Grito

Foto de Izaura N. Soares

O sussurro de um talvez

O sussurro de um talvez
Izaura N. Soares

Talvez um dia eu pense em voltar...
Quem sabe num suspiro silencioso
De um grito abafado em que
Os meus ouvidos não ouçam sussurrar.
Na luta passageira, talvez eu seqüestre o
Teu sonho só para ter você perto de mim.
No agito que emudeceu minha voz
Rosas em pétalas agitam se, e sobre
O meu corpo, o desejo do teu.
Sempre o talvez incomode, perturba,
Por não ter a certeza do nada.
Só de uma coisa, de sentir o meu corpo
Esquentar quando imagino o roçar
Da sua pele no meu pequenino corpo
Fazendo me, balançar.
Um dia, talvez, esse silêncio se transforme
Numa cantoria donde os pássaros assobiam
As mais variadas melodias.
Quem sabe esse talvez, nunca deva existir.
Então... Se o amor é o cântico da vida...
Por que se negar o amor, se ele
É a força que tens em teu caminhar?
Se o sorriso é a brisa que envolve
O brilho de um olhar... Do teu olhar,
O coração também é a estação
Por onde o amor pode chegar!

Foto de Nailde Barreto

"Os acordes daquele anoitecer"

Contidos em nosso próprio conjunto,
Envolvidos pela anestésica sensação do silencio,
Rasgávamos o vento, sedento!

E, nossas pupilas acompanhavam com emoção
A euforia dos acordes que bailavam para nós,
Êxtase interrompido pela gravidade da imaginação.

E, entre o grito agudo e grave,
Entre o medo e a ansiedade;
Ilhas do amor, instante de saudade...

Os ruídos embaralhados, desritimados,
Insistiam em tirar-me a calma
Não pensei em mais nada, trapalhada!

Tudo ficou para trás, naquela noite escura,
Largados entre o silêncio do som dos faróis,
Vinho de boemia, premeditada loucura.

Contidos no grito agudo e grave, lentos como caracóis,
Marcados pela insônia, fechada!
Envolvidos, apenas, pelo frio entre os lençóis.

Então, o vento começou a nos “rasgar”,
Não havia o que fazer além de lamentar,
Aceitar o destino, e viver para a história contar.

Escrito em 20/07/11.

Foto de Rute Mesquita

Halloween

Hoje a noite é mais longa que o dia,
é mais que doce ou travessura,
são as almas na sua pior rebeldia,
e é de temer a sua doçura.

Há abóboras por toda a parte,
na verdade são somente elas que iluminam esta devastada
escuridão,
com pequenas velas no seu interior.
Elas riem-se para mim, num riso sarcástico,
estarei eu alucinada?
Não entendo esta distorção….

Elas rodopiam e rodopiam
fechando-me num circulo
com a sua velocidade,
não sei bem se é uma só ou um conjunto
Já estou tonta…
caí num chão negro e os risos assobiam
será um acumulo?
Tanta coisa em adjunto…
Um puzzle infinito que não se monta.

Finalmente o distúrbio parou…
Era apenas uma grande abóbora,
acompanhada de espíritos.
O que quer de mim?
Com uma espécie de calda me agarrou,
os espíritos puxam a minha alma,
e eu só grito ‘isto não fica assim, isto não fica assim’!

Agora pertenço àquela domadora de almas,
despeço-me do meu corpo mole, pálido desarticulado
caído no chão.
E aqui vou eu, manter o Halloween amaldiçoado,
quem sabe não vá à tua porta bater tal danação.

MUAHAHAHAHAHAH
BUU!!!

Foto de Rute Mesquita

Sou eu...

Sou eu…
uma pomba outrora livre.
Um desejo que pairava solto
Um som que bem suava no timbre
Sou eu…
um grito de revolto.
Uma fraqueza,
uma alma perdida,
um esquecimento
da mãe natureza…
Sou eu…
eu declínio espontâneo
um sofrimento
mais que momentâneo…
Sou eu…
dentro desta gaiola…
Sou eu…
numa voz melancólica
implorando
a volta do meu Romeu,
ao som de uma viola.

Vem, meu amor,
a tua presença fará desaparecer estas grades
que me envolvem e me limitam.
Esta dor,
irá afundar-se, nos seus degrades
que indigitam.
Vem, fazer de mim uma princesa,
dar-me o sol, a lua
tudo o que eu te peça
Volta, minha alma,
vem definir formas nesta escuridão,
procura nela um nu,
que a tua mão,
logo reconhecerá que é uma pele só tua.

Fico aqui,
de joelhos já sangrentos,
de corpo já cansado,
mas, ansiosa por ti,
pelos nossos momentos,
pelo teu suspirar apaixonado.

Foto de Carmen Lúcia

Hoje me faltou inspiração

Hoje me faltou inspiração...
Saí para observar o dia,
olhar o céu
às vezes azul silvestre
e outras, cinza agreste...
onde um sol que desconheço
aparece pelo avesso,
ilumina em tom grotesco,
em desarmonia com o universo
como um grito de protesto,
contra a humanidade que o vestiu assim.

Hoje me faltou inspiração...
Saí pra observar as flores
que antes exultavam cores,
belezas a incitar poetas
a versejar amores.
Hoje choram a natureza ultrajada,
enxertada de artificialidade,
onde a falsidade se faz prevalecer
e a verdade já não tem razão de ser.

Hoje me faltou inspiração...
Saí pra observar a noite
e a lua de luto, escondida
em negro véu, no céu chora a despedida
das noites claras onde seu luar
prateava serenatas que já não há mais
e estrelas sonhadoras vinham suspirar
o suspiro dos amantes...
Hoje já não são mais tão brilhantes.
Muitas já não se encontram lá.

Hoje me faltou inspiração...
Saí pra observar o mundo
que corre o risco de inexistir,
globalizado pela hipocrisia,
obcecado pelo ter...pelo não ser...
Onde a maquiagem camufla o caráter,
onde se banaliza a célula mater .

Hoje me faltou inspiração...
Só versos sem rumo, sem rima, sem noção,
que morrem antes de se tornarem poesia,
por falta de fantasia, por falta de coração.

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

A espera

Conto os dias
imaginando a hora
de te ver voltar...
Abro portas e janelas,
retiro as tramelas
pra que possas entrar.

Enquanto não vens
compactuo com o sol
pra aquecer teu lugar...
Irradiar o vazio,
o frio sombrio
que deixaste ficar.

Enfeito a vida
na doce esperança
de te reencontrar...
Caminho entre flores,
matizes e cores
pra te abraçar.

Modifico o epílogo,
do romance vivido
no etéreo de nós...
Grito tua volta
que me traz a revolta
de minha própria voz.

Os dias passam,
as flores murcham,
a esperança se esvai...
A lua desenxabida
recolhe a magia
e no céu se retrai.

Sem cumplicidade
não me persuade,
retira o luar...
Sem prata, sem festa,
não se manifesta
e a dor invade
restando a saudade.

_Carmen Lúcia_

Foto de Rute Mesquita

Lacrimosa

O meu olhar foca-se num ponto…
revivo todas as recordações…
sem o meu ‘eu’ dizer ‘estou pronto’
já eu deambulava por entre multidões…
Corro num olhar lacrimoso,
grito pelo teu nome,
soluço num compasso furioso,
que agasalha a minha fome..
Corro por gosto,
não me deveria cansar…
mas, canso este meu desgosto,
de por entre as trevas não te encontrar…
Onde estás?
Por e simplesmente desapareceste da minha vida…
Como fui eu capaz,
de um dia te ter deixado perdida?
Hoje… sei que não irás sequer querer ver
o meu vulto…
Hoje… sei que por mais que queira vencer,
estarei sempre de luto…
Eu sei, eu sei que é tarde demais
para pedir perdão…
mas, não deixo de ver sempre os teus sinais
de luz, na minha escuridão…
Lembro-me de cada pormenor…
quase de cada palavra…
lembro-me de sermos como irmãs,
lembro-me de rir, chorar, sempre contigo…
Mas, hoje somos apenas duas romãs,
em terrenos de outro amigo…
Continuo a deixar-te o céu por pintar…
continuo a preservar a tua lembrança,
e continuo a choramingar,
como se fizesse uma birra de criança…
Só queria que visses que hoje muito te tens a orgulhar,
só queria mesmo… era que não partisses,
antes de eu voltar…
Sem nunca estares solta no tempo,
sem nunca deixares de estar presente,
aqui te deixo um juramento,
de como tudo poderia ser tão diferente…
Sei que não irás ler as minhas palavras,
mas, se éramos assim tão telemáticas
aqui me refugo nas minhas macabras,
temáticas…

O meu olhar volta a mover-se,
acorda com o cair de uma lágrima,
eu só queria que este de novo se perdesse,
para feliz poder acabar esta rima.

Foto de Carmen Vervloet

Outras Andanças

Chega entre luas de sutilezas,
de sonhos que diz desbravados...
Não posso confiar em tantas certezas
se já me fez derramar lágrimas, lá no passado.

Meu coração através de seu para sol rendado
enxerga dias que adormeceram nublados...
A lua refletida num mar escuro, arqueado,
no barco de um amor que naufragou encalhado.

Como acolher pés que me pisaram
e o silêncio que foi o grito da sua intolerância
se tantos sonhos se desfolharam
na suposição da poesia, no respirar da dissonância?

Versos não iludem mais esse sofrido coração...
O silêncio sempre foi a arma mais ferina.
Não navego mais num mar de ilusão,
navego por outros mares em busca de outra sina.

Foto de Carmen Lúcia

Paisagem urbana

O sol começa a se espreguiçar.
É a rotina...São dez da matina.
Embaçado, pretende acordar a manhã,
iluminar a estação.Primavera?
Tão linda ela era!

O céu se acinzenta...
Nuvens?Não!Fumaça!
Fusão de azul e petróleo
sobre veículos e pedestres apressados.
Odor de óleo queimado...
Som estridente, alterado.Rock and Roll?
Não!Buzinaço a todo vapor...

Barulhos de trens do metrô...
Agitos do vai e vem...
Luta do dia a dia
pela sobrevivência...pela conveniência.
Alguém ainda dorme no banco da praça.
Cachaça?Acordar?Não tem graça.
Algo surge no céu, sem escarcéu.
Não é nave espacial...
É a lua prestigiando um luau.
(saudade dos velhos saraus)

Pontinhos cintilam fraquinhos...
Vaga-lumes?Não!Estrelinhas.
(nas entrelinhas)
Querem dar o ar da graça.
Coitadas!Tão sem graça!

E o corre-corre continua.
Agora a paisagem é crua e nua.
Luzes incendeiam bordéis...
E os sonhos?Vendidos aos tonéis.
Casas noturnas, peças teatrais.
Encenam vidas reais...
Travestis e prostitutas disputam locais,
esquinas se enchem de marginais.

O êxtase excita, alucina,
domina atitudes tribais, canibais.
Poetas observam...perdem-se nas rimas.
Um barzinho, um cantinho e um violão...
Um estampido, um grito, sirene e furgão.

Numa igreja, louvores e cânticos,
nos cantos, clamores do sexo,
e toda a fé perde o nexo...
De repente, um seqüestro-relâmpago...
Nas casas, noticiários na televisão,
em volta, grades de prisão.

Uma coruja espreita, assustada...
Espera surgir o dia
pra dormir...sossegada(?)

(Carmen Lúcia)

Foto de Xaverloo

E por falar em mimos e flagelos

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Esperas que eu venha em sinais e gestos dissolver meus olhos em rendição
Na pureza e beleza dos teus
Que por encanto bem passariam por correntes de maldição

Esperas pela força que me arrasta
Me prende
Sufoca
E se estende até onde não há dor ou felicidade

Esperas
Pelo calor e perfume que exalas
Me desarma
E após liberta.
Liberta-me inda que por tuas palavras mudas
Teus sinais
Teus gestos

Esperas que eu me renda ao teu vicio nato em tornar-me teu
Possuir-me por objeto de uso ou desuso
Acaso e descaso
Visível ou desprezível
E eu insurja jamais.

Pois rendo-me
Sem hesitar ou resistir
À esse movimento oscilante entre prender-me e livrar-me a ti e de ti
Por precisar-te demais
Por respirar teus encantos
Por entender que fosse a vida resumida em uma só palavra
Esta seria o teu nome
Em letras garrafais
Em cores fortes e berrantes
Em grito ecoando aos céus de todo o mundo
Teu nome e nada mais.

Xaverloo

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