Fome

Foto de Sandro Nadine

Deserto de Areia

Me vejo num deserto,
Onde o homem é a própria Areia...
Que com o tempo se espalha ,
Povoando o silêncio que me rodeia...

O que antes era vivo,
Agora passa a ser Inanimado...
Apenas o calor do vento,
E a frieza do orvalho...

O que deveria ser coração, vira pedra,
O que poderia ser luz, vira treva,
O que deveria ser sentimento, vira sela...

A solidão vira tormento,
A sede se transforma, em desejo incontestável...
À noite, impiedoso relento,
Traz para a alma, fome interminável...

E em meio a essa paisagem, o vazio,
Que em mim tranforma-se em lágrima...
É a prórpia Terra imersa no cio,
Sem Brilho e sem Mágica...

(Sandro Nadine)

Foto de Crucruzinha

És Humano

Todos os dias vês crianças maltratadas, fome, doenças, guerra e pensas que nunca irá acontecer contigo.
Pelo menos não até acontecer,
Durante todo este tempo foste enganada.
Nunca passaste por nada extraordinário, por tamanha crise de episódios sórdidos.
Nunca sonhaste sequer que poderias ser o próximo alvo.
E agora que aconteceu sentes-te traída, só.
De repente os momentos de glória tornaram-se distantes e o caminho nunca te pareceu tão longo.
Olhas o mundo em volta e desejas mudar tudo.
Foi preciso tamanho abanão para te aperceberes que és humano e que como tal também sofres.
Finalmente apercebeste-te de que a viagem é dura e que os obstáculos são muitos.
Finalmente apercebeste-te que a vida é como um campo de guerra com minas por todos os cantos
E que a tua única vitória é manteres-te de pé tempo suficiente para viveres um pouco antes da morte chegar.
Será que te apercebeste tarde demais que a vida não corre de acordo com os teus planos?
Que o tempo não espera por ti?
Esperemos que não.

Foto de bongarten

Selvagens queimados

Eu queria ser;
Um observador;
Atento sempre a ver;
O perigoso fogo caçador;

Sinto-me inseguro;
Não vejo meus irmãos;
Ando tanto no escuro;
Com fraqueza e solidão;

Estou com medo;
Acuado estou;
Presa em Alimento;
Procurando vou;

Dias sozinho;
Somente com a fome;
Nem um riozinho;
Só a mata o calor consome;

Ó meu DEUS, cadê meu espaço;
Sinto-me tão invadido;
Corro muito mesmo cansado;
Não tem jeito estou encurralado;

Ó, Não tenho escolha;
Fecho meus olhos estalados;
E vou como fagulha centelha;
Para o mundo dos selvagens queimados.

Foto de raziasantos

ASSIM SOMOS NÓS...

Assim somos nós.
Como uma garça ferida diante dos olhos dos espectadores.
Apenas olham incessível a sua dor.
Assim somos nós...
Abrimos nossa boca e declaramos amor:
Mas somos incapazes de estendermos as mãos aos pobres coitados.
Que sem destino se arrasta diante nossos olhos, em meio à sujeira.
Solitários se tornam como vegetais.
Como zumbis rondam as cidades em busca de uma lata de lixo para matar sua fome.
São esses os filhos da miséria:
Hoje muito se misturam aos adultos, crianças inocentes que já nascem em meio à miséria.
Não sabe o que é um lar, um teto para se abrigar.
Ironicamente brincam em meio ao lixo, dos ricos, correm felizes quando encontram um brinquedo quebrado:
Ou um pão mofado.
São esses os anjos de rua que perambulam por nós.
Quem de nós nunca cruzou com esses anjos?
Fala-se em muitos projetos, abrigos, amor, onde esta esse amor?
Entre os destorço de sua mente perturbada, se formam na oficina do diabo.
São os pássaros sem asas atingidos por vil caçado.
Neste emaranhado de horror.
Perdem por total sua identidade...
Mãe! “Pergunta a crianças, esquelética franzina” quem eu sou?
A mãe sem reposta olha para o filho em seus braços, e silencia-se...
E no silencio surge um grito em sua alma Deus quem eu sou?
O dia findado e a noite chega Deus para onde iremos...?
Assim se formam os anjos de rua, na miséria e desamor.
Sua única certeza é um caixão de madeira doado pela prefeitura.
Neste mar de amargura, não se dão nem ao direito de sonhar.
Depois de uma noite ao relento ainda molhados pelo orvalho da noite.
São acordados com tapa na cara levanta ladrão!
São os homens de farda dando ordem de prisão:
Como pode ser preso aquele que jamais esteve livre?
Anjos da rua entre a miséria, fome e podridão, drogas, violência, abandono!
Futuros clientes das penitenciárias, grades do inferno.
Será este o passeio turismo no futuro?
O que nossos filhos terão como diversão neste mundo que destruímos a cada
Passo sem compaixão...
Esses pássaros feridos aprisionados em seu interior sua mente cauterizada pela fome e dor.
Não sabem sonhar nem tem forças pra lutar, mas são humanos e necessitam reaprender amar.
Quem se habilita estes anjos adotar?
Onde poderão encontrar alem das promessas dos gigantes da terra, políticos engravatados na época de eleição,
Um abraço sincero, e um aperto de mão...
Esse ato simples poderia aquecer esses corações que se perdem a cada amanhecer em suas desilusões.

Foto de raqueleste

Quero tudo com vOcÊ.

Quero ir ao mar mais profundo
Quero nadar Flutuar, Me afogar.
Quero navegar pelas águas do mundo
Quero te ter, te conquistar, me apaixonar.
Quero o medo, as promessas, o choro.
Quero sentir meu coração acelerar
Quero o desespero, a loucura, a calma.
Abraçar, beijar, arranhar.
Quero te amar de corpo e alma.
Cuidar de você como se fosse uma flor
Quero o medo, os sonhos, o desejo.
Tudo desde o prazer à dor,da fome ao amor.

Tudo isso enquanto eu respiro seu cheiro.
E sinto seu calor.
Quero porque estou vivo.
E porque adoro seu jeito seu carinho seu sabor.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Seu Moço

O moço oiô
Pro lado
E viu um sinhô
Parado
Oiô, parô e preguntô:
Seu moço
As hora pu favô
Já deu pro armoço?
O moço esperô
O sinhô num falô
Pruquê armoço
Num tinha não;
E a fome matô us pião.

Foto de betimartins

Olhar que vagueia na solidão da criança

Olhar que vagueia na solidão da criança

Na rua da calçada, vagueia uma criança.
sempre triste e sozinha!
Pontapé para aqui, pontapé para ali,
mãos enterradas nas calças esburacadas.
Olhar matreiro, esquecido.
Caminhando, com passos vazios,
cheios do nada, de sofrimento,
pés calçados pela calçada,
levados pelo frio
e pelo vento...
Olhar furtivo, e vazio,
cheio de puro abandono.
Olhar cansado e sozinho
sem ilusões e sem carinho.
Criança, criança que dormes
ao relento e sem abrigo,
passas fome e choras,
a tua mãe perdida.
Sofres as mais injustas
Humilhações, atrocidades
de adultos completamente perdidos.
Criança que nem conhece a arte de brincar,
talvez só teus brinquedos
sejam as coisas, jogados no lixo!
Talvez passe pela tua cabeça
que a guerra seja inútil,
que são crianças adultas
que brincam com sua morte...
E tanta coisa tu pensas.
E que eu tento, não compreender...
Porque passeias tão só na solidão da calçada?
Porque, tu sorris e cantas?
Porque é que ajudas,
quando tu te vês esquecido?
Será porque tu, criança.
não conheces o ódio e a vingança?
Será na tua pobreza?
Mas seja o que for amigo,
eu sei que o teu olhar
há sempre um coração de amigo,
que vagueia sozinho na calçada....

Betimartins

Foto de giogomes

O Tigre e a Rosa XVIII - Semnome

Existem antigos rumores,
sobre um ser coletor de dores.

Foi condenado a eternidade em fome,
conhecido por muitos como o “Semnome”.

Ele se alimenta da desgraça alheia.
A discórdia é a única coisa que semeia.

Ao ver o amor improvável e incondicional,
entre uma linda flor e um belo animal.

Decidiu se aproveitar da situação
e apaziguar sua maldição.

A noite enquanto o Tigre dormia,
o atormentava em grande agonia.

Inserindo em seus sonhos,
seus artifícios mais medonhos.

Aproveitando-se de feridas abertas,
mágoas profundas descobertas.

Dominou um fraco intermediário,
que fez chegar ao Tigre um comentário.

Cheio de mentiras e suposições decerto,
perfeito para responder questões em aberto.

O Tigre que estava se adaptando,
a vida sem sua Rosa e seus encantos.

Aceitou as informações soturnas,
que preenchiam todas as lacunas.

Despejou sobre a Rosa sua fúria colossal,
acompanhada de ofensas e uma acusação imoral.

"- Fui um coadjuvante, um peão de tabuleiro,
para provocar ciúmes no maldito Jardineiro !"

“- Vocês se merecem ! Não valem absolutamente nada !”
“- Faço votos que os dois morram por esta cilada !”

Foto de Ana Vasques

Inverno na alma

Inverno na alma

Quando algo que fazia sentido
Por algum motivo deixou de existir
O que achava por entendido, de repente
Se faz confusão total

Ai vem o medo
Que domina todas as suas forças interiores
A angustia
Aquela que te faz perder a fome
O desejo reprimido
Que te faz ter os pensamentos mais insanos, daquilo que se quer e que não se pode ter

Inverno na alma
Tão frio que faz seu coração virar pedra, gelo
Seus olhos endurecerem até com as mais belas imagens
Seu corpo, bem, esse não responde a nenhum dos seus instintos naturais

Achando que somos super herões
E que podemos ter o dominio de nossas emoções
Quando caimos em si, percebemos que o universo já as dominou
E que não se tem mais nada a fazer senão, esperar e esperar

Esperar...
Porque o inverno não dura para sempre
Depois dele vem a primavera trazendo suas cores
E por fim o verão, que derrete todo aquele gelo que te consumiu
Devolvendo todos os seus sentidos e trazendo de volta suas verdades

Inverno na alma
Não deseje pra ninguem
Trás com ele uma dor mais insuportavel que fratura exposta
Mas nos mostra que estamos vivos, temos sentimentos reais
E nos faz mais fortes para enfentar os proximos invernos

Foto de raziasantos

Para meu anjo!

No calor do verão preparei nosso lar.
Arrumei sua cama com finos lençóis.
Arrumei a mesa com seus pratos preferidos,
Aromatizados com finas ervas.
Tirei suas roupas do armário para lavá-las,
E perfumá-las.
Sentei-me a mesa e te esperei para almoçarmos...
Você não veio, fui para janela e com olhos ansiosos
Procurava-te, mas você não apareceu:

Desfiz a mesa, e esperei pelo outono:
Colhia as mais belas e exóticas frutas.
Preparei-te uma linda cesta, novamente troquei os seus lençóis.
Convidei seus amigos para te recepcionar tudo em vão você não veio.

A saudade apertava, nossos amigos dividiam comigo minha dor.
As tardes eu ia para o jardim e ficava olhando os pássaros voltarem para seu ninho.
Eles nunca estavam sozinhos, sempre em bando, catavam felizes enquanto nas arvores se ajeitavam.
Eu ali solitária te esperava...

Eu sabia que chegaria o inverno, que você viria!
Entoa ascendi à lareira, para aquecer teu quarto.
Troquei os lençóis coloquei seu cobertor preferido, abri as janelas, e lavei as cortinas.
Fiz uma mesa com guloseimas de sua preferência, sem esquecer-se do chocolate...
O inverno passou e contínuo te esperar.

Eis que chega a primavera, os pássaros voltam a cantar, as os arvoredos florescem.
Tudo se faz novo,
Pela manhã ainda cedo eu colho as flores molhadas pela brisa da noite.
Enfeito toda casa coloco em seu quarto lírio que são sua flor preferida.
No suave perfume da primavera e na alegria dos cânticos dos pássaros, espero-te!
Ao findar a primavera, ficam um rastro de folhas secas espalhadas por todo jardim.

Eu ali no vazio dessa longa espera continuo a te esperar.
Entre as folhas secas minhas lagrimas de saudade.
Que dor insana me esmaga! Ando pelas ruas vejo fome e miséria.
Penso onde meu filho esta.
Estarão entre os anjos da rua, anjos que não podem voar...
Estará vendendo seu corpo, entre choros rangidos da alma sem paz!
Meu coração dilacerado, uma dor que nada se pode comparar.

Jamais deixarei de te procurar, sei filho amado um dia há de voltar!
Nesta espera passa-se primavera, verão outono, inverno.
meu anjo estarei sempre a te esperar até que meus olhos
fechem estarei á tua espera.

Dos meus olhos as lagrimas secaram de tanto chorar.
Filho onde você esta?

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