Botões mimosos
ainda a florescer...
Semeados sob viadutos, pontes,
solos inférteis!
Talvez nem cheguem a crescer...
Límpidas fontes de pureza
que se perdem nas ruas
infestadas por cruéis ardilezas...
Nos olhos, álgida tristeza,
o estômago a roncar...
Ausência de qualquer delicadeza!
Mãos sujas a mendigar,
corpos frágeis de fome
cambaleando magreza!
Homens passam de um lado pro outro,
alguns viram o rosto...
E elas maltrapilhas, famintas,
sem riso, sem chão,
sem brilho no olhar,
deixam uma lágrima escapar!
Vez em quando, uma alma generosa,
doa-lhes algum vintém...
Dividem um pão seco
com muito cuidado
pra não falte a ninguém
e dão lições de solidariedade,
elas nada possuem,
mas partilham o que têm.!
Neste esmaecido jardim,
de flores tão delicadas
semeadas em nossas ruas,
bancos de praça e calçadas,
sem viço, mas com a alma perfumada,
transeuntes não querem penetrar...
Ou dói-lhes a consciência,
ou prepondera a dormência...
E assim é criada por nós homens
a escola da marginalidade,
pós graduação em revolta...
E aquela pura flor,
em trágica reviravolta,
transmuta-se em feroz espinho
por carência de um lar, escola, amor...
Por carência de alimento, um olhar atento,
quem sabe um suave carinho?!
Ah! Triste destino de botões tão pequeninos!