Silêncio

Foto de Carmen Vervloet

VERSOS DE PRIMAVERA

Ei-la que surge com sua veste colorida
Com suas flores que se abrem em alegria
Cai o orvalho em gotículas de vida
A paisagem incita intensas fantasias.

Ao longe o inverno hiberna numa gaveta
Deixa o espaço pra essa vibrante estação
Que me atrai com seu perfume qual azul borboleta
E em doce néctar cumpre o milagre da renovação.

Limpo a vidraça de meus olhos embaçados
Desenho neles um verso de cada cor
As folhas ao vento ensaiam um novo bailado
E o coração pinta em rosa chá o amor.

Fico em silêncio à sombra de um ipê,
Ouço a primavera que sabe declamar
Liberto meus sonhos emaranhados em sapês
E colho o poema que desabrocha no ar.

Deito-me ao relento sobre pétalas excitantes
Explode em mim um jardim de sentimentos
Busco, no amor perfeito, lembranças distantes
E sinto o seu beijo caliente no leve soprar do vento

Carmen Vervloet

Foto de manoel freitas de oliveira

Amigo(a)

Tento aprender com teu silêncio
Mas, tudo que sei é gritar
Tento aprender com teu olhar sereno
Mas na vida, tenho um olhar de fúria
Tento medir e dosar o sorriso
Mas, minha extravagância atrapalha
Tento seguir teus passos lentos
Mas minhas pernas já me dominaram
Tento, tento e tento...
Uma coisa não preciso tentar
É dizer o quanto você é importante para mim.
Obrigado por você existir.

Manoel Freitas de Oliveira

Foto de manoel freitas de oliveira

Amigo(a)

Tento aprender com teu silêncio
Mas, tudo que sei é gritar
Tento aprender com teu olhar sereno
Mas na vida, tenho um olhar de fúria
Tento medir e dosar o sorriso
Mas, minha extravagância atrapalha
Tento seguir teus passos lentos
Mas minhas pernas já me dominaram
Tento, tento e tento...
Uma coisa não preciso tentar
É dizer o quanto você é importante para mim.
Obrigado por você existir.

Manoel Freitas de Oliveira

Foto de OComum

Onde estás?

Onde está a Lua que me prometeu luz durante a noite?
Onde está o Sol que me prometeu aquecer durante o dia?
Tudo o que mais desejo é sentir o calor da tua pele na minha; os teus lábios encostados suavemente aos meus, num beijo doce e meigo; ver a cor e o brilho dos teus olhos pasmados nos meus; um olhar sereno que me seduz e hipnotiza dominando-me por completo que chego a desejar perder-me nesse olhar. Que loucura de pasmo que me impede de pensar em alguém que não sejas tu. Que loucura de paixão que vai para alem do tempo e da distância.
Onde está a vida que a morte me prometeu?
Onde está o sonho quando abro os olhos e acordo sozinho?
Onde estás tu afinal? Quando toda a vida te procurei e não fui capaz de encontrar; mas que mesmo assim sou capaz de sentir, capaz de te ver, e num último fôlego de desassossego vejo o esvoaçar dos teus belos e longos cabelos, dançando com a passagem de uma suave brisa criada pelo bater de asas de um anjo. Oh! Como eu invejo esse anjo, ele pode tocar-te com um sopro e levar-te ao paraíso. Como eu queria ir contigo! Tocar-te, sentir-te, beijar-te! Mas só o posso desejar, tocar-te seria morrer, e eu não te consigo encontrar, mas se algum dia, por acaso, isso acontecesse, morreria de bom grado, nem que fosse só para te beijar uma única vez!
Sim, sonho! Sonho ver-te, sentir-te. Tocar o teu corpo num desejo real. Beijar-te os lábios docemente, percorrer lentamente os meus dedos pelo teu corpo divino, pousar as mãos no teu ventre ao de leve! Ouvir-te respirar, passar os dedos no meio do teu cabelo. Cheirar o teu perfume que me inebria. Sim, sonho, com a loucura do primeiro beijo, do primeiro abraço, da primeira visão, da primeira noite de amor. Ao sonhar, sou teu, e tu, só minha!
Será assim tão infantil sonhar com um momento infinito? Porque há-de ser apenas um sonho?
Quero-te mais que querer, desejo-te mais que desejar, preciso-te mais que precisar, sinto-te mais que sentir; como um latejar pulsante e vibrante de vida e paixão no meu peito, corpo e alma. E agora que posso, amo-te mais que amar.
Que parte é que não entendes, não sou um puto que pensa que ama, não tenho nenhuma confusão a assombrar-me, tenho certezas e simplesmente tenho coragem de dizer o que sinto.
Amo o que nunca vi, o que nunca conheci, o que nunca toquei nem beijei. Amo, porque sei, simplesmente porque sinto!
É a primeira vez em toda a minha vida, por entre lágrimas e sentimentos incertos e confusos, que tenho a certeza do que sou, estou mais sóbrio que nunca. Não sei explicar o porquê nem o como, apenas sei o que sinto, e é verdadeiro, não uma ilusão.
Por seres eu sou, por sentires eu sinto, por viveres eu vivo, por amares eu amo. Tu não és tu só, e eu não sou eu só, mas sim, juntos, nós somos!
Sinto que somos um, tu não surgiste por mero acaso, chama-lhe o que quiseres, destino, sorte, intervenção divina, ou talvez tudo isso ao mesmo tempo. Coincidência, não creio.
Foi nas trevas cerradas, num momento de cegueira dos sentidos, numa altura de pesadelos temidos e desesperos perdidos que, num clarão invisível surgiu, um anjo de luz que me seduziu e pacificou, devolveu a esperança de um lugar etéreo.
Vieste para me salvar de mim mesmo, impedires-me de desistir, e é nisso que acredito. Sinto-te como nunca senti ninguém, e tu sentes o mesmo, o que poderá ser isto senão amor.
A nossa alma, a nossa essência, o nosso ser e existir são um só, separados apenas por distâncias intoleráveis ou tempos longos mas que se acabarão por encontrar.
Desejo a oportunidade de te dizer nos olhos o que sinto, que estou aqui, que sou teu.
"Como é duro amar em silêncio, sofrer em silêncio, quando tudo o que se deseja é sussurrar ao ouvido da pessoa que faz bater o coração: ‘amo-te!’ Como é duro não poder fazê-lo, não porque não se quer mas porque não se pode. Imaginar ou pensar será que ela também sente como eu a sinto no peito sempre que fecho os olhos? É duro amar o que está distante da vista mas perto do coração" (Pedro Vasco)
Sonho contigo, este foi um deles: vejo teu corpo, espelhado contra a água desse mar azul, dançando ao ritmo da chegada das ondas à margem, estranhamente não possuem o dom da rebentação, significando talvez, que ele (o que sinto) é infinito. Aproximo-me de ti pelas costas sem que te apercebas, abraço-te enrolando os meus braços à volta da tua cintura, beijo-te o pescoço com paixão e ficamos ambos a observar a beleza desse mar azul. Sussurras-me ao ouvido, mas não ouço o que dizes, e queria tanto! Caminhamos descalços sobre a areia aquecida pelo sol, o teu vestido branco de anjo serpenteia ao sabor da brisa que traz consigo o inconfundível cheiro a água salgada, a água do mar. Há uma gruta perto, escavada de propósito para nós entre as rochas que povoam aquela imensidão de areia. Entramos. Sentamo-nos sobre pedras que parecem bancos. Abraço-te e acaricio-te os cabelos dourados, ficamos a ver o pôr-do-sol, ele desaparece tão lentamente, arrastando consigo o dourado e prateado que pintou sobre esse mar azul. As ondas continuam sem rebentar, apenas se dissipam ao chegar à margem. À medida que o Sol se esconde atrás do horizonte, tu adormeces tão meigamente nos meus braços, com a tua cabeça repousada sobre o meu ombro. Anoitece. Beijo-te a testa e fico a ver as estrelas. Começo a contá-las, cada uma é um ano do meu amor por ti, e são tantas! Desejo ficar assim contigo para sempre.
Acordo. É apenas um sonho e choro! Mesmo sem te ter realmente beijado nem tocado consigo sentir-te, tenho no meu corpo o teu suave cheiro e na mão um fio de cabelo. Não me digam que foi apenas um sonho, foi algo mais, algo mágico. Acredito nisso, tenho de acreditar.
Sinto-te à distância, porém anseio um abraço ou beijo teu!
Acredita que eu não me queria apaixonar, simplesmente aconteceu e não sei explicar.
Eu permiti apaixonar-me. Simplesmente agora já não consigo suportar o sol, nem a lua, nem as estrelas, nem as árvores, nem o frio ou o calor, ou mesmo a paz e o sorriso de uma criança, até o nascer de uma flor; não suporto a solidão, nem o azar ou a sorte! Não suporto a vida se tiver que a passar sem ti. Só entendo a morte!
Porque tens de estar tão longe? Porque tens tanto medo? Sei que me sentes! Receio tanto não te ver, não te tocar que me faz sentir desesperado. Eu não penso que amo, sei que amo, quando amo e porque amo. Não amo a tua imagem, mas sim quem és e pouco importa o que foste ou virás a ser, só me interessa quem és, simplesmente porque és!

Foto de bluecloak

Murmúrio...

Shiiiiiii!
Shiiiiiii...
Ouviram?
Ouviram o mesmo que eu?
Um murmúrio... de quem?
Meu? o teu? de quem?
Que importa, se este murmúrio, está sempre aqui, faz parte de mim.
Este murmúrio, entranha-se no meu corpo, rasga a minha pele, lamina fria que me corta uma e outra vez.
Lamina da saudade, de quem nunca fui, do que nunca fiz, de quem nunca tive... de ti!
Não sei quem és, mas sei que existes que me esperas, que me procuras... que te sentes tão só quanto eu, e eu... estou aqui!
Fecho os olhos, escuto o silêncio, procuro o murmúrio...
ele leva-me a ti!

Foto de Cecília Santos

PÉS DESCALÇOS

PÉS DESCALÇOS
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Pés descalços...
Madrugada à dentro,
passo à passo, lentamente.
As folhas quebram o silêncio.
Abafando suavemente,
cada gesto, cada vestígio.
Pés descalços...
Lágrima caindo, face molhada
e esquecida.
Vento frio, que castiga.
Lança seus ais entristecidos,
toca as feridas cruelmente.
Pés descalços...
Feridos pela longa caminhada,
segue a ermo, passo à passo
Tentando desviar dos buracos,
pra não agonizar, a qualquer instante.

Cecília-SP-09/2010*

Foto de Cecília Santos

QUANDO CALA O PENSAMENTO

QUANDO CALA O PENSAMENTO
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Quando o pensamento se cala,
resta-me apenas o silêncio.
Solidão feita de brumas,
que me tateiam e me rodeiam.
Sombras que surgem do nada,
que me assombram os olhos.
Toque frio, de lábios vazios,
carícias enganosas,
ludibriando-me os sentidos.
Pensamentos calados,
Vida desnorteada,
Passos pesados na rua,
Folhas abafando pegadas.
Luz opaca à distancia,
Presente, sem visão do futuro.
A vida se torna malograda,
quando a voz do pensamento,
se cala!

Cecília-SP-09/2010*

Foto de BIENVENUTI

REENCONTRO

*
*
*
*

Por muito tempo desejada,
noites inteiras,
de suores derramados,
fostes muito sonhada...
Eis que um dia,
daqueles que, da memória
não se pode apagar,
a sorte fez te reencontrar...
todo universo fora pequeno,
pra tanto amor desabrochar...
Com milhares de palavras,
o silêncio prevaleceu,
pois bastou um olhar,
de seus olhos ao meu
para que todo mistério,
pudesse desvendar...
O amor falou mui Alto,
quase ensurdecedor
neste dia quase morri...
quase morri de tanto Amor!!!

Foto de Paulo Gondim

Marcas do Sertão

MARCAS DO SERTÃO
Paulo Gondim
04/09/2010

As velas se apagam
O canto triste dá lugar ao silêncio
Um a um, retiram-se calados
Na rede, o corpo inerte
Sentimentos sombrios, violados
Na perplexidade do momento
Um corpo que vai
Um sepultamento

No Sertão, não se estranha a morte
Já faz parte da rotina sinistra
Confunde-se com prêmio ou castigo
Convive-se, não se rejeita inimigo

No ressecar da terra moribunda
A vida tem pouco a exigir
Na paisagem fosca, hostil
O que torna mais cruel cada porfia
A coragem por si se desencanta
Na difícil tarefa de se viver um único dia

E entre espinhos e galhos retorcidos
No chão árido de tantos pedregulhos
Uma estrada qualquer corta o Sertão
E cruzes se repetem na triste visão
De cada margem, contando sua história
Quase sempre de desgraça em sua solidão

As velas apagadas agora se acendem
Nos braços de cada cruz abandonada
Perfiladas ao longo dessa estrada
Na luz, espantando assombração
Cada cruz no caminho ali fincada
É a marca da vida no Sertão

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Da série "É assim, no Sertão"

Foto de Cecília Santos

HORA TRISTE

HORA TRISTE
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No silêncio da noite, tudo adormece.
Minha vontade de te ver, desperta.
Um desejo enorme de te olhar de te tocar,
invade-me aos poucos.
Quando a noite dorme, o vento está desperto,
ouço o seu sussurrar.
Cantigas que vem de longe, soa-me triste,
e cheia de saudade.
Minha alma entristece, e eu choro.
Choro, com medo de não mais te ver.
Choro, como o orvalho de uma manhã fria.
Choro, como as nuvens tristes no céu.
Choro, com medo de ser sozinha.
Choro, com medo de te perder.

Cecília-SP/11/2009*

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