Blog de Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Chuvas, lágrimas e suores...

Chovi...

lágrimas represadas,
desilusões estagnadas,
suores suados em vão,
histórias marejadas.
Molhei o meu chão...

Soprei...

Mágoas destoadas,
lambi o sal de meu pranto,
sequei desilusões desenfreadas,
lavei suores que ardiam tanto...
Enxuguei histórias que faziam mal.
Preparei a noite,
extirpei o mau.

Amanheci...

Céu azul depois do vendaval,
sol brilhante reacendendo a vida,
paz em tonalidades coloridas...
Nuvem branca deslizante,
dia calmo, maré mansa,
corpo leve, alma branda.

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

Pássaro mutante

De quantos voos necessitas
Pra extravasar teus trinados?
De quantas cores te camuflas
Pra desmascarar camuflados?
Às vezes, suave passarinho,
Na construção de seu ninho,
Esposa, filhos, lar...

Por outras, és sabiá,
Entoas tristes gorjeios
Trazendo saudades de lá...
Ou então, um beija-flor...
Planando... Não sais do lugar,
Vôo rasante, apaixonante,
Rodeias a flor pra lhe falar de amor!

Transmutas-te numa gaivota
Quando queres reverenciar o mar...
Entre nuvens desapareces,
Em altas ondas ressurges,
Vôos coreográficos
Em azuis celestiais.

E quando ronda o furacão
És o condor que reaparece
E das grandes montanhas desce
Camuflando-se de negro tufão
Em defesa dos oprimidos,
No combate à corrupção.

_Carmen Lúcia_
08/03/2008

Foto de Carmen Lúcia

Amanhã...talvez!

Acordei apática, amortecida,
nem disse bom dia ao dia,
nem fiz a oração a Deus
bendizendo o dom da vida.

Não quis falar de poesia,
nem relembrar sonhos meus.
Senti a alma vazia...
Onde deixei os sentimentos
nesses estranhos e tristes momentos?

A dor em meu peito ardia
e por mais que a rebatesse,
não se desfazia.
Sequer abri a janela,
pra deixar o sol entrar...
A luz transpassada por ela
fez meu olhar se fechar...

Perto dali eu ouvia
um alegre bem-te-vi
fazendo homenagem ao dia...
Tapei os ouvidos, fingi
que não o ouvia...
Mal-te-vi!

Deixei que as horas passassem,
malditos minutos incontáveis...
Por que existem manhãs?
E todo frescor matinal?
Por que a poesia lá fora
quer me falar logo agora?

Por que existe tristeza
em contraste com tanta beleza?
Por que não consigo chorar
pra minh’alma aliviar?

Hoje não estou para nada!
Sinto-me inanimada.
Dormirei outra vez...
Amanhã, quem sabe?
Talvez...

_Carmen Lúcia_
21/10/2007

Foto de Carmen Lúcia

Não gosto do poeta

Não, não gosto do poeta...
Ele vê beleza em todo lugar,
beleza que meus olhos não conseguem enxergar.

Não, não gosto do poeta...
Suas atitudes certas de liberdade
são incoerentes com as incertezas de minha verdade.

Não, não gosto do poeta...
Que sabe fazer da dor uma prece, uma canção,
enquanto morro todo dia de desafeto e solidão.

Não, não gosto do poeta...
Ele é um rico pedidor de esmolas
E eu, pobre de idéias, nada me consola.

Não, não gosto do poeta...
Ele pode voar onde só os deuses conhecem,
desvenda mistérios que céus e terras desconhecem
e eu, prisioneira de valores descabidos,
construo para mim um cárcere de pedra.

Não, não gosto do poeta...
Como um louco, esbanja plena lucidez,
e eu, lúcida, sou fruto da insensatez.

Não, não gosto do poeta...
Que me faz sorrir, quando quero chorar
e me faz chorar ao sentir o desejo de amar.

Não, não gosto do poeta...
Sua alma é transparente
e se a tenho, é impura e insolente.

Não, não gosto do poeta...
Ele e as estrelas caminham juntos,
e eu, perdida em meu mundo,
preciso tanto de sua luz...

Ah...Como invejo o poeta!

_Carmen Lúcia_

Homenagem aos poetas no Dia Nacional da Poesia.

Foto de Carmen Lúcia

Dança comigo?

A agilidade, os movimentos sinuosos,
mostram, do corpo, a sua apropriação.
Neste prazer, momentos caprichosos,
minha face rubra, pela tanta emoção...

A entrega mútua ao doce ritmo, apega,
insinuando passos criados com fulgor.
Com mestria, tudo que a dança agrega,
amena, vistosa, uma história de amor...

Por todo o salão a ansiedade incontida;
o casal, em voltas completas no espaço,
sem medos, sem negligências da vida,
embora juntos, como fora um só traço...

O baile, o recomeço de um novo enredo,
com os encantos que permeiam a canção.
Cada um dos passos libera um segredo,
como a revelar momentos de fascinação...

Na evolução da dança, a pura sintonia.
Os corpos suados, o olhar mais atrevido,
os gestos, todas viravoltas, a parceria.
Entre as bocas, o beijo do amor vivido...

Oswaldo Genofre & Carmen Lúcia

( Agradeço ao grande poeta e amigo, Oswaldo Genofre, a oportunidade de juntos criarmos esse poema.)

Foto de Carmen Lúcia

Vem...

Vem...
Acordar os amores
que dormidos ficaram
sem os carinhos teus...
Vem...
Harmonizar afetos
que rondam em desafetos
pelos caminhos meus...

Vem...
Reacender estrelas
que apagadas fazem
o céu entristecer...
E as noites reclamam,
as poesias clamam
a luz de teu querer...

Vem...
Iluminar sorrisos
fechados, sem avisos,
sem ter porque sorrir...
Vem...
recolorir as flores,
deixá-las multicores
felizes no jardim...

Vem...
Suavizar as dores
que com tua partida
só tendem a crescer...
Vem...
dar um sentido à vida
que hoje estremecida
não sabe mais viver...

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

Labirinto

Rastreio passos por caminhos que perdi,
procuro inversos entre os versos que reli,
busco a essência infiltrada na raiz
e a palavra sacrossanta que bendiz...

Percorro livros que clareiem minha mente
sem encontrar o conteúdo convincente,
se me aproximo da verdade, ela se esconde
e me afasto sem saber... Ir para onde?

Abro horizontes e não sei o qual seguir,
construo pontes com intuito de unir,
se as transpasso, ultrapasso o meu espaço
e vou além de onde precisava ir...

Recorro a Freud que explode o pensamento,
e não explica... Replica meus argumentos.
De meu rosário descontei todas as contas
E até meu credo anda descrente de mim.

Já não sei quem sou, como sou, se sou...
Inerte estou, perdida num labirinto
pintado em minha mente, triste mente
e o coração gritando a confusão que sinto.

Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Nunca estarei só...

Não estou só...
Ainda que a solidão teime em me sequestrar
e meus dias amanheçam calados
fazendo do tempo o algoz de meu sorriso,
inserindo lacre no fosco de meu rosto,
sem aviso, de improviso, de mal gosto,
realçando marcas que se mantinham abrandadas,
apagando de meu álbum, fotos de pessoas amadas,
que ficaram pelos caminhos de nossa jornada,
ainda assim não me sinto só.

Mesmo que dos sonhos reste apenas um,
não o deixarei que morra, cultivá-lo-ei,
pois sei que sonhando, sobreviverei...
Ainda que as emoções se tornem mais amenas
obedecendo o ritmo de minha limitação, apenas,
seguirei em frente, rumo à superação,
e mesmo só, nunca estarei só...
Dormirei, sonharei, brincarei com a fantasia,
caminhando de mãos dadas com a poesia.

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

Barco Perdido

Beijos de agradecimento, querida amiga e poeta Carmen Cecília!

Foto de Carmen Lúcia

Amor Atemporal

Confesso que parei no tempo...
Apesar das marcas registradas
durante o longo das estradas.
Ou ele me deixou pra trás,
correndo veloz demais...
Houve expressivas mudanças...
Por fora!
Por dentro continuo a mesma...
Antes e agora.

Às vezes me sinto idiota
nessa realidade ilusória.
Ser anormal, atemporal!
Felicidade irrisória...
Idiotice que me faz sorrir
pra quem me vê assim...
E de repente gargalhar
até chorar, de rir...De mim.

Ainda vivo meu primeiro amor!
Único!Outros eu já esqueci...
Com o mesmo ardor de adolescente,
a mesma paixão crescente...
Como se fosse hoje
o tempo em que me perdi.

Tantos anos se passaram...
Quantas águas rolaram
desde que ele se foi,
deixando terna saudade
que nunca deixo morrer...
Camuflo-a de cores vivas
e dela tento sobreviver.

Sua música ao piano...
No palco, minha dança,
ilusões por trás dos panos,
palavras de esperança,
gestos de amor,
beijos de batom na flor...
A doce entrega!
Emoção!
Vida a pulsar!
Coração!

Ainda danço. Sem pano vermelho...
Sem palco, sem aplausos...
Frente ao espelho!
Reverencio a mim mesma...
Revejo...Vibro com o que vejo!
Seu verde olhar
a me incitar...
E me ouso em passos inusitados
que mantenho guardados
para meus momentos calados...

E seu piano toca...E me toca,
ainda mais suave...
Mesmo em tom mais grave.
Notas musicais
irradiando claves de sol...
a solfejarem... me sussurrarem...
Trazendo-o bem junto a mim.
Amor sem fim!

Sou feliz desse jeito.
Insensata, mil defeitos...
A vida não é um tratado
e ninguém é perfeito.
Escuto minha alma
que tudo vê e pressente...
E revivo no presente
o grande amor do passado.

Carmen Lúcia

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