Pulmões

Foto de Lou Poulit

TROVÃO E O SABIÁ SERENO

CONTO: TROVÃO E O SABIÁ SERENO
AUTOR: LOU POULIT

Sentada sob o alpendre da mansão colonial, sua fortaleza de toda a vida, Sinhá havia se perdido em seus pensamentos. O dia havia se despedido há pouco, com a apoteose fugaz de um céu prestante de cores e texturas, que de tudo o que pode tentou fazer para merecer a atenção da moça. Nem a sinfonia da passarada fez efeito. Tudo em vão, restaram as estrelas que nem sequer se aventuraram. A passarada se calou para dar a vez aos grilos, sapos e outros barulhentos notívagos. Sinhá revirava mecanicamente os fartos rendados da saia à sua volta, pois em espírito não estava de fato ali.
Então, passos arrastados vindos de dentro precipitaram-na do etéreo em que vagava, de volta ao corpinho magoado pela posição pouco cômoda. De tão surpresa e assustada, não teve coragem de se virar. E esperou apenas, assim como seu coraçãozinho, que esperava dentro do peito prestes a lhe saltar pela boca. Aos poucos uma luz tênue, mas capaz de expulsar soberanamente a escuridão, se aproximou. A moça temeu que se aproximasse ainda mais e explodiu em gritos nervosos: Saia já daqui! O que quer de mim, demônio? Eu não lhe chamei aqui!
A pouca distância estava parado um caboclo mulato de aspecto impressionante. Pele muito morena e os olhos claríssimos de uma onça enterrados no rosto embrutecido, como pequenas gemas raras no emboço úmido da terra, adubada pelos séculos. O velho Sereno segurava a candeia, tentando compreender, tão próxima, a moça que à distância vira crescer, como flor única naquelas glebas. Durante algum tempo Sinhá não conseguiu balbuciar mais uma palavra. Tentava decifrar como aquela figura estranha havia invadido seu silêncio, que significado poderia haver nele e se seria perigoso para as coisas ricas que guardava no segredo das suas lembranças. Porém, achando em seguida que o silêncio era ainda mais  insuportável, a moça voltou à carga: Quem lhe deu o direito de estar aqui?... Ele tentou explicar: Vim só alumiá o negrume da noite pra vosmicê, Sinhazinha... Carecia de se assustá não... Não tenho medo de nada... — Ela empinou orgulhosamente a própria fragilidade. Como poderia temer um empregado dentro da casa do senhor meu pai? Ademais, estava aqui com meus pensamentos...
O homem olhava com segurança os olhos escorridos de lágrimas da moça, cheios de brilhos amarelados pela chama da candeia. Sentia pena dela, mas sabia pelas décadas de convívio, que não se devia manifestar piedade para com os senhores. Sereno sabe que está triste, Sinhá. Ma num pode fazê nada não... — Disse ele abaixando os olhos. Mas como pode saber disso? Não lhe dou esse direito. De onde você saiu?... Ainda com os olhos baixos, ele respondeu: Sempre estive aqui, Sinhazinha. Vim pra essas terras do senhor seu pai na barriga da minha mãe, que se foi embora amarrada naquele pé-de-jurema-branca, bem ali na direção onde a lua vai nascer não demora nada. Eu era desse tamanhinho quando ela descansou, cabia no cesto onde os cavalos comiam o mio que ela dava com gosto. Naquele tempo o capataz era um homenzinho muito do ruim... Ela só queria alimentar a sua cria...
A moça ficou perplexa. Mas se refez da letargia porque lembrou-se do seu alazão, tornando a gritar: Não me fale do meu alazão. Eu amava o Trovão como se fosse uma pessoa! Ninguém montava nele além de mim! E acabaram de trazê-lo num arrasto de pau-de-mangue... Ele estava morto! Eu vou matar quem fez isso com ele... E a chorar convulsivamente ela recostou-se no portal, até sentar-se de novo no degrau do alpendre. Sereno continuou calado, imóvel, com os olhos cravados nas lajes do chão. Como se sua alma cansada procurasse uma brecha para um imenso arrependimento.
Tentando descobrir em seu próprio silêncio o que poderia fazer naquela situação triste e constrangedora, o velho caboclo foi lentamente até a arandela pendurar a candeia. Não sabia o que fazer a mais. Durante quase vinte anos quisera ajudá-la em muitas situações de perigo, mas sempre chegava alguém antes. Sereno trabalhara sempre na plantação, por vezes tratando dos cavalos doentes e por outras como mateiro. Amava a menina, antecipava os riscos que ela corria, mas haviam outros mais próximos dela. Agora o mesmo sentimento de proteção lhe parecia palpável de tão denso. E ironicamente, embora estivessem ali apenas os dois, simplesmente não sabia o que fazer.
Passados alguns poucos e imensos minutos, a moça quebrou o silêncio, mais calma, porém sem perder a altivez da voz: Como se chama?... Sereno, Sinhazinha — Disse ele. E porque está aqui, nunca lhe vi dentro de casa?... O velho empurrou a aba do chapéu para trás e coçou a calva rala da carapinha branca, como sempre fazia quando se sentia inseguro. Demorou um pouquinho mas respondeu: Eu vim de pés lá de trás da serra dos pastos... O senhor seu pai mandou que me alimentasse e ficasse por aqui até amanhecer. Ela insistiu: Mas por que veio de pés? Ah, Sinhazinha, parei no meio da mata para ouvir o sabiá-da-mata, tava cantando bem em cima de mim. Desde menino adoro os sabiás, num gaio da mangueira, por cima da minha palhoça tem um que fez ninho agora. Quando passo o café da tarde ele ta arrebentando os peitos, de tanto chamá uma fêmea pro seu ninho novinho e arrumadinho. Mas me distraí, meu cavalo assustou-se com a onça e saiu desembestado, nem sei pra onde. Mas vou lá buscar, pro seu pai meu senhor num ficá num prejuízo maió. Não é um bicho caro, é até meio capenga. Mas é um bom companheiro, num sabe?... Vendo a perplexidade dela, ele perguntou: Que foi Sinhá, com essa boca aberta, quem nem peixe morto?... A moça sussurrou: Onça? Que onça é essa, Sereno?
O velho respirou profundamente. Não haveria mais de esconder. Ela que soubesse a verdade e que fizesse o que achasse justo. Disse a ela com segurança: A mesma que pegou o Trovão... Aquele sangue todo foi porque quando cheguei ela já tinha garrado no pescoço dele... — Disse o caboclo, limpando instintivamente as mãos grosseiras nas calças. A moça mostrou-se inconformada: E você não fez nada para ajudar o coitado? Não tinha uma arma, Sereno? Sinhazinha, ele caiu por cima da bicha, esperneava como um porco endemoninhado... Endemoninhado é você, miserável! Ele era o alazão mais valente que conheci. Só que havia uma onça mordendo o seu pescoço. E um homem medroso e inútil assistindo a sua morte desesperada! Que queria que o Trovão fizesse?... Sereno, se calou constrangido e ela quis saber mais: E depois, Sereno?... Sinhazinha, num é nada fácil chegar perto de dois bichos grandes e raivosos... E eu só tinha mesmo o meu facão de mato e não queria ferir ainda mais o Trovão... Sim, mas o que você fez?... — Ela estava implacável. Eu nada, Sinhazinha, a onça é que resolveu desaparecer. Onça é um bicho covarde. Só pega pelas costas, sangra e espera morrer. Mas se sentindo insegura, ela larga e fica de longe só espiando. Esperando a hora de comer sossegada. E o outro, que também é bicho, sabe que vai morrer e que ela vai vir lhe rasgar as tripas. É só uma questão de tempo. O mundo dos bichos é assim mesmo, Sinhá. Ninguém muda não. Vosmicê ta triste e eu também. Mas o Trovão ta não... Ah, não... Ta não. Só ta esperando os primeiros lampejos do dia, pra correr por essas terras sem fim, pelos campos e pelas matas fechadas, num tem mais nada que lhe impeça... Vai conhecer todos os lugares onde nunca tinha ido, vai beber água do rio grande e vai saltar nas ondas da praia. Enquanto isso nós vai ficar aqui chorando de tristeza, porque num pensa que ele ta livre como nunca foi. É que como nós só sente o sentimento da gente, só pensa com a cabeça da gente, então acha que o Trovão ta sentindo e pensando a mesma coisa que a gente, Sinhazinha... Não tenha raiva não... Que ele não pode aparecer pra vosmicê e lhe contá como que é lá, pronde ele foi. Ele vai ficar triste por causa da sua tristeza, Sinhá...
A moça relutava, porém se esforçava para aceitar aquela sabedoria estranha que quase desdenhava os seus mais puros sentimentos. Embora não tivesse coragem de dizê-lo, até que gostava muito de imaginar seu querido Trovão suando da correria que tanto amava, brilhando ao sol e ao luar. Ele amava o vazio dos espaços, os obstáculos que vencia, amava o vento revirando as suas crinas, enchendo-lhe os pulmões no peito enorme e musculoso, e depois expirava com força fazendo seu próprio vento, era quase um deus da natureza. Ah, como ele gostava disso... — Pensou consigo. Alagada da própria ternura, disse então ao velho: Ele lutou até o último instante não foi, Sereno?
Ele era valente demais, eu o conhecia desde que era um potrinho muito abusado, sinhá... Já mais calma, finalmente ela tornou-se amigável: Sou lhe muito grata, quero que fique, se alimente bem e descanse bastante. E depois vá buscar o pangaré, antes que essa onça o coma, já que não comeu o Trovão, pois que os homens foram buscá-lo antes disso... Sereno sentia-se mais à vontade agora, já sentado também, mas no degrau de baixo como lhe convinha. E completou: Vou Sinhazinha, antes de clariá vou atrás dele. E ai dela que se meta, pois vou levar um trabuco... Faça isso por mim, Sereno... — Ela pediu ainda com raiva.
Não posso prometer, Sinhazinha... Não Sereno, não se arrisque... E se ela lhe pegar pelo pescoço, como fez com o Trovão?... Vosmicê num fique triste não, Sinhá... Também sou meio bicho, já fiz muita coisa nesse mundo de meu Deus... Já matei oito onças, seu pai meu senhor pode lhe dizer... Uma delas ia morder era o pescoço dele... É que de uns anos pra cá elas estavam sumidas, que os cachorros farejam a catinga delas de longe... Gato tem raiva de cachorro e vice-versa, num sabe?
Eu prometo, Sereno. Vou contar para os meus netinhos essa estória. E vou me lembrar de dizer que você foi um herói, que não pode salvar o Trovão, mas veio de pés buscar homens, para que ele tivesse um enterro digno. Meus netinhos vão aprender a odiar todas as onças, porque essa matou o Trovão... Mas eis que tais palavras indignaram o velho filho-do-mato, e ele quis ser exato: Não, Sinhazinha. Isso não é certo, não é verdade não... Como, Sereno? Se ela não matou o meu alazão, então quem foi?... Fui eu mesmo, Sinhazinha... A moça de um pinote ficou de pé, com o dedo em riste, e novamente enfurecida lhe disse: Seu traidor! Vá embora, suma daqui! Nunca mais quero ver sua cara! Não vou lhe perdoar jamais! Vá logo. Antes que eu grite por alguém para lhe surrar no pé-de-jurema, desgraçado! Naufragados novamente em profunda tristeza, ambos se foram. Ela se foi para chorar na cama e ele no mato. Mas nenhum dos dois conseguiu dormir.
A moça rolou na cama, sobre o lençol úmido das suas lágrimas, até que lhe viessem chamar para o almoço no dia seguinte. À tarde, na hora da refeição também não quis sair do quarto, deixando a todos apavorados. Seu pai começou a preocupar-se, vendo que as mucamas não paravam de cochichar pelos cantos. Resolveu-se a sacudi-la. Entrou no quarto como um furacão para intimidá-la e foi querendo saber o porque daquele drama. Sabia o porque, também sentia muito pelo alazão, sabia o valor que tinha, mas não queria perder também a filha. Sinhá estava desolada e não apenas pelo seu Trovão. As horas lentas da madrugada lhe convenceram de que havia sido injusta com o Sereno. Estava agora claro que quisera apenas poupar o animal de mais sofrimento. Não podia carregá-lo nas costas e com certeza não quis que o alazão assistisse a desgraçada da onça comer-lhe as carnes ainda vivas. Ela estava soterrada de remorso e com muito jeito fez o velho concordar em mandar buscá-lo quando voltasse do mato. Assim também concordou em levantar-se.
Alguns dias depois estava novamente sentada no alpendre, mas dessa vez assistiu a obra da natureza, que se comprazia em dispor da sua atenção. O dia terminou. Escureceu por completo. Ela se lembrou da noite em que se assustou com Sereno. Dessa vez queria imensamente que ele lhe trouxesse a candeia. Havia preparado algumas palavras para lhe pedir que perdoasse a grosseria. Ninguém lhe dissera uma palavra durante esses dias, tinha a impressão cada vez mais densa de que não lhe queriam falar a respeito. Uma luz veio de dentro, mas pelo andar sem botas não poderia ser Sereno. Era uma mucama, que foi dispensada. Sinhá só queria a luz do velho caboclo, como naquela noite. Agora queria gostar dele, da sua sabedoria e da sua paz. A lua começou a aflorar, derramando seu prateado pelas colinas, que abraçavam em segurança a mansão. De repente, algo se mexeu nas folhas do pé-de-jurema-branca, que pareciam lhe acenar variando o reflexo do luar.
Então, para sua imensa surpresa ouviu com nitidez o canto mavioso de um sabiá. Mas como? Sabiá cantando há essa hora? Não pode ser, já é noite... Não queria aceitar o que seu próprio silêncio lhe dizia, lutava contra com todas as suas forças. Então ouviu de novo, logo ouviu outra vez e de novo tornou a ouvir. As defesas que havia erguido em si própria foram ruindo a cada canto, como se fossem rojões de poderosos canhões. Até que não pode mais sustentar a própria razão. O sabiá só podia estar feliz. Tão feliz que nem se importava com a noite, não queria esperar o amanhecer! Se quisesse vê-lo sempre feliz, devia afastar a tristeza. Libertá-lo do próprio peito para que fosse completamente livre, para que cantasse onde quisesse e quando quisesse. E ainda voar sobre as matas e as ondas do mar. Seu canto não era triste como o de outros, mas sim vigoroso e doce como o de uma flauta da natureza.
A mucama voltou com um semblante pávido, porque viera lhe dar uma notícia. Mas quedou-se quando à luz da candeia viu que o de sua Sinhazinha sorria para a lua, já em seu esplendor. A mucama lhe disse: Sinhazinha, o seu pai mandou meu irmão e meu primo buscar o Sereno. Mas eles não querem falar, estão com medo. Medo de que? Diga logo... Não fica brava comigo não Sinhazinha... Fala de uma vez, mulher... É que a onça pegou o Sereno também, Sinhazinha...
Completamente perplexa, a mucama ouviu a Sinhá lhe dizer com doçura: Não fique assim tão triste. Há essa hora ele deve estar bem assobiando por aí... Por onde, Sinhazinha?... Pela natureza, pelo céu, pelo rio grande, ou se lavando nas ondas do mar... A pobre mucama não conseguia atinar com aquelas palavras surpreendentes e Sinhá completou: Anda, pode deixar a candeia na arandela e vá pra dentro. Se precisar eu lhe chamo, agora vá. Quando mais tarde seu pai veio lhe buscar para dentro, aliviado pelas falas da mucama, encontrou-a bem disposta, quase feliz para aquelas circunstâncias. Sinhá aproveitara o tempo para fazer uma prece emocionada, repleta de gratidão e amizade, pela alma do velho Sereno. Durante toda vida estivera bem ali e nem o havia notado. Mas havia sido de grande valia justo no momento que mais precisou. Se estava feliz a ponto de assobiar no galho do pé-de-jurema àquelas horas, então deviam estar todos felizes: O Sereno, sua pobre mãe e também o Trovão. Não, não queria mais pensar em tristezas.
Foi quando seu orgulhoso pai, sentindo necessidade de participar daquele momento lhe disse: Deixe estar, querida... Aquela maldita onça não irá longe... Eu me encarregarei disso pessoalmente.
 

Foto de carlosmustang

"APRENDENDO"

Certa vez...

A andar num caminho
Asssoviando, sozinho
Algumas pedras encontrava
Algumas eu pulava
Outras eu chutava
Para longe, num cantinho!

E sempre me esforcei para que nada,
Interferisse tanto no meu destino
Que foi escrito pra mim
Antes de eu ser menino!

E derrepente na estrada...
Deparei me com uma pedra gigante!
Mesmo assim não a vi
Tropecei e cai...

Praguejei, xinguei, a todo ar dos pulmões!
Aquilo me atrasaria, na minha jornada daquele dia
E traria decepções!

Ai me levantei, a poeira tirei,
E a alguns metros, algo avistei...
Um buraco fundo, na minha estrada
Onde se eu caisse, não seria mais nada!

Se não fosse aquele inesperado tompo na pedra
Sofreria uma fatal queda
E esse obstáculo me salvou
Minha jornada continuou.

Foto de carlosmustang

PARANÓIC BLUES

Sistema de loucura
Laberinto dos deseperádos
Sem enxergar com os olhos abertos
Pensamento largado...

Sem deixar ouvir-se, dentro de um GRITO
Pulmões cheios de ar
Mas ansêia por mais ar...
Saúde perfeita
Mas, a "morte o espreita"!

Na beira do abísmo
Com os pés apoiados
No plano!
E engatinha-se...

A cabeça na tormenta...

TEC...TEC
Mais um cerébro se arrebenta!!!

Foto de Claudia Nunes Ribeiro

RAPTO

Minha alma tranquei no espelho
Percorro o dia
Automatizando meus passos
Sendo um espectro do que já fui.

Meus bens já não me pertencem
Meus quadros, da parede arrancados,
A mobília revirada,
Tudo coberto pelo pó do tédio
Que se tornou minha vida sem você.

Espio a vida pela fresta da janela.
A luz não deixo entrar
Natal, Carnaval, Páscoa,
Nada disso me interessa

Não sou mais companheira da aventura,
O ar da alegria não penetra mais
Em meus pulmões.

Sinto-me só,
Desamparada e triste
Seqüestrando minha própria vida
E trancando na gaveta
Junto a teu retrato.

Foto de Gaivota

____ CHORA, CHORO ____

.

Onde mora o
Verde pé de alface
que abriga meu pouso?
sobrevoando
a ilha da agonia
ouvi seu pranto
deslizando
monossilábica palavra

Chora,
choro

Meu dia azul corrói-se

Chora,
choro

Amada amora
solícita estrada
plantada em pés infantis
Chora, chuva
acidez da vida
braços de ferro
apertam pulmões
fuligem aplica
mortal seringa

Lua de prata
abre asas
abraça o soluço
que desenha
solitário vôo
de bandos no céu.

RJ- outubro/2006
** Gaivota **

Foto de JGMOREIRA

SOUTAMÉRICA

SOUTAMÉRICA

Na América do Diabo
brilha a lua,
inocente e bela
sem saber que a espreitam
espanhóis e portugueses
somente por brilhar amarela.

Para trazer Deus aos silvícolas
urgem espadas, algemas, arcabuzes
bestas de todos os tipos.
Cortez, Pizarro e outras delas,
com a empunhadura em cruz
das lâminas afiadas
esfolam ouro nas peles que, dígnas,
postaram-se contra a fidalguia esparolada
dos cristãos que movem cruzadas
ocultando ouro na fé, esmeralda e muita prata.

Em busca do Eldorado
devastaram Potosí, Montezuma
Ouro Preto.
Venceu os índios o deslumbro,
não a força ou medo.

A América do demo propiciou,
com sua riqueza,
o requinte das realezas,
que se reerguessem reinos falidos
às custas do negro e do índio.

Contraste que emociona o esteta:
a morenez do índio
o negrume do preto
as pepitas amarelas
que guardava o chão
florindo sobre a terra
riqueza de aluvião.

América, açúcar preparando
ouro.
Negro cativo, índio massacrado,
ouro.
Ouro abrindo as portas do céu expansionista
financiando grandes conquistas.
Acumulado na matriz
gera empresas, centros urbanos
Hércules de potentíssimos neurônios
restando a América do abandono.

A América do inferno
Édem terrestre de outrora
esburacada, vazia, destripada,
assesta seus milhões de famintos
contra a América do sonho
que, herdeira protestante da crueldade cristã espanhola,
Escraviza, dizima, espezinha
impera, destrói e desola.

A América, herdeira de Espanha e Portugal,
ensarilha suas baionetas úmidas
arma seus soldados comerciantes
com desprezo por quem não lhe é igual.

Da América do sacrifício
ouve-se a voz do índio:
‘Pai de todos os pobres, de todos
os miseráveis e desvalidos,
ajudai-me a fugir de Tinta!’

Clama a voz no fundo da mina.
O pai de Todos não escuta clamores,
adormecido no seio Inca.
Mastigando coca, ouvindo tambores,
esqueceu-se dos irmãos da Mita.

‘Pai de todos os tortos, entrevados
e opressados nessa liça,
ajudai-me a fugir da Mina’’
Clama outra voz no céu de Tinta

Túpac Amaru, para falar aos índios,
necessita de língua, perdida em Wacaypata
necessita de sua cabeça, em Tinta
do braço direito, em Tungasuca
do esquerdo, em Carabaya
da perna esquerda, em Santa Rosa
da direita, em Livitaca.
Túpac quer seu tronco
lançado em cinzas no Watanay,
quer ouvir seus filhos, enviados
para o lado direito do Pai.
Amaru quer regressar à vida
para tirar de dentro da Mita
seus irmãos que clamam ajuda
contra a força que os executa.

Túpac Amaru, sentado no chão batido
de uma tribo no olvido das batalhas
chora em Potosi, Zacatecas, Guanajanauto,
Outo Preto, Colque, Porto, Andacaba, Huanchaca.
Cura as feridas gangrenadas
de Atahualpa, do Caribe, dos Maias,
Tenochtitlán, Cajamarca,
Cuzco, Cuauhtémoc, Guatemala.

Observa, com olhos sulfurados,
Colombo, Fernão Cortez, Pedro de Alvarado
Fere, com mágoa, a lembrança de Pizarro.

’Ó Pai de todos os mendigos,
inimigo dos dueños de la tierra,
ajudai-me a fugir dessa América!’
Gane uma voz no sétimo inferno da Mita
com os pulmões endurecidos de sílica

Túpac Amaru, sem lágrimas ou ferocidade,
abre seus braços de morto que dão a única fuga
abrigando, em sua redoma, os irmãos da Mita
que rapidamente ascendem aos céus de Tinta.

Os índios centro-sul americanos
acolhem-se na morte aos braços da liberdade

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

DEMOCRACIA FORTALECIDA!!!

DEMOCRACIA FORTALECIDA

Com o advento da prematura absolvição de Renan Calheiros, a Democracia Brasileira da um salto de credibilidade, pasmem, mas é verdade, leiam com atenção e vão entender do que estou falando, se Renan fosse cassado, a extirpação dos crápulas pararia por ai, a Democracia plena, é aquela que é soberana e inteligente, o Senado mordeu a isca e graças a este artifício faremos uma renovação.
Cai um dos últimos Baluartes do PT.
Aluisio Mercadante, antes tido como um exaustivo militante petista, se abstém do voto pela cassação de Renan, jamais poderia ter cometido este crime contra sua própria historia, teria que optar por um dos dois lados, e sentenciar seu voto, ao abster-se abriu precedentes a seus eleitores, para que possam cometer o mesmo deslize, a Democracia sai mais uma vez fortalecida, teria que ser assim mesmo, salvo pouquíssimas exceções, a grande maioria sobrecarregou o muro das incertezas, subindo atraz da cortina espessa do voto secreto, dezenas de Senadores votaram contra seus futuros mandatos, tenho certeza que o eleitor não irá perdoar aqueles que omitiram publicamente suas posições, e no próximo escrutínio serão execrados do cenário político Nacional.Renan só recebeu uma golfada a mais de ar nos pulmões,mas acabara em pouco tempo, analisando melhor, se tivesse sido cassado o Senado sairia fortalecido, e praticamente não haveria renovação através do voto.
A Democracia plena pregou uma peça aos ursupadores do poder, criou uma crise corriqueira nos dias de hoje, para que fossem expostas as viceras do Senado , ai então a Nação pode enxergar sem duvidas que a grande maioria esta podre, o voto secreto é a mais infeliz e covarde manifestação da canalhice dos crápulas. Quando o processo de escolha do regime de votação foi aberto, estabeleci um raciocínio, Se for voto aberto o Senado sai fortalecido, se for voto fechado, a Democracia sai vitoriosa.
Comemorei quando ficou decidido que seria voto fechado, este bando de sem cérebros cometeram o primeiro grande erro que os levara ao descrédito, finalmente a burrice de suas ações tinha aparecido, assim estabelecido a grande maioria sentenciou seu afastamento do cenário político Brasileiro, não agora, mas nas próximas eleições.
A Democracia venceu, esse episódio, comumente chamado de “balão de ensaio”, acabou por fazê-los morder a isca, o povo não precisa saber mais quem subiu no muro da enganação, é só observar quem fincou estacas em qualquer dos dois lados, merecem respeito, este é o fundamento da Democracia, liberdade de ideologia, mas os alpinistas ( que me perdoem os praticante deste esporte), mas é só uma infeliz alusão aos que do muro se utilizam.
Renan será cassado, senão nas próximas CPIs, na próxima eleição, o Senado será reestruturado, e a Democracia dará mais um passo a caminho de sua plenitude.
O Senado da Republica não pode em hipótese nenhuma deixar duvidas em relação a sua total integridade, mesmo porque, é quem fornece em caso da ausência do Presidente e seu Vice, o Administrador da Nação, em quase dois séculos de historia o Senado não foi tão mal freqüentado e representado, eu em nome do meu País, e acredito pelos interesses da grande maioria dos Brasileiros, “exijo” que se faça justiça, que se apurem as responsabilidades e que se punam os culpados, para que seja estabelecida a verdade ao povo Brasileiro.

SALVE A DEMOCRACIA!!!
SALVE OS BRASILEIROS!!!
SALVE O BRASIL!!!

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

MERGULHO.

MERGULHO

Quando mergulho no silencio profundo...
Acesso áreas do meu cérebro desconhecidas...
Viajo por quase todo o mundo...
E relembro de coisas já adormecidas!!!

Vez ou outra me distraio com o som da respiração...
Até nessa hora me disciplino...
E diminuo o arfar dos meus pulmões...
E na prospecção do meu eu me declino.!!!

Vou bem fundo nos quadrantes da mente...
E inicio um safari intelectual...
Quem vê pensa que estou ausente...
Mas só estou fazendo um estudo mental!!

No fim desta viagem introspectivo...
Sempre algo de bom acabo trazendo...
Soluções, resultados, alternativas...
E é assim que meus problemas vou resolvendo.!!!

Foto de paulobocaslobito

O teu amor sempre presente...

A vida é de si tão própria
E tão oca
Tão nua
Despida
E fria
Tão sem ramos
Sem rotas
Sem rumos
A vida é desconfiada
Uma calema
Vendaval de calma e guerra
A imensidão
Nesse momento vasto
Sem perigos
Perigosamente isolada
Perigosamente só
A vida é o sentido
Dos sentidos
Tão a vida
Tão vasta
A vida é tão irreal.

A vida é a nudez
Desfolhada
Desplumada
A roupa alinhada no cesto
O corpo nu
Da alma descoberta
Onde os teus olhos me tocam frios
E as minha lagrimas soltam-se num precepicio
Sou tremulo do momento
Que a vergonha se me deixa aos trambolhões
Penso matar-me só de me assim veres
Que na realidade sou Uma alma penada
Na amargura tão má
Da alma presa e amrgurada
Cachos de parras sobre as minhas faldas
Para me cobrir na verguensa
Que de tanto te amar me sinto perdido
Ao abandono e desesperado.

Inalo os pulmões o ar fresco
Da manhã quente
Alagando o corpo com sangue novo
Capto todo o Oxigénio que me proponho
E quero rebentar de tanto prazer!

Os sentimentos são escassos
Quiçá esparssos e vadios
Pois falta-me o ar no amor
E se falta ar no amor
A gente morre
E se morre
A vida é isso...
Respirar para amar...

A vida é o que sinto
Onde no nada sou mais feliz
Ter-te ou não
Basta que te sinta
Basta que no flash da mente
Me deixes ver o teu sorriso
Mesmo que seja uma coisa do passado
É bom lembrar velhos amores
É bom lembrar o amor
...Viver é amar...
Quem ama vive
Quem vive respira...
A vida é tão só
Mais um pouco de amor
Outro pouco de amor...
Sempre presente o teu amor...

Paulo Martins

Foto de Carmen Lúcia

...e o planeta chora...

...e o planeta chora lágrimas de ácido,
Que caem sobre os rios como aço
E retornam num ciclo plúmbeo, sarcástico,
Gerando nuvens de plástico,
Exalando gás carbônico que se alastra,
Penetrando os pulmões numa devassa,
Poluição, fumaça, desgraça...
É um vaivém que nunca passa.
A terra seca se racha,
O que beber já não acha...
Precisa se fortalecer
E seus filhos socorrer...
Cicio de cigarras...
Tempo quente, o sol abrasa...
Novas enchentes vêm de repente,
Corpos emergem, cidades imergem,
As camadas de ozônio sequer protegem.
O mar se revolta, sem volta...
E ondas cinzentas, pusilânimes,
Transformam-se em tsunamis...
El Niño (Jesus Menino) roga por preservação,
Mas a ambição, a autodestruição,
Acelera o seu ritmo num sádico delírio,
Desequilíbrio mental, desequilíbrio letal...
E nossa casa chora o descaso e o abandono
Lixos contaminam a consciência ambiental.
É a lei do retorno...
Almas enlatadas antecipam o final.

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