Vento

Foto de Fernanda Queiroz

Antes que o Ano Termine

Falta um dia para que o ano termine. Um dia intenso que pode mudar toda minha existência. Só preciso ter coragem e ir até onde você está... Antes, 450 km, agora 50 km. Por que veio para cá? Queria me confundir ainda mais? Estaria esperando que a proximidade me fizesse ser mais mulher... mais corajosa? Sabe que meu destino está traçado. Não me deixaram editá-lo. Sabe que não posso voltar, então porque não vem... Rouba-me, Toma-me, Leva-me para nosso mundo de sonhos; onde tua ausência presente foi marco de nossa história.

O sol está se pondo, o alaranjado de céu é o contraste perfeito com a relva que se estende verde e úmida pelas chuvas de dezembro. Tanta calmaria vem de contraste a minha alma conturbada e sofrida. Posso sentir meu coração batendo forte, tão forte quando o podia ver por aquela janelinha mágica do computador, cenário de nossa história, testemunha de nosso amor, cúmplice de nossos segredos, arquivo de momentos que perpetuarão dentro de mim. A brisa suave sopra. Parece querer brincar com meus cabelos, alheia a tempestade que envolve meu coração. Deixo a mente explorar o passado... Tão presente... Teus olhos, tua mania constante e única de apoiar teu rosto nas mãos. O sorriso espontâneo, a cara emburrada, os olhos se fechando de sono, e a vontade de ficar um tempo mais...e mais ...até o galo cantar...a madrugada... o sol nos encontrar ...felizes ou tristes...juntos.

A noite traz a transparência de minha alma, negra, sem luzes, sem amanhecer. Preciso me movimentar, sair deste marasmo de recordações. Thobias, meu companheiro de peripécias, que um dia correu tanto quanto no dia em que estouramos uma colméia; está selado, entende o que me vai à alma, conhece meu estado de espírito, sabe quando é preciso deixar as paisagens para trás, mais rápido, mais rápido, até se tornarem uma massa cinzenta, sem cor, ou forma retratando o mais profundo que existe em mim. Agora, no embalo do cavalgar, meus sonhos se afloram. Estou indo ao teu encontro, nossas mãos se tocarão, nossos corpos se unirão, nossos corações baterão em um só ritmo. A brisa tornou-se um vento tão gélido quantos minhas mãos que seguram as rédeas de um futuro-presente. Gotas de chuva descem sobre minha face, misturam-se as minhas lágrimas. Tenho a sensação de não estar chorando e sim caminhando para você. Na volta para casa nem o aconchego da lareira, o crepitar constante elevando as chamas transmite liberdade, as sombras sobrepõe à realidade que trará o amanhecer, elevo ás mãos solitárias tentando voltar ao tempo de criança onde elas davam vidas retratadas na parede imagens de bichinhos animados, mas não se movimentam, parecem presas ao aro de ouro reluzente que por poucas horas trocarão de mão fecundando o abismo que se posta diante de nós. O cansaço e as emoções imperam. Entre sombras e sonhos, meu pensamento repousa em você, na ilusão, nos sonhos, na saudade pulsante de momentos mágicos vividos, onde nossas almas se encontravam, onde nossos corpos não podiam estar. De desejos loucos e incontidos de poder realizar, antes que o ano se finde, antes que as horas levem tudo que posso te dar.

O amanhecer desponta, caminho a esmo, no escritório, ao lado direito da janela que desponta para colina verdejante (cenário de nossa história). O computador me atrai.. Você está off, está há apenas 50 km, mas em meus arquivos de vídeo teu rosto se faz presente, tua boca elabora a mímica de três palavras mágicas “EU TE AMO”.A musica no fundo é a mesma que partilhamos tantas vezes juntos COM TI RAMIRO, gravada em meu studio amador ao som de flauta. As notas enchem o ar, a melancolia prevalece, meu coração se enternece, “POR FAVOR, VENHA ME BUSCAR”, não vou conseguir sozinha, você sabe disso, é exigir demais de quem só soube amar, sem nunca saber lutar, sem nunca poder gritar, com um destino a cumprir, um dever de tempos idos e protocolados nos princípios de toda uma existência. O dia se arrasta imortalizando o passado. Estou diante do espelho, o rosto moreno não consegue esconder a palidez, o vestido branco de seda cai placidamente sobre meu corpo inerte. Vestido que outrora minha mãe usara com os olhos brilhantes de felicidade. Os meus não têm brilho, este fora reservado às perolas que adornam meus cabelos negros, sempre me achei parecida com ela, mas a imagem reflete somente uma semelhança física onde a mortalidade de meu semblante contradiz a vida de tempos passados.

Pedi que me deixassem ir só, queria ficar com meus pensamentos, onde você é soberano. Que bom que ninguém pode me tirar isto: tua imagem, teu sorriso, tua forma única de existir para mim, mesmo que em sonhos, mesmo que em lembranças, mesmo que em minha morte para a vida que se inicia. A escada imperial e central se desponta com teu corrimão de prata por onde desci tantas vezes lustrando-o com minhas vestes. Minhas mãos se apóiam nele, trêmulas, frias, para que eu não quede diante da realidade... Apenas trinta degraus? Deveria ser trezentos, três mil, ou trinta milhões? Eu os percorreria com gosto, antes de pisar na relva verde coberta por um tapete de pétalas de rosas que conduziam à capela. Porque desfolhá-las? Porque enfeitar a vida com a morte? Rosas brancas, pálidas como minha alma, desfolhadas e mortas como minha vida. Ao lado o lago que outrora me fazia sorrir, brincar e acreditar....queria parar...descalçar o pequeno sapatinho branco e sentir a frescura das águas elemento mais forte e presente da natureza em minha vida...mas agora não posso parar a poucos metros está minha rendição, meu destino onde o oculto será sempre meu presente, onde o passado será minha lembrança futura, onde você viverá eternamente, onde ninguém poderá jamais alcançar. A capela parecia lotada, não guardei rostos, somente sombras. No altar uma face, feliz, despreocupada, livre, sentado em uma cadeira de rodas estava papai, tuas pernas não mais suportavam me conduzir, teus braços que muito me embalaram, já não mais me apoiavam...segui em frente. Pensei em me voltar ..olhar para trás, mas não iria te encontrar. Palavras ditas e não ouvidas... trocas de alianças...abraços de felicitações....buquê lançado ao ar, festividades...todo ar de felicidade.

Faltavam dez minutos para findar o ano...minha existência já tinha terminado, o celular em cima do piano da sala...8 minutos...mãos tremulam ao aperta a tecla da re-discagem...minutos eternos...do outro lado a apenas 50 km, tua voz ...doce...amada...terna, parecia querer ouvir o que eu queria falar e não podia...engolindo as lágrimas. Apenas um pedido: seja feliz, seja feliz por nós dois...uma resposta que mais parecia um lamento, que por mais suave, parecia um grito...Seja feliz também.....um tum tum era o sinal de desligado....zero hora. Fogos explodindo no ar...

Fernanda Queiroz

Direitos Reservados

Foto de carlosmustang

DEJAVI

Meu bebe, és a perfeição
A moça compaixão
Que deliro e respeito
Regozijo que esta infeliz

E ama quem não existe
Deita em colo além
Vive ao vento
Tendo amor, ao relento

Me pega no voo da águia
Volvendo no meu desejo
Sentindo seu cheiro

Em acalento, posso ser
Fundamento,vou ser
Apegação, em revelação

Foto de Carmen Vervloet

Vitória do Pó de Minerio

Que tristes nódoas no teu céu anil,
resíduos negros rondam tuas praias
e nosso povo pacato e gentil,
não reclama, não grita, nem vaia!

Com as lembranças de um longínquo tempo
este teu mar outrora em azul pintado,
ondulado pelo sopro plangente do vento
chora a devastação de um recente passado.

É tanto pó espalhado em seus ares,
sinal do tempo que chamam progresso,
que as vassouras dançam aos pares.

E eu que amo tanto esta minha cidade,
escrevo versos sombrios, confesso
indignada com a inércia das autoridades.

Foto de poetisando

Esquecido

Esquecido das tempestades
Navego sem rumo certo
Vou navegando sem rota
Como navegando no deserto

Neste mar tenebroso
Que a minha vida leva
Não encontro porto seguro
Só o vento é que me leva

Ao sabor das marés
Assim vou navegando
Olhando bem o horizonte
Para ver onde estou chegando

Navego como eu gosto
Sozinho nesta minha solidão
No meio deste mar tenebroso
Soletrando a minha canção

Ao sabor das marés
Tudo me vem á cabeça
Lembrando o meu passado
Até que ele de novo adormeça

Esquecido das tempestades
Assim os dias vão passando
Navegando num deserto
Rumo certo procurando

Procuro acertar a minha rota
Para porto seguro encontrar
Para esquecer o passado
E num porto seguro atracar

De: António Candeias

Foto de Alexandre Montalvan

Jarro de Amor

Nada eu tenho nada eu possuo
Apenas no olhar me resta,
...uma certa esperança.

Ainda carrego comigo m'alma criança,
Percebo no aroma das rosas uma certa magia
Que encanta,
...Como ler Neruda ...Como ver Tarsila
E ainda escrever nas cinzas,
... Poesia

E te olhar nos olhos
E dizer ti amo
E brincar na areia
E correr no vento.

Fazer,
...Com que um céu cinzento
Vire primavera
Com flores e sonhos e beijos

Cheio de desejos,
...E eu à tua espera
Como um jarro imenso
Cheio de amor

Alexandre

Foto de Carmen Lúcia

Sem você...

Mais um dia sem você...
E ter que encarar a vida.
Esconder essa dor tão doída,
seguir adiante,
mostrar-me confiante
mesmo sem você...

Traçar nos lábios um sorriso,
fazer de conta que ainda existo
e na verdade, apenas resisto,
nesse mundo do faz- de- conta...
Porém a partida é lei da vida!

Que se sangrem todas as feridas!
Que se encham de lágrimas os oceanos!
Que se trunquem, se desfaçam os planos!
Ou se ausente a presença mais querida...
Ela é irreversível, inexorável, imbatível ...
Incompreensível, inevitável partida...

Como era lindo o nascer do sol...
Que trazia manhãs numa alegre canção
anunciando em louvor uma nova estação...
E as flores surgiam... Etérea aparição...
Os pássaros embalavam nossa emoção,
O vento cantava soprando as folhas
bailando no ar, morrendo no chão...
E o outono chegava dourando as paixões.

Cenário que já não me traz sensação.
Olho mas não vejo,
toco mas não sinto,
enche meu olhos,
mas não meu coração.
Música que ressoa
e não consigo ouvir.
Perfume que exala
e não penetra em mim...

Sem você...
Tudo ficou assim.

(Carmen Lúcia)

18/08/2008

Foto de Gabriela Bedalti

Se eu pudesse...

Ai se eu pudesse te guardar num vidro de conserva
e te trazer pra casa, pra enfeitar minha sala
para todos os dias eu poder te mirar
Ai se meus sonhos fossem realidade
e eu pudesse te transformar de verdade
num homem apaixonado, do modo mais desejado
ter você pra mim só pra mim.
Se ninguém, literalmente ninguém
interferisse, mas esse amor fosse um amém
ah! Sonhos de Gabriela, que tanto singela
Ah! acariciar você, e dizer tudo que penso
E ouvir de você tudo que eu desejo
ter você pra sempre sem sentir medo
do futuro, das pessoas e tudo
Quem dera pudesse ter algum sentido nessas palavras
que agora estão ao vento sendo jogadas
porque a realidade é outra, totalmente oposta
posso apenas te namorar com meu olhar
e com isso devo me contentar
pois já é o maior prazer que eu posso ter
ouvir o teu falar e teu sorriso ganhar.

Foto de SATURNNO

A Morte do Poeta na Tempestade das Letras

Em uma negra tempestade de letras desgarradas
Encontra-se o poeta em senis gargalhadas,
Pois também desgarrado caminha em suas jornadas.
E na intempérie das letras espargidas,
Acometido de insânias progressivas,
Segue em incessantes caminhadas,
Ainda em busca de rimas arrojadas.
Porém, sem precisas paradas,
Ressoavam apenas frases reprisadas,
Apenas versos replicados,
Apenas filmes do passado.
E, como toda tormenta, esta também passou.
Até que o poeta para dentro de si olhou,
E lá, um vasto e estéril vazio avistou.
No lugar do seu coração, apenas um galho que secou.
E neste, apenas uma folha verde encontrou,
Que murchou e caiu, lançou-se ao vento e revoou.
Exausto, triste e derrotado o poeta adormeceu,
E nunca mais acordou.

João F..R. 19/11/2012

Foto de Carmen Vervloet

Cidades Frias

Nas ruas cheias de gente
busco sorrisos, abraços,
apertos de mão,
gestos de cortesia!
Qualquer fragmento me satisfaz...
(Eu e esta minha mania de pensar
que tudo deve vir do coração!)
Abro os braços,
esqueço as rimas, presto atenção!
Meus olhos se abrem melosos
tentando atrair alguma abelhinha
ou quiçá um beija-flor
neste jardim não sei se de medo,
indiferença ou de pouco amor.
Mas tudo ilusão!
Entre passos apressados
encontro apenas
a mão do vento que me afaga
e vai embora
sem sequer olhar meu rosto.

Foto de Gomes S

Nada

.
.
.
.
Cego nas minhas caminhadas,
dessa vida desatento,
Caminhei por caminhar,
Fui levado pelo vento,
Mas não era o que pensei,
Pois pensei chegar num nada,
E o nada não existe,
Pois se o nada existisse,
Eu sei que nada eu saberia,
E por nada eu saber,
Um nada eu seria.

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