Sorte

Foto de killas

MANHÃ FELIZ

Logo que abri os olhos de manhã,
Soube que o meu mundo ia mudar,
Iria começar a viver com novo afã,
Pois soube finalmente o que é gostar.

Naquela manhã pura e singela,
Passei a para sempre te adorar,
Aquela estrela no céu, tão amarela,
Passará a ser o símbolo do nosso amar.

Só agora é que vim a descobrir,
O que na vida eu andava a perder,
A partir de agora só vou pedir,
Que o meu mundo demore o seu correr.

Não sei como não via a beleza,
Passar bem adiante dos meus olhos,
Não era grande prova de esperteza,
Andar no mundo a ver escolhos.

Mas um dia Deus deu-me a luz,
Para eu bater na porta do amor,
Não há melhor som do que truz-truz,
E senti-la vir com o seu calor.

Há pessoas que um dia têm sorte,
De encontrar a sua metade,
E vai até ao dia da sua morte,
Morte às vezes de saudade.

Foto de killas

A MINHA VIAGEM

Ando sempre quase sozinho,
Sem ninguém a quem amar,
Já não sei mais o caminho,
Para a minha vida continuar.

Ando sempre para aí perdido,
Ando sempre por aí a vaguear,
Mas as eternas asas do sonho,
Demoram para me encontrar.

Tenho de ir para outro lado,
Pelo sonho tenho de procurar,
Não devo andar assim amargurado,
Que a minha sorte vai mudar.

Já anda cansado e farto de andar,
Sem continuar a saber que fazer,
Vou ter de continuar a viajar,
Para a minha tristeza poder esquecer.

O que me apetece é chorar,
Pois não podia andar mais perdido,
Já não consigo mais respirar,
E continuar esta vida sem sentido.

Tenho uma infinita tristeza,
Que me vai roendo o coração,
Mais vale esta viagem terminar,
Para acabar de vez com a aflição.

Foto de killas

A BUSCA

Todos temos uma eterna busca,
Para encontrar os sentimentos,
Muitas passadas vão ser dadas,
Numa vida só cheia de tormentos.

Logo com o nosso nascimento,
Começa essa grande procura,
Mal do que a não consiga,
Pois a vida pode ser bem dura.

A nossa grande consciência,
Mostra-nos que algo está a faltar,
Temos um constante vazio no corpo,
Que muito lentamente nos está a matar.

Assim só nos resta procurar,
Aquele pedaço de vida errante,
Que anda a vaguear no mundo,
À procura do seu semelhante.

O que eu quero para o mundo,
É a sorte para todos de conseguir,
Acabar esta grande viagem,
Antes de a vida nos ver partir.

Depois de a busca acabar,
Não deixamos então de viajar,
O mundo dos grandes sentimentos,
Ainda tem muito para nos mostrar.

Foto de Osmar Fernandes

À espera da sorte

À espera da sorte

Tem gente que fica em casa esperando a sorte chegar. Achando que num belo dia ela vai bater à sua porta e adentrar... Puro engano! Expectativa perigosa! Esperança inútil! Como pode da terra do seu quintal nascer uma árvore se ninguém lhe plantou uma semente?
Essa é a síndrome do que não tem coragem de ir à luta. Engana a si mesmo, numa espera em vão. Em tudo é necessário ação. Nada acontece do nada. Só tem sorte quem aposta nela... Só ganha na loteria quem joga. A vida não é um jogo? Quem tem medo de arriscar na própria sorte vai passar a vida toda assistindo a comemoração dos outros.Vai ser um eterno coadjuvante de outras histórias.
A vida é como um jogo de xadrez... Quem não tiver coragem de dar o primeiro passo, nunca vai sair do lugar. Vai passar a vida inteira à mercê do jogo da vida. Não vai encontrar saída. Não vai notar o sonho, portanto, não vai haver esperança, tudo será pura monotonia. Derrota!
Logo, quem der o primeiro passo com força de vontade, persistência, teimosia e intuição, vai entender a metamorfose de tudo, a CRISÁLIDA – a auto-estima da vida... Vai perceber que a sorte de fato não existe, o que existe é a luta pelo desejo da vida. Por isso, enquanto houver iniciativa e atitude, haverá sempre esperança.
Ninguém sente prazer em emprestar os ouvidos para ouvir histórias de pessoas derrotadas, afundadas no próprio abismo da preguiça e da ignorância. Ninguém quer tirar fotografia com um perdedor.
O exemplo triunfal é o que realmente conta e fica eternizado no registro da memória da família, amigos e gerações... Em livros, quadros, fitas, cd rom, etc.
Assim sendo, não fique aí parado, estressado, azucrinado, murcho como um coelho assustado e sem abrigo. “Levanta a cabeça, sacode a poeira e dê a volta por cima...” .
Se você quer ser uma pessoa de sorte, você pode, porque o poder do seu destino está em suas mãos. Só vence quem tem determinação e acredita em si mesmo. O importante é iniciar alguma coisa, então, o que está esperando? Tome atitude e comece.

Foto de Joaninhavoa

SOU GENTE!

*
SOU GENTE!
*
*

Não me desfaças! Sou gente
E falo baixo pr`a não assustar
Num tom suave e entrar na mente
De quem tem a sorte a espreitar
Protegida pelos abetos lá no cimo
Solto palavras de ternura e melancolia
Acordo o vento de um sentimento
Mais profundo que as raízes da árvore
Que me envolvia...
Sempre quis um amigo de verdade
Quiça não surge em reflexo de repente
E acabe por gritar simplesmente

Joaninha ou Helena e me olhar
Olhos nos olhos! Perdidamente
Não me desfaças! Sou gente

Joaninhavoa
(helenafarias)
10 de Outubro de 2008

Foto de LUCAS OLIVEIRA PASSOS

AS ESTRELAS

As estrelas Lucas Oliveira Passos

As estrelas estavam lá, no pedaço de céu que me cabia apreciar pela janela, naquele leito de hospital em que eu me encontrava, arrasado e sem entender nada...mais uma vez minha vida mudava completamente, numa guinada imprevizível...a necessidade da cirurgia, a gravidade da doença, e por fim a notícia que tentaram me passar e que me recusava a entender, sabia que era algo terrível, algo que teria que me lembrar e aceitar para o resto da vida, mas naquele momento o bloqueio não permitia, eu não conseguia pensar, apenas aquela imensa tristeza, e um gigantesco desejo de morte que nunca havia sentido antes em toda minha vida.

A enfermeira se aproximou sem fazer qualquer barulho, e cuidadosamente fechou a pequena janela, próxima ao meu leito, minha única referência para o mundo exterior, minha única fuga para os pensamentos terríveis que invadiam minha mente.

- Tenho que fechar a janela, os outros pacientes estão reclamando do frio, me desculpe, sei que é a única coisa que parece lhe interessar...

Assim, todas noites, meu céu quadrado e pequeno, contido nas dimensões daquela janela, se apagava irremediavelmente, as estrelas, que eu tanto estudara e pesquisara, por puro deleite, em certa etapa da vida, eram agora meu único consolo, me faziam pensar no tão pequeno que eu era, naquela imensidão tamanha do universo.

Não sabia quanto tempo já se passara desde o dia em que me internei com câncer e uma hérnia abandonada por muito tempo, calculava algo em torno de uns seis meses, tudo fora um sucesso segundo os médicos, mas meu corpo não era mais o mesmo, meus 75 anos pesavam bastante no processo, o restabelecimento era lento, a angústia era grande, havia algo medonho a ser encarado, assimilado e entendido...um amargo na garganta, um peso imenso no peito...por que meu cérebro se recusava a processar a notícia que foram me dar? Minha filha Aninha, por que não aparecia mais no hospital para me visitar?

As lágrimas brotavam abundantemente nos meus olhos, não devia ser assim...tão acostumados com o sofrimento devido aos anos de trabalho voluntário na ajuda desvalidos...comecei a lembrar palavras que foram ditas...concluí que havia acontecido com Aninha algo terrível, agora ela era apenas uma pequena estrela no céu e ao mesmo tempo uma chaga aberta para sempre no meu peito, para o resto do resto de minha vida, pois minha vida agora só seria um resto, que talvez nem merecesse ser vivido...chorei a noite inteira...nunca fora de chorar, nunca chorava, mas era impossível evitar...comecei a recordar o passado e parei exatamente quando Aninha havia entrado em minha vida...antes de nascer...ainda quando era nada mais que uma promessa de vida no corpo de uma mulher, quinze anos atrás...em um ponto de ônibus em Copacabana...

- Tu podes me ajudar? Estou com fome, estou grávida, meu namorado me abandonou, minha família não quer me ver, cheguei de Curitiba ontem e não como nada a dois dias, preciso que alguém me ajude...

Olhei a mulher nos olhos atentamente, estimei não mais que 30 anos para sua idade, observei todo seu corpo, era bonita, estava maltratada, entretanto vestia roupas de qualidade...seus olhos mostravam que estava em situação de carência e mêdo, o corpo, uma gravidez de no mínimo dois meses, senti muita pena dela, eu nunca abandonaria uma mulher à própria sorte, mesmo sendo desconhecida, e assim me senti envolvido e pronto para ajudar...

- Qual é o seu nome, moça?

- Sonia, mas tu podes me chamar como tu quizeres, se puder me ajudar te agradeço muito...Tu és casado, posso ajudar no serviço da tua casa?

Aquela pergunta me fez lembrar que já fora dezenas de vezes, não no papel, mas a muito tempo este conceito de ser ou estar havia perdido o significado em minha vida, deixava o amor fluir da forma que viesse, amava as mulheres incondicionalmente, deixando-as livres para entrar e sair de minha vida como bem entendessem, aprendi a recomeçar sempre que fosse possível, sem olhar para trás e sem me importar com nada, estivera diversas vezes no topo e na base, e sabia que após tempestades a terra se torna fértil e pronta para a fecundação, e que o importante eram os dias de sol que viriam, trazendo lampejos de felicidade...pequenos momentos que tinham que ser aproveitados antes que se acabassem...não fechava nunca qualquer porta que pudesse permanecer aberta em minha vida, essa era minha filosofia de vida, era como eu me sentia...

- No momento estou morando sozinho, se você quizer, eu te levo para minha casa, lá você pode se alimentar, tomar um banho, trocar de roupa e ficar quanto tempo quizer...até ter um lugar melhor para ir...quando quizer ir...

E assim, desde o primeiro dia morando em minha casa, Sonia se posicionava como minha mulher, sem reservas, na cama inclusive, sem nada perguntar, sem nada pedir, com seu olhar meio ausente e distante, por vezes inquieto.

Comecei a perceber que Sonia seria um pássaro passageiro em minha vida e não demoraria a se lançar em novo vôo, e isto me incomodava, havia me apaixonado mais uma vez e agora amava Sonia e a pequena semente que crescia no seu útero, fecundada por outro homem, mas já adotada totalmente por mim. Passei a visitar minhas tias levando Sonia e a promessa de Aninha, cada vez maior em sua barriga, apresentando-a como minha nova companheira, na extrema tentativa de faze-la gostar daquela opção de vida, mas sentia que o olhar de Sonia estava cada dia mais longe.

Tinha percebido desde o início que Sonia, assim como meu falecido filho Lalo, apresentava sintomas típicos de viciados em drogas, a abstinência estava lhe pesando cada vez mais e chegaria a um ponto em que ela não suportaria ultrapassar...isso me aterrorizava e me fazia passar noites em claro procurando uma alternativa, abri o jogo com ela, mas ela negou tudo e inverteu a situação, dizendo que se eu queria um motivo para me livrar dela e de Aninha. Talvez Sonia nunca tenha sabido o quanto me feriam essas afirmações...o quanto era grande o meu amor por ela.

O tempo foi passando, dias, semanas, meses e finalmente Aninha nasceu, pequenininha, indefesa, totalmente dependente de tudo e de todos, sem saber em que mundo fora lançada e por quanto tempo...eu tentava esconder as lágrimas que brotavam de meus olhos quando observava a total indiferença de Sonia em relação a Aninha, e comecei quase por adivinhação do que viria, a ler tudo sobre crianças.

Quando Aninha completou duas semanas de vida, cheguei de uma entrevista para um novo emprego e não encontrei mais Sonia, ela havia partido, deixando apenas um pequeno bilhete junto ao berço. Sonia levou quase todo dinheiro de nossas reservas, Aninha passou nesse momento a ser responsabilidade e problema apenas meu. Eu me recusei a acreditar, andava pelas ruas olhando em todas as direções, procurando por Sonia, levando fotos, falando com drogados, mas nenhum sinal de Sonia, devia estar longe...talvez em Curitiba...talvez em qualquer lugar do mundo, bem longe dos meus olhos mas ainda dentro do meu coração, ocupando um espaço imenso e significando talvez a maior derrota de toda minha vida.

Sentia uma imensa agonia e abraçava Aninha toda vez que precisava sair para conseguir algum trabalho, agora eram apenas eu e ela, apenas nos dois para enfrentar o mundo e lutar pela vida. Como conseguiria trabalhar e ao mesmo tempo cuidar do bebe, teria que conseguir uma atividade que pudesse ser feita em casa, que não tomasse todo meu dia...tinha que conseguir voltar ao topo, com bastante dinheiro seria mais fácil resolver as coisas... nunca me importava com o dinheiro, mas agora ele era a coisa mais importante para que eu pudesse cumprir meu juramento, daria o máximo do resto de minha vida para que o futuro de Aninha fosse o melhor possívcel...eu sempre recomeçava...já não me assustava com isso... e assim fui vivendo aqueles dias de angústia e amargura, tendo como único prazer observar a vida e o tempo fazendo de Aninha uma menininha cada vez mais linda.

O tempo foi passando e meu trabalho em casa, com desenho, arte final e fotografia, conseguia manter Aninha na escola, ela estava cada dia mais linda, com seus dois aninhos completos, me chamava sempre de paizinho, o que me deixava orgulhoso, eu já aceitava que iria viver apenas para que aquela criança pudesse ser alguém neste mundo hostíl, e assim evitava agora me envolver com outras mulheres, vivia só para Aninha.

Quando Aninha completou quatro anos, escrevi para minha tia que morava em Porto Alegre, que não via já a uns vinte anos. Informei sobre minha vida e minhas preocupações em relação a minha filha, a incerteza das coisas e a necessidade de ter alguém que pudesse ajudar caso eu ficasse doente ou morresse. A resposta de minha tia veio rápida, “venha para Porto Alegre, só aqui poderemos te ajudar, precisamos de alguém de confiança para a fábrica de tecidos, minha filha Tânia separou do marido e já não consegue tocar tudo sozinha, ele participa do conselho de administração, mas não do dia a dia da fábrica, entre em contato, poderemos nos ajudar, sei que você é competente quando está motivado, te esperamos aqui ”.

O convite me deixou orgulhoso e me fez sonhar com a possibilidade de estar perto de Curitiba e conseguir encontrar Sonia, ainda moradora em meu coração apesar de tudo o que acontecera, e assim, em poucos dias eu e Aninha já estávamos reduzidos a apenas duas grandes malas, que continham tudo que tinhamos na vida, também cheias de esperanças e sonhos de melhores dias em nossas vidas.

Quando os momentos são felizes, passam muito rápido, e assim, Aninha já estava fazendo dez anos de vida. A ida para Porto Alegre fora muito boa para mim, Tânia estava muito abatida com a separação e se dedicou totalmente a mim e a filha, embora tivesse suas duas filhas adolescentes para cuidar. Aninha vez por outra me abraçava e lamentava por mais uma vez não poder ter a oportunidade de conhecer sua mãe. Eu procurava a todo custo esconder as lágrimas que teimavam em rolar de meus olhos cerrados enquanto a apertava fortemente contra o peito, dizendo que um dia isso seria possível, que ela voltaria e seríamos felizes. Estava muito bem posicionado na empresa, como diretor de produção, mantinha dois detetives mobilizados na busca por Sonia que parecia ter se transformado em pó. Não sei até hoje, se foi por me observar sofrendo e sem ninguém para compartilhar, ou se foi para causar ciúmes em Silvio, que a largara para viver com outra mulher, que Tânia começou uma aproximação maior, me fazendo seu acompanhante a festas e jantares e fatalmente acabamos nos gostando e começando um relacionamento amoroso escondido.

Era um sábado de manhã, acordei bem cedo pois havia combinado com Tânia um passeio nas regiões serranas, recebi um recado de Tia Albertina, me chamando no seu escritório, não imaginava o que poderia ser, lembro que eu estava muito orgulhoso com as novas máquinas que haviam dobrado a produção, embora a contragosto dela, que achava que as empresas tinham que operar sem dívidas, e que votara contra a compra do novo maquinário financiado. Tânia ficara pela primeira vez em posição contrária a dela e a de Silvio, durante a votação do conselho de administração. Silvio visitara tia Albertina na véspera e falara em reparar um erro e voltar a viver com Tânia. Até hoje não sei se eu estava certo ou não, mas nunca imaginei ouvir de minha própria tia o que ouví alí;

- Canalha, acabou para você, eu confiei em você e você me traiu, não adimito, não posso acreditar que você se envolveu com Tânia, ela é muito mais nova que você, isso é um desrespeito, quero que você volte para o Rio de Janeiro, não quero você mais aqui, já fiz as contas e este cheque é tudo que você tem direito, pegue sua filha e suma daqui, hoje mesmo...

Rasguei o cheque na frente de minha tia e fui buscar Aninha, preparamos as malas, apenas duas grandes malas, largando todo o resto para trás, novamente cheias de esperanças e sonhos de melhores dias em nossas vidas...

Hoje, um ano após sair do hospital, começo a procurar pelos parentes que me restam e pelos vizinhos, só agora consigo falar em Aninha sem que a voz me escape e um pranto enorme me sufoque, foi muito duro tentar recomeçar a vida e tentar entender como tudo se passou, eu e ela fomos vivendo nosso amor fraternal, que aumentava a cada dia, e nos bastávamos, o mundo não tinha mais sentido, até que a necessidade da cirurgia nos separou pela primeira vez na vida, aquela profunda tristeza e o medo da minha morte foi capaz de matar Aninha, de uma forma tão violenta que o coraçãozinho dela, de apenas quinze aninhos, não aguentou a solidão, se recusou a bater e parou para sempre. Eu e meu velho coração, ficamos em coma várias semanas, porém já tantas vezes vacinado pelas angústias da vida, aguentei firme até hoje, embora não consiga aceitar o que se passou e sinto, cada vez que olho as estrelas, que Aninha está lá, linda como sempre foi em sua curta vida, sempre ao alcance dos meus velhos e cansados olhos, minha amada estrelinha...Minha filha Aninha!

Sigo a jornada da vida, cumprindo minha missão, voltei ao trabalho voluntário com os desvalidos, tentando dar um pouco de utilidade a este resto de vida, sei que é questão de pouco tempo, breve estarei com ela para sempre...junto as estrelas...

Foto de pttuii

O rapaz da vagina de fogo

Gostava de bigodes. Até os desenhava, com bocados de carvão que apanhava religiosamente da oficina abandonada que poluía aquela rua de desavindas imaginações. Roçava, embalava, desejando mesmo que o homem do espelho, fosse o homem com que se deitasse se a sorte quisesse. O sol dizia-lhe sempre que sim, mas um sim pouco embalado. Havia dúvidas. Sim, tal como a terra cai em cima do que de nós resta.
Era o rapaz da vagina de fogo. Uns dias com medo de pisar pecados alheios. Por momentos digno de abraçar a diferença, e com ela dançar a uma música inaudível, e religiosamente barulhenta.
Chamava-se assim, para não se chamar coisa pior. Aliás, chovia. Por certeza de menor importância, o dia era igual ao de ontem. Volteavam ventos, desnorteavam-se nuvens que deslindavam o dia assimétrico.
Aquela terra era de uma humidade atroz. Fazia mal às pessoas que não queriam fazer mal a si próprias. Enleava-se nos ossos das pessoas muita coisa pior que cinza. Futilidades que não interessam na altura de escolher decisões. Pecadilhos que os homens a sério mexem em si mesmos, e depois comem para os esquecer de vez.
Pronto, estava assim até escrito. As folhas de quase seda de um caderno com capa de rosa que cheirava a testosterona, digladiavam-se com o vento. Letras de copista, com curvas e contracurvas de sinuosas certezas, mostravam ao mundo que o rapaz tinha vagina. Não se via, é certo. Lambuzava amores perfeitos para cima de jovens que dobravam a esquina com ar gingão e pronto a enfrentar o mundo. E à noite. Quando a lua ganhava a luta com a rotação omnipotente, aquela coisa que não se via, via-se. Encenavam-se histórias de amor com cheiro a rosmaninho. A mulher, homem, era do homem, antes de ser de si própria. Era uma mulher suave, meiguinha. Que cativava. Meiguinha. Adorava amor. Meiguinha. Dormia com esta palavra, quando sons menos inseridos no mainstream da capacidade auditiva humana envolviam aquele leito.
De fogo a vagina. Deitava chamas, porque queria ser vagina. E nunca foi vagina. Mas será. Será mulher. Ao menos o catalisador do devir assim o queira.....

Foto de pttuii

Aristóteles de Sousa Escrivão

Num futuro assustadoramente próximo, a fúria de um homem servirá para abrir todos os telejornais do mundo. Cansado de assumir os despistes da condição humana, Aristóteles (chamemos-lhe assim) vai pegar em armas e virar-se contra o poder dos mitos. Sem precisar de andar muito irá, um dia, sair de casa e encarar, olhos nos olhos, a diva da ópera. Luísa Todi, imortalizada num busto de virginal mámore branco no centro de Setúbal, será sequestrada. Tudo se vai passar tão rápido, que quando as pessoas se aperceberem já será tarde de mais. Num dia de Verão, mais um a prenunciar a careca de ozono de que o planeta já padece, Aristóteles colocará em prática anos a fio de saber livresco. À hora a que estas linhas estão a ser produzidas, o criminoso do futuro estuda afincadamente a metodologia dos protagonistas dos mais famosos quinze minutos de fama do mundo. Manuel Subtil, Al Pacino em 'A dog´s day', Vladimir, o ucraniano que sequestrou o dono da pastelaria 'Sequeira' na Avenida da República, em Lisboa. Será rápido na abordagem, terá de conseguir prever todos os possíveis erros e, acima de tudo, ter óptimos pulmões para que todo o mundo o consiga ouvir. Num futuro assustadoramente próximo, Aristóteles vai rodear o busto de Luísa Todi com suficiente C4 para rebentar com a Casa Branca. Com o detonador numa mão, e uma AK 47 na outra, vai esperar que todas as unidades especiais da Polícia cheguem. Depois, logo a seguir, virão dezenas e dezenas de jornalistas. Para finalizar o cortejo da decrépita condição humana, marcarão presença milhares de aves necrófagas. Altos, baixos, velhos, novos, brancos, pretos, amarelos. A capa é humana, mas o interior será com certeza animalesco. Aí, e só aí, quando estiverem reunidas todas as condições necessárias para que o mundo saiba quem é Aristóteles, é que quem estiver a ler este texto perceberá, por esta altura, que esteve a ser enganado. Eu, o autor, identifico-me como Aristóteles Sousa Escrivão, bêbado profissional neste mundo há 53 anos. Acabei de apedrejar o busto de Luísa Todi e, neste momento, estou preso num calabouço policial a tentar imaginar que sou uma pessoa importante. Ai de quem se atreva a quebrar uma ilusão que, além de não pagar impostos, prova a teoria evolucionista de Charles Darwin. Deus nunca teve nada a ver com os macacos fodilhões. A má sorte de mais tristonho dos Austrolopitecus, é que está na origem da minha estadia nesta cela.

Foto de Salome

Amor ou Crueldade?

.
.
.
.
Porque será tão fácil escrever sobre o amor
E tão difícil falar e versar sobre a crueldade!
A pluma desliza sobre a folha vertendo a dor
Em sua triste verdade e plena intensidade…

O poeta se desfaz frente ao verso da emoção
Enquanto o moribundo tropeça frente à morte,
Versos escritos pra encantar e louvar o coração
Enquanto o homem morre em agonia, será sorte!

O poeta se imersa na tinta esmagando a ilusão,
Enquanto a voracidade do vazio mata a magia;
Sentimentos fúteis que encantam nosso viver
Nessa realidade de ceder a sentimentos vazios

Versos e poesias espalhados e abandonados...
Esvoaçando entre as folhas de Outono ao vento
Ofuscando a visão de um sonho que deixo de ser
A verdade violada e odiada por aquele que teme.

Os olhos da pobreza a nos encarar, o que sente!
Desviamos o olhar com esse medo de nos tocar,
Fugimos e ignoramos essa banalidade quando
Facilmente poderíamos encarar essa crueldade

O poeta muitas vezes chora lágrimas de sangue
Quando enfrentado com essa tal desumanidade,
A dor vertida da sua alma não pode ser ocultada,
Nem castrada, nem dilacerada e jamais apagada

Pobre é aquele que vê… e escolhe de não olhar,
Triste é o que fala mas na verdade nunca falou,
Podre é aquele que passou, chutou e caminhou,
Feliz é aquele que soube olhar, acarinhar e falar
.
.

***************************************

Salomé (KM)
Arquivo "Espelhos da Vida"
Copyrighted/KM Aug. 2008

Foto de pttuii

Ser se

escrevo sombras,
que se minhas não são,
desmilitarizam o que sobrou
da psicose que tu
descambaste em quadros dadaistas,....

se pelo menos fados são
mulheres de xaile roto a
chorar plenipotenciárias
uniões com remansos
desconhecidos,...

estes verbos teus nunca hão-de ser,
meus com a sorte desfeita
serão se o fundilho do medo
quiser,....

fosse eu calamidade do
que os dias chovem,
tu meus ses comerias,
tão específica,
tão desejosa de mim seres,...

Páginas

Subscrever Sorte

anadolu yakası escort

bursa escort görükle escort bayan

bursa escort görükle escort

güvenilir bahis siteleri canlı bahis siteleri kaçak iddaa siteleri kaçak iddaa kaçak bahis siteleri perabet

görükle escort bursa eskort bayanlar bursa eskort bursa vip escort bursa elit escort escort vip escort alanya escort bayan antalya escort bayan bodrum escort

alanya transfer
alanya transfer
bursa kanalizasyon açma