Pingos

Foto de Fábio Almeida dos Santos

Por que, em muitas vezes, o amor rima com dor?

A Gênese

Se cada folha seca
Caísse num lago
Ela não pereceria
E seria livre
Para ver o mundo.

Mas tão poças folhas
Vivem perto de um lago,
As outras perecem na areia.

Se cada pingo de chuva
Caísse numa pétala de rosa
Ela não murcharia
E exalaria um perfume
Para adoçar o mundo.

Mas tão poucos pingos
Regam as rosas
Os outros secam-se nas pedras.

Se cada semente madura
Caísse no solo,
Ela vingaria
E daria vida
Para enfeitar o mundo.

Mas tão poucas sementes
Espalham-se no solo,
As outras se dispersam com o vento.

Se cada olhar
Fosse correspondido
Não haveria solidão,
E a paixão nasceria
Para dar sentido ao mundo.

Mas tão poucos olhares
São compreendidos,
Os outros se encharcam de lágrimas.

Quando uma semente madura
Caiu no solo,
E os pingos de chuva regaram-no,
Nasceu uma flor.

Os olhos que a viram primeiro
Levaram-na como presente.
Esse olhar foi correspondido
E daí nasceu o Amor.

Mas a flor que nasceu na areia
Não resistiu e murchou.
Os olhos que tarde chegaram,
Encontraram o olhar já distante,
E daí, nasceu a Dor.

Fábio Almeida dos Santos 31/08/08

Foto de Jeff.YM

meu primeiro longo epígrafe...

já é tarde...
preciso descansar...
já não vejo as cores...
já não destilo ar...*

'no princípio, apenas nuvens, depois, os pingos.
como a dor. no início, aperto, depois, desespero na forma de lágrimas. assim foi este meu dia. tão ruim quanto eu pudesse ter previsto. prevê-lo teria sido a antecipação de um sofrimento necessário, mas somos tão pouco astutos no que diz respeito aos sentimentos.
eu não sou diferente, não em tudo.

me detive a deixar tantas palavras soltas que desolado caí numa penumbra de emoções. são tantas promessas feitas, algumas descumpridas, outras não provadas, ditas, revistas, mentidas. sou vítima de um esquema que talvez eu mesmo tenha criado, um meio de relacionamento que não interpõe muitos parênteses, que se baseia na companhia do próximo.

sou feliz ao dizer que fui agraciado com inúmeros momentos memoráveis, alegrias, risos, até o choro compartilhado. jamais teria a ousadia suficiente para contradizer os dias felizes que vivenciei ao lado de quem amo. como já disse, sou apenas uma vítima de mim mesmo.

mas eu chorei. eu derramei lágrimas por motivos tão óbvios que posso considerar, por ora, incabível a idéia de permitir a mim mesmo sofrer por isto. condicionei minhas próprias crenças a um estado de importância quase irracional. deixei-me afundar no pranto de um coração machucado, até que meus olhos ardessem em amargura, que minha cabeça latejasse em fúria e que meus lábios tremessem em mágoa.

mas todos sabemos que os contos de fadas existem único e exclusivamente no papel e na imaginação de seus autores. somos tão cruéis com nós mesmos que costumamos deixar de lado a nossa proteção, o nosso sentido crítico e nossa segurança. constantemente abrimos nossa defesa para um amigo, um amor, uma lágrima do mais desconhecido, sem nos darmos conta de que isso pode trazer consequências, ainda que isso, nem sempre, seja a pior causalidade.

quase sem sentidos...
mal posso respirar...
preso a mim mesmo...
meus pés não tocam o chão...*
dói-me, sobretudo, saber que tudo pudera ser evitado, mas foi por insistência de uma solidão duradoura que procurei me entregar ao calor de braços sinceros. eu quis perder meu tempo com quem merecia... meus passos já não condizem com meu caminho... agora só me resta chorar, chorar para encontrar, no fundo de meus olhos e de minha dor, a resposta para o que eu quero da minha vida.

'e senti como se alguém apertasse meu coração, e o choro veio, sem impedição, sem fraquejar, tomar conta do meu profundo olhar azul... nada pode ser mais sincero do que meu olhar...

'como a dor, um aperto. caminhando na chuva, escorrendo a água aos ombros, no choro. cada poça nesta longa estrada contém resquícios de minha tristeza.

Foto de Joaninhavoa

Como Toda A Mulher...

*
Como Toda A Mulher...
*

Eu sou aquela parra
da parreira
Da videira

Eu sou aquela uva
sedosa
De ser provada

Eu sou a videira
que revive
Ao ser podada

Eu sou como a mulher
que sonha
Com o sol e o luar

Com seus raios
E pingos
D`orvalhos

Sou feminina
E sinto
Ao cortarem os galhos

Que podem cortar
Demais
Os excessos

Dos ramos ou ramais
Brutais
Nos meses sem “R”

Me poda! Enquanto
Durmo
Em Junho ou Julho

E eu te agradeço
Em Agosto
Como “Um Sol Posto”

Joaninhavoa
(helenafarias)
07/03/2009

Publicado no Recanto das Letras em 08/03/2009
Código do Texto: T1475307

Foto de pttuii

Menina perfeita à chuva I

Fez de si um borrão em carta de despedida de vida. Falhanço criativo, em noite de chuva. Tempestade aiurvética, acompanhada com a cavaleria rusticana de dois trovões que caem no mesmo sítio de um quintal de nespereiras de acervo. Tratava-se de uma indefinição subjectiva, que a acompanhava....
Refazendo a ideia,...
que se colava à pele de quinquilharia que sempre quis arrancar.
Foi a menina., sim, experiência genética ‘não alfa’, que chorava aos cantos da escola de cantos redondos. Nunca sabia o que tinha, sempre soube o que queria.
Mas diluía-se em expectativas indefinidas de felicidade gótica. Quis casar com um dragão de masmorra de castelo, e ser feliz à sombra de uma nespereira de acervo. Desistiu, quando o mundo um dia lhe disse que as meninas são pingos dos anéis de Saturno, que esperam o fim a qualquer momento.
Tudo estaria alegadamente dependente de Deus um dia se aperceber que tinha errado ao criar uma raça humana que se levanta, quando o dia nasce, simplesmente para se deitar quando as estrelas se alimentam, com a sensação de desprezível alegria astrológica.
Teve flashes de felicidade meteorológica. Adorava sentar-se em cadeira de pau podre, e sentir a frescura das chuvas de Outono. Caracóis de um louro desmaiado humedeciam ao passar dos segundos, e tornavam-na parte de um ecossistema de renovação. Terra, água, e ar, embalavam a pessoa de indefinições em desejos de aspiração divina.
Para depois gozarem com o sorriso de neve que sempre a matou por dentro. Sofria com o vestido de cambraia que a avó de afectos lhe bordara. Serviu o cós da saia muitas vezes para assoar fluidos de vergonha.
O rapaz de pó acariciava-lhe o rosto, e prometia-lhe redenção. Ela não existia. Mas ela poderia vir a ser caso sério de amor incondicional. Sem réstias de arrependimentos. (continua)

Foto de Shyko Ventura

"OCASO"

"Ocaso"

Espero a chuva passar
Em meio a esse círculo de confusão
As horas são muito lentas no ar
E os sentimentos parecem ser de ilusão

Agora os pingos estão mais fortes
E essa sua escolha,além da essência da minha alma
Me deixou sem rumo, sem sul, sem norte
Sem escolha, sob imposição, ora um trauma

Insisto em tentar me levantar
E todo meu carinho rever
Porém não consigo me enganar
De teus braços, posso não mais ser

Porque toda essa situação?
E de uma estúpida escolha
Optar por essa decisão
Quere ser como uma árvore sem folha

Preferir que ninguém te ame?
Pois meu amor por você foi incompreendido
Digo, e espero que novamente não se ingane
Do que te dei, nada foi em vão ou ficou perdido

Por que amor assim você nunca mais vai encontrar
Se você me amou na parcialidade
Não sei, mas sei que, pra sempre vou te amar
Nem que eu espere uma eternidade!
____________by Shyko140109.

Foto de ALTOLIVER

Chuva...

Hoje, apenas um céu nublado me faz refletir e pensar que demais são nossos obstáculos, porém, nem tanto intransponíveis...
Dias atrás, estava eu cá em meu cantinho de prosa escrevendo sobre a chuva, sobre o som que emite ao cair do telhado, ecoando insistentemente aos meus ouvidos e revolvendo de minha alma, angústias e solidão...
Tal qual a chuva, a desintegrar-se das nuvens os pequeninos pingos d´água que uniformemente regam o corpo da terra, como uma dádiva ao martírio do fustigante calor sofrido por ela, após um sol abrasador que sem trégua assolou-a fazendo com que suas entranhas ficassem em total sequidão e inférteis...
Assim como a terra, estava meu coração e como as nuvens, meus olhos buscavam o evaporar do meu suor para que, em forma de chuva minhas lágrimas pudessem regar o meu corpo e dar vida ao meu coração, para que dele pudesse brotar os renovos que tanto bem fariam não só a mim, como também a todos que deles pudessem alimentar-se...
Eis-me aqui, sol avassalador! Eis-me aqui, lágrimas de refrigério...
Sem teu existir e sem tua partida, não teríamos a luz sublime e encandescedora da formosa lua, lua que veio um dia e levou o meu amor e apenas uma silhueta deixou em minha lembrança...
Vejo-te, minha amada... Nas águas douradas do mar em cada entardecer, posso vê-la também em cada estrela cadente que como minha esperança, cai subitamente diante dos meus olhos ávidos a te procurar na escuridão da noite...
Podes me dizer aonde vai, displicente sol, já vai esconder-se por detrás das nuvens...
Sob este dia nublado, continuo aqui... A refletir e esperar o anoitecer sem nuvens, para que eu possa ver a lua e perguntar-lhe...
Porventura tens visto a minha Amada?

Foto de Lorena Luiza Fernandes

Humor líquido.

E porque ela não chora?
Ah, rapaz , mal sabe você que ela sim chora na tarde morna, ela se senta na janela para contemplar o céu e pensar no mar e de repente um frio se integra no coração e desaba a chorar, lágrimas úmidas e silenciosas, sem alarde ela agora chora, as gotas caladas levam embora o amor mal resolvido, a paixão inusitada, a ilusão que veio alada. Os pingos graúdos molham seu rosto denunciam seu estado, os olhos inchados, lábios molhados. Silêncio...Muito silêncio.

Foto de pttuii

História de amor ao pôr-do-sol

Na noite em que me disfarcei de soletrar,
caíram-me as calças,....

fiz-me de tarado,
sorri, meti dois pingos
de solidão nas retinas,
e lá fui eu ao desvario,...

encontrei a vida deprimida a copiar
registos de plena realização da morte,....

abri o casaco e senti-me
gozado no meu sentimento de homem
que espera vícios do
ar que respira,...

ventou,
soprou tanto o bafo do
desprezo que só tentei
mais a criatividade,...

pintava sóis atrás de um
corpo em putrefacção da
criança mais adorável do mundo,....

apaixonámo-nos, e hoje
somos quem manda no mundo,...

eu, o fazer bem a olhar
para o quem cá de dentro,....

ela, gosta de comer
sonhos congelados para sobreviver.....

Foto de Fatima Merigue de Mendonça

TEU RETRATO

TEU RETRATO
(Fátima Merigue de Mendonça)

Aqui onde as nuvens se transformam
Em flocos de algodão,
Sob o céu do meu mundo
Te desenho.

Oculto
Dentro do meu coração
Busco tua imagem.
Entre telas, óleos e pincéis
Transformo-te em vida!
Irradio cores.

Desenho através dos meus olhos
As cores dos teus olhos.
Vejo tudo azul em minha vida
Fotografo um ser!

Em silêncio
Contritamente,
Vejo teu corpo surgir em telas.
Lentamente tintas coloridas
Buscam sorrisos no teus lábios.

Vejo-o plenamente.
Pingos movem-se
Em rituais de magia.

Cautelosamente vislumbro teu corpo.
És o que desenho!
Há uma possibilidade concreta de um toque.
Penso!

Foto de ROSA GUERRERA

Você .

Você será sempre aquela frase que eu não disse,
Aquela música que eu não consegui compor...
Aquela lágrima que secou nos meus olhos...
Aquele silêncio que fez ruído no meu coração..

Você será sempre o lago tranqüilo das minhas emoções,
Os pingos da chuva que formam imagens na vidraça da janela Firmamento pontilhado de estrelas que iluminam meus passos,
O mar gigante que na sua cor verde me acena esperanças.

Você é sonho real e realidade concreta de um sonho apetecido...
É voz que canta uma melodia de fé e verdade.
É ternura que o tempo não apaga e os anos não conseguem destruir. ..

Você é enfim o meu primeiro, único e derradeiro amor !

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