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Para a Minha Mãe, Um Balé
E, na música inaudível,
Ela rodopia, de braços abertos,
E só.
Com pensamentos e orações,
Ela se dobra e se ergue,
Braços aos céus.
Em sua vida surge o companheiro,
Braços dados, pés no alto, pés no chão.
Corações aos céus.
Vem a filha, dela se esquece,
Balé intenso, mamadeiras, choros,
Entre fraldas, professora.
Já nem sabe mais a idade,
Só um pé, só uma mão, equilíbrio,
Asas no viver corrido.
E mais uma filha, e um filho, e outro,
Quatro meninas e quatro meninos,
Ao todo são oito.
Pés ágeis no chão, cabeça num bem pensar
Braços a estender longos varais,
Para os filhos, movimentos do bem olhar.
Os filhos entram na dança,
Travessuras, enfileirados rodopios,
Braços e pés prontos para o desafio.
O companheiro adoece.
Dia, noite, e madrugada em prece.
Agora o balé e de oração e fé.
Ele se vai, segue o caminho.
Ela quer se prender, ficar sozinha,
Mas a vida é dança, é balé.
Na música inaudível,
Apoiada pela fé e pelos filhos,
Rodopia, braços aos céus, e Só.
Aos poucos, volta a Ser o Que É.
Marilene Anacleto