Na rua, uma sombra alta e triste
ergue-se dentre a névoa gélida;
noite suspensa de um passado.
Tal braço, retesado em riste
do afogando, mão a buscar vida
e um mistério no tempo guardado.
Alta torre faz relevo à vista,
contrasta ao azul, somando ao céu.
Nuvens bordam a moldura entorno;
acima, janela a lua avista
e a filtra em vitrais, a luz pincel...
Quadro vivo, tela o chão, adorno.
Vestígios da beleza em ruína,
restos de sonhos, solvem a volta,
dos risos, dos casos em segredo.
Degraus subindo o mármore a cima,
ligando ao nada a ilusão solta...
Velhos fantasmas a trazer medo.
Apenas restou o que se ergue,
pois, mais ninguém, mais nada lá ficou.
Junto a ultima gota que verteu,
taça de cristal, vinho, e sangue,
estilhaçada a vida se quebrou.
Por testemunha a noite, que esqueceu.
O solo pontilhado de luar,
vazando aos vidros coloridos;
cintilou em matizes de carmim,
que a aurora escureceu ao raiar.
Revelando os Reis adormecidos,
em uma noite, que não teve fim.
Mas, o Sol não trouxe a claridade
que rompesse a densa névoa escura,
que encerrou dentre a alvenaria,
atrás de portas, paredes, grade.
Causas, culpas da história, pura,
não se soube, o oculto não traia...
E veio o anoitecer novamente.
Trancou as portas, fechou as grades,
cerrando as cortinas e os portões...
Desbotando tons, e o inconsciente
se encarregou de criar verdades.
Por provas, fez de mitos as razões...
Recolhido entre as salas desertas,
os anos a somar o abandono
pilharam a beleza em pedaços.
Abrindo furos, rasgando frestas.
E o dormir deste eterno sono,
Morfeu colheu por entre seus braços.
Tudo agora é escombro somente;
cravado à cidade, triste confim
de velhos espectros e da sombra.
Partilhado ao mendigo, indigente,
covil de ratos, aranhas, capim,
que feri aos olhos frágeis que assombra.
Mas, longe da escuridão, um alguém
guardara a lembrança, a luz vencida.
Que afundou-se aos relógios se pôr.
Lembrando a quem, já a muito além...
por tantos anos, por toda vida.
Posto uma prova que houvera o amor.
Solitária rosa, deixava ali.
Em data exata, quando ao ano vem:
De aniversário um presente terno,
no envelhecer do castelo e a si...
Até que a noite deitou-se também,
a pele esfriando-lhe de inverno.
E a ruína, assim, ficou mais só
e a historia, tornou-se rumor.
O castelo apartou-se do mundo,
sequer memória, saudade, ou dó.
Como se sempre ele fora a dor;
tal de canto algum oriundo...
Quiçá, a torre, querendo altura,
qual mão, apenas anseie outra flor,
pelo céu procurando a encontrar...
E para não quebrar-se a jura,
fez das pedras, pétalas, por amor.
Fez-se o castelo uma rosa a murchar.
Comentários
Voltei amigos: Arnault.
Já fazia tempo que não postava nada... Mas para o retorno preparei algo especial; o poema que você lerá ou talvez já tenha lido, por mais absurdo que pareça é uma historia verídica. Claro que levemente romantizada... Mas, em nada mentirosa. O castelo localiza-se em São Paulo, Rua Apa n° 236.
Para conhecer melhor a história deixo um endereço de blogue que conta em detalhes: http://mariolopomo.zip.net/arch2008-06-01_2008-06-07.html
Espero que gostem...
Um abraço Arnault
Lizzi p/ Arnault
Como sempre surpreendendo com seus poemas, uma mistura de a Bela e a Fera, fatos históricos, Criminal Minds, Cold Case( séries policiais), sem contar que atualmente o castelo é um Patrimônio Histórico Cultural da sociedade paulista... ou seja, me encantou profundamente...
Poeta você juntou tudo com tal perfeição, encantou com o romance, fruto de uma verdadeira arte poética!!!!
Arnault p/ Lizzi
Obrigado Lizzi, fico contente que tenha gostado, sobre o castelinho... da até pena do estado que ele está, ele é realmente um patrimônio publico mas não se tomar nenhuma providencia de restauro... se continuar como vai, ele logo não ira mais existir... o que é uma lastima.
Não sobrou nenhuma parte dos vitrais, dos revestimentos em mármore, madeiras nobres como jacarandá... dos lustres.... foi tudo roubado, por colecionador ou depredado... o segundo andar em madeira nem mais existe... levaram todo.
Como o final do poema diz "... uma rosa a murchar."
Obrigado com carinho
Arnault
Poetisa Cléo Alves p/ Arnault
Querido amigo poeta, fico muito feliz que voltou!
Senti saudades de seus poemas encantadores,
e vejo que voltou inspirado!
Parabéns por essa obra tão bem elaborada,
continue a nos encantar!
Um grande abraço e receba meu voto.
(Cléo Alves)
Arnault p/ Cléo Alves
Obrigado Cléo, com recepção tão boa fica difícil não retornar... rsrsr
Realmente confesso que este poema deu mais trabalho que o habitual... mas parece que até que consegui um resultado aceitável, a história merecia...
Agradeço pela recepção, pelo comentário e voto.
Um abraço
Arnault
Arnault - Lua-Verde
E que lindo regresso, poeta dos mil encantos...
Uma História de encantar, poetizada aqui como só tu sabes fazer... Com alma, amor e sentido... Tocas as palavras com uma música que não me canso de ouvir.
Parabéns.
Um beijinho
Lua-verde
Arnault p/ Lua Verde
Mas somente agora o poema me parece completo, faltava o seu comentário.
Assim que ele foi colocado aquela sensação de faltar alguma coisa passou... mas, agora ficarei na prontidão mais encontrar um dos seus,
Não vá deixar o seu fan clube desta forma ... sedento.
Isso é maldade. rsrsr
Bjo com carino
Arnault
Lu/Arnault
Meu nobre poeta,
Seus poemas fazem muita falta por aqui, mas é muito bom saber que vc voltou,
e esse poema que é um misto de amor, carinho e mistério... deu uma química e uma história perfeita,
parabéns, como sempre, vc se supera a cada poema que posta!!!!!
meu voto, meu carinho, meu aplauso!!!!!!
Cinderela apaixonada
p/Nô
é marcante esse seu mix poético, que conduz o leitor a viajar pelo mundo da imaginação...
xerooooooooooo
Nailde Barreto.
Nailde Barreto.