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SOU VIDENTE?
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Sou ridente, vejo coisas.
Sou vidente, rio das coisas.
Quando tudo está correto,
Avessam o universo.
Se o único certo é mudança
Assumo, entro na dança.
Faço poses, faço gestos,
Vejo coisas, desacertos.
O que me parece certo
Desavessa-se em incerto.
De início, sofrimento e pesar,
Lamento e choro, azar:
Conhecer incontáveis fatos,
Tornar-se incapaz de atos
Que possa amenizar
E, muito menos, mudar.
Nunca há certo ou errado.
Às vezes, sequer consumado.
Posso, é claro, pensar positivo,
Enquanto nada é definitivo.
Transformo-me, danço o inverso,
Torno-me contos e versos:
Consolo-me, aquieto-me, confio,
Venço mais um desafio.
Sou ridente, vejo coisas.
Sou vidente, rio das coisas.
Marilene Anacleto