Blog de Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Incoerência

No ápice da montanha onde a beleza aporta
em cores reinventadas, luzidias e mescladas,
nuances celestiais, misticismo que aborda
permeando cascatas de águas dançantes,
plantas exóticas e fontes ondulantes
bordando uma cortina, exposição do encanto
onde o desencanto e a inveja só observam da janela,
galopa a grande dor num cavalo alado
querendo se mostrar ao mundo
num voo incoerente ao inusitado...
Abrindo-se em leque úmido,
mofado, estraçalhado,
cuspindo dos dissabores, os mais profundos.

E a dor perpassa pela beleza...
Não se curva ao sagrado,
não cobiça tal riqueza,
não se importa com seu toque
nem responde ao seu chamado...
Cavalga a sua grandeza,
busca o ar que a sufoque.

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

Reticências ...

Reticências...

A indecisão impede-me de prosseguir...
Dúvida atroz segura meus passos.
Eu, que me julgava rica em experiências,
ter conhecido o céu e o inferno,
incapaz de retroceder ou estacionar,
seguindo sempre adiante sem temer obstáculos
que me foram apresentados durante minha vivência,
rendo-me às fragilidades, ao cansaço , aos fatos...
Dou-me a uma pausa...ou às reticências...

Percebo o quanto sou humana e incapaz.
O cristal de minha alma se trincou...
é preciso cuidar pra não se quebrar,
restaurar o que ainda restou...
Agora me entrego às mãos do tempo...
Que elas me coloquem no trilho certo.
É preciso parar no próximo atalho,
repensar a vida, meu estado precário,
buscar clareza, viver o real, sair do imaginário...

Confundem-me os erros e acertos
e os sonhos se encontram em desacerto...
Já nem sei se mais errei ou acertei...
Paradoxos se interpõem em meu caminho
e testam, à toda hora, meus desatinos...
Preciso coordenar o sentido das coisas,
penetrar em seus significados...
Buscar o certo, corrigir o errado.
E o que é certo ou errado?

O primeiro passo já foi dado...
Confessei-me frágil, vulnerável,
revelei minhas debilitações
diante da imprevisão de um temporal.
Reiniciarei minha história...
Parei nas reticências, não no ponto final.

Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Espera mais um pouco...

Não, estrela, não te vás...
Fica um pouco mais...
Ainda há tempo, a noite se inicia,
a lua de prata ainda nem se pintou.
Não deixes teu brilho se apagar
nesse teu bailado ensaiado
deixando vazios pra quem quiser ocupar
e a cada vez mais, teu brilho intensificar.
Ensina-me a luzir, a sorrir, a bailar
por esses vácuos entre a escuridão e teu cintilar,
brilho que inebria sem cegar,
ou cega a quem não sabe te olhar.

Derrama tua lágrima azul e pura
no branco de minha alma a pulsar,
em meu coração descompassado,
tatua meu corpo em tua explosão estelar,
desconcerta-me com toda tua beleza que seduz,
crava tua luminosidade em minha cruz.
Empresta-me os vazios desse teu caminho
deixados no infinito a se apagar
pra que neles eu possa trilhar
e recolher as faíscas
que tu deixaste ficar...

Agora vás, estrela,
não deixes o dia te roubar...
Tragas de novo teu brilho
quando a noite acordar.

(Carmen Lúcia)

Foto de Carmen Lúcia

Evasivas...

Já naveguei em alto mar,
Meu corpo a me transportar,
A remar, a procurar, a buscar...
Mergulhei no abismo do infinito,
Atravessei fronteiras distantes,
Eletrizadas...Eletrizantes...

Pisei em terras minadas
Onde bandeiras fincadas
Simbolizam a lei do poder...
Sentimentos atravancados
Dominando o ter e o ser...

Quis apreender, entender, crer...
Meus braços alcançaram espaços
Inalcançáveis ...
Meus pés andaram por lugares
Intransitáveis...
Ultrapassei limites
Além de que o sonho permite...

Transpassei minhas finitudes,
Minhas altitudes e latitudes...
Estes chegares da ciência e do avanço,
Que avançam mais do que posso e alcanço...

Nada encontrei além das longitudes que desbravei.
Perguntas com respostas não contundentes...
Respostas evasivas, não convincentes...
Ou nada de respostas!
Evasivas...Somente!
Só mentem...

_Carmen Lúcia_

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O motivo maior

De tudo, és um pouco mais;
da vida, o concreto e o indefinido,
da inspiração és o próprio verso,
do infinito, o universo,
de todos os limites, a ponte
pra se alcançar o tarde e o longe.

Das manhãs de sol és luz
que a tudo ilumina e conduz;
da alma que chora és lágrima
que umidifica e abraça
abrindo clareiras, lavando onde passa,
suavizando íngremes jornadas.

És remédio pra dor, és calor,
a essência da pureza, nascente da beleza,
o motivo maior, o imprescindível,
a razão e emoção
unidas, em feliz comunhão,
a simetria , harmonia, poesia...
És o gládio pacificador...
És o Amor!

(Carmen Lúcia)

Carmen Lúcia Carvalho de Souza
28/04/2009

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Sob o poder do amor e da imaginação

Ouço tua voz...
Por todo canto que eu vá,
e tu me falas com doçura
aliviando as agruras
quando teimam em dominar,
impedindo-me te escutar
como se possível fosse
essa onda magnética
que me ronda, cibernética,
de mim se afastar.

Ouço tua voz...
Que me chama, que é chama, que me ama...
E corro ao teu encontro
e te imagino a me abraçar.
A alegria do reencontro
suporta a dor da ausência...
Pressinto que aqui estás.
O encantamento do momento
não está no que se vê,
mas no que se pode imaginar.

Ouço tua voz...
E a calma do silêncio
é invadida por som melodioso
a preencher o vazio
de um jeito harmonioso,
como uma doce canção
ouvida pelo meu coração.

E tua voz incendeia a brisa que permeia
a essência, a forte presença
de uma ausência sem despedida,
fazendo o tempo correr ao contrário,
driblando a dor da partida,
pois o amor tem o mágico poder
de realizar tal proeza
e a imaginação,
transformar a saudade em beleza...

_Carmen Lúcia _

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Cara e coroa

Sou a mais viva cor do arrebol,
também a nuvem negra que encobre o sol.
Sou um gesto nobre de carinho,
também o frio incesto de seu ninho.
Sou a calma de um mar tranqüilo,
também um furacão bravio.
Sou outono e vento que vêm desfolhar,
também a primavera e o frescor a aflorar.
Sou a branca paz que pacifica,
também o arsenal que mortifica.
Sou a moça pura, acervo de poesias,
também a prostituta das noites vadias.
Sou a bênção que a alma refaz,
também a maldição de ancestrais.
Sou a seca do sertão agreste,
também a chuva fina que umedece.
Sou luz, sou chama, sou clarão...
Também sou trevas, sombras e escuridão.
Sou tudo isso que me mostra,
cara e coroa...
Quem aposta?

_Carmen Lúcia_
12/07/2006

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Procurando encantos...

Procuro encantos para comprazer-me os dias
que passam tão iguais, espalham monotonia,
nada que me abale ou me venha ressarcir
da falta de sentido, do tempo que perdi.

Não sei se a vida me esqueceu
ou me esquivei da vida...
Se ela muito me ofereceu
ou se passei despercebida...
Se ainda há tempo pra retroceder
ou se já é página esquecida,
saiu de meu contexto
quando saí de seu convívio.

Porém o que a vida não sabia
é que me entreguei aos intervalos...
Fiquei nas entrelinhas , perambulei os atos,
mudei a partitura, dei-me à pausa das canções
pra dar prosseguimento aos fatos
mergulhei nas reflexões.

Volto à tona pra recomeçar mais viva.
O que espero nem sei se um dia virá...
Encantar-me de novo somente o novo dirá...
É verso que ainda não posso escrever,
são palavras que ainda não sei falar.

_Carmen Lúcia_

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Eu creio...

Creio naquilo que vejo.
Diante dos fatos não há argumentos.
Pra que questionamentos, lamentos
se o concreto é caso consumado?
Não se reverte o que foi sacramentado,
o irreversível, o que está lacrado.

Creio também naquilo que não vejo...
Então deposito a minha fé.
Crer sem ver, ir sem me arrepender,
sem a frágil crença de São Tomé...
Voltar e partir sem esmorecer,
cair com a certeza de me levantar,
errar e aprender com os próprios erros,
nunca desistir e investir nos acertos.

Creio no certo e no incerto,
no correto e incorreto,
no provável e improvável,
no que um dia promete dar certo
ainda que dê errado...
Creio no indescritível,
no impossível, no inusitado.
Pois quem não crê
morre sem ser sepultado.

Carmen Lúcia

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Cala, coração!

Quem irá calar um coração
que bate incontrolavelmente
e sofre a mágoa dessa inquietação
por só querer ser feliz... E a tudo bendiz ,
ainda que sem retorno, em abandono,
mesmo sem uma plausível explicação
que o faça abrandar a pulsação
ante os anseios que incansavelmente
o desnorteiam, o fazem delirar
e liberar fortes emoções...
Ainda que voltem para seu lugar
proibidas de passar...

Ah, coração, que não conhece a vida,
querência imprevista, paixão recolhida...
Inocente, quer se encher de amor
sem saber que ele está extinto
para um coração carente, indigente
e inclemente zomba de sua dor...
De um sentimento profundo
maior que seu próprio espaço,
não cabe em seu mundo...

_Carmen Lúcia_

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