Recontei o tempo,
andei pra trás,
colecionei os dias e as noites.
Atrasei as horas,
segurei as nuvens,
troquei as estações.
Plantei cata-ventos,
falei com bem-te-vis,
chorei com beija-flores.
Reguei a saudade
e cochilei em suas sombras.
Subi mangueiras
entardecidas de espera.
No quintal,
apanhei um pé de palavras
e arranjei uns versos
silvestres no vaso.
Sentei na soleira da porta
e desenhei seu nome na terra.
Poli a lua,
dei corda nas estrelas,
arrumei o céu.
Debrucei meu coração na janela,
até meu peito ficar marcado
pela dor da espera.
(Aira, 27 de março de 2011)