Chuva

Foto de Carmen Lúcia

Irracional

Terra ressequida
chuva tardia
cigarra cicia
vegetação vazia ...

Terra alagada
chuva prolongada
barranco que cai
casa desmoronada...

Rio que morre
lixo que corre
água poluída
não vai virar mar...

Céu que acinzenta
nuvem agourenta
chuva de ácido
o homem alimenta.

_Carmen Lúcia_

Foto de Marilene Anacleto

Amor de Madrugada

O canto do sabiá
Disputa os sons do tempo
Com a chuva que hora há

Cinco da manhã.
Os sons penetram na mata,
Seguem nas águas em afã.

Juntos seguimos o rumo
Da força da natureza,
No movimento noturno.

Meu sangue corre tranqüilo,
Numa energia vibrante
Sem pensar isso ou aquilo.

E o canto sobe a montanha,
A chuva penetra o chão.
Meu coração é quem ganha.

Foto de Cecília Santos

Velhos costumes

Estou com saudades de mim, de você, de nós.
De quando a canção enchia de amor meu coração.
De quando as palavras fluíam à todo instante.
De quando a alegria, sorria pra nós.
Estou com saudades, não sei bem do que!
Talvez da nossa amizade, do nosso bem querer.
Do tempo em que o riso era solto, a gargalhada inevitável.
Sinto falta das nossas conversas, das nossas tontices.
Das horas à fio em que passávamos juntas.
Sinto falta da chuva teimosa em cair, batendo na vidraça
despertando os sentidos.
Saudades dos dias de inverno, embaixo dos cobertores
assistindo tv.
Sinto saudades, que chegam sem ser anunciadas, que
arrebata minha
alma e se alojam em meu peito.
Sinto saudades dos seus olhos, onde neles eu me perdia.
Sinto falta da alegria que aqui morava e aos poucos se perdeu.
Sinto tantas saudades... saudades... saudades!!!
Que turva-me a visão, a ponto de não enxergar a sua saudade
indo embora, deixando comigo somente a solidão!

PS/ dedico a minha filha Fernanda
SP/06/2011*

Foto de Marilene Anacleto

Amigos Invisíveis

Quem de nós não tem dentro si
Um esmerado artista,
Um dançarino exímio,
Um grande médico,
Um inspirado músico?

Uma alquimista profícua
Que, com tecidos e grãos
Faz comidas saborosas
E roupas cheias de arte?

E o cantor, gentil e alegre,
E o palhaço, o humorista,
Em sonhos, luzes e asas,
A voar, um coreógrafo?

Quem são? De onde vêm?
Surgem quando nos esvaziamos
Das preocupações, dos danos
Que fazemos contra nós.

Nas tardes de sol ou chuva,
Nas noites de perdido sono,
Nos tempos em que nos lembramos
Que somos tudo e nada somos.

Então tremula a beleza,
A alegria e a leveza,
Portas trancadas são abertas.
Em vislumbres d’alma dançamos,

Cantamos, pintamos, cozinhamos,
Nascem os grandes remédios,
Pinturas sublimes geramos,

Somos filhos, pais e mães,
Choramos e sorrimos em rezas
Contamos histórias, dizemos versos
E nos tornamos poetas
A bailar pelo Universo.

Foto de Marilene Anacleto

Sereno Amor

Traz-me luz e quietude
A garoa que me chega,
Nos trabalhos manuais,
Nos dias de luzes acesas.

O movimento sereno,
A pressa da vida desfaz,
Respiração tranqüila, amena,
Recupera-me a energia da paz.

Essa paz que vem de dentro,
De fazer o que se quer,
Vem do movimento do encontro
De cada um com seu Ser.

Então cresce e contamina
Nos bolos de chuva da tarde.
Chega ele com um quente vinho
Abraços do amor que extravasa.

Foto de Edson Cumbane

DESENHOS DO TEMPO

Contemplo o tempo
Desenhando marcas no vento
Explanando as nuvens
Como deverá ser a próxima
Chuva… São desenhos do tempo!

Contemplo o tempo
Arquitectando tempestades
Que possivelmente
E simplesmente
Devastarão Cidades
Exterminarão a bonança…
São desenhos do tempo!

Que me sobrará após o tsunami
Se efectivamente despedaçar-me?
O meu coração ficará no Centro
Da Terra palpitando metro à metro
Excêntrica e eternamente!
São desenhos do tempo!

Tive amores, estive em dores
Houveram rumores de disabores
Que o tempo em nada mais
Que lembrança transformou.
São desenhos do tempo!

Tempo! Quem o pode setenciar?
Se ele é um deus de si mesmo
Caminhando cega e cruelmente
Ilusionista eterno e sempre crente
Rezando nunca olhar outrora!
Só Deus do Universo o pode setenciar!
São desenhos do tempo!

Foto de cnicolau

Chuva

Nada melhor que acordar pela manhã
ouvindo o som da chuva...
Sentindo seu cheiro...

Chuva essa que

Enalteça nossos pensamentos,
Lave nossa Alma,
Limpe nosso coração,
Regue nossos canteiros,
Abasteça nossa mente.

Chuva essa que

Nos brinde com um toque
divino de sabedoria, de
Paz e tranquilidade.

Que deixemos a chuva levar
todos os nossos pensamentos e
sentimentos ruins como

Ódio,
Rancor,
Mágoa,
Tristeza,
Egoísmo,
Solidão,
Intolerância.

Quero que chova, que chova muito,
sem parar, sem cessar...

Quero poder livrar-me de todos esses
sentimentos. Quero me tornar uma
pessoa pura, tanto de Alma como de Mente,
mas principalmente de Coração.

Quero minha Alma limpa, para poder
enfrentar e aprender melhor os caminhos
que Deus traçou;
Quero meu coração vazio, para poder
preenche-lo novamente com Amor, muito
Amor e Paz;
Quero minha mente tranquila, para
conseguir concentração em todos os
momentos que precisar. Conseguir
ler mais, aprender e me instruir.

Chova, que chova muito...

Mas que chova não só externamente,
que chova dentro de mim.

Chova, que chova muito...

Que limpe,
Que lave,
Que regue,

E que eu absorva...
Minha Alma agradece.

Cleverson Luiz Nicolau
02/07/2011

Foto de govuro

A UMA CECILIA

Encare-me da enésima com esses olhos andarilhos
Diga adeus sua boca como se ainda um passaro cantasse na aurora
Porque querem partir essas mãos mornas sobre os quadris extasiadas

Nao há nada que eu celebre, nada mais que sentir a chuva cravando-me as faces
E o teu olhar assim fuzilante, mil golpes de navalha, inúmeras noites de estrelas
Volva-me sem piedade e esqueça-me com violência

Porque quero apagar os teus braços suados da alma
Porque a vida ebuliu no fogo da nossa presença
Nas horas que deixamos o tempo fluir como um candeiro aceso

Haja bruma e chuva, ondas frias em que os veleiros se perdem
E te levem nessa enchurada superflua
Para o mais longe dos cais

Crie a vida dolorosas fronteiras, de solidão e de tormenta
Para que recordes dos meus olhos rogando-te mil piedades
E teu peito calando e sumindo
Como a estrela derradeira da alva.

Foto de Marilene Anacleto

Um Chá Quentinho

Domingo à tarde
Achega-se a chuva
Com vento e frio.

Queimo o açúcar,
Maçã em pedaços,
Esmago o gengibre.

Canela em pau,
Cravo amassado,
Água na medida.

Deixo bem cozido,
Mais uma fervura,
Co’um pouco de vinho.

Afinal, é inverno.
Uma boa bebida,
Afeto e carinho,

Aquece o sangue,
Acelera o peito,
Agita no frio.

Foto de betimartins

A Ponte do Arco-Íris

A Ponte do Arco-Íris

Entre as nuvens fofas e brancas
O rosado do sol pôr no final de tarde
A brisa fugiu rapidamente das encostas
O vento veio em força devastando o dia
As nuvens acinzentadas fizeram se sentir
A chuva veio em forma de granizo
Forte, poderosa, fria e devastadora
Os campos choram suas colheitas
As mulheres choram seus homens
Que no mar estão enfrentando as ondas
Tudo parece voar e tudo parece acabar
De repente uma calmaria, uma trégua
Toda a vida parece florir de novo
As flores reagem ao sol embriagado
Que entre as nuvens espreita cheio de sono
E eu olhando tudo ali, ali tudo era perfeito
Olho as encostas ainda de roupa molhada
E uma bela ponte entre o real e irreal
Colorida, entre os tons lilases, rosas
O azul violeta, deixando o verde sair
E apenas dando sua mão aos tons amarelos
Era um belo quadro, ninguém o pintaria
Vi fadas, anjos, todos trabalhando felizes
Olhei para meu gato, ali parecendo entender
Que apenas os meus olhos viam aquela ponte
A ponte do imaginável, do além que transforma
A beleza, a esperança e a bela luta da natureza
Que nós friamente devastamos, matamos
Amordaçamos os que a defendem, calando-os
Sem pensar mais, entro na ponte do arco-íris
Para nunca mais voltar, matei as saudades
Da minha passagem para a outra margem...

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