Blog de Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Transparência

Libera toda a afetividade,
derrama as diversas emoções
a rolar feito tapete mágico
por caminhos que levam às sensações.

Abre sentimentos represados
que fazem escarcéus dentro de ti,
debatendo-se na ânsia de serem libertados
e partirem em busca de te fazer feliz.

Sejas o que gostarias de ser,
segue teus impulsos,
realiza teus próprios sonhos...
Abre um sorriso franco,
abraça a arte de viver,
não deixes a vida passar em branco.

Ama todos os amores
e a cada um dê tudo de ti...
Mesmo que um dia se acabem
e abram frestas para o pranto,
as lembranças se farão eternas,
jamais te arrependerás teres amado tanto.

Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Striptease moral

Não importa que o mundo se choque,
que as pessoas evoquem
o santo protetor...
Benzam-se pasmas e indignadas,
invoquem os falsos valores
de uma ética desqualificada.

Não importa que de mim se afastem,
que as luzes se apaguem,
e o palco venha a ruir...
Da ribalta quero fugir.
Resgatar minha identidade
viver a autenticidade,
parar de fingir...

E se alguém se sentir ofendido,
não sabe quem sou, nem o que sinto,
moldada no que querem que eu seja,
atada pra que não ande nem veja...
“To nem aí pro que der e vier...”
Dane-se quem quiser...

Tiro as roupas que me sufocam
vincadas de normas, preceitos morais...
Faço striptease dos rótulos
“ mulher perfeita, efêmera, passiva, reta...”
estereótipo da fêmea correta...
Quero agora escandalizar.
Arranco as sandálias e avanço,
não me canso...
Pés descalços, alma nua,
a caminhar
em território profano,
sagrado,
insano...
e gritar...

Carmen Lúcia

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Com os olhos do amor...

Quero voar nas asas do amor
e por onde eu for
suas marcas deixar...
Quem quiser viajar,
só deixar-se levar
seguindo as pegadas
bordadas no ar,
candeias no mar,
no chão, reluzentes,
luzes incandescentes
que a beleza transcendem..

Quero enxergar o mundo de longe
seguindo a emoção, o meu coração...
Poder me esconder atrás do horizonte,
de lá surpreender
o dia amanhecer
ofertando a manhã
embrulhada em papel,
recomeço de vida,
presente do céu...

Nas asas do amor voarei...
Com os olhos do amor “ a cor darei”
valores que estão adormecidos...
Nada passará despercebido.
Detalhes alcançarei,
mesmo os que o homem não vê
com os seus olhos físicos,
porque a verdadeira beleza
reside na essência
e é invisível.

Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Entre Deus e o pecado

Apenas um gesto,
um simples aceno
e quase um incesto
pois na fé somos irmãos,
na qual já nem acredito
pois torna proibido
meu amor por você...

Apenas um olhar
cravado em meu peito
abalou de tal jeito...
não dá mais pra voltar.
Creio em seu credo,
canto o seu canto,
sonho o seu sonho
inebriada de encanto...

Somente um segundo...
seu olhar a me ver
foi tão forte e profundo
que me fez renascer,
que me fez esquecer
sua missão nesse mundo,
uma densa barreira
criada por insensatos,
transformando em profano
um amor tão sagrado...

Num abismo forjado
por normas já desgastadas
me sinto jogada,
pela fé castigada...
Entre nós, a muralha,
muro das lamentações,
sem poder transpassar
e ficar ao seu lado,
dar vazão a emoções.

Fico assim dividida,
do outro lado do lado
me sentindo perdida,
entre Deus e o pecado.

Carmen Lúcia

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Oração a minha mãe

Teu dia se aproxima...
Aquele no calendário marcado.
Mas, na verdade, deveria ser todo dia.
Um só é muito pouco
pelo muito que deve ser comemorado.

Mãe, mesmo não estando aqui
de corpo presente,
vejo-te a todo momento, em qualquer tempo...
Onipotente!
Estás em tudo que faço, sinto e falo
porque sou parte de ti...
Eternamente!

Te fazes presente em minha inspiração,
nas rimas de minha poesia,
naquela nossa canção
que cantávamos em sintonia
e gargalhávamos inventando a melodia...

Nas tardes de primavera
em que tua beleza se confundia à dela,
nas flores que colho de nosso jardim,
rosas , hortênsias, lírios, jasmins,
postas num vaso da sala
onde teu perfume exala.

Como crer que não mais existes
se a tudo tu me assistes...
Quando chego da rua,
gelada de frio, molhada da chuva
e em minha mão sinto a tua
é teu calor a me esquentar...
Ao fazer aquele bolo de fubá,
o cheirinho de café a se espalhar...
Outro como o teu não há!

E mesmo quando estou triste
sinto teu colo, teu amparo,
tua canção de ninar, teu embalo...
Meu coração se consola,
minha alma se revigora
e volto a sorrir, reconfortada agora...

Mãe, mudaste de patamar, de andar,
sem nunca deixar nosso lar...
E ao mesmo tempo em mim ficaste,
senão como explicar toda sensibilidade,
tanto amor que me invade,
que em mim sinto vibrar,
se não é teu ser, teu coração
que me fazem seguir em tua direção?

Mãe, neste dia
em que se reverencia
o símbolo do amor em profusão,
aceite esta minha poesia
como se fosse uma oração!

(Carmen Lúcia)

Carmen Lúcia Carvalho de Souza
03/05/2008

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Momento único (PARA MINHA MÃE)

Um doce enlevo me conduz à recordação
trazida pelo vago entre a tarde que morre
e a noite que se anuncia...
Pela nostalgia que se espalha no ar
e pelo espaço vazio entre os dois momentos;
final de tarde e início de noite...
Pelo surgir, de qualquer canto, da saudade
que invade e toma forma,
pra se fazer notar...

Então a vejo...
A tez clara em oposição à contraluz do lugar,
brilho ao mesmo tempo fosco e esfuziante...
Cabelos discretamente dourados,
como folhas de outono, apagadas...
Olhos que me acariciam, me adornam...
E me deito em seu colo
tentando retroceder o tempo...
Queria esse tempo agora...

Utópico pensamento que me consola.
Suas mãos macias em meu corpo
me fazem renascer...
Adormeço com o seu cântico
a me embalar ... e de novo me gerar.

Minha mãe...Eterna morada...
Acordo... enquanto o doce enlevo se desfaz;
olho para o espaço vazio
entre a tarde que se vai
e a noite que ainda vem.
É o momento de a reencontrar...

Carmen Lúcia

Carmen Lúcia Carvalho de Souza
25/08/2009

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A poesia que trago

Faz tempo que não faço versos,
só vejo no belo
inversos, flagelos...
Perdi-me em meio a palavras
outrora tecidas, hoje desgastadas
clamando o que me transtorna,
jorrando pra fora razões desastrosas.

Faz tempo não junto palavras,
meu verso é reverso,
meu grito é calado...
Meu eu só externa protesto,
materializa o que testo,
versos em desagravo...

Não sinto aquilo que digo
e o que digo condiz
com a farsa que espalho...
As rimas me fogem à galope
como tenta fugir
do feitor, o vassalo.

Há tempo que sonho acordada
e não amanheço, só noite escalada...
Espero traçar nos espaços
das folhas em branco
a poesia que trago.

Carmen Lúcia

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Olhar devagar...

Olho-te bem devagar...
Invado tua privacidade com o olhar.
Há sempre uma verdade a ser descoberta,
uma porta fechada, uma janela entreaberta,
uma luz apagada e um brilho pela fresta.

Preciso desvendar detalhes...
essências que de ti me falem,
tocar os teus limites
e até onde me concedas
desbravar o que omites,
o que não deixas transparecer...
Trocarmos olhares,
nos permitirmos ver...

Tatear o que me escondes,
preencher as tuas pausas,
compreender as tuas causas,
ver-te perfeito entre os amores,
aceitar teu modo de ser...
Calar-me junto contigo
se assim se fizer preciso
e no silêncio da resposta
descobrir o que sentes, o que sinto.

E por mais alto que se encontre
tua velada inquietude
e meus braços não puderem alcançar,
minh'alma alcançará
ao olhar-te bem devagar
em tua magnitude.

Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Águas de abril

Águas se fundem com o pranto,
percorrem todos os cantos,
deságuam os encantos
em oceanos salgados,
pardacentos, insensatos,
provocando dor e ferida
em quem se encantou pela vida...

Chegam de improviso
mutilando sorrisos,
tornando-se arrastão...
Devastam sentimentos
exterminando os momentos,
transbordando as ilusões...

E a água, fonte da vida,
desta vez não foi guarida,
mas traiçoeiro alçapão...
De bendita à maldita,
mostrou uma força bandida
vinda de supetão...
Soterrando inocentes,
produzindo grande enchente
dentro de cada coração...

Carmen Lúcia

( poema alusivo às vítimas das enchentes)

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Momento certo...

Só me pronunciarei no momento exato,
aquele que me trouxer a certeza
de que as incertezas se esvaíram pelas frestas
e as asperezas, num pacto com a fumaça,
perderam toda a força, esvoaçaram sem arestas
e o que prevaleceu não há o que desfaça.

Só me farei presente ante a resposta convincente
de que o passado realmente passa,
concedendo mudança de estação,
ainda que a resposta de hoje
mude a pergunta do amanhã.

Só me mostrarei quando o sonho se tornar real...
Quando puder tocá-lo e não me fizer mal
como tantos outros que não pude viver,
onde a duras penas precisei retroceder...
E perder...

Só retornarei quando se abrir a pista
sentindo cores costuradas em minh’ alma
permeada por essências de flores e amores...
onde dores execradas em jazigos, sepultadas,
não mais permitam que eu perca de vista
...a primavera...

Carmen Lúcia

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