Ah, porque nos vestimos de palavras, tantas vezes não nos reconhecemos. Porque co-habitamos nosso próprio lirismo, e desse convívio alimentamos a auto-estima, pela humana necessidade de auto-identificação... Enfim, tantas vezes exilamos para outros níveis conscienciais a idéia da nossa verdadeira natureza. Íntima natureza dos poetas, que não cabem em si e precisa vasar.
Nossas palavras, meros veículos físicos, revelam-se multifacetadas à luz de um fogo interior. A poesia, como um diamante pendular, é susceptível às emoções das nossas fibras e à oxigenação do nosso sangue. Dança. Passa de mão em mão. A um só tempo é permissiva e púdica, torpe e lúcida, lânguida e dissimulada, escrachada e recatada, de modo a se aninhar no olho do turbilhão das susceptibilidades de cada um. E de modo a habitar a transitoriedade de tudo, faz-se sempre amigável e gentil. Rima-se dor com amor há uma miríade de sucessivos sóis, sem pensar na crueza dessa verdade, submetidas as nossas mentes pela força de preconceitos morais, instituídos e protegidos pela visão míope e dogmatizada de um deus meramente humano...
Então, pensamos que na poesia podemos ser o que, no nosso mundo humano, não teríamos coragem de ser. Ou deixar de ser o que para o mundo somos. Ou fazer-nos melhores, ou piores... Amados poetas... A poesia é espírito... E assim como não é a palavra, também nós (pensamentos e sentimentos) não somos nossa carne. Embora a exerçamos, e exercemos a vida e o mundo quando nos permitimos que a poesia nos possua! Lendo ou escrevendo, gozamos uma energia segundo a espiritualidade de cada um. Oh, não... Ao menos dessa vez não permitam que algum dogma turve a pureza cósmica de gozar, de transmitir e transformar, como manifestação de amor, de querer bem e de bem servir. Nem mesmo o dogma anárquico, segundo o qual nenhum dogma se justifica.
Façamo-nos dóceis e gentis. Podemos vestir a mais delicada seda ou a mais frágil renda. Podemos caminhar sem botas sobre peitos trêmulos, ou arar sulcos fremitosos, ou moer ansiosas areias até torná-las líquidas. Podemos fazer todas essas coisas e muitas outras, do lado de fora, sem macular a brancura do amor... Mas façamos isso, aqui dentro, lucidamente. Os poetas são herdeiros de Vulcano. Nas covas profundas das suas dores, onde escorre incessante o suor do seu trabalho interior tão desprezado e mal pago, acumula-se a pressão altíssima da sua sensibilidade, tenha ele ou não consciência disso. O inevitável. O imensurável. O intangível amor do poeta haverá de cumprir seu papel no mundo, sempre que se romperem as últimas crostas. Seus versos ejacularão o magma incandescente da sua pureza, sequiosa, ansiosa por um cadinho onde possa enfim repousar. Só então o seu espírito exultará levitado, sobre a sua carne, pacificada.
Comentários
Lou muito interessante...
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"......A um só tempo é permissiva e púdica, torpe e lúcida, lânguida e dissimulada, escrachada e recatada, de modo a se aninhar no olho do turbilhão das susceptibilidades de cada um......"
Lou eesa questão colocada do sentir, do se expressar, delirar, e ser um milhão de pessoas... Porque o poetão é essa questão incoerente, na medida em que carrega pedaços do mundo em si. O poeta vive intesamente e só através destas letras atravessadas, corrigidas pelo lirismo se entregada à vida como prostituto. Lou o poeta que se faz em mazelas, desatinos e prazeres.
Parabéns cara!
Tocou!
** Gaivota **
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** Gaivota **
Imenso é o espaço, intenso é o vôo.
Honrado e grato é esse Passarinho, que adimira o passar, de braços abertos, o tão querido irmão Gaivota.
É, poeta... Amar de verdade é pretender satisfazer, e nem tanto ser satisfeito. Bem aventurado é o pássaro cujos vôos e cantares são devassados. Guardemos essa pataca, tépida entre os nossos seios poéticos, como caução da nossa eterna absolvição.
Grande abraço, Pássaro dos braços abertos.
Lou Poulit
Maravilhosos texto
Olá querido poeta
Sim a poesia é um dogma da alma que se transporta
do espírito, quando falas que não é da carne não o é
mesmo todos os sentimentos são emoções tiradas
do âmago do coração, que faz o sangue ferver nas
veias quando se tem este sentimento que podemos
transferir para que outros também aproveitem os
momentos de remoção quando o espírito se transporta
para um papel e chama a atenção de quem ainda tem
um coração que pulsa dentro do peito e faz a carne
tremer pelo sentir do prazer de poder ainda se verter
como uma nascente de um rio!!!!!Parabéns... Lindo
Beijinhos iluminados
ângela lugo
Deixa-me, Pássara
Deixa-me, Pássara, abrir as janelas da alma... E ver a luz das manhãs, em nós e entre nós... Porque é assim que sinto, quando as nossas sensibilidades poéticas se tocam, muito além da carne.
Mui grato, por sua amizade.
Beijos e Pius, do amigo Passarinho.
Lou Poulit