alegria

Foto de Carmen Lúcia

Persistência

Ainda que o cinza do céu
teime em embaçar o dia,
sei que por detrás da sombra,
há luz....

Ainda que as manhãs nasçam imperfeitas
regando dores manchadas pelo orvalho,
sei que surgirão outras cheias de cores,
orvalhadas de amores.

Ainda que das atrocidades gerem feridas
deixando rastros de sangue empoçado no chão,
a chuva forte levará as marcas
apagando-as do coração.

Ainda que meus sonhos se esfumacem
ante a inóspita recepção do tempo, da estação,
ainda assim sempre haverá um sabor
de alegria, de esperança, de desejo de vida,
nos lábios de quem recomeça faminto de emoção.

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

Ao entardecer...

O vento entoava sua canção,
às vezes suave,
balançando as folhas do trigal
que encenavam clássico bailado.
Por outras... rústica,
em ato de rebeldia
fazendo espatifar-se no ar, a poesia...
E as rimas se entrelaçarem pelo lusco-fusco,
chocando-se com as cores do crepúsculo.
E o verde-dourado-trigal, outrora angelical,
mudava seu tom, sua graduação,
transformando-se num camaleão.

Era o entardecer em rebelião
negando-se a dar passagem à noite...
Revoltando-se ante a escuridão
ameaçadora, extirpadora da empolgação,
agarrando-se aos últimos lampejos de sol,
tentando inibir a ida do arrebol.

Esquecera-se da luz da lua
que traz o prata, beleza nua,
das estrelas cintilantes
que inspiram os amantes...
Da alma que se acalma
e se entrega a essa paz,
quando a noite traz o luar
e os pisca-piscas a estrelar...

E o trigal, quando anoitece,
cala, emudece...Silenciosa prece.
Exerce seu mais inusitado gesto.
Reverencia o fim do dia
curvando-se até o chão.
Coreografia única, ato final.
E aguarda a manhã,
com sua luz matinal!

(Carmen Lúcia)

Foto de Marilene Anacleto

Desvendar Mistérios - 11 - Sou Vidente?

*
SOU VIDENTE?
*
*

Sou ridente, vejo coisas.
Sou vidente, rio das coisas.
Quando tudo está correto,
Avessam o universo.
Se o único certo é mudança
Assumo, entro na dança.
Faço poses, faço gestos,
Vejo coisas, desacertos.
O que me parece certo
Desavessa-se em incerto.
De início, sofrimento e pesar,
Lamento e choro, azar:
Conhecer incontáveis fatos,
Tornar-se incapaz de atos
Que possa amenizar
E, muito menos, mudar.
Nunca há certo ou errado.
Às vezes, sequer consumado.
Posso, é claro, pensar positivo,
Enquanto nada é definitivo.
Transformo-me, danço o inverso,
Torno-me contos e versos:
Consolo-me, aquieto-me, confio,
Venço mais um desafio.
Sou ridente, vejo coisas.
Sou vidente, rio das coisas.

Marilene Anacleto

Foto de ushihaxandre

FALOU E DISSE

No fim da cachaça vem a gandaia
No fim do mar, começo da praia
É no fim do joelho o começo da saia
O fim de um artista é o começo da vaia
Gavião da minha foice não pega pinto
Também a mão de pilão não joga peteca
O cabo da minha enxada não tem divisa
As meninas dos meus olhos não tem boneca
A bala do meu revólver não tem açucar
No cano da carabina não vai torneira
A porca do parafuso nunca deu cria
Na casa do joão-de-barro não tem goteira
Jacaré carrega serra mas nunca foi carpinteiro
O bode também tem barba e não precisa ir ao barbeiro
Galo também tem espora mas nunca foi cavaleiro
Sabiá canta bonito mas não pode ser violeiro
Vigário faz casamento mas vive todo solteiro
O cravo da ferradura não vai no doce
A serra da mantiqueira nunca serrou
A pata do meu cavalo não bota ovo
Eu não vou comer o pão que o diabo amassou
Os quatro reis do baralho não tem castelo
Também o quatro de paus não é de madeira
Por onde o navio passa não tem asfalto
Caminho que vai pra lua não tem poeira
Cachaça não da rasteira e derruba a gente
A lingua da fechadura não faz fofoca
Pra fazer esse pagode não foi brinquedo
Eu me virei do avesso e não sou pipoca

TIÃO CAREEIRO E PARDINHO

Foto de ushihaxandre

UMA COISA PUXA A OUTRA

O Machado sem o cabo
Não bota a mata no chão
Comandante sem soldado
Não forma seu batalhão
Sem bagunça e sem Baderna
quero ver minha nação
Uma coisa puxa a outra
Vai aqui minha opinião
Traidor da minha Pátria
não merece meu perdão
Sem o policial na rua
Não trabalha o escrivão
Sem juiz sem delegado
Não existe a prisão
O juiz e o delegado
Faz a lei e entra em ação
Uma coisa puxa a outra
Vai aqui minha opinião
O malandro vira santo
Quando o advogado é bão
Sem o animal de raça
Não existe exposição
Sem disputa e sem torneio
Não existe campeão
Sem boiada e sem tropa
Não tem festa do peão
Uma coisa puxa a outra
vai aqui minha opinião
O Rodeio de Barretos
Da o show de tradição
Sem o braço do caboclo
não existe produção
Não tem soja não tem trigo
Nem arroz e nem feijão
Sem auxilio da lavoura
Não vai nada pro fogão
Uma coisa puxa a outra
Vai aqui minha opinião
O que seria da cidade
Sem ajuda do sertão
Sem trabalho e sem luta
A gente não ganha o pão
Sem preguiça e sem moleza
A gente vira patrão
Pra quem gosta de moleza
Eu do sopa de algodão
Uma coisa puxa a outra
vai aqui minha opinião
Todos que vivem na sombra
Derrama o suor no chão

TIÃO CARREIRO E PARDINHO

Foto de Carmen Lúcia

Saber viver

Quero ver o sol sorrindo
abrir-se em raios amarelo-ouro
a circundar-me a luz de sua auréola
acariciando a alma, me aquecendo a pele.

Quero ver de perto a primavera
após a despedida do frio do inverno,
pra avaliar e apreciar o belo
e com ele, estabelecer um elo.

Quero banhos de cachoeira
sentindo o impacto de suas águas brancas
a energizar meu corpo, fazê-lo de remanso
e da mansidão da paz, eterna companheira.

Ver nas tardes lânguidas de outono,
folhas caindo; alimentar meus sonhos
de imagens ricas que vão se formando
e quando concretizados, pensar que estou sonhando.

Quero andar de bem com a vida,
em harmonia com o ontem, hoje e amanhã...
fazer da dor uma aliada, não uma vilã;
despir-me de rancores, vestir todos amores.

_Carmen Lúcia_

Foto de fsuguino

Sejam bem-vindos

Olá,
Estou iniciando minhas atividades por aqui e fico feliz em compartilhar conhecimentos, experiências e aprendizados com pessoas que, como eu, interessam-se em buscar e promover temas relacionados ao nosso desenvolvimento pessoal que aprimoramos todos os dias.
Sou psicóloga pela Universidade Mackenzie de São Paulo-SP e pós-graduada em Psicopatologia pelo instituto NAIPPE/USP. Nem é preciso dizer que, na minha área, o contato com pessoas é fundamental.
Espero conhecer gente nova, promover debates, discussões e reflexões que contribuam para o meu e o seu crescimento interno e pessoal.
Pessoas bem resolvidas deixam transparecer isso em todos os campos da vida e costumam acumular mais experiências bem sucedidas, seja no campo da afetividade, na vida profissional, no campo dos estudos ou nas relações familiares.
Espero contar com a sua participação! Relatos, perguntas e temas polêmicos são sempre bem-vindos!
Com carinho,
Fernanda Suguino
E-mail: fernanda.suguino@gmail.com
Page: http://gentecomgente.wordpress.com/

Foto de Osmar Fernandes

Muçanda

Minha roupa é estendida no varal.
Minha cama é uma rede na varanda.
As galinhas ciscam rindo no quintal.
Minha casa é cercada de muçanda.

Nunca usei no corpo uma grife.
Meu papagaio é um eterno imitador.
No meu terreiro sou xerife.
No meu coração jamais faltou amor.

Tenho vida simples, tenho liberdade.
Moro na montanha da paixão.
Sou caipira de verdade.

Sou cercado de sonho e esperança.
Acredito na libertação...
Tenho sessenta anos e ainda sou criança.

Osmar Soares Fernandes

Foto de Carmen Lúcia

Liberdade

Mostrei o que sou !
O que realmente modulava em mim;
fui contra as marés,
emergi de um abismo sem fim.
Cruzei linhas paralelas,
corri na contramão do vento, do tempo
e me alcancei na última estação...

Rasguei minha carne, expus meu avesso,
o meu contexto
e toda a sensibilidade verbal, emocional,
escondida em contra senso,
sufocando o bem, endeusando o mal.

Postei nua minha identidade
e toda a verdade antissocial ...
chocando a realidade dura.
Vomitei iniqüidades cruas
ingeridas por razão irracional
sob forte pressão radical.

Viajo sem malas...
Sem revolta ou bilhete de volta...
Sinto-me leve, sem nada que me pese,
sem alças das parafernálias
que pendurei num tempo que já teve fim.

Sigo só... melhor assim..
Insana, estranha, profana
é o que pensam e podem pensar de mim.

(Carmen Lúcia)

Foto de Marilene Anacleto

Ave Passageira

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O canto da ave passageira
Rompe o amanhecer e segue.
Outros sons dão vida à orquestra,
Num ritmo acelerado e breve.

Outros cantos, ouvirem-se fazem,
Mais além do que a vista alcança,
Remete a alma ao paraíso eterno,
Sigo com pássaros na suave dança.

A aragem toca-me a face,
Traz o aroma da liberdade.
Nesse espaço de segurança
Não há hora, manhã ou tarde.

O vento sacode árvores,
Sino dos ventos, em frenesi,
Movimentos e sons espargem,
Mas preciso levantar daqui.

A dança do universo prende-me
Aos cantos, aos sons, à aragem.
Ergo a cabeça , contemplo o brilho
Nas folhas alegres das árvores.

Segue seu ritmo, a dança, no dia,
Que presenteia um arco-íris no oeste.
A ameaça de guerra que paira,
É nada, na luz que a Terra veste.
Tudo é Luz. Neste instante, nada me fere.

Marilene Anacleto

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