Blog de Sonia Delsin

TRAVESSIA

atravesso o universo
pra te levar o meu verso
atravesso

atravesso o mar
pra te levar o meu amar

atravesso ruas e visito luas
digo-te verdades nuas

atravesso o tempo da espera
a lembrança de outra quimera

quem me dera!
quem me dera!

ó , quem me dera eu pudesse atravessar
o abismo que vive a nos separar

AURORA BOREAL

Se você fechar os olhos, verá...
Verá luzes. Um espetáculo e tanto.
Eu te ofereço uma aurora boreal.
Duvidas?
Não sabes que bem eu te fiz em todas tuas vidas.
Não é preciso que estejas lá distante pra ver esta beleza.
Está à tua frente.
É o nosso amor...
Esta riqueza.
Somos um do outro eternamente.
Nosso amor provaremos também num outro tempo.
Tudo teremos novamente.
Ninguém destrói um sentimento tão inocente.

RAROS VERBOS

Me dizias.
São raros verbos que precisas conjugar.
Me dizias.
Vou te ensinar.
O primeiro é amar.
É ficar. É se dedicar...
Querias...
... me ensinar.
Tu que afirmavas sempre que jamais partirias, partiu.
O verbo partir na tua boca inexistia.
Que tanto mudarias, quem diria?

TANTA SOLIDÃO

Para lhe encontrar eu voei
para regiões distantes
com minhas frágeis asas.
Para ir ao seu encontro
eu pisei
em brasas.
Para poder estar ao
seu lado.
o que eu não teria dado?
Você foi o meu pecado.
Minha absolvição?
Só sei que coloquei na sua mão
o meu pobre coração.
E hoje choro aqui sozinha.
É tanta a solidão...

TOQUE

Antes que suas mãos chegassem no meu corpo eu antecipara o toque. Tinha lembrança de seus dedos, do calor de suas mãos e das carícias todas...
Como?
Não me pergunte. Eu não saberia responder porque nunca consegui te esquecer.
Parece que te reencontro em cada novo viver...
E o toque é algo sutil e envolvente nas minhas lembranças.

FOGO SOB AS CINZAS

Vem, meu amor.
Vem na calada da noite.
Vem despertar meus fogos calados.
Só de imaginar suas mãos correndo no meu corpo...
Sua boca na minha nuca...
Já fico meio maluca.
Você sabe que o fogo existe embaixo desta cinza triste.
Vem me despertar.
Quero tanto lhe amar...

TEU JEITO ESPECIAL

Não me acostumo a viver sem ti.
Sem tua boca gostosa.
Sem tua voz sensual.
Fazes amor de um jeito tão especial.
Não me acostumo sem teus dedos.
Eles conhecem meus segredos.
E são tão gostosos.
Perigosos.
Não me acostumo sem tua pele que fica toda arrepiada ao meu toque...
Meus lábios a roçam levemente, gulosamente.
E começamos tudo novamente.
Não me acostumo...
Parece que sem ti me falta um pedaço.
O mais importante.
Sem ti eu morro um pouco a cada dia.
Eu morro de desejo.
Fico aqui sonhando.
Sonhando com teu beijo.

MEU CASTELO DE AREIA

Eu o construía com a vista pro mar.
As janelas todas voltadas pro grande oceano.
Passava o tempo.
Ano após ano.
E eu construindo.
Enfeitando.
Embonitando.
Vinham rajadas de vento e de certa forma o danificavam.
Pacientemente eu o reconstruía.
Se via algumas falhas corrigia.
Mas um dia veio uma tal ventania.
Tão violenta foi que nada ficou de pé.
Percebi tão tarde que construía em terreno arenoso.
E ele me parecia tão formoso.
Meu castelo de areia foi tão somente uma utopia.
Mas eu recomeçaria.
Muito mais madura e preparada
outro castelo mais sólido eu construiria noutro lugar.
Me pus a procurar.

SAPOS COAXAM

Eles permanecem na lagoa.
O tempo...
Ah, o tempo passou!
E como passou!
Mas os sapos estão lá.
Coaxando.
Fico de longe escutando.
Pensando.
Passou o tempo.
E eu?
Eu passei?
Tanto andei.
E estou neste lugar...
A ouvir os sapos...
A pensar.
Tantos anos que pra eles um poema construí...
E hoje?
A escrever outro... estou aqui.

ANÔNIMOS

Quem vive de migalhas...
Está sempre com fome.
Quem vive com a cabeça na lua...
Quem dorme na rua...

Ah, pirilampos cortam o céu!
Num voar.
Num iluminar.

Ele começa a rezar.
Deus, meu pai...
... quero um lugar.
Um lugar pra meu corpo cansado encostar.
Cansei de perambular.

Nos olhos apagados uma mensagem eu li.
Tanto eu vivi.
E vi.
Ele pede numa oração sem palavras.
Uma oração.
E Deus ouve seu coração.