mútuo – esta é uma boa razão para ter amigos como vocês. Amigos riem e choram, partilham e solidarizam.

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