Trevas

Foto de Amy Cris

Mundo de mentiras

Estou consumida pelas trevas
Não posso escapar do que realmente sou
E nem quero
Desejo poder fugir de onde estou
Depois de tudo o que passei, só me restou a escuridão
Quantas vezes fui traída por esses seres desprezíveis que se dizem humanos?
É por tudo o que vivi, que declaro guerra a este maldito mundo de pura enganação
É besteira pensar que ainda floresça a bondade em alguém
Cada um só pensa em si mesmo
Há não ser que queiram se enganar,
a liberdade não existe
E tudo pelo que vivemos não passa de ilusão
Enquanto muitos fingem ser o que não são,
eu, que já me cansei dessas mentiras,
me entrego à morte,
nossa única salvação!

Foto de William Contraponto

O Show da Fé (Fé Cega II)

Não há muito a se fazer
As duvidas são inesperadas
E as dores mais covardes reaparecem
numa dessas madrugadas

todas as fichas foram apostadas
as cartas na manga... esmagadas
é melhor ter fé
e continuar a luta de pé
prosseguir, crer e não acreditar
que mesmo assim ainda pode perder

Dados lançados na escuridão
As velas acessas no porão
Remedem mais as trevas
Do que a busca de solução
Lembre amigo: só descobrindo o esquema
Virá a sua iluminação

Que fé é essa?
Nem com tantas promessas ele se salvou?
Que fé é essa?
Só conserva o que não presta
Sob a cabeça de quem nela se cegou
Talvez seja a luz das velas
O problema da falta de visão

Falta trabalho...salário... falta pão...
Mas o dogma lucra como nunca
Em tempos de show da fé na televisão

Foto de SANDRA FUENTES

CARTA A UM VAMPIRO

Prezado Senhor,

Não tenho mais sangue para lhe oferecer. Talvez esse meu rosto rosado possa ter confundido V.Sª. É o sol implacável deste mês de fevereiro. É verão, há muita luz entrando no meu quarto. Gostaria que mantivesse distância e não se aproximasse dos meus portões. As trevas que alimentam sua existência foram dissipadas pela luminosidade que carrego comigo. Seja prudente e saia apenas à noite, como de costume. Compreendo sua sede. Eu não suportaria viver uma eternidade pálida, atravessando séculos em um aposento onde cabe apenas meu corpo.
Deixarei durante o dia uma taça de vinho para V.Sª. Beba assim que a grande estrela desaparecer. Faça um brinde solitário. A mim. A nós. E aos meus olhos que continuarão negros.

Sem mais,

Sandra Fuentes

Foto de CarmenCecilia

O TEMPO E A HISTÓRIA

O TEMPO E A HISTÓRIA...

A história trás em seu bojo

Um repertório em que a memória

Contabiliza pedaços de lutas e glórias

De refrões e senões...

Escaladas... Trevas e luz...

Em que a letra não registra a contento

Lapsos emaranhados de tempo

Na cabeça a incerteza do momento

Passado e presente se mesclam

Que será do futuro?

Na ampulheta do tempo...

Fica a pergunta sem resposta

E na transitoriedade imposta

Há tanto dilema...

Há tanto poema...

Carmen Cecilia
04/03/2011

Foto de Amy Cris

Desistir e se arrepender

Uma lágrima
sem um sorriso
e um amor perdido
Mas qual é o sentido de chorar sem sofrer
de ter que escolher entre tristeza e dor
amor e felicidade?
Isso importa?
Minha alma já está morta
Não existe mais nada há não ser um vazio que me consome, me persegue
Desde aquela proposta
O que o demônio pediu e não pude fazer...
Porque te amo
Mas eu te perdi do mesmo jeito
Não foi possível te prender a mim
Teria sido melhor obedecer às trevas
E deixar que elas o tivessem possuído
Pois agora o que restou
Foi só arrependimento
Por não ter acabado com isso antes
Mas realmente não importa
Pois não há mais volta...

(...participação de uma grande amiga, Nicole)

Foto de Marilene Anacleto

Amo-Te

AMO-TE

Amo esses olhos e todas as histórias que eles contam.
Amo esse olhar que me devolve no olhar
As estrelas, o sol, a onda, a pedra, o cristal
E permite que eu tenha a cada instante
Um mundo sem igual.
Amo esses olhos.

Amo esse nariz que mostra o valor do teu eu
Amo esse nariz que me conta tuas lutas,
Demonstra teu poder de guerreiro
Mostra-me teu valor de sereno caminheiro
No ensinar os caminhos da paz
Amo esse nariz

Amo essa boca e todas as palavras ainda não ditas
Amo essa boca e todos os beijos que ainda não deu
Essa boca, cuja voz é suave sereno
É manto aquecido e ameno, instrumento do espírito
Retorna-me ao ser vivaz quando não sou mais capaz
Amo essa boca

Amo esse coração que é tão, mas tão grande
Amo esse coração que se recolhe ao canto da sala
Enrolado em um cobertor à procura de consolo
Porque ainda não encontrou alguém que o compreenda
E reflita tal grandeza feito espelho
Amo esse coração

Amo esse umbigo, ligação eterna ao infinito
Amo esse umbigo, ligação indiscutível ao Santo Espírito
No útero sagrado do ser que te gerou
Esse ser, cujo sim deu vida à semente
E permitiu que hoje és e sentes
O valor da vida, o calor do amor.
Amo esse umbigo.

Amo esse membro que guarda sementes de eternidade
Amo esse membro sagrado que protege sementes douradas
De filhos de Deus e suas missões de espiritualidade
E respeita emoções, e respeita vidas
Amo esse membro.

Amo essas pernas que te permitem vir ao meu encontro
Amo essas pernas pelo poder de te achegares
A outros para que possam vivenciar
Luz e bênçãos e graças
Teu desejo sublime de paz
Amo essas pernas.

Amo esses pés que te levam rumo ao infinito
Amo esses pés, cujos passos firmes,
Orientados pela luz dos olhos e o poder do guerreiro,
Pelas palavras certeiras e o coração de luz
Amo-te por tua paz, ternura, carinho e cuidado.
Amo esses pés.

Amo esses braços, cujo círculo terno e fechado
Permite-me fazer parte de tua alma.
No calor da fímbria do teu manto
Reconheço o poder e o encanto
De compartilhar serenos sentimentos.
Amo esses braços.

Amo essas mãos cujo toque me remete à eternidade
Amo essas mãos que acendem fios de prata de bondade
Elevam-me a dimensões infinitas
De onde trago luzes ao respirar tua fragrância
Que me fazem brilhar no altar da minha vida
Amo essas mãos.

Amo-te todo.
Tuas trevas, tuas luzes,
Teu presente e infinito
Que todo o teu ser me conta.
E embora pense ser grande,
Quando vou ao teu encontro
Percebo que pouco existo.
Preciso-te.

Marilene Anacleto

Publicado em: http://rotadaalma.spaces.live.com/ , em
Publicado no site http://www.itajaionline.com.br, em
Publicado no livro Jardins, Jardins : [poemas[ / Marilene Anacleto. – Itajaí (SC) : 2004. 72 p. : il.

Foto de Carmen Lúcia

Cara e coroa

Sou a mais viva cor do arrebol,
também a nuvem negra que encobre o sol.
Sou um gesto nobre de carinho,
também o frio incesto de seu ninho.
Sou a calma de um mar tranqüilo,
também um furacão bravio.
Sou outono e vento que vêm desfolhar,
também a primavera e o frescor a aflorar.
Sou a branca paz que pacifica,
também o arsenal que mortifica.
Sou a moça pura, acervo de poesias,
também a prostituta das noites vadias.
Sou a bênção que a alma refaz,
também a maldição de ancestrais.
Sou a seca do sertão agreste,
também a chuva fina que umedece.
Sou luz, sou chama, sou clarão...
Também sou trevas, sombras e escuridão.
Sou tudo isso que me mostra,
cara e coroa...
Quem aposta?

_Carmen Lúcia_
12/07/2006

Foto de betimartins

Quem és tu! Amor?

Quem és tu! Amor?

Quem és tu! Que chegas sem avisar
Sem pedir licença e identidade...

Quem és tu! Que raiaste o dia em mim
Partindo minha alma ao meio...

Quem és tu! Que me despes sem preconceito
Desnudando minha intimidade ao limite...

Quem és tu! Que deixas baralhada, desatinada
Quando em mim, vens com todo o teu desejo...

Quem és tu! Que fazes disparar meu coração
No auge da paixão, do desejo, onde tu me acalmas...

Quem és tu! Que vens da outra dimensão
Para baralhar meu caminho, minhas decisões...

Quem és tu! Que me deixas a escrever sem limite
Poesias, hinos, reflexões, contos e canções...

Quem és tu! Que inspiraste o pobre Luís Camões
Deixando-o vivo na sua escrita, na sua grande paixão...

Quem és tu! Que fazes ficar com as pernas bambas
Rendendo-me ao teu mais alto poder, as asas da paixão...

Quem és tu! Que me acordas com luz do dia, beijando
Falando palavras incompreensíveis ao desamor...

Quem és tu! Que transmutes a alegria da vida, vivida
Que dentro do ventre materno, cresce e avança a tua vida...

Quem és tu! Que trazes o manto de luz, o manto do aconchego
Que fazes a noite descer e travar as trevas da solidão e podridão...

Quem és tu! Tu quem és afinal? Serás! O Céu, as estrelas ou o Sol?
Serás! O silencio da alma incompreendida, alma sedenta ou até faminta...

Há! Afinal eu descobri quem tu és, é o Amor, o Amor tão falado
E foste tu que me derrotaste, foste tu! Tu Amor e agora? Que eu faço?

Que eu faço Amor? Que eu faço para que nunca vás embora de mim?
Há! Descobri, vou também te colocar amarras a ti e nunca mais vais embora....

betimartins

Foto de Bruneli

Teus olhos

Assim como as trevas de uma noite escondem a luz do dia,
teus olhos negros assim também escondem algo que irradia,
me alucina,
e com este doce mistério,
me fascina.

Foto de Runa

7º Concurso Literário - Nas teias do teu rasto

Procuro um rosto na multidão.
Uma luz que alumie as trevas.
Alguém que conheci noutras eras
mas de quem já não recordo o nome.

Procuro na margem dos rios
atento ao murmúrio das águas
e nos desolados caminhos de pedra
onde febril me perdi
sem encontrar sinal de ti.

Vim de muito longe.
Onde o fim da noite pulsa,
nos confins profundos de uma vertigem,
à deriva nos oceanos do tempo.

Já cruzei mil caminhos.
Atravessei céus de luz e escuridão,
esgravatando a imensidão do vazio,
sem sequer cheirar teu perfume
ou o vulto da tua sombra fugidia.

Uma vida inteira não bastou
para achar as pegadas do teu rasto,
afundadas nas ruínas chuvosas do pó
e nas rugas arrefecidas dos milénios.

Talvez não passes de uma ilusão
que o vento murmura à noite nos muros;
esboço inútil que rabisco
nos sonhos cegos que alimentam
a névoa triste da minha passagem.

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