“Pouco importa, formosa Daliana,
Que fugindo de ouvir me, o fuso tomes;
Se quanto mais me afliges, e consomes,
Tanto te adoro mais, bela serrana.
Ou já fujas do abrigo da cabana,
Ou sobre os altos montes mais te assomes,
Faremos imortais os nossos nomes,
Eu por ser firme, tu por ser tirana.
Um obséquio, que foi de amor rendido,
Bem pode ser, pastora, desprezado;
Mas nunca se verá desvanecido:
Sim, que para lisonja do cuidado,
Testemunhas serão de meu gemido
Este monte, este vale, aquele prado.”
- Soneto IX (Cláudio Manuel da Costa)
Eu tento e invento de não amar
De ignorar o preço, em vida e verso
De transformar o bem em algo perverso
E assim me modificar
Persisto a cada dia em ludibriar
Esse mentir que melancólico desconverso
Esse lugar da qual a paz sempre disperso
Para não ter que aventurar
Se só os belos podem, logo eclodem
Ruídos de insatisfação
Dos âmagos que se recolhem
Em abafar a força e a feição
Em apagar as manchas, se recordem
Que amor de fato vem sem permissão