Roupas

Foto de Minnie Sevla

Dança do amor

Quero dançar para você.
Usar minha fantasia mais linda!
Te enlaçar com meus lenços azuis transparentes,
remexer meus quadris ao som de uma música árabe,
balançar minhas madeixas avermelhadas e reluzentes
lembrar os movimentos exuberantes da serpente.
Deixar meus olhos sorrirem, o sorriso da sedução.
Quero sentir suas mãos quentes retirando cada lenço
envolto da minha cintura, a cada tilintar das moedas.
Sentir seu coração batendo forte e ver todas as nossas roupas no chão.
A luz fraca do quarto deixando tudo mágico,
o mel, as frutas sugerindo sabores e cores
que encantam, provocam as mais diferentes delícias
que atiçam toda malícia, de uma noite cheia de emoções
prazer, felicidade.
No ar uma suave fragância espalhando sensualidade,
nossas imagens incessantemente refletidas no espelho... e então,
depois de dançarmos a dança do amor
das mãos, do toque, dos corpos num vai e vem indecente,
explode em meio a sussurros e gemidos, fogos e artifícios...
normaliza-se a respiração e o pulsar do coração.

Ramgad/Minnie Sevla

Foto de Azahhy

Vou te procurar...

Amor...
Tô com tanta saudade!
Nem sei como fazer para dormir...
Hoje esta quente... Tá um vazio...
Como eu queria você aqui para me abraçar...
Tô carente!
Tô precisando dos teus braço envolvendo meu corpo...
Tô precisando ouvir você cantar... Reclamar... Rir...
Como faz falta as coisas que eu reclamo que você faça...
É difícil ficar sem você aqui para que eu possa me sentir completa...
Seus defeitos é o que mais fazem falta nesta noite de solidão...
Então percebo que não são defeitos, não!!!
São suas marcas, seu modo de deixar marcado em meu coração tua presença
Para que eu sinta tua falta
Mas com um sorriso nos lábios e no coração ao me lembrar
De coisas que quando estamos juntos fazemos
E que me irrita tanto quando você faz...
Mas que deixa a saudade quando você tem que partir!
Quando isso vai acabar?
Quando você vem para ficar e não mais partir???
Estou muito apaixonada,
Que chego a sentir teu perfume em tudo...
Até mesmo em minhas roupas que nunca foram usadas...
O que fazer agora, neste exato momento,
Para que minha saudade se vá???
Não tenho outro modo de afastar a saudade a não ser
Ir te procurar, ir onde você esta!
Espero agradar-te assim como vou agradar meu coração!
Me aguarde meu amor, tô chegando!!!

Foto de Zedio Alvarez

Crônica de um poeta

Fazemos poemas por paixão e diversão, escrevendo tudo que vem na mente. Claro meus versos tem sentimentos. Volto a ser criança quando leio meus poemas curtindo cada um deles como um brinquedo. Mas a minha inspiração transmite para minhas mãos as emoções que muitas vezes batem no coração da gente.
Não serei um imortal, pois o meu cérebro está sempre em fase de puberdade poética, estou herdando e conservando a fortuna literária que meus Pais me presentearam sem inventar muito, escrevendo o que a minha alma autoriza.
Poesia é isso... É o desprendimento total da alma
Agradeço a todos amigos poetas que defendem e comentam os meus textos, com seus radares potentosos detectando a essência que brota das idéias do coração de um humilde poeta, simples como os seus versos.
Nós somos responsáveis pelas nossas rimas pobres ou ricas, que não precisam usar roupas bonitas. Eu ainda estou amadurecendo minha veia poética e os elogios a mim dirigidos servem de incentivo para que tenhamos sempre, motivação e inspiração para fazer nossas obras.
Hoje tudo para mim é poesia. Fico feliz a cada comentário dos meus amigos, o meu ego é afetado pelas descargas positivas de carinho. Espero que minha fonte não se esgote, para continuar mandando meus versos.
Não sei até quando a nossa imaginação vai continuar fornecendo subsídios para transmitir em forma de poemas, ratificando toda nossa fome de escrever. Vou tentando fazer o que ela mandar respeitando fielmente os mandamentos dos meus sentimentos versais proferindo o discurso de nossa consciência.
As nossas escritas diárias são para o bem do nosso coração, com a interatividade constante nos proporcionando conhecer pessoas, e abrir o nosso leque de amizades. Estou sempre presente, dentro das possibilidades, em cada texto.
Abraços a todos os nossos amigos poetas.

Foto de CarolComPoesia

Você ainda não chegou,

por isso o dia vestiu-se em cinza,
largou as roupas domingueiras de lado,
e entre enfados, travestiu-se de terça modorrenta
e não há quem aguente dias assim.

Você ainda não chegou,

por isso a rede balança solitária
numa varanda qualquer, que imagina,
inocente, deitar-se sobre ela em amores
seu corpo e o meu, complacentes na mesma paixão.

Você ainda não chegou,

por isso a noite tem caído sem magia
e nem as saltitantes estrelas aparecem mais,
e a lua, que espreita na janela,
apesar de bela, nem veste a roupa de prata.

E você que não chega,

para reacender a sintonia,
para aliviar a falta,
agasalhar a alma e satisfazer o peito,
Pousar o seu olhar sobre minha vida, e,
simplesmente ser chegada ao invés de partida.

Mas você não chega!

(Carol)

Foto de Anjinhainlove

~~ Desejo incompreendido ~~

Hoje, facto raro, acordei e lembrei-me do que sonhei. Lembro-me de ti, de mim, de carícias, carinho, amor, paixão, culpa, dor...
Sonhei que havia, entre nós, cumplicidade. As minhas mãos curiosas não tinham medo de percorrer cada centímetro do teu corpo e percorriam curvas, tocavam as tuas roupas e sentiam o calor da tua pele.
Sentei-me ao lado do teu corpo deitado e os meus olhos felinos observavam os teus movimentos respiratórios nas tuas costas. A paixão, sentimento carnal e primitivo do ser humano, tomava agora conta do meu espírito.
Fiz, dos meus dedos, fontes de conhecimento. Conheci, então, o que sentia quando tocava no teu corpo, sentia-te vibrar. Os teus olhos semicerrados olhavam as minhas mãos e os teus lábios mostravam um sorriso tímido.
Levei a minha mão a subir, levemente, provocando-te um sentimento de arrepio nas costas. Senti o teu cabelo. Oh! Como sabe bem sentir que tu existes, tocar no teu ser estimulante, ser que me tira do sério e me leva a ser alguém que não conhecia. Prazer dos deuses, pecado capital...
Como te queria. Naquele movimento de percepção do teu tacto, queria-te como nunca tinha querido ninguém. Uma sensação que nem Platão conseguiria descrever, uma melancolia que tomava conta do meu bom senso, digna de um sonho...
Mas algo aconteceu. Queria ter-te, beijar-te, tocar em toda a tua pessoa, mas não podia... Quando surge um passo teu para incendiar a nossa paixão com um beijo, apenas permito que nossos lábios se toquem... Não posso ter-te... Por quê?

Foto de Lou Poulit

Poulit em Versos

Quando eu era adolescente, meu pai incentivava os filhos a estudarem, para as provas finas, usando uma estratégia muito sedutora: Me diga o que quer ganhar no fim do ano, se for aprovado em lhe dou. Era um tal de estudar como nunca antes. Em certa ocasião meu irmão Aristeu, tratado por Teco, um ano mais novo que eu e hoje arquiteto, pediu um violão, de verdade, e se comprometeu a estudar para passar de ano. O Velho achou que ele poderia ter escolhido uma coisa mais apropriada a um garoto de 12 anos, mas não deixaria de cumprir sua parte no trato. Pois bem, o Teco passou de ano fácil.

Numa noite, chegando das minhas amadas peladas em rua de paralelepípedos, ou das caronas, pendurado nos estribos dos bondes, até hoje tradicionais do bairro Santa Teresa, morro contíguo ao centro do Rio de Janeiro, entrei em casa todo suado e sujo. Eu amava, mas minha mãe detestava isso: Direto pro banho, menino! Não encosta em nada! Como eu adorava esportes. Sentir o corpo suado, o corpo-a-corpo às vezes perigoso das peladas. Gostava de sentir o limite dos músculos, de ser íntimo da dor física controlada. Jogávamos mesmo à noite, a luz tênue dos postes distantes, ainda do tipo incandescente, refletindo nas pedras do calçamento. Que saudade da minha meninice... Bem, então voltando ao violão, entrei em casa e dei de frente com ele em cima da cama do meu irmão.

Fiquei fascinado. Era lindo e novinho em folha, brilhava demais. De boa marca e corpo grande, era até algo desproporcional para meu irmão. O velho não fizera por menos, mas era seu jeito. Era calado, emburrado em casa, gastava dinheiro nas farras, porém nunca foi sovina com os filhos. Não resisti à tentação e peguei o violão para experimentar. O som era bem mais alto do que o dos violões que conhecia, e chamou a atenção do Teco, que logo apareceu. Reconhecendo-me suado, devolvi o instrumento ao seu dono. Afinal de contas, eu também havia passado de ano.

Começaram as aulas de acompanhamento, os primeiros acordes, mas também logo vieram as primeiras bolhas na ponta dos dedos. Meu irmão não superou essa fase e em alguns poucos meses, o violão já havia ganho um lugar escondidinho para ficar, entre o guarda-roupas e a parede, no canto quarto. Ficou ali por vários meses. Um dia, vendo-o ali abandonado, tornei a pegá-lo e me assustei quando ouvi algo cair no chão. Despencado sobre os tacos de madeira clara, estava um livreto que me apressei em pegar do chão. Era um Método Prático Para Violão e Guitarra. Folheando-o compreendi que eram cifras para acompanhamento. Foi um momento mágico. Não pude naquele momento imaginar, que era apenas um pequeno instante, o despertar de um amor que me acompanharia, uma emoção que se repetiria pelo resto da vida.

Lendo o método, exercitando e, principalmente, observando alguns colegas que já sabiam tocar mais que eu, em pouco tempo já sabia o básico de acompanhamento e já me arriscava em solos iniciais. Gostava tanto que suportei as bolhas. Como bom aqüariano, não me contentava em tocar e cantar as músicas da moda. Com pouquíssimo tempo de aprendizado, já fazia minhas primeiras composições, ainda muito simples e com letras ingênuas. Mas era nisso que queria chegar desde o início desse texto: o violão me levou a começar a compor letras. Na escola, minhas notas em Português (na época se dizia Linguagem) eram sempre as mais baixas, detestava. Que ironia, hoje amo escrever.

Embora adolescente, muito novo e sem experiência de vida, quando escrevia letras para as minhas músicas (compunha ambas ao mesmo tempo) tinha a sensação plena de ter domínio sobre o que escrevia. E vivenciava aquelas emoções de verdade, sem tê-las jamais experimentado. Os adultos da família não entendiam bem. Mas nunca me senti inseguro. Era como se eu já soubesse fazer aquilo há muito tempo. Vejam como, com cerca de catorze anos ainda, eu me via “grande”, até pretensioso, nessa letra que pertence à minha primeira composição:

“Vida, vida minha
Não te perdoarei jamais
Por ter levado o molequinho...
Isso não se faz”.

Ora, eu me esqueci de que ainda não era mais que um moleque! Embora já andasse com mania de ralador, não tinha ainda tramas de amor para contar. Mas vejam o tipo de sentimento implícito nessa outra letra, da mesma época ou pouco mais:

“Vou partir
Pra bem longe
Vou-me embora
Deixo aqui meu coração
Minha casa, meu portão.

Ah, se um dia
Eu pudesse voltar
Eu iria ver de novo
Minha terra, meu lugar
E os meus tempos de criança
Poderia recordar”.

Alguns anos depois, pela primeira vez na vida senti a receptividade de pessoas que não eram familiares. Me inscrevi, por exigência de um grupo de amigos, num festival escolar de música. Escolhemos juntos quatro músicas minhas. Aquela que mais gostávamos foi apresentada pelo grupo todo, mas estávamos tremendo demais para tocar e cantar no palco improvisado. Os jurados não ouviram nada e “Santa Terra” foi desclassificada. Vendo minha tristeza, uma jurada, professora de inglês, veio me explicar o critério utilizado diante da dificuldade de julgar. E nesse dia aprendi a amar e odiar os critérios.

Porém, como reaprenderia em muitas outras ocasiões futuras, a tristeza dá sentido à alegria, assim como as sombras à luz. Com as três músicas restantes, que apresentei sozinho, voz e violão, consegui o segundo (Vou Partir), o terceiro e o quinto lugares do festival. Não obtive o primeiro lugar, mas os prêmios foram pagos em dinheiro e voltei pra casa rico, considerando a situação financeira da época. Mais rico do que o vencedor, que tinha uma música belíssima.

Os anos vieram e a vida mudou muitas vezes. Os campeonatos estaduais de vôlei, o trabalho, a faculdade, o casamento e o descasamento, a vida é uma sucessão de sonhos e pesadelos. Mas também uma grande escola e isso se reflete no produto do artista. A poesia seguinte na verdade é letra de uma música, composta no anos noventa. Sempre fui um apaixonado pelas manhãs. Em uma prosa cheguei a afirmar que elas também foram feitas à imagem e semelhança do criador. Tendo que recomeçar minha vida, tornei-me um amante ainda mais apaixonado pelas manhãs, a ponto de amalgamar as minhas amadas e as “Nossas Manhãs”:

“Porque são as manhãs
tão humildes manhãs
Saram o que as noites cortam
Lavam, abortam estrelas vãs
Vem, que me desperta
Essa rosa madura
Sob a renda flerta
Captura o meu instinto, vem
Me joga no orvalho do jardim.

Vem de mim por ruas dormidas
Que dores banidas
Não despertarão tão cedo
E ninguém contará a ninguém
Que ainda tenho medo
Porque são as manhãs
Tão humildes manhãs.

Porque são as manhãs
Tão lúcidas manhãs
No estreito vão da janela
Um corpo que foi meu se esfarela
Num rastro distante
Guardo os pássaros no peito claro
Ardo e perto me declaro amante
Vestindo as chamas
Que restam das velas
Dançando com elas beijo
Beijo e protejo o seu despertar.

São nossas primícias, nossas milícias
Cavalgadas e reconquistas
Quando o sol entrar pelas janelas
Jamais sairá nas revistas
Mas são nossas manhãs
As mais belas manhãs
As mais belas manhãs”.

Não considero que esse texto tenha esgotado o assunto. Gostei da idéia de mostrar poemas e letras de músicas como pedaços pedaçudos de uma sopa auto-biográfica. Creio que aqueles que tenham gostado poderão esperar mais.

Foto de Lou Poulit

Mulher de Verdade

Essa mulher de imagem pública,
Cúbica pintura, me implora
Despir-lhe muito mais que roupas,
Rotas de tão despidas.

Essa personagem em nossas vidas,
Que nega o que me importa,
Nem mesmo morta me interessa,
Não me excita, não me apressa
E se me apanho numa cantiga
É de falo fanho, sem prumo certo,
Sem as estrelas que sempre oferto
Ao ventre escuro que me ilumina.

Não é uma menina... Uma menina...
Não é uma promessa... Uma promessa.
Não é um prato de louça fina
Mas é uma travessa... Uma travessa.

Queria que fosse de verdade!
Desperta, de mentiras deserta,
De sabor curtida, mas nem tão pura!
De cheiro e da vida madura,
Moldura dos meus parcos segundos,
Eternos e tão gratos segundos.
Que em minhas mordidas se leia:
Um homem ama essa mulher!

E num momento, deserta de sanhas,
Quando o tempo chegasse a pesar,
Eu a sentisse nas minhas entranhas
Como a selva sente o rio passar.

Foto de jeffersonjqueiroz

Nossas tardes

Voam as roupas
fechamos as janelas
O ritmo frenético
dos corpos
produz a trilha sonora
de que precisamos.
A cama mal parafusada,
os tapas carinhosos
e os palavrões estrondosos
avisam aos vizinhos que nos amamos

(Penhoro minha alma
e adentro em sua
taverna.
Sou apenas boca e
mordidas nestas horas.)

Lhe juro que
sou somente seu
e
que são só suas mãos
que me tocam
por todos os lados possíveis

E na sintonia de gemidos e
tremores
nossos corpos
nossos sabores
avisam que terminamos
exatamente ao mesmo
tempo.

Caimos na cama
eu por cima de ti
você com a cara
no travesseiro
sentindo a paz
dos mortos

Mas basta um sorriso
seu
para meu corpo
explodir
E novamente
o mundo
deixar de existir

Foto de sonhos1803

Com você

Com você,
Ao teu lado sou,
Tão humana que tua frieza fere a pele,
Sou tão forte que agüento o baque,
As vezes enlouqueço,
Tentando encontrar pistas,
Tentando apagar tuas pegadas,
Por vezes me vejo magoada,
Ao te ver,
O coração dispara,
O riso congela,
As pernas me traem,
Do centro de minha razão,
Escapa as mais loucas atitudes,
Sou criança que precisa de colo,
Um adulto cansado que quer deitar,
Nesta vida virei um viajante,
Parando em cada instante,
Nas malas as ilusões,
Entre roupas meu coração,
Nada me resta,
Nada mais presta,
Em minha carteira amassada,
Pequenos poemas rasgados,
O fim e um novo começo,
Nada mais de apego,
Só meus pés,
Ainda sujos da lama,
Mais chuvas,
Outros dias virão,
Antes de começar um novo verão,
Na estrada,
No coração,
Um peito aberto,
Um jeito incerto.

ao querido poeta

Foto de Jorgejb

E de um poema nasceu 2

Deixou um poema em cima da mesa e saiu. Sabia que ela, ao sentir o frio do outro lado da cama, saltaria pronta, procurando onde tinham feito amor, a mesa nua e fria, ainda quente do seu corpo, sulcos de si própria espalhados nela, e assim, perceberia a folha cheia, acolhendo palavras para si.
Não, não era um recado, nem uma justificação, nem concerteza razões expressas de forma polida e omnisciente, desculpando-se. Era um poema, zurzido da consciência do impossível, dos pedaços dos dois, que ainda ontem pareciam não conseguir se despegar, iluminados da loucura que os prazeres quando libertados, emprestam aos corpos e lhes dão aquele brilho, que só os amantes sabem contar e explicar dentro dos seus corações.
Uma dolorosa e delicada expressão de amargura, empalideceu seu rosto, sentindo a solidão dos amantes traídos; olhou de lado a sua cama, desarrumada, os lençóis descaídos e soltos, as roupas espalhadas pelo chão, como um mapa, com pontos demarcados e uma história apensa a cada um.
Já sentada na beira da cama, contida no seu próprio corpo, escondendo seus seios em seus braços, as pernas geladas, vermelhas, unidas na estupefacção do seu próprio ruído interior, procuraram nas palavras uma nova força, um destino, uma alma.
Encontrou-o mais uma vez. Como sempre, arquitecto de palavras, demasiadamente doce para a sua manhã, o rosto dele na sua memória - definhando, e foi lendo, e lendo, sem compreender onde chegava.
Era a carta de um homem com medo do amor, como se não lhe tivesses deixado os seus portões abertos para entrar, era a carta de um homem preso ao espaço e à resignação do mundo que trouxera atrás de si, como se ela alguma vez tivesse ousado tocar em seus haveres, ou pronunciado a palavra passado. Era ele e seu mundo, e a irrazoável forma de dizer adeus cobardemente, como se num último rebate, abandonasse a prancha mais alta e recusasse o salto para um mar maior e mais azul.
Ela sorriu, arrumou o quarto, tremeu de frio, e percebeu o quanto tinha estado nua, agasalhou-se sentindo o conforto do seu xaile de seda, onde tantas vezes repousara o seu amante, e sorrindo mais uma vez, abriu a janela que dava para o meio da rua, o rio entrando pelas suas narinas, extasiado do fresco ar húmido e salgado que a abraçava, e convidando o Sol a entrar, escutou no seu rádio a sua música favorita, trauteando um novo canto, sem saudade, sem rancor. O amor, o seu amor haveria de chegar outra vez.
Ele, parado no meio da rua, queria perceber o que tinha escrito, a impulsividade que o dominava, o medo de magoar, de prolongar sonhos sem esperança. Doía-lhe o peito e a saudade dos lábios dela. A manhã não lhe dava tréguas, de ter sido acordada tão cedo, enregelou-lhe os ossos, como querendo que ele voltasse ao leito que tinha deixado. Sentia o perfume dela, abraçando-o, mas soube que a outra história devia estar destinado. Final de história, os passos levavam-no em frente. Sorriu na compreensão, do quanto ela ficaria no seu peito, na sua memória, e amou esse momento na plenitude de um grande final e do quanto os momentos são diferentes na medição do tempo e dos seus segundos. Veio-lhe à memória a mesma canção, que tocava em todas as janelas abertas, a sua canção, espalhada por todos os rádios, esperando que ela também o tivesse ligado, trauteou baixinho para ela, que o amor nunca irá partir, um dia o amor, o seu amor haveria de chegar outra vez.

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