Formosura

Foto de Eddy Firmino

Tudo que quero

Queria ser o pouco do tudo que você é
As qualidades, o sorriso,a postura
A beleza, o olhar, formosura...
Todo teu ser...A tua ternura

Queria acordar do teu lado toda manhã
E ouvir tua voz no meu despertar
Dia-a-dia, ano-a-ano
Eternamente contigo ficar

Sentir teu abraço, teu cheiro
E as mãos macias preenchendo o espaço
Me afogar em teus beijos
Também sentir teu abraço

Não quero pensar no amanhã
Se hoje contigo estiver
Voar ao infinito junto de ti
Para o que der e vier

Sei que um dia irei perecer
E por mais que não queira partir
A última coisa que posso querer
É teu carinho sentir

Foto de Eddy Firmino

ADMIRAÇÃO

Você é bela como a lua no céu
Esplendor tem seus olhares
Tens a formosura das flores
E o encanto relaxante dos mares

Como irei descrever a você?
Se não passo dum mero admirador
Quem dera pudesse então declarar
O quanto sofro calado por teu amor

Encanto e beleza tem seu sorriso
Esconde um mistério que não sei o que é
Só sei que és a mais bela que existe
Qual musa,divina mulher

Sabia que um dia me daria inspiração
Só não me pode dar alegria
Pois jamais terei teu amor
Receba então esta poesia

Foto de Oliveira Santos

Prece De Agradecimento

Graças ao Senhor que me permite acordar
todos os dias ao esplendor da aurora
que anuncia o sol

Louvado seja Nosso Pai que me concede
as tardes quentes lindamente encerradas
pelo arrebol

Santificado seja Vosso Nome que nos momentos
tristes, de luta, pacifica minha mente
diante da amargura

Glória Deus nas alturas pela tua existência
e eu, sem resistência, vivo agradecido
por tua formosura

19/07/96

Foto de joaobala

Não vou desistir de você....

Já não é novidade dizer que ti amo
Já não é mais preciso lembrar-te que ti amo
Já não posso usar palavra ti amo pra Le pedir perdão
Já não sei como expressar meu amor por você.

Um dia isso vai ter fim,
E com o fim morrei de amor por você
E na morte já quero estar sorrindo
Pois de mim nada desse mundo pode tirar,
O amor que sinto por você.

Esse amor que afunila meu fim,
Pelo desprezo que tu tens tido comigo
É motivo de lagrimas e depleção pelo abandono,
É motivo de se deitar e não mais levantar pra vida.
Mais nem isso nem aquilo será capaz de tirar
O encanto pela tua beleza e formosura que cada dia
Mais me encanta.

Não vou desistir de você fulana, não vou desistir
De amor teu sorriso pelo qual um dia tu mulher
Levou-me a beira da loucura de te beijar sem tua permição
Não vou esquecer você, mesmo que a escuridão venha cegar-me,
Minhas vistas estarão sempre te olhando com os olhos da paixão
Com o coração que me presenteou você minha namorada, eu ti amo.

joaobala/11/08/2010

Foto de Ricardogiga

Pensar em você

O que me leva a pensar em você,incessantemente?
O que me leva a pensar em você sem ter tempo de lembrar nas outras coisas da vida?
As vezes esqueço de mim mesmo,pelo privilégio de pensar em você.
Que encanto é esse,moça,em tanta formosura, beleza e ternura,que me faz pensar em você?
Toda a natureza,céu,mar,lua e estrelas,me lembram você.
O que mais poderia eu pensar,se não na tua bela face,em teu sorriso brilhante e em cada gesto perfeitamente sincronizados,se até o vento me lembra-te de você?
O que me faz pensar em você tão intensamente de maneira que eu ainda me surpreendo a cada instante?
Mas eu sei,que o que me faz pensar em você é maravilhoso!!
Todo o dia e noite,momentos que vivo pensando em você,são mágicos e me trazem paz!
Momentos de satisfação e prazer,que sempre terei,pensando em você!
Se você estando longe ou perto,pensarei em você!
O que me faz pensar em você?
Bela moça,o que me faz pensar em você?
Não quero parar de pensar em você!
E nem pensar em te esquecer!!!

Foto de Carlos Henrique Costa

Desejo de sonhar

Cálido horizonte flutuante de amargura,
Que vagueia na percepção penosa do olhar,
Abstrai lentamente um pedaço do lugar,
Onde o forte ego canta, clama e sussurra.

Esplendorosa formação de colorida figura,
Que incendeia o coração de quem amar,
Modificai brandamente o desejo de sonhar,
E redige o silêncio alegre da formosura.

Em risos murmurantes no solo sedento,
Veste-se a alva no sufrágio do branco véu,
Despe-se da roupagem do egoísmo intento.

Respira teu bondoso perfume sobre o céu,
E passeia na aragem que sopra pelo vento,
E nesse momento a terra toda tira seu chapéu.

Foto de Carmen Vervloet

O Tempo e o Beija Flor

Curvei-me diante do dia
O tempo foi e voltou
Usei de nova magia
Transformei-me em beija-flor!

Voei por muitos jardins
Atento ao apelo da pena
Que desenhava pra mim
Imagens que compunha serena!

Um velho retorna menino
Sem sombra em si suspensa
Interfere no circuito do destino
Sem dor na memória imensa!

Suas lágrimas agora radiosas
Florescem em formosura
Regando flores viçosas
Entre perfumes e venturas!

Noutro jardim, mãos se encontram
Uma nova história recomeça
Duas belas e jovens criaturas
Reescrevem a vida em ternura!

Uma vida onde o amor perdura
Em doce surpresa conquistada
Qual rosa fresca desabrochada pura
Na alvura da manhã raiada!

Vôo para outra roseira
Contemplo a poesia ensimesmada
Junto ao som festivo da cachoeira
Somente a doce fala da namorada!

“Amo-te tanto, amo-te a cada instante,
Amo-te com a mais nobre verdade,
Amo-te como amigo, como amante,
Amo-te com candura e realidade!”

E assim pousando de flor em flor
Desvendo mistérios do coração
Sinto a fragrância intensa do amor
Insemino a vida em paixão!

Diante dos olhos vigilantes do tempo
E o brilho do amor imenso
Admiro e venero o sol nascente
Que ilumina o breu da nova porta aberta em frente!

Eu inseminando a boa semente
E o tempo voltando lento, indulgente...
A pena corrigindo a história
O universo conspirando, guardando tudo na memória!

Carmen Vervloet
Todos os direitos reservados à autora.

Foto de Jonas Melo

EU QUERO...

EU QUERO...

Eu quero o seu corpinho alucinado
Para um amante apaixonado
Embevecido de desejo

Eu quero você insanamente excitada
Cavalgando em meu corpo, como uma amazonas alucinada
Em uma busca incontrolável pelo gosto ávido dos meus beijos

Eu quero produzir em tua mente as fantasias mais impuras
Ouvir da tua boca as mais vis loucuras
Desfrutando do teu corpo toda formosura

Eu quero o gosto doce produzido
E teus gemidos enlouquecidos
Em um momento insano de prazer

Eu quero a loucura mais louca
Você rasgando minhas roupas
Eu quero tanto amar você

Eu quero você dizendo que me ama
O amor mais louco e vagabundo
Em qualquer momento, lugar ou simplesmente em nossa cama

Eu quero que olvide todo convencional
Que me ames muito mais que um animal
E também de maneira terna e carinhosa

Eu quero tua vitalidade em minha vida
Quero que sejas para sempre minha querida
Eu quero tanto amar você

Eu quero que esqueças todo teu passado
Esquecendo de esquecer que por você eu sou eternamente apaixonado
Que sou teu homem, teu amante e teu eterno alucinado

Eu quero tanto amar você

Jonas Melo!

Foto de Stacarca

Daniele

Daniele

É tão doce a candura transparente
Que brilha e enfeitiça o rosto dela,
É um milagre do céu a ousadia inocente
A dessa criança divinal e bela.

Quando a covinha anima a boca pura
Num riso glorioso de encantar ainda...
Rouba minha'alma aquela formosura
D'mulher comparada aos céus de tão linda.

Tem a mimosa pele de um tocar
Leve e santo, como não se apaixonar
Por essa menina dos sonhos meus?

Essa criatura que me compele
Ao amor, o nome? chama-se Daniele.
Nem parece mulher, parece um Deus!

Stacarca

Foto de Osmar Fernandes

Aparição do Capeta

Certo dia, noite escura, num terreno baldio, próximo da Igreja Católica, três moleques levados pegaram uma abóbora e fizeram dela uma caveira... Fixaram uma vela acesa em cima de um toco e a puseram por cima. Ficou parecendo o demo, o capeta mesmo!
A missa acabaria às vinte horas. Os fiéis que passariam por ali, a pé, certamente a veria. A caveira ficou num ponto estratégico, bem na esquina.
O pessoal ao sair da missa, ao vê-la, gritou: “Valha-me Deus! Jesus tende piedade! Minha Nossa Senhora da Aparecida! Salve-me Senhor!
Foi gente pra todo lado... Os três capetas caíram na gargalhada... Quando o local esvaziou, saíram da moita e se depararam com um corpo estendido no meio da rua. Joãozinho, o nanico, gritou: “É dona Julieta! Ela tá mortinha da silva! E agora?! Estamos fritos!!!” Pedrinho, o gago, disse: “Vixe, agora lascou tudo!!! Vou deitar o cabelo!!!” Luquinha, o mala, disse-lhes: “Calma aí seus frouxos, ninguém viu a gente! Não vai nos acontecer nada!!! Ela morreu de susto! E daí?!... Vamos tirar a caveira dali e vamos embora.”
Feito leopardos esconderam os apetrechos do Demo e deitaram o cabelo...
Não demorou muito e a polícia chegou ao local. D. Julieta foi levada ao hospital, acordou do susto, foi medicada e falou: “Meu Deus o que era aquilo?! Eu preciso falar com o Padre Bento!... Era o Demo! Valha-me Deus!!!”
O médico e a enfermeira diziam para ela ficar calma porque na idade dela era normal ver coisa que não existe... Deram-lhe um calmante e a fizeram dormir até o dia seguinte.
A notícia ganhou a cidade que Dona Julieta tinha batido as botas... Os três capetas estavam assustados e escondidos nas suas casas.
O pai do Joãozinho disse para esposa: “Bem, Dona Julieta viu o capeta e morreu! Estão falando que o Demo veio buscá-la. Faladeira como é, não duvido nada... Amor, toma cuidado, viu!
- Tá louco, homem, eu não falo da vida de ninguém não!
O marido deu uma risadinha maliciosa e foi trabalhar.
O investigador de polícia fazia uma busca no local do crime e achou um chinelo de tamanho trinta três. Era a pista que tinha em mãos.
Chegou na delegacia e disse ao Delegado:
- Senhor, aqui está à prova do crime!
Dr. Clécio riu, e lhe disse:
- Quer dizer que o capeta esqueceu um chinelo e saiu correndo pro inferno! KAKAKAKAKAKAK (RIU TANTO QUE SE ENGASGOU...). Vá amolar outro, Cido! Tenho mais o que fazer nariz de Pinóquio! Cada uma que me aparece! Você não percebe que essa cidade está de perna pro ar... Se esse povo não melhorar Deus vai aniquilá-la assim como fez a Sodoma e a Gomorra.
O Investigador abaixou a cabeça e saiu chateado e pesou: “Vou pegar o desgraçado que fez isso com a minha avó... Ateu eu não sou não, mas acreditar que isso é obra do Demo já é demais para minha inteligência.”
O Padre Bento assim que soube do acontecido entrou no terreno baldio e fez uma devassa, procurou por todo lado e achou a cabeça de mamão e a vela jogados debaixo dum pé-de-mato, e disse a si: “Eu sabia que não tinha diabo nenhum nessa história! Esse meu povo inventa cada uma! Perdoai-os ó Deus!!!”
Com a notícia da aparição do capeta a Igreja superlotou e o dízimo aumentou sobremaneira e o Padre ficou pensando se dizia ou não, no sermão, sobre a cabeça de mamão... Pensou... E, calou-se.
Os três capetas se reuniram e Luquinha disse:
- A velha não morreu... Com o susto desmaiou. Dona Julieta sairá do hospital hoje à tarde.
Pedrinho, o gaguinho, disse:
- Mas a polícia está investigando. O que nós fizemos é crime. Se a polícia descobrir quem fez isso, a cidade toda ficará sabendo... Nós vamos ser linchados!
Joãozinho, o nanico, disse:
- Eu sou coroinha, vou me confessar com o Padre Bento e vou lhe contar tudo. Se o meu pai souber disso vou levar uma peia, uma surra daquelas de tirar o coro.
Os dois amigos disseram juntos:
- Você não tá nem doido! O Padre nos mata!
Joãozinho:
- Eu tô com medo!
Os três amigos fizeram um pacto: “Nunca contariam sobre a caveira pra ninguém, levariam esse segredo para o túmulo.”
Joãozinho confidenciou: “Perdi um pé do meu chinelo, presente do meu pai, fui na data procurar e não achei. Temos que achar o chinelo logo.”
Os amigos não deram importância nisso e foram embora.
O investigador conhecia todo mundo da cidade, saiu de casa em casa perguntando se aquele chinelo pertencia a alguém daquela residência.
Luquinha ficou com os olhos estatelados ao vê-lo em sua casa perguntando à sua mãe se ela não tinha dado falta de um pé de chinelo.
Luquinha reuniu seu bando imediatamente e disse:
- Vamos roubar aquele pé de chinelo hoje à noite. Cido vai sempre jogar no Tunguete... Vamos aproveitar esse momento e vamos em sua casa buscar o pé de chinelo. Não tem outro jeito. Ou fazemos isso ou esse sujeito vai descobrir tudo.
O Delegado foi à Igreja e logo após a missa disse ao Padre Bento: “Padre o meu investigador tem uma prova cabal do malfeitor... Creio que dentro de poucas horas iremos elucidar o caso.”
- Meu filho, que prova é essa?
- Respeito-lhe demasiadamente Reverendo, mas isso é segredo de Estado, não posso dizer de jeito nenhum.
- Mas meu filho, eu sou o Pároco, pode me falar, vou guardar segredo... Quantas vezes você já se confessou comigo?!
- Padre Bento isso não é um pecado, é segredo profissional.
- Meu filho, eu lhe vi nascer, lhe batizei, lhe crismei, foi meu coroinha... Vai ter coragem de fazer isso comigo? Conta-me logo que prova é essa?!
- Conto não! Não posso!... O senhor pode falar sobre as confissões dos fiéis?
- Claro que não! Você tá doido, perdeu a cabeça. Jamais violarei o segredo do Confessionário. Exerço minha função com a fé em Deus e obedeço piamente com o que preceitua no CANON 1388 (1), que diz: O confessor que viola diretamente o sigilo da confissão incorre um sententiae (automática latae) excomunhão reservada à Sé Apostólica.
- Eu também não posso falar sobre essa prova! Não posso violar a confiança do meu investigador, estaria cometendo um crime.
O Delegado foi embora com a pulga atrás da orelha e pensou: “Por que tanto interesse do Padre nessa prova?!”
Paulinho viu seu filho descalço e lhe disse:
- Joãozinho, cadê seu chinelo? Já lhe dei de presente para não ver você descalço... Não ande descalço menino! Vá calçar o chinelo agora!!!
Joãozinho correu na casa do amigo e lhe pediu o chinelo emprestado, e Carlos lhe disse: “Mas você tem que me devolver logo, senão meu pai me dá uma surra se me ver descalço também.”
Pedrinho era muito religioso e naquele dia às dezessete horas resolveu se confessar com o Padre... Contou tudo e admitiu que estava com medo do investigador descobrir toda a história, porque seu amigo tinha perdido um pé do chinelo que ganhara de presente do pai.
Padre Bento pensou: “Mas Cido é ateu... Tenho que dar um jeito de calar a sua boca...”
O Padre arquitetou um plano e mandou o seu Sacristão chamá-lo, urgentemente... Rubens, o puxa-saco do Padre Bento foi à casa do investigador e disse-lhe:
- Cido, o padre Bento quer vê-lo, agora, já. Ele disse pra você ir lá, correndo, imediatamente, agora mesmo!
- Mas, que diabos o padre quer comigo? Num devo nada para Igreja... Nem em Deus não sei se acredito?!
- Não fala assim não rapaz! Deus é tudo e tudo é amor. O padre não tem diabo nem um. Vai logo e saberá. Quando o padre chama é como se fosse Deus nos chamando, né?!
- Fala pra ele que mais tarde eu passo por lá.
Dona Julieta visita o padre Bento e lhe diz: “Padre, eu nunca vi bicho mais feito no mundo que aquele. Era o Demo, o Demônio em pessoa!... Minha Nossa Senhora da Aparecida! Eu fiquei frente a frente com o Demo, Padre!... Eu já preparei uma novena. Vamos começar amanhã cedo... Padre, eu disse para os que me visitaram no hospital que se o Demo está nos visitando é porque estamos sem fé, é um sinal dos céus. Por isso vamos fazer a novena!”
Aquele acontecimento abalou a cidade. Nas ruas, nos bares, nas casas, nas roças, nas Igrejas, em todo lugar o boato corria solto: “O Demo está fazendo tocaia na nossa cidade!”
O Padre Bento ficou com a consciência pesada e pensou “Será que devo falar sobre essa história hoje na hora do sermão? Será que devo levar o assunto ao Bispo?!”
Dona Julieta foi rezar e depois foi para sua casa...
As Igrejas protestantes começaram a fazer cultos durante o dia todo. Até os ateus temeram... A cidadezinha pacata acordou... Era gente acendendo velas no Cruzeiro do Cemitério... Despachos nas encruzilhadas... Novenas... Enfim, os religiosos se mexeram de forma jamais vista naquele lugar. Em todas as Igrejas as oferendas aumentaram significativamente. O comércio de produtos religiosos vendia como nunca.
A palavra numa das Igrejas Protestantes era brilhante e dizia:

Ezequiel [Capítulo 28:13-18]

Tu estiveste no Éden, jardim de Deus ;cobriste de toda pedra preciosa: A cornalina, o topázio, o ônix, a crisólita, o berilo, o jaspe, a safira, a granada, a esmeralda e o ouro. Em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados. Eu te coloquei com o querubim da guarda; estiveste sobre o monte santo de Deus; andaste no meio das pedras afogueadas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até o dia em que em ti se achou iniqüidade. Pela abundância do teu comércio o teu coração se encheu de violência, e pecaste; pelo que te lancei, profanado, fora do monte de Deus, e o querubim da guarda te expulsou do meio das pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a terra, aos olhos de todos os que te vêem.

Mateus [Capítulo 4:1-11]

Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. Chegando, então, o tentador, disse-lhe: Se tu és Filho de Deus manda que estas pedras se tornem em pães. Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e eles te susterão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. Replicou-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. Novamente o Diabo o levou a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles; e disse-lhe: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares. Então lhe ordenou Jesus: Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. Então o Diabo o deixou; e eis que vieram os anjos e o serviram

E o pastor encerrava seu sermão dizendo: “Na casa do senhor não existe satanás, Xô satanás! xô satanás!”

O Investigador chegou à Casa Paroquial, adentrou, foi imediatamente atendido pelo Padre Bento que o levou ao seu escritório e lhe disse:
- Meu filho, eu lhe peço encarecidamente que pare com a investigação sobre a aparição do Capeta.
- Padre o senhor está me pedindo algo que não posso atender.
- Por que meu filho?
- Padre, eu quero pegar o desgraçado que fez isso com a minha avó. Ela quase bateu as botas... Tenho certeza que não tem nada a ver com coisa doutro mundo. Isso foi coisa de moleque, de vândalo; brincadeira de mau gosto... Se não fizermos alguma coisa para punirmos esse tipo de “brincadeira boba, idiota”, ainda vamos perder um ente querido. O senhor não acha?
- Meu filho, nem tudo parece o que é. Deus tem desígnios que só pertence a Ele. Veja o movimento da nossa cidade!... O povo voltou à igreja, voltou a ter medo dos castigos de Deus. Isso vai fazer a criminalidade zerar. Nunca se viu tanta reza por aqui. O povo voltou a temer a Deus! Os meninos e as meninas voltaram para o catecismo. O fervor da fé voltou a tomar conta da nossa cidade... Nunca vi você na missa. Falam que é ateu... Mas, pare com essa investigação?
- Padre Bento, eu sou agnóstico... Não estou lhe entendo! O que tem a ver uma coisa com a outra?
- Meu filho, eu sei que você é um exímio Investigador de Polícia, mas essa história não pode ir adiante. Pare de investigar... Essa história acabou fazendo um milagre por aqui. O povo voltou a ter Deus no coração. Isso não é bom?
- Padre, eu acho que o senhor está sabendo demais... Já descobriu a verdade?
- Não!!! Vieram me dizer que você anda perguntando nas casas se alguém deu por falta de um pé de chinelo.
- É verdade! Eu achei um pé de chinelo novinho em folha naquele matagal, local do medo. Vi muitos pisados por lá... De pés pequenos... E, cheguei à conclusão que tem mais de um moleque envolvido nessa tramóia. Padre, eu vou achar o criminoso que quase matou minha avó, custe o que custar!
O Padre franziu a testa, várias vezes, e pensou: “Vou ter que falar com o superior desse traste e pedir para que o transfira daqui.”
O Investigador foi embora e não hesitou em dizer para o delegado sobre a sua visita na Casa do Padre:
- Doutor, eu estou vindo da casa do padre...
- Que diabos você estava fazendo na casa do Bento?!
- Eu fui lá porque ele mandou me chamar... Estranhei, mas... O senhor sabe, Padre é Padre, enfim.
- E o que a Igreja queria contigo?
- Só faltou se ajoelhar pra mim Doutor... Implorou para eu parar com as investigações sobre a aparição do capeta.
O Delegado coçou seus poucos cabelos da cabeça e disse: “Aí tem coisa!” E disse ao Cido:
- Você me traga o pé de chinelo e me entrega ainda hoje.
- Doutor ele está aqui na minha mochila, pega!
- Então essa é a prova que temos?... Pois é, a partir de hoje em diante essa investigação é minha. Você está fora desse caso. Vai cuidar de descobrir quem roubou o Jumento do Zé, que ele está me enchendo o saco e até hoje você não descobriu nada.
O Investigador de Polícia sem ter o que dizer, simplesmente obedeceu seu superior e saiu à procura do ladrão do Jumento...
O Doutor Clécio foi ter com o Padre Bento cinco dias depois e disse:
- Padre eu tenho a prova do crime aqui em minhas mãos e já descobri tudo. Vou prender quem fez isso.
- Doutor Delegado o senhor tem o quê em mãos?
- Eu tenho o pé de chinelo.
- Pé de chinelo!!! O que isso tem a ver com a aparição do Capeta?
Padre, isso tem tudo a ver! É a prova que não existe Capeta nenhum, isso provavelmente foi armação de quem não tem o que fazer na vida e fica assustando as pessoas de bem.
- Esse chinelo não prova nada. Qualquer pessoa pode ter ido naquele matagal e o esquecido.
- Será Padre?!
- Claro meu filho!
Padre, o senhor está muito interessado no encerramento dessa investigação, por quê?
- Não meu filho, eu não estou não! Mas, se você pensar bem, depois que viram o Capeta, a cidade melhorou muito. A Igreja não cabe de tanta gente nas missas. Não se falou mais de roubos, mortes, vadiagem, etc. Nunca vendeu tanto produto religioso como agora. Pense no sossego que nossa cidade vive hoje!
- É Padre Bento, pensado por esse lado o senhor está coberto de razão. Minha delegacia está um deserto, nem um B.O, nem de briga de casal. Nunca vi tanta calmaria em nosso Município.
- Então, pra quê elucidar esse episódio? Deixa o povo pensar que o Diabo está de olho bem aberto e bem pertinho de cada um.
- Mas, Padre Bento, o Capeta não anda de olhos arregalados pra todo mundo mesmo, doido para tomar conta da nossa alma?!
- Sim... Mas essa já é outra história...
O Delegado deu o pé de chinelo para o Padre e deu o caso por encerrado.
O Padre chamou Joãozinho e lhe deu o pé de chinelo e lhe disse: “Vê se não o perde mais...”
Os três capetinhas voltaram a participar assiduamente de todas as missas e a ajudar o Padre no catecismo.
Toda vez que o povo fraquejava, desanimava, deixava de ir à missa, a aparição do Capeta era automática.

Osmar Soares Fernandes

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