Nuvens

Foto de Marilene Anacleto

Brota a Vida

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Meus olhos se extasiam
Com as obras de arte do céu
Ao som do vento, as nuvens
Dançam seus alegres véus.

No vasto azul claro infinito.
Tal manto da serena Virgem,
Cada nuvem é o que bem quer.

Cada grupo de nuvens, em fila,
Forma rodas, rostos, máquinas antigas,
Dragões, águias, urso e pote de mel.

Mais um grupo avança, feito fitas.
Fecho os olhos. Adormeço em seguida.
E vagueio pelos muitos céus.

Surgem pesadas nuvens, busto cinza
Sobre ventre de mulher forte e grávida
Pronta para parir. Cresce, cresce e avisa:

Dá a Luz. Chove. Brota a vida.

Marilene Anacleto

Foto de Leidiane de Jesus Santos

Nosso Amor

Não sei que felicidade é essa que me dominou
Que me tirou o sossego,
Não sei se vem do seu olhar
Ou é do seu amor.

Só sei que eu estou muito feliz
E todos já andam comentando
O quanto radiante estou
O quanto mudei meu humor.

Você surgiu como rosa em botão
De supresa e inundou meu coração
Não consigo desfarçar
O bem que você me faz.

Como é bom não mais chorar
Como é bom não mais sentir medo
O quando é bom ter a quem se ama
Assim tão perto do peito.

Tô flutuando nas nuvens
Hoje eu durmo tranquila
Pois sei que você
Pra mim não é mais um sonho.

Como é bom acordar
Sem ter a incerteza de que me ama
Como é bom sentir de novo essa paz
Que só você me traz.

Não vejo a hora de estarmos juntos
E reviver tudo que fomos
Sabendo hoje o que podemos ser
Dois em um, um para o outro.

Sei que a chama antiga se fez
Tão presenti e não mais disperça
Acordando o que nunca nos deixou
E que sempre estave ali nos esperando.

Hoje podemos ver o quanto
Linda se tornou a nossa história
O quanto vale a pena não mais fugir dela
Pois esse amor é raro, maduro e eterno.

Peço a Deus que nos guie
Mas sei que foi ele quem nos colocou
Frente a frente com o nosso amor
Para vive-lo plenamente e verdadeiramente ser feliz.

Foto de betimartins

Apenas mulher!

Apenas mulher!

Eu sou apenas uma mulher
Simples, mas sempre sonhadora
Por vezes temia ainda ser uma criança
E brinco com elas deveras feliz...

Eu sou a contadora de historias
Aquela que viaja a terra do Nunca
Que ainda dorme nas nuvens e ainda sonha
Com reinos e belas histórias de amor...

Eu sou aquela que se desdobra
Entre lagrimas, entre lutas
Apenas sorri, trabalha dobrado
E segue na frente na vida...

Eu sou na noite, a filha do amor
Em nosso quarto te faço feliz e meu rei
Não tem outra no reino, que ame o meu senhor
Tu és o meu cavaleiro, dono e senhor...

Deixo-me dormir cansada em teus braços
Sentir teus afagos e teu belo respirar
Não existe coisa igual como o nosso amor...

E escrevo aqui, nas linhas do papel
Que carreguei em meu ventre a vida
Esperei, meses, gerando apenas amor...

Amor que hoje apenas mulher, pode sentir
Nas cicatrizes geradas, na dor infligida
Apenas, deixei o choro, sufocar...

Minha alma sofrida, nos turbilhões do passado
Soltando as amarras, uma a uma, desatando
Os laços que ainda me prendiam...

E chorei! Novamente como uma criança
Deixando-me levar no teu colo do amor
Respirando a vida, apenas escrevendo a poesia...

Que em cada manha ela ainda acorda feliz
Nos teus abraços, na tua presença querida
E sorrindo, feliz, pois eu,sou a tua mulher.

Foto de airamasor

A dor da espera.

Recontei o tempo,
andei pra trás,
colecionei os dias e as noites.

Atrasei as horas,
segurei as nuvens,
troquei as estações.

Plantei cata-ventos,
falei com bem-te-vis,
chorei com beija-flores.

Reguei a saudade
e cochilei em suas sombras.
Subi mangueiras
entardecidas de espera.

No quintal,
apanhei um pé de palavras
e arranjei uns versos
silvestres no vaso.
Sentei na soleira da porta
e desenhei seu nome na terra.

Poli a lua,
dei corda nas estrelas,
arrumei o céu.

Debrucei meu coração na janela,
até meu peito ficar marcado
pela dor da espera.
(Aira, 27 de março de 2011)

Foto de Dom Arthur Santos Rocha Pereira de Souza

Teogonia de Hesiodo

Proêmio: hino às Musas
Pelas Musas heliconíades comecemos a cantar.
Elas têm grande e divino o monte Hélicon,
em volta da fonte violácea com pés suaves
dançam e do altar do bem forte filho de Crono.
Banharam a tenra pele no Permesso
ou na fonte do Cavalo ou no Olmio divino
e irrompendo com os pés fizeram coros
belos ardentes no ápice do Hélicon.
Daí precipitando-se ocultas por muita névoa
vão em renques noturnos lançando belíssima voz,
hineando Zeus porta-égide, a soberana Hera
de Argos calçada de áureas sandálias,
Atena de olhos glaucos virgem de Zeus porta-égide,
o luminoso Apoio, Ártemis verte-flechas,
Posídon que sustém e treme a terra,
Têmis veneranda, Afrodite de olhos ágeis,
Hebe de áurea coroa, a bela Dione,
Aurora, o grande Sol, a Lua brilhante,
Leto, Jápeto,de curvo pensar,
Terra, o grande Oceano, a Noite negra
e o sagrado ser dos outros imortais sempre vivos.
Elas um dia a Hesíodo ensinaram belo canto
quando pastoreava ovelhas ao pé do Hélicon divino.
Esta palavra primeiro disseram-me as Deusas
Musas olimpíades, virgens de Zeus porta-égide:
“Pastores agrestes, vis infâmias e ventres só,
sabemos muitas mentiras dizer símeis aos fatos
e sabemos, se queremos, dar a ouvir revelações”.
Assim falaram as virgens do grande Zeus verídicas,
por cetro deram-me um ramo, a um loureiro viçoso
colhendo-o admirável, e inspiraram-me um canto
divino para que eu glorie o futuro e o passado,
impeliram-me a hinear o ser dos venturosos sempre vivos
e a elas primeiro e por último sempre cantar.
Mas por que me vem isto de carvalho e de pedra?
Eia! pelas Musas comecemos, elas a Zeus pai
hineando alegram o grande espírito no Olimpo
dizendo o presente, o futuro e o passado
vozes aliando. Infatigável flui o som
das bocas, suave. Brilha o palácio do pai
Zeus troante quando a voz lirial das Deusas
espalha-se, ecoa a cabeça do Olimpo nevado
e o palácio dos imortais. Lançando voz imperecível
o ser venerando dos Deuses primeiro gloriam no canto
dês o começo: os que a Terra e o Céu amplo geraram
e os deles nascidos Deuses doadores de bens,
depois Zeus pai dos Deuses e dos homens,
no começo e fim do canto hineiam as Deusas
o mais forte dos Deuses e o maior em poder,
e ainda o ser de homens e de poderosos Gigantes.
Hineando alegram o espírito de Zeus no Olimpo
Musas olimpíades, virgens de Zeus porta-égide.
Na Piéria gerou-as, da união do Pai Cronida,
Memória rainha nas colinas de Eleutera,
para oblívio de males e pausa de aflições.
Nove noites teve uniões com ela o sábio Zeus
longe dos imortais subindo ao sagrado leito.
Quando girou o ano e retornaram as estações
com as minguas das luas e muitos dias findaram,
ela pariu nove moças concordes que dos cantares
têm o desvelo no peito e não-triste ânimo,
perto do ápice altíssimo do nevoso Olimpo,
aí os seus coros luzentes e belo palácio.
Junto a elas as Graças e o Desejo têm morada
nas festas, pelas bocas amável voz lançando
dançam e gloriam a partilha e hábitos nobres
de todos os imortais, voz bem amável lançando.
Elas iam ao Olimpo exultantes com a bela voz,
imperecível dança. Em torno gritava a terra negra
ao hinearem, dos pés amável ruído erguia-se
ao irem a seu pai. Ele reina no céu
tendo consigo o trovão e o raio flamante,
venceu no poder o pai Crono, e aos imortais
bem distribuiu e indicou cada honra;
isto as Musas cantavam, tendo o palácio Olímpio,
nove filhas nascidas do grande Zeus:
Glória, Alegria, Festa, Dançarina,
Alegra-coro, Amorosa, Hinária, Celeste
e Belavoz, que dentre todas vem à frente.
Ela é que acompanha os reis venerandos.
A quem honram as virgens do grande Zeus
e dentre reis sustentados por Zeus vêem nascer,
elas lhe vertem sobre a língua o doce orvalho
e palavras de mel fluem de sua boca. Todas
as gentes o olham decidir as sentenças
com reta justiça e ele firme falando na ágora
logo à grande discórdia cônscio põe fim,
pois os reis têm prudência quando às gentes
violadas na ágora perfazem as reparações
facilmente, a persuadir com brandas palavras.
Indo à assembléia, como a um Deus o propiciam
pelo doce honor e nas reuniões se distingue.
Tal das Musas o sagrado dom aos homens.
Pelas Musas e pelo golpeante Apoio
há cantores e citaristas sobre a terra,
e por Zeus, reis. Feliz é quem as Musas
amam, doce de sua boca flui a voz.
Se com angústia no ânimo recém-ferido
alguém aflito mirra o coração e se o cantor
servo das Musas hineia a glória dos antigos
e os venturosos Deuses que têm o Olimpo,
logo esquece os pesares e de nenhuma aflição
se lembra, já os desviaram os dons das Deusas
Alegrai, filhas de Zeus, dai ardente canto,
gloriai o sagrado ser dos imortais sempre vivos,
os que nasceram da Terra e do Céu constelado,
os da Noite trevosa, os que o salgado Mar criou.
Dizei como no começo Deuses e Terra nasceram,
os Rios, o Mar infinito impetuoso de ondas,
os Astros brilhantes e o Céu amplo em cima.
Os deles nascidos Deuses doadores de bens
como dividiram a opulência e repartiram as honras
e como no começo tiveram o rugoso Olimpo.
Dizei-me isto, Musas que tendes o palácio Olímpio,
dês o começo e quem dentre eles primeiro nasceu.
Os Deuses primordiais
Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também
Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre,
dos imortais que têm a cabeça do Olimpo nevado,
e Tártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias,
e Eros: o mais belo entre Deuses imortais,
solta-membros, dos Deuses todos e dos homens todos
ele doma no peito o espírito e a prudente vontade.
Do Caos Érebos e Noite negra nasceram.
Da Noite aliás Éter e Dia nasceram,
gerou-os fecundada unida a Érebos em amor.
Terra primeiro pariu igual a si mesma
Céu constelado, para cercá-la toda ao redor
e ser aos Deuses venturosos sede irresvalável sempre.
Pariu altas Montanhas, belos abrigos das Deusas
ninfas que moram nas montanhas frondosas.
E pariu a infecunda planície impetuosa de ondas
o Mar, sem o desejoso amor. Depois pariu
do coito com Céu: Oceano de fundos remoinhos
e Coios e Crios e Hipérion e Jápeto
e Teia e Réia e Têmis e Memória
e Febe de áurea coroa e Tétis amorosa.
E após com ótimas armas Crono de curvo pensar,
filho o mais terrível: detestou o florescente pai.
Pariu ainda os Ciclopes de soberbo coração:
Trovão, Relâmpago e Arges de violento ânimo
que a Zeus deram o trovão e forjaram o raio.
Eles no mais eram comparáveis aos Deuses,
único olho bem no meio repousava na fronte.
Ciclopes denominava-os o nome, porque neles
circular olho sozinho repousava na fronte.
Vigor, violência e engenho possuíam na ação.
Outros ainda da Terra e do Céu nasceram,
três filhos enormes, violentos, não nomeáveis.
Cotos, Briareu e Giges, assombrosos filhos.
Deles, eram cem braços que saltavam dos ombros,
improximáveis; cabeças de cada um cinqüenta
brotavam dos ombros, sobre os grossos membros.
Vigor sem limite, poderoso na enorme forma
História do Céu e de Crono
Quantos da Terra e do Céu nasceram,
filhos os mais temíveis, detestava-os o pai
dês o começo: tão logo cada um deles nascia
a todos ocultava, à luz não os permitindo,
na cova da Terra. Alegrava-se na maligna obra
o Céu. Por dentro gemia a Terra prodigiosa
atulhada, e urdiu dolosa e maligna arte.
Rápida criou o gênero do grisalho aço,
forjou grande podão e indicou aos filhos.
Disse com ousadia, ofendida no coração:
“Filhos meus e do pai estólido, se quiserdes
ter-me fé, puniremos o maligno ultraje de vosso
pai, pois ele tramou antes obras indignas”.
Assim falou e a todos reteve o terror, ninguém
vozeou. Ousado o grande Crono de curvo pensar
devolveu logo as palavras à mãe cuidadosa:
“Mãe, isto eu prometo e cumprirei
a obra, porque nefando não me importa o nosso
pai, pois ele tramou antes obras indignas”.
Assim falou. Exultou nas entranhas Terra prodigiosa,
colocou-o oculto em tocaia, pôs-lhe nas mãos
a foice dentada e inculcou-lhe todo o ardil.
Veio com a noite o grande Céu, ao redor da Terra
desejando amor sobrepairou e estendeu-se
a tudo. Da tocaia o filho alcançou com a mão
esquerda, com a destra pegou a prodigiosa foice
longa e dentada. E do pai o pênis
ceifou com ímpeto e lançou-o a esmo
para trás. Mas nada inerte escapou da mão:
quantos salpicos respingaram sanguíneos
a todos recebeu-os a Terra; com o girar do ano
gerou as Erínias duras, os grandes Gigantes
rútilos nas armas, com longas lanças nas mãos,
e Ninfas chamadas Freixos sobre a terra infinita.
O pênis, tão logo cortando-o com o aço
atirou do continente no undoso mar,
aí muito boiou na planície, ao redor branca
espuma da imortal carne ejaculava-se, dela
uma virgem criou-se. Primeiro Citera divina
atingiu, depois foi à circunfluída Chipre
e saiu veneranda bela Deusa, ao redor relva
crescia sob esbeltos pés. A ela. Afrodite
Deusa nascida de espuma e bem-coroada Citeréia
apelidam homens e Deuses, porque da espuma
criou-se e Citeréia porque tocou Citera,
Cípria porque nasceu na undosa Chipre,
e Amor-do-pênis porque saiu do pênis à luz.
Eros acompanhou-a, Desejo seguiu-a belo,
tão logo nasceu e foi para a grei dos Deuses.
Esta honra tem dês o começo e na partilha
coube-lhe entre homens e Deuses imortais
as conversas de moças, os sorrisos, os enganos,
o doce gozo, o amor e a meiguice.
O pai com o apelido de Titãs apelidou-os:
o grande Céu vituperando filhos que gerou
dizia terem feito, na altiva estultícia,
grã obra de que castigo teriam no porvir.
Os filhos da Noite
Noite pariu hediondo Lote, Sorte negra
e Morte, pariu Sono e pariu a grei de Sonhos.
A seguir Escárnio e Miséria cheia de dor.
Com nenhum conúbio divina pariu-os Noite trevosa.
As Hespérides que vigiam além do ínclito Oceano
belas maçãs de ouro e as árvores frutiferantes
pariu e as Partes e as Sortes que punem sem dó:
Fiandeira, Distributriz e Inflexível que aos mortais
tão logo nascidos dão os haveres de bem e de mal,
elas perseguem transgressões de homens e Deuses
e jamais repousam as Deusas da terrível cólera
até que dêem com o olho maligno naquele que erra.
Pariu ainda Nêmesis ruína dos perecíveis mortais
a Noite funérea. Depois pariu Engano e Amor
e Velhice funesta e pariu Éris de ânimo cruel.
Éris hedionda pariu Fadiga cheia de dor,
Olvido, Fome e Dores cheias de lágrimas,
Batalhas, Combates, Massacres e Homicídios,
Litígios, Mentiras, Falas e Disputas,
Desordem e Derrota conviventes uma da outra,
e Juramento, que aos sobreterrâneos homens
muito arruina quando alguém adrede perjura.
A linhagem do Mar
O Mar gerou Nereu sem mentira nem olvido,
filho o mais velho, também o chamam Ancião
porque infalível e bom, nem os preceitos
olvida mas justos e bons desígnios conhece.
Amante da Terra gerou também o grande Espanto
e o viril Fórcis e Ceto de belas faces
e Euríbia que nas entranhas tem ânimo de aço.
De Nereu nasceram filhas rivais de Deusas
no mar infecundo. Dádiva de belos cabelos
virgem do Oceano, rio circular, gerou-as:
Primeira, Eficácia, Salvante, Anfitrite,
Doadora, Tétis, Bonança, Glauca,
Ondaveloz, Gruta, Veloz, Marina amável,
Onidéia, Amorosa, Vitória de róseos braços,
Melita graciosa, Portuária, Esplendente,
Dadivosa, Primeira, Portadora, Potente,
Ilhéia, Recife, Rainhaprima,
Dádiva, Onividente, formosa Galatéia,
Eguaveloz amável, Égua-sagaz de róseos braços,
Pega-onda que apazigua no mar cor de névoa
facilmente a onda e o sopro de fortes ventos
com Aplana-onda e Anfitrite de belos tornozelos,
Ondeia, Praia, a bem-coroada Rainhamarina,
Glaucapartilha sorridente, Travessia,
Reúne-gente, Reúne-bem, Rainha-das-gentes,
Multi-sagaz, Sagacidade, Rainha-solvente,
Pastora de amável talhe e perfeita beleza,
Arenosa de gracioso corpo, divina Equestre,
llhoa, Escolta, Preceitora, Previdência
e Infalível que do pai imortal tem o espírito.
Estas nasceram do irrepreensível Nereu,
cinqüenta virgens, sábias de ações irrepreensíveis.
Espanto à filha do Oceano de profundo fluir
desposou, Ambarina. Ela pariu ligeira Íris
e Harpias de belos cabelos: Procela e Alígera
que a pássaros e rajadas de vento acompanham
com asas ligeiras, pois no abismo do ar se lançam.
De Fórcis, Ceto gerou as Velhas de belas faces,
grisalhas de nascença, apelidam-nas Velhas
Deuses imortais e homens caminhantes da terra:
Penfredo de véu perfeito e Ênio de véu açafrão.
Gerou Górgonas que habitam além do ínclito Oceano
os confins da noite (onde as Hespérides cantoras):
Esteno, Euríale e Medusa que sofreu o funesto,
era mortal, as outras imortais e sem velhice
ambas, mas com ela deitou-se o Crina-preta
no macio prado entre flores de primavera.
Dela, quando Perseu lhe decapitou o pescoço,
surgiram o grande Aurigládio e o cavalo Pégaso;
tem este nome porque ao pé das águas do Oceano
nasceu, o outro com o gládio de ouro nas mãos,
voando ele abandonou a terra mãe de rebanhos
e foi aos imortais e habita o palácio de Zeus,
portador de trovão e relâmpago de Zeus sábio.
Aurigládio gerou Gerioneu de três cabeças
unindo-se a Belaflui virgem do ínclito Oceano.
E a Gerioneu matou-o a força de Heracles
perto dos bois sinuosos na circunfluída Eritéia
no dia em que tangeria os bois de ampla testa
para Tirinto sagrada após atravessar o Oceano
após matar Ortro e o vaqueiro Eurítion
no nevoento estábulo além do ínclito Oceano.
Ela pariu outro incombatível prodígio nem par
a homens mortais nem a Deuses imortais
numa gruta cava: divina Víbora de ânimo cruel,
semininfa de olhos vivos e belas faces
e prodigiosa semi-serpente terrível e enorme,
cambiante carnívoro sob covil na divina terra
Aí sua gruta lá embaixo está sob côncava pedra
longe dos Deuses imortais e dos homens mortais
aí lhe deram os Deuses habitar ínclito palácio.
Em Árimos sob o chão reteve-se a lúgubre Víbora
ninfa imortal e sem velhice para sempre.
É fama que com ela Tífon uniu-se em amor,
terrível soberbo sem lei com a virgem de olhos vivos.
Ela fecundada pariu crias de ânimo cruel.
Gerou primeiro Ortro, cão de Gerioneu.
Depois pariu o incombatível e não nomeável
Cérbero carnívoro, cão de brônzea voz do Hades,
de cinquenta cabeças, impudente e cruel.
A seguir gerou Hidra, sábia do que é funesto,
e em Lerna nutriu-a a Deusa de alvos braços Hera
por imenso rancor contra a força de Heracles;
matou-a o filho de Zeus com não piedoso bronze,
Heracles Anfitrionida, com o dileto de Ares
Iolau, por desígnios de Atena apresadora.
Ela pariu a Cabra que sopra irrepelível fogo,
a terrível e grande e de pés ligeiros e cruel,
tinha três cabeças: uma de leão de olhos rútilos,
outra de cabra, outra de víbora, cruel serpente.
Na frente leão, atrás serpente, no meio cabra,
expirando o terrível furor do fogo aceso.
Agarrou-a Pégaso e o bravo Belerofonte.
E ela pariu a funesta Fix, ruína dos cadmeus,
emprenhada por Ortro, pariu o Leão de Neméia
que Hera a ínclita esposa de Zeus nutriu
e abrigou nas colinas de Neméia, pena dos homens:
aí residindo destruía greis de homens
senhor de Treto e Apesanta em Neméia,
mas sucumbiu ao vigor da força de Heracles.
Unida a Fórcis em amor, Ceto gerou por fim
terrível Serpente que no covil da terra trevosa
nas grandes fronteiras guarda maçãs de ouro.
Esta é a geração de Ceto e de Fórcis.
A linhagem do Céu
Tétis gerou de Oceano os rios rodopiantes:
Nilo, Alfeu, Erídano de rodopios profundos,
Estrímon, Meandro, Istro de belo fluir,
Fase, Reso, Aquelôo de rodopios de prata,
Nesso, Ródio, Haliácmon, Sete-bocas,
Granico, Esepo, Simoente divino,
Peneu, Hermo, Caico bem-fluente,
Sangário grande, Ládon, Partênio,
Eveno, Árdesco e Escamandro divino.
E pariu a sagrada geração de filhas
que pela terra adolescem homens com Apoio rei
e com os Rios e que têm de Zeus esta honra:
Persuasiva, Virgínea, Violeta, Ambarina
Dádiva, Popa, Celeste de divina aparência,
Equina, Clímene, Rósea, Belaflui,
Núpcia, Clítia, Sábia, Persuasora,
Plexaura, Galaxaura, amável Dione,
Pecuária, Veloz, formosa Polidora,
Tecelã de amável talhe, Riqueza de olhos bovinos,
Perseida, Ianeira, Acaste, Loira
Pétrea amorosa, Resistência, Europa,
Astúcia, Eurinome, Concludente de véu açafrão,
Áurea, Ásia, amorosa Calipso,
Doadora, Acaso, Circunflui, Velozflui
e Estige que dentre todas vem à frente.
Estas nasceram de Oceano e de Tétis
filhas mais velhas: há muitas outras ainda,
há três mil Oceaninas de finos tornozelos
que dispersas percorrem terra e águas profundas
por igual e de todo, crias magníficas entre Deusas.
Outros rios que fluem fragorosos são tantos
filhos de Oceano, gerou-os Tétis soberana.
De todos é difícil a um mortal dizer o nome,
a cada um conhece quem habita à sua beira.
Téia gerou o grande Sol, a Lua brilhante
e Aurora que brilha a todos nós sobreterrâneos
e aos Deuses imortais que têm o céu amplo,
gerou-os submetida a Hipérion em amor.
Euríbia unida a Crios em amor gerou
divina entre Deusas: o grande Astreu, Palas
e Perses distinto de todos pela sabedoria.
Aurora gerou de Astreu ventos de ânimo violento,
Zéfiro clareante, Bóreas de veloz caminhada
e Notos, no coito amoroso a Deusa com o Deus,
e após aurorante pariu a Estrela da Manhã
e os astros brilhantes de que o céu se coroa.
Estige filha do Oceano unida a Palas
no palácio pariu Zelo e Vitória de belos tornozelos
e pariu Poder e Violência, insignes filhos.
Longe deles não há morada de Zeus nem pouso
nem percurso por onde o Deus não os guie
mas sempre peito de Zeus gravitroante repousam.
Assim decidiu Estige imperecível Oceanina
no dia em que o Olímpio relampeante a todos
os imortais conclamou ao alto Olimpo,
e disse quem dos Deuses combatesse com ele os Titãs
ele não o privaria dos prêmios e cada honra
manteria como antes entre os Deuses imortais,
e que o não-honrado sob Crono e sem-prêmios
honra e prêmio alcançaria, como é justiça.
E veio primeiro Estige imperecível ao Olimpo
com os filhos, por desígnios de seu pai;
honrou-a Zeus e supremos dons lhe deu:
fez dela própria o grande juramento dos Deuses
e seus filhos para sempre residirem com ele.
Assim para todos inteiramente como prometeu
cumpriu, ele próprio tem grande poder e reina.

Hino a Hécate
Febe entrou no amoroso leito de Coios
e fecundou a Deusa o Deus em amor,
ela gerou Leto de negro véu, a sempre doce,
boa aos homens e aos Deuses imortais,
doce dês o começo, a mais suave no Olimpo.
Gerou Astéria de propício nome, que Perses
conduziu um dia a seu palácio e desposou,
e fecundada pariu Hécate a quem mais
Zeus Cronida honrou e concedeu esplêndidos dons,
ter parte na terra e no mar infecundo.
Ela também do Céu constelado partilhou a honra
e é muito honrada entre os Deuses imortais.
Hoje ainda, se algum homem sobre a terra
com belos sacrifícios conforme os ritos propicia
e invoca Hécate, muita honra o acompanha
facilmente, a quem a Deusa propensa acolhe a prece;
e torna-o opulento, porque ela tem força.
De quantos nasceram da Terra e do Céu
e receberam honra, de todos obteve um lote;
nem o Cronida violou nem a despojou
do que recebeu entre os antigos Deuses Titãs,
e ela tem como primeiro no começo houve a partilha.
Nem porque filha única menos partilhou de honra
e de privilégio na terra e no céu e no mar
mas ainda mais, porque honra-a Zeus.
A quem quer, grandemente dá auxílio e ajuda,
no tribunal senta-se junto aos reis venerandos,
na assembléia entre o povo distingue a quem quer,
e quando se armam para o combate homicida
os homens, aí a Deusa assiste a quem quer
e propícia concede vitória e oferece-lhe glória.
Diligente quando os homens lutam nos jogos
aí também a Deusa lhe dá auxílio e ajuda,
e vencendo pela força e vigor, leva belo prêmio
facilmente, com alegria, e aos pais dá a glória.
Diligente entre os cavaleiros assiste a quem quer,
e aos que lavram o mar de ínvios caminhos
e suplicam a Hécate e ao troante Treme-terra,
fácil a gloriosa Deusa concede muita pesca
ou surge e arranca-a, se o quer no seu ânimo.
Diligente no estábulo com Hermes aumenta
o rebanho de bois e a larga tropa de cabras
e a de ovelhas lanosas, se o quer no seu ânimo,
de poucos avoluma-os e de muitos faz menores.
Assim, apesar de ser a única filha de sua mãe,
entre imortais é honrada com todos os privilégios.
O Cronida a fez nutriz de jovens que depois dela
com os olhos viram a luz da multividente Aurora.
Assim dês o começo é nutriz de jovens e estas as honras
O nascimento de Zeus
Réia submetida a Crono pariu brilhantes filhos:
Héstia, Deméter e Hera de áureas sandálias,
o forte Hades que sob o chão habita um palácio
com impiedoso coração, o troante Treme-terra
e o sábio Zeus, pai dos Deuses e dos homens,
sob cujo trovão até a ampla terra se abala.
E engolia-os o grande Crono tão logo cada um
do ventre sagrado da mãe descia aos joelhos,
tramando-o para que outro dos magníficos Uranidas
não tivesse entre os imortais a honra de rei.
Pois soube da Terra e do Céu constelado
que lhe era destino por um filho ser submetido
apesar de poderoso, por desígnios do grande Zeus.
E não mantinha vigilância de cego, mas à espreita
engolia os filhos. Réia agarrou-a longa aflição.
Mas quando a Zeus pai dos Deuses e dos homens
ela devia parir, suplicou-lhe então aos pais queridos,
aos seus, à Terra e ao Céu constelado,
comporem um ardil para que oculta parisse
o filho, e fosse punido pelas Erínias do pai
e filhos engolidos o grande Crono de curvo pensar.
Eles escutaram e atenderam à filha querida
e indicaram quanto era destino ocorrer
ao rei Crono e ao filho de violento ânimo.
Enviaram-na a Licto, gorda região de Creta,
quando ela devia parir o filho de ótimas armas,
o grande Zeus, e recebeu-o Terra prodigiosa
na vasta Creta para nutri-lo e criá-lo.
Aí levando-o através da veloz noite negra atingiu
primeiro Licto, e com ele nas mãos escondeu-o
em gruta íngreme sob o covil da terra divina
no monte das Cabras denso de árvores.
Encueirou grande pedra e entregou-a
ao soberano Uranida rei dos antigos Deuses.
Tomando-a nas mãos meteu-a ventre abaixo
o coitado, nem pensou nas entranhas que deixava
em vez da pedra o seu filho invicto e seguro
ao porvir. Este com violência e mãos dominando-o
logo o expulsaria da honra e reinaria entre imortais.
Rápido o vigor e os brilhantes membros
do príncipe cresciam. E com o girar do ano,
enganado por repetidas instigações da Terra,
soltou a prole o grande Crono de curvo pensar,
vencido pelas artes e violência do filho.
Primeiro vomitou a pedra por último engolida.
Zeus cravou-a sobre a terra de amplas vias
em Delfos divino, nos vales ao pé do Parnaso,
signo ao porvir e espanto aos perecíveis mortais.
E livrou das perdidas prisões os tios paternos
Trovão, Relâmpago e Arges de violento ânimo,
filhos de Céu a quem o pai em desvario prendeu
e eles lembrados da graça benéfica
deram-lhe o trovão e o raio flamante
e o relâmpago que antes Terra prodigiosa recobria.
Neles confiante reina sobre mortais e imortais.
História de Prometeu
Jápeto desposou Clímene de belos tornozelos
virgem Oceanína e entraram no mesmo leito.
Ela gerou o filho Atlas de violento ânimo,
pariu o sobreglorioso Menécio e Prometeu
astuto de iriado pensar e o sem-acerto Epimeteu
que foi um mal dês o começo aos homens come-pão,
pois primeiro aceitou de Zeus moldada a mulher
virgem. Ao soberbo Menécio, Zeus longividente
lançou-o Érebos abaixo golpeando com fúmeo raio
por sua estultícia e bravura bem-armada.
Atlas sustém o amplo céu sob cruel coerção
nos confins da Terra ante as Hespérides cantoras,
de pé, com a cabeça e infatigáveis braços:
este destino o sábio Zeus atribuiu-lhe.
E prendeu com infrágeis peias Prometeu astuciador,
cadeias dolorosas passadas ao meio duma coluna,
e sobre ele incitou uma águia de longas asas,
ela comia o fígado imortal, ele crescia à noite
todo igual o comera de dia a ave de longas asas.
O filho de Alcmena de belos tornozelos valente
Heracles matou-a, da maligna doença defendeu
o filho de Jápeto e libertou-o dos tormentos,
não discordando Zeus Olímpio o sublime soberano
para que de Heracles Tebano fosse a glória
maior que antes sobre a terra multinutriz.
Reverente ele honrou ao insigne filho,
apesar da cólera pôs fim ao rancor que retinha
de quem desafiou os desígnios do pujante Cronida.
Quando se discerniam Deuses e homens mortais
em Mecona, com ânimo atento dividindo ofertou
grande boi, a trapacear o espírito de Zeus:
aqui pôs carnes e gordas vísceras com a banha
sobre a pele e cobriu-as com o ventre do boi,
ali os alvos ossos do boi com dolosa arte
dispôs e cobriu-os com a brilhante banha.
Disse-lhe o pai dos homens e dos Deuses:
“Filho de Jápeto, insigne dentre todos os reis,
ó doce, dividiste as partes zeloso de um só!”.
Assim falou a zombar Zeus de imperecíveis desígnios.
E disse-lhe Prometeu de curvo pensar
sorrindo leve, não esqueceu a dolosa arte:
“Zeus, o de maior glória e poder dos Deuses perenes,
toma qual dos dois nas entranhas te exorta o ânimo”.
Falou por astúcia. Zeus de imperecíveis desígnios
soube, não ignorou a astúcia; nas entranhas previu
males que aos homens mortais deviam cumprir-se.
Com as duas mãos ergueu a alva gordura,
raivou nas entranhas, o rancor veio ao seu ânimo,
quando viu alvos ossos do boi sob dolosa arte.
Por isso aos imortais sobre a terra a grei humana
queima os alvos ossos em altares turiais.
E colérico disse-lhe Zeus agrega-nuvens:
“Filho de Jápeto, o mais hábil em seus desígnios,
ó doce, ainda não esqueceste a dolosa arte!”.
Assim falou irado Zeus de imperecíveis desígnios,
depois sempre deste ardil lembrado
negou nos freixos a força do fogo infatigável
aos homens mortais que sobre a terra habitam.
Porém o enganou o bravo filho de Jápeto:
furtou o brilho longevisível do infatigável fogo
em oca férula; mordeu fundo o ânimo
a Zeus tonítruo e enraivou seu coração
ver entre homens o brilho longevisível do fogo.
E criou já ao invés do fogo um mal aos homens:
plasmou-o da terra o ínclito Pés-tortos
como virgem pudente, por desígnios do Cronida;
cingiu e adornou-a a Deusa Atena de olhos glaucos
com vestes alvas, compôs um véu laborioso
descendo-lhe da cabeça, prodígio aos olhos,
ao redor coroas de flores novas da relva
sedutoras lhe pôs na fronte Palas Atena
e ao redor da cabeça pôs uma coroa de ouro,
quem a fabricou: o ínclito Pés-tortos
lavrando-a nas mãos, agradando a Zeus pai,
e muitos lavores nela gravou, prodígio aos olhos,
das feras que a terra e o mar nutrem muitas
ele pôs muitas ali (esplendia muita a graça)
prodigiosas iguais às que vivas têm voz.
Após ter criado belo o mal em vez de um bem
levou-a lá onde eram outros Deuses e homens
adornada pela dos olhos glaucos e do pai forte.
O espanto reteve Deuses imortais e homens mortais
ao virem íngreme incombatível ardil aos homens.
Dela descende a geração das femininas mulheres.
Dela é a funesta geração e grei das mulheres,
grande pena que habita entre homens mortais,
parceiras não da penúria cruel, porém do luxo.
Tal quando na colméia recoberta abelhas
nutrem zangões, emparelhados de malefício,
elas todo o dia até o mergulho do sol
diurnas fadigam-se e fazem os brancos favos,
eles ficam no abrigo do enxame à espera
e amontoam no seu ventre o esforço alheio,
assim um mal igual fez aos homens mortais
Zeus tonítruo: as mulheres, parelhas de obras
ásperas, e em vez de um bem deu oposto mal.
Quem fugindo a núpcias e a obrigações com mulheres
não quer casar-se, atinge a velhice funesta
sem quem o segure: não de víveres carente
vive, mas ao morrer dividem-lhe as posses
parentes longes. A quem vem o destino de núpcias
e cabe cuidosa esposa concorde consigo,
para este desde cedo ao bem contrapesa o mal
constante. E quem acolhe uma de raça perversa
vive com uma aflição sem fim nas entranhas,
no ânimo, no coração, e incurável é o mal.
Não se pode furtar nem superar o espírito de Zeus
pois nem o filho de Jápeto o benéfico Prometeu
escapou-lhe à pesada cólera, mas sob coerção
apesar de multissábio a grande cadeia o retém.
A Titanomaquia
Tão logo o pai lhes teve ódio no ânimo
prendeu em poderosa prisão Briareu, Cotos e Giges
admirado da bem-armada bravura, aspecto
e tamanho, e meteu-os sob a terra de amplas vias.
Aí, doloridos sob a terra habitando
jaziam nos confins e fronteiras da grande terra
com longas angústias e grande mágoa no coração.
Mas o Cronida e os outros Deuses imortais
que Réia de belos cabelos pariu amada por Crono
restituíram-nos à luz por conselhos da Terra.
Ela lhes revelou clara e plenamente:
teriam com eles vitória e renome esplêndido.
Há muito combatiam com dolorosas fadigas
uns contra outros em violentas batalhas
os Deuses Titãs e quantos nasceram de Crono:
uns no alto Ótris — os Titãs magníficos —,
outros no Olimpo — os Deuses doadores de bens
que Réia de belos cabelos pariu amada por Crono.
Davam uns aos outros doloroso combate
em batalhas contínuas há dez anos cheios.
Nenhum final nem solução da áspera discórdia
de nenhum lado, ambíguo pairava o termo da guerra.
Mas quando àqueles ofereceu todo o sustento,
néctar e ambrosia que só os Deuses comem
no peito de todos cresceu o ânimo viril.
Após sorverem o néctar e a amável ambrosia
disse-lhes o pai dos homens e dos Deuses:
“Ouvi-me, filhos magníficos da Terra e do Céu,
que eu diga o que no peito o ânimo me ordena:
já há muitos anos, uns contra os outros,
todo dia combatemos pela vitória e poder
os Deuses Titãs e quantos nascemos de Crono.
Vós com grande violência e braços intocáveis
surgi contra os Titãs na lúgubre batalha,
lembrai a doce lealdade e quanto sofrestes
na prisão cruel antes de voltar à luz
por nossos desígnios, de sob a treva nevoenta”.
Assim falou. Respondeu o irrepreensível Cotos:
“Ó, portento, não o não sabido revelas: nós
sabemos que tens supremo cor e supremo espírito,
e repeliste dos imortais o mal horrendo;
por tua sabedoria, de sob a treva nevoenta
das prisões sem-mel, nós já sem esperanças
de volta viemos, ó rei filho de Crono.
Agora com rijo espírito e prudente vontade
defenderemos vosso poder na luta terrível
combatendo os Titãs na violenta batalha”.
Assim falou. Aprovaram os Deuses doadores de bens
a palavra ouvida. Ávido de guerra o ânimo
ainda mais, e despertaram o triste combate
todos — Deusas e Deuses — naquele dia:
os Deuses Titãs, quantos nasceram de Crono,
os que Zeus do Érebos sob a terra lançou à luz,
terríveis, poderosos, com bem-armada violência.
Deles eram cem braços que saltavam dos ombros
de cada um, cabeças de cada um cinqüenta
brotavam dos ombros sobre grossos membros.
Eles impuseram aos Titãs lúgubre batalha
agarrando íngremes pedras com os grossos braços.
Os Titãs defronte fortificavam as fileiras
com ardor. Ambos os lados mostravam obras
braçais violentas. Terrível mugia o mar infinito,
retumbava forte a terra, o vasto céu gemia
sacudido, no solo estremecia o alto Olimpo
sob golpes dos imortais, o abalo pesado atingia
o Tártaro nevoento, e o surdo estrondo de pés
de indizíveis assaltos e ataques brutais.
E uns contra outros lançavam dardos gemidosos,
vinda de ambos atinge o céu constelado
a voz exortante, e batiam-se com grande grito.
Não mais Zeus continha seu furor e deste
furor logo encheram-se suas vísceras e toda
violência ele mostrava. Do céu e do Olimpo
relampejando avançava sempre, os raios
com trovões e relâmpagos juntos voavam
do grosso braço, rodopiando a chama sagrada
densos. A terra nutriz retumbava ao redor
queimando-se, crepitou ao fogo vasta floresta,
fervia o chão todo e as correntes do Oceano
e o mar infecundo, o sopro quente atava
os Titãs terrestres, a chama atingia vasta
o ar divino, apesar de fortes cegava-os nos olhos
o brilhar fulgurante de raio e relâmpago.
O calor prodigioso traspassou o Caos. Parecia,
a ver-se com olhos e ouvir-se com ouvidos a voz,
quando Terra e o Céu amplo lá em cima
tocavam-se, tão grande clangor erguia-se
dela desabada e dele desabando-se por cima,
tal o clangor dos Deuses batendo-se na luta.
Os ventos revolviam o tremor de terra, a poeira,
o trovão, o relâmpago e o raio flamante,
dardos de Zeus grande, e levavam alarido e voz
ao meio das frentes, estrondo imenso erguia-se
da discórdia atroz. Mostrava-se o poder dos braços.
A batalha decai. Antes, uns contra outros
atacavam-se tenazes em violentas batalhas.
Na frente despertaram áspero combate
Cotos, Briareu e Giges insaciável de guerra.
Trezentas pedras dos grossos braços
lançavam seguidas e cobriram de golpes
os Titãs. E sob a terra de amplas vias
lançaram-nos e prenderam em prisões dolorosas
vencidos pelos braços apesar de soberbos,
tão longe sob a terra quanto é da terra o céu,
pois tanto o é da terra o Tártaro nevoenta.
Descrição do Tártaro
Nove noites e dias uma bigorna de bronze
cai do céu e só no décimo atinge a terra
e, caindo da terra, o Tártaro nevoento.
E nove noites e dias uma bigorna de bronze
cai da terra e só no décimo atinge o Tártaro.
Cerca-o um muro de bronze. A noite em torno
verte-se três vezes ao redor do gargalo. Por cima
as raízes da terra plantam-se e do mar infecundo.
Aí os Deuses Titãs sob a treva nevoenta
estão ocultos por desígnios de Zeus agrega-nuvens,
região bolorenta nos confins da terra prodigiosa.
Não têm saída. Impôs-lhes Posídon portas
de bronze e lado a lado percorre a muralha.
Aí Giges, Cotos e Briareu magnânimo
habitam, guardas fiéis de Zeus porta-égide.
Aí, da terra trevosa e do Tártaro nevoento
e do mar infecundo e do Céu constelado,
de todos, estão contíguos as fontes e confins,
torturantes e bolorentos, odeiam-nos os Deuses.
Vasto abismo, nem ao termo de um ano
atingiria o solo quem por suas portas entrasse
mas de cá para lá o levaria tufão após tufão
torturante, terrível até para os Deuses imortais
este prodígio. A casa terrível da Noite trevosa
eleva-se aí oculta por escuras nuvens.
Defronte, o filho de Jápeto sustem o Céu amplo
de pé, com a cabeça e infatigáveis braços
inabalável, onde Noite e Dia se aproximam
e saúdam-se cruzando o grande umbral
de bronze. Um desce dentro, outro vai
fora, nunca o palácio fecha a ambos,
mas sempre um deles está fora do palácio
e percorre a terra, o outro está dentro
e espera vir a sua hora de caminhar,
ele tem aos sobreterrâneos a luz multividente,
ela nos braços o Sono, irmão da Morte,
a Noite funesta oculta por nuvens cor de névoa.
Aí os filhos da Noite sombria têm morada,
Sono e Morte, terríveis Deuses, nunca
o Sol fulgente olha-os com seus raios
ao subir ao céu nem ao descer o céu.
Um deles, tranqüilo e doce aos homens,
percorre a terra e o largo dorso do mar,
o outro, de coração de ferro e alma de bronze
não piedoso no peito, retém quem dos homens
agarra, odioso até aos Deuses imortais.
Defronte, o palácio ecoante do Deus subterrâneo
o forte Hades e da temível Perséfone
eleva-se. Terrível cão guarda-lhe a frente
não piedoso, tem maligna arte: aos que entram
faz festas com o rabo e ambas as orelhas,
sair de novo não deixa: à espreita
devora quem surpreende a sair das portas.
Aí habita a Deusa detestada dos imortais
terrível Estige, filha do Oceano refluente
a mais velha, longe dos Deuses em ilustre palácio
coberto de altas pedras, todo ao redor
com as colunas de prata se apóia no céu.
Pouco a filha de Espanto Íris de ágeis pés
aí vem mensageira sobre o largo dorso do mar:
quando briga e discórdia surgem entre imortais
e se um dos que têm o palácio Olímpio mente
Zeus faz Íris trazer o grande juramento dos Deuses
num jarro de ouro, a longe água de muitos nomes
fria. Ela precipita-se da íngreme pedra
alta. E abundante sob a terra de amplas vias
do rio sagrado flui pela noite negra,
braço do Oceano, décima parte ela constitui:
nove envolvem a terra e o largo dorso do mar
com rodopios de prata e depois caem no sal,
ela só proflui da pedra, grande pena aos Deuses.
Dos imortais que têm a cabeça nivosa do Olimpo
quem espargindo-a jura um perjúrio
jaz sem fôlego por um ano inteiro,
nem da ambrosia e do néctar se aproxima
para comer, jaz porém sem alento nem voz
num estendido leito e mau torpor o cobre.
Quando a doença perfaz um grande ano,
passa de uma a outra prova mais áspera:
nove anos afasta-se dos Deuses sempre vivos,
nem freqüenta conselho nem banquetes
nove anos a fio. No décimo freqüenta de novo
reuniões dos imortais que têm o palácio Olímpio.
Tal juramento os Deuses fizeram de Estige imperecível
água ogígia que brota de abrupta região.
Aí, da terra trevosa e do Tártaro nevoento
e do mar infecundo e do céu constelado,
de todos, estão contíguos as fontes e confins,
torturantes e bolorentos, odeiam-nos os Deuses.
Aí resplandentes portas e umbral de bronze
inabalável, embutidos em raízes contínuas
nascido de si mesmo. Defronte, longe dos Deuses
os Titãs habitam além do Caos sombrio.
Os ínclitos aliados de Zeus estrondante
habitam um palácio no alicerce do Oceano,
Cotos e Giges, a Briareu por sua bravura
o gravitroante Treme-terra fez seu genro,
deu-lhe por esposa sua filha Anda-onda
A luta contra Tifeu
E quando Zeus expulsou do céu os Titãs,
Terra prodigiosa pariu com ótimas armas Tifeu
amada por Tártaro graças a áurea Afrodíte.
Ele tem braços dispostos a ações violentas
e infatigáveis pés de Deus poderoso. Dos ombros
cem cabeças de serpente, de víbora terrível,
expeliam línguas trevosas. Dos olhos
sob cílios nas cabeças divinas faiscava fogo
e das cabeças todas fogo queimava no olhar.
Vozes havia em todas as terríveis cabeças
a lançar vário som nefasto: ora falavam
como para Deuses entender, ora como
touro mugindo de indômito furor e possante voz,
ora como leão de ânimo impudente,
ora símil a cadelas, prodígio de ouvir-se,
ora assobiava a ecoar sob altas montanhas.
Naquele dia suas obras seriam incombatíveis
e ele sobre mortais e imortais teria reinado
se não o visse súbito o pai de homens e Deuses
e trovejou grave e duro. A terra em torno
retumbou tremenda, o céu amplo lá em cima,
o mar, as correntezas do Oceano e o Tártaro.
Sob os pés imortais estremece o alto Olimpo
com o ímpeto do rei e geme a terra.
Penetrava o mar víoláceo o calor de ambos,
de trovão, relâmpago, fogo vindo do prodigioso ser,
de furacões, ventos e do raio flamante.
Fervia toda a terra, céu e mar,
saltavam em volta dos cabos altas ondas
sob golpes dos imortais, irreprimível abalo cresce,
tremem Hades lá embaixo rei dos mortos
e Titãs no Tártaro em torno de Crono
pelo irreprimível clangor e pavorosa luta.
Zeus encrista seu furor, agarra as armas,
o trovão, o relâmpago e o raio flamante,
e fere-o saltando do Olimpo. Fulmina em torno
todas as cabeças divinas do terrível prodígio.
E ao dominá-lo açoitando com os golpes
mutila e abate-o, e geme a terra prodigiosa.
Do rei fulminado a chama jorra
nos vales não visíveis rugosos das montanhas,
golpeando. E vasta queima-se a terra prodigiosa
com bafo divino e fundia-se com o estanho
pela arte de homens em perfurado crisol
aquecido, ou o ferro que é mais possante
nos vales dominado pelo fogo ardente
funde-se no chão divino por obra de Hefesto,
assim fundia-se a terra ao brilhar do fogo aceso.
Com afligente ânimo atirou-o ao largo Tártaro.
De Tifeu vem o furor dos ventos que sopram úmidos,
não Notos, Bóreas e Zéfiro clareante,
estes vêm de Deuses, grande valia dos mortais,
os outros sopram às cegas sobre o mar
e, ao caírem no alto-mar cor de névoa,
impetuam ruim procela, grande ruína dos mortais.
Eles sopram diversos, dispersam os navios,.
perdem os nautas, e não têm resistência ao mal
os homens que os encontram pelo mar,
e pela terra sem-fim e florida eles perdem
os campos amáveis dos homens nascidos no chão
atulhando-os de pó e de doloroso turbilhão.
Os Deuses Olímpios
Quando os venturosos completaram a fadiga
e decidiram pela força as honras dos Titãs,
por conselhos da Terra exortavam o Olímpio
longividente Zeus a tomar o poder e ser rei
dos imortais. E bem dividiu entre eles as honras.
Zeus rei dos Deuses primeiro desposou Astúcia
mais sábia que os Deuses e os homens mortais.
Mas quando ia parir a Deusa de olhos glaucos Atena,
ele enganou suas entranhas com ardil,
com palavras sedutoras, e engoliu-a ventre abaixo,
por conselhos da Terra e do Céu constelado.
Estes lho indicaram para que a honra de rei
não tivesse em vez de Zeus outro dos Deuses perenes:
era destino que ela gerasse filhos prudentes,
primeiro a virgem de olhos glaucos Tritogênia
igual ao pai no furor e na prudente vontade,
e depois um filho rei dos Deuses e homens
ela devia parir dotado de soberbo coração.
Mas Zeus engoliu-a antes ventre abaixo
para que a Deusa lhe indicasse o bem e o mal.
Após desposou Têmis luzente que gerou as Horas,
Eqüidade, Justiça e a Paz viçosa
que cuidam dos campos dos perecíveis mortais,
e as Partes a quem mais deu honra o sábio Zeus,
Fiandeira Distributriz e Inflexível que atribuem
aos homens mortais os haveres de bem e de mal.
Eurínome de amável beleza virgem de Oceano
terceira esposa gerou-lhe Graças de belas faces:
Esplendente, Agradábil e Festa amorosa,
de seus olhos brilhantes esparge-se o amor
solta-membros, belo brilha sob os cílios o olhar.
Também foi ao leito de Deméter nutriz
que pariu Perséfone de alvos braços. Edoneu
raptou-a de sua mãe, por dádiva do sábio Zeus.
Amou ainda Memória de belos cabelos,
dela nasceram as Musas de áureos bandôs,
nove, a quem aprazem festas e o prazer da canção.
Leto gerou Apoio e Ártemis verte-flechas,
prole admirável acima de toda a raça do Céu,
gerou unida em amor a Zeus porta-égide.
Por último tomou Hera por florescente esposa,
ela pariu Hebe, Ares e Ilitía
unida em amor ao rei dos Deuses e dos homens.
Ele da própria cabeça gerou a de olhos glaucos
Atena terrível estrondante guerreira infatigável
soberana a quem apraz fragor combate e batalha.
Hera por raiva e por desafio a seu esposo
não unida em amor gerou o ínclito Hefesto
nas artes brilho à parte de toda a raça do Céu.
De Anfitrite e do troante Treme-terra
nasceu Tritão violento e grande que habita
no fundo do mar com sua mãe e régio pai
um palácio de ouro. E de Ares rompe-escudo
Citeréia pariu Pavor e Temor terríveis
que tumultuam os densos renques de guerreiros
com Ares destrói-fortes no horrendo combate,
e Harmonia que o soberbo Cadmo desposou.
Maia filha de Atlas após subir no leito sagrado
de Zeus pariu o ínclito Hermes arauto dos imortais.
Sêmele filha de Cadmo unida a Zeus em amor
gerou o esplêndido filho Dioniso multialegre
imortal, ela mortal. Agora ambos são Deuses.
Alcmena gerou a força de Heracles
unida em amor a Zeus agrega-nuvens.
Esplendente a mais jovem Graça, Hefesto
o ínclito Pés-tortos desposou-a florescente.
Dioniso de áureos cabelos à loira Ariadne
virgem de Minos tomou por esposa florescente
e imortal e sem-velhice tornou-a o Cronida.
A Hebe, o filho de Alcmena de belos tornozelos
valente Heracles após cumprir gemidosas provas
no Olimpo nevado tomou por esposa veneranda,
filha de Zeus grande e Hera de áureas sandálias;
feliz ele, feita a sua grande obra, entre imortais
habita sem sofrimento e sem velhice para sempre.
Do Sol incansável a ínclita Oceanina
Perseida gerou Circe e o rei Eetes
Eetes, filho do Sol ilumina-mortais,
desposou a virgem do Oceano rio circular
Sábia de belas faces, por desígnios dos Deuses.
Ela pariu Medéia de belos tornozelos,
subjugada em amor graças à áurea Afrodite.
Alegrai agora, habitantes do palácio Olímpio,
ilhas e continentes e o salgado mar no meio.
Cantai agora a grei de Deusas, vós de doce voz
Musas olimpíades virgens de Zeus porta-égide:
quantas deitando-se com homens mortais
imortais pariram filhos símeis aos Deuses.
Deméter divina entre Deusas gerou Riqueza,
unida em amores ao herói Jasão sobre a terra
três vezes lavrada na gorda região de Creta.
Boa Riqueza por terra e largo dorso do mar
anda e a quem encontra e chega às mãos
ela torna próspero e dá muita opulência.
De Cadmo, Harmonia filha de áurea Afrodite
gerou Ino, Sêmele, Agave de belas faces,
Sagacidade esposa de Aristeu de crina profunda,
e Polidoro na bem-coroada Tebas.
Virgem de Oceano, pela multiáurea Afrodite
unida em amor a Aurigládio de violento ânimo,
Belaflui pariu o mais poderoso dos mortais,
Gerioneu, a quem matou a força de Heracles
pelos bois sinuosos na circunfluida Eritéia.
De Titono, Aurora pariu Ménon de brônzeo elmo
rei dos etíopes e o príncipe Emátion.
De Céfalo, deu à luz um esplêndido filho,
o forte Fulgêncio, homem símil aos Deuses:
na tenra flor de gloriosa juventude
a Sorridente Afrodite arrebatou-o e levou-o
ainda criança e dele no sagrado templo
fez o guardião interior, nume divino.
Virgem do rei Eetes sustentado por Zeus,
o Esonida por desígnios dos Deuses perenes
levou-a de Eetes após cumprir gemidosas provas,
as muitas impostas pelo grande rei soberbo
o insolente Pélias estulto e de obras brutais.
Cumpriu-as, e chegou a Iolcos após muito penar
o Esonida, levando em seu navio veloz a
virgem de olhos vivos, e desposou-a florescente.
Ela, submetida a Jasão pastor de homens,
pariu Medéio, criou-o nas montanhas Quíron
Filirida, e cumpriu-se o intuito do Grande Zeus.
E as virgens de Nereu, o Ancião marino:
Arenosa divina entre as deusas gerou Foco
amada por Éaco graças à áurea Afrodite;
submetida a Peleu a Deusa Tétis de pés de prata
gerou Aquiles rompe-falange e de leonino ânimo.
Gerou Enéias a bem-coroada Afrodite
unida ao herói Anquises em amores
nos cimos do Ida enrugado e ventoso.
Circe, filha de Sol Hiperionida,
amada por Odisseu de sofrida prudência, gerou
Ágrio, Latino irrepreensível e poderoso,
e pariu Telégono, graças à áurea Afrodite.
Bem longe, no interior de ilhas sagradas,
E eles reinam sobre os ínclitos tirrenos.
Calipso divina entre as Deusas em amores
unida a Odisseu gerou Nausítoo e Nausínoo.
Estas deitando-se com homens mortais
imortais pariram filhos símeis aos Deuses.
Cantai agora a grei de mulheres, vós de doce voz
Musas olimpíades virgens de Zeus porta-égide

Foto de betimartins

Hino de amor à natureza

Hino de amor à natureza

No verde que minha vista já não alcança, no espaço repleto de beleza eu vejo as rolinhas, felizes e contentes debicarem seus petiscos, os insetos soltos por ali...

Entre os vôos de marcar territórios, os bem-te-vis são agressivos por demais, disputa o pobre pica-pau de penas avermelhadas, fazendo mesmo assim as suas graças na árvore...

Olho o lago com suas imensas águas, espelhando Dourado do Sol, refletindo as nuvens e as árvores dali, e na beira do lago os canto agitados dos quero-queros, querendo eu longe dali...

Entre os pulares nas árvores gigantes, olho e não consigo entender vejo misturados no verde os belos periquitos a namorar, que algazarra eles fazem ali...

Observo as outras árvores e vejo os ninhos do joão-de-barro, quanta perfeição e observo ali e quanto trabalho árduo ele tiveram pelos seus amados filhinhos...

De repente escuto o barulho na água de um mergulhão quase azul e esverdeado a pescar, que belos vôos ele fazia na água, rumando para a enorme castanheira descansar...

Ruídos estranhos e estridentes me fazem olhar para as arvores vizinhas, qual é o meu espanto que vejo famílias de sagüis espreitarem-nos, alguns ainda muitos bebezinhos...

Perdemos em breves pensamentos, ao ver tanta união ali, os bebês seguirem suas mães e lembrar quantos de nós os humanos mataram e maltrataram as nossas crias...

Jamais são deixados ao esquecimento, nem deitados ao lixo, apenas são animais, mas que cuidam verdadeiramente das suas crias como as mães devem ser de verdade...

Olho para o relógio e vejo que são onze horas, vejo gente com seus lanches, para ficar a descansar do trabalho, ficando apreciar o que a natureza ali oferece...

Rasga o silencio da represa, o trem que esta chegando ali, sãos os mais variados vagões de mercadoria, onde outrora era o café que mais se transportava ali...

O Sol se esconde por breves momentos, ficando tudo no mais absoluto silêncio, a penumbra sobressai ali recolhendo os nossos pensamentos...

As nuvens são arrastadas pelo vento que suavemente se faz sentir, deixando o Sol, emergir trazendo o calor e iluminando tudo por ali...

Uma pequena serenata se escuta ali, como agradecimento á vida que corre ali, de novo o barulho das águas, são a belas famílias de capivaras, que vem descansar ali...
Na cor prata da água, vejo emergir os peixinhos, buscando os restos de comida, deixados para as famílias de patos que vivem espalhados ali...

Observo a vida em forma bruta, quanto ela é majestosa, recheada de coisas tão belas como o amor, partilha vivida por eles ali...

Imaginei um verdadeiro artista pintando aquele quadro visto ali, quais seriam as cores pintadas, até os detalhes das minúsculas borboletas e as belas libelinhas voando por ali...

Alegre e completamente feliz, quis dançar ali, esvoaçar como os pássaros, cantar como um canário, como se fosse uma oração e agradecimento a vida...

A paz que eu encontrei e senti ali, apenas é a melhor união com Deus, o mais belo hino de amor cantado pela natureza para mim...

Betimartins

www.betimartins.prosaeverso.net 25 de Março de 2011

Foto de Eveline Andrade

Arco-íris

E no meio da estrada, ao apreciar a bela paisagem que passa por mim, percebi que algo colorido nas nuvens seguia meu olhar. Um lindo arco-íris me persegue, estântaneamente te imagino aqui, para te mostrar o arco-íris e te ouvir falar dele poéticamente como só um grande poeta sabe fazer. A anciedade de te ver bate mais forte, o arco-íris me deixou sem sua gentil compania, para voltar ao mundo das cores. Me leva contigo arco-íris, me envolve no teu manto mágico e me leva à passear contigo pelas nuvens, aquelas que se reunem ao teu redor para perderem a palidez e serem coloridas uma vez na vida. Me leva num vôo sem fim sobre a estrada que atravesso, assim sem parar, para nos braços do meu amor eu logo chegar.

Evelyne Andrade
22/02/2011

Foto de Carmen Vervloet

SERMÃO PARA UM HOMEM IMPERFEITO

Caminhas em busca de venturas,
Mais vezes caça do que caçador
Se não focas no amor a tua procura
Pilha-te o primeiro sentimento predador.

O espírito, onda em movimento
No mar revolto das promessas da tentação
Desliza solto a mercê do vento...
Em cada queda um degrau de evolução.

Cabe a ti escolher e traçar o teu destino
O livre arbítrio é todo e somente teu
A vida não é um cassino clandestino
Mas o maior tesouro que Deus te deu.

Envolve-te de luz como de um manto
E faça-te arauto de bons intentos
Lave os caminhos com os teus prantos
A alma é sábia e compreenderá o lamento

Se Deus mostra sua face na flor selvagem
E dissipa as nuvens num sopro de vento
E te deu livre arbítrio nesta viagem
Por que não fazer bom uso de cada momento?

A vida é a seara que cultivas com amor
Enxergue o mundo num grão de areia
Construa tua obra com carinho e bom humor
E deixe a felicidade penetrar por tuas veias.

Deus te deu sabedoria, potencial e inteligência...
E ouvindo o coração, acionando a consciência
Crie uma praia com seu pequenino grão de areia
E então em paz, deleite-se com a lua cheia!

Carmen Vervloet

Foto de betimartins

A Roseira do Amor

Busquei o amor, como eu te busquei
Por mares nunca antes, foram navegados
Caminhei por caminhos desconhecidos
Busquei os rios em vão, não te encontrei...

Falei com o Sol, pedi-lhe que me guiasse
Ele não escutou, deixou-me em prantos
Busquei a Lua, gentilmente pedi e ela
Ela, apenas indicou o caminho! Do amor...

Caminhei sobre um belo manto de estrelas
Uma a uma, escutei todos seus ensinamentos
Deixei-me a sonhar nas nuvens rosadas
E sonhei com os anjos a cantarem...

Desci em forma de gota, transparente
Fresca, faminta de amor, de te rever
Cai na mais bela roseira, ainda menina
Cheia de espinhos, apenas crescendo...

Voltei a terra, deixei enamorar pelas raízes
Minha menina ficou forte e eu voltei ao céu
Dancei com as estrelas, para a minha menina
Cantei com os anjos, canções de amor...

Adormeci na Lua, olhando-te apaixonadamente
Deixei-me aquecer pelo Sol e voltei a ser nuvem rosada
Pedi ao vento que levasse meu amor a ti, acariciando-te
A tempestade esta quase a romper, zangada e cruel...

Tempestade quis arrancar-me todo o meu amor por ti
Mas engrandeci-te, eu voltei, voltei a descer só por ti
Sou tua gota de cristal, gota do amor, gota que refresca
O mais belo despertar da minha roseira, acorda!

Acorda! Meu lindo botão de rosa! Sou eu!
Aquele que nunca te abandonou, o amor
Lembras-te das minhas doces canções?
Agora! Desabrochaste comigo Rosa vermelha...

Betimartins

www.betimartins.prosaeverso.net

São José do Rio Preto 18 de Março de 2011

Foto de Carmen Lúcia

Pássaro mutante

De quantos voos necessitas
Pra extravasar teus trinados?
De quantas cores te camuflas
Pra desmascarar camuflados?
Às vezes, suave passarinho,
Na construção de seu ninho,
Esposa, filhos, lar...

Por outras, és sabiá,
Entoas tristes gorjeios
Trazendo saudades de lá...
Ou então, um beija-flor...
Planando... Não sais do lugar,
Vôo rasante, apaixonante,
Rodeias a flor pra lhe falar de amor!

Transmutas-te numa gaivota
Quando queres reverenciar o mar...
Entre nuvens desapareces,
Em altas ondas ressurges,
Vôos coreográficos
Em azuis celestiais.

E quando ronda o furacão
És o condor que reaparece
E das grandes montanhas desce
Camuflando-se de negro tufão
Em defesa dos oprimidos,
No combate à corrupção.

_Carmen Lúcia_
08/03/2008

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