Hoje velhos fantasmas voltaram a me procurar.
Desenterraram aquilo que esqueci, me esqueceram
do que quero lembrar.
Ando as vezes tão vazio, já fizeste falta, mas hoje o
que me falta é a falta que tu me fazias.
Sentavas em muitas cadeiras. Algumas já estão cheias,
contudo, muitas permanecem vazias.
O tempo tem me feito perceber que a vida não se joga
pra ganhar, mas sim para nunca perder.
Ao ganhar algo valioso a vida segue, ao perder, já
não vale a pena viver.
Não sofras por mim, as palavras passaram, assim como
passa o rio, embalado na correnteza.
Os tempos da vida não se correspondem, a estrela que morre,
deixa o brilho que nos ilumina, disso nunca se esqueça.
O bico do lápis cego que hoje aponto já escreveu amor,
saudade, carinho e atenção.
Quando dele saia rancor, apagava o erro, usava a borracha
pra escrever perdão.
Minha velha borracha de apagar mágoas já não mais apaga,
se desgastou com o tempo, de tanta repetição.
Ela foi feita pra mudar detalhes, sonhos e vontades, não pra
esconder os erros do coração.
Antes escrevia triste, angustiado, borrava a folha molhada,
chorava a falta do papel à mão.
Já não escrevo por tristeza, as palavra chegam atrasadas,
ignorando a cura do coração.
Minha chuva salgada de sentimentos já encheu os olhos, já
piscou o raio e já passou verão.
Agora escrevo o passado, a tinta que sai da caneta retrata
o som do trovão.