Fantasmas

Foto de Rosamares da Maia

A SENHORA DO TEMPO

A Senhora do Tempo

Sou uma velha senhora assombrada por velhos fantasmas.
Há! Como queria eu viver pelo menos três centenas de anos.
Somente assim conseguiria me gastar e expressar o que sinto.
Esgotar este viver e saber mais das coisas que estão por vir.
Mas sou uma velha senhora que vive enganada pelo tempo.
Olho a janela da vida e espio pais, filhos e netos, absorvidos,
Partindo, chegando, se distanciando no redemoinho do tempo.
Espio a areia fina que sem parar escorre entre os meus dedos.
Uma dor profunda dilacera o meu peito e comprime a alma.
Quebra minha alegria, como se quebra a casca da noz.
Sou uma velha senhora que tem saudade do Mundo passado,
Mas que anseia pela visão do futuro atrelada ao viés do presente.
Sou a velha senhora querendo resgatar os designíos do tempo.
A dor inexplicável que me esmaga é a solidão entre os tempos.
A paixão e o apego a cada tijolo depositado nesta construção.
Uma cidadela confinando a vida que não quer se esgotar.
Existirá a missão ou uma história a resgatar? É possível voltar?
Que a sanidade e a memória me permitam entender e continuar.
- Apenas por mais três centenas de anos, somente e apenas!
Sou uma senhora velha que não consegue ser a dona do tempo.

Rosamares da Maia – 01 de julho de 2013.

Foto de Arnault L. D.

Castelo e flor

Na rua, uma sombra alta e triste
ergue-se dentre a névoa gélida;
noite suspensa de um passado.
Tal braço, retesado em riste
do afogando, mão a buscar vida
e um mistério no tempo guardado.

Alta torre faz relevo à vista,
contrasta ao azul, somando ao céu.
Nuvens bordam a moldura entorno;
acima, janela a lua avista
e a filtra em vitrais, a luz pincel...
Quadro vivo, tela o chão, adorno.

Vestígios da beleza em ruína,
restos de sonhos, solvem a volta,
dos risos, dos casos em segredo.
Degraus subindo o mármore a cima,
ligando ao nada a ilusão solta...
Velhos fantasmas a trazer medo.

Apenas restou o que se ergue,
pois, mais ninguém, mais nada lá ficou.
Junto a ultima gota que verteu,
taça de cristal, vinho, e sangue,
estilhaçada a vida se quebrou.
Por testemunha a noite, que esqueceu.

O solo pontilhado de luar,
vazando aos vidros coloridos;
cintilou em matizes de carmim,
que a aurora escureceu ao raiar.
Revelando os Reis adormecidos,
em uma noite, que não teve fim.

Mas, o Sol não trouxe a claridade
que rompesse a densa névoa escura,
que encerrou dentre a alvenaria,
atrás de portas, paredes, grade.
Causas, culpas da história, pura,
não se soube, o oculto não traia...

E veio o anoitecer novamente.
Trancou as portas, fechou as grades,
cerrando as cortinas e os portões...
Desbotando tons, e o inconsciente
se encarregou de criar verdades.
Por provas, fez de mitos as razões...

Recolhido entre as salas desertas,
os anos a somar o abandono
pilharam a beleza em pedaços.
Abrindo furos, rasgando frestas.
E o dormir deste eterno sono,
Morfeu colheu por entre seus braços.

Tudo agora é escombro somente;
cravado à cidade, triste confim
de velhos espectros e da sombra.
Partilhado ao mendigo, indigente,
covil de ratos, aranhas, capim,
que feri aos olhos frágeis que assombra.

Mas, longe da escuridão, um alguém
guardara a lembrança, a luz vencida.
Que afundou-se aos relógios se pôr.
Lembrando a quem, já a muito além...
por tantos anos, por toda vida.
Posto uma prova que houvera o amor.

Solitária rosa, deixava ali.
Em data exata, quando ao ano vem:
De aniversário um presente terno,
no envelhecer do castelo e a si...
Até que a noite deitou-se também,
a pele esfriando-lhe de inverno.

E a ruína, assim, ficou mais só
e a historia, tornou-se rumor.
O castelo apartou-se do mundo,
sequer memória, saudade, ou dó.
Como se sempre ele fora a dor;
tal de canto algum oriundo...

Quiçá, a torre, querendo altura,
qual mão, apenas anseie outra flor,
pelo céu procurando a encontrar...
E para não quebrar-se a jura,
fez das pedras, pétalas, por amor.
Fez-se o castelo uma rosa a murchar.

Foto de Ronita Rodrigues de Toledo

DELÍRIO

Num momento degradante,
Entre palavras tortuosas,
O expulsa impiedosa
E ele sai sem hesitar...

Ao abrir a sua porta,
O vento da noite fria
Invade a sala vazia
E faz tudo se calar...

Na vastidão da noite cinza,
Na janela o emoldura
E vê seu vulto a se perder...

Se tranca em seu quarto
Para fugir do desespero,
Lança a face ao travesseiro
Para as lágrimas conter...

Enquanto traga de um copo
Para o desejo embriagar,
Fantasmas sorrateiros,
Flutuando no cinzeiro
Seus lábios vão beijar...

Desejara nesse instante,
Fosse só por um momento
Te-lo em seus braços
Como o tem agora o vento

Na solidão do quarto frio,
Divagando em pensamentos,
Mergulhada em seu pranto
Ela vai adormecendo...

Em meio a desatinos,
Entre soluços e gemidos,
Ouve a voz de seu amado
A sussurrar em seus ouvidos...

E num delírio profundo
Sente o corpo flutuar...
No aconchego de seu mundo,
O amor se perde
Ao se encontrar...

Ronita Marinho
Registro BN

Foto de Carmen Lúcia

Leva-me...

Leva-me...
Contigo qualquer lugar é inusitado,
fixo-me em ti e o resto é inacabado,
toda beleza pelo mundo derramada
provém de ti...
Em tua presença fica apagada.

Leva-me...
Andemos pela relva, que molhada,
suaviza nossos pés da caminhada,
deixando pegadas pra felicidade...
E subiremos por escadas de nuvens
aventurando-nos ao léu, ao céu...imensidão!
Onde seremos Adão e Eva
reiniciando a Criação...

Leva-me...
Não quero mais ficar sem ti.
As horas transcorrem iguais e frias.
A monotonia pesa minha alma.
A cama torna-se gelada, vazia.
Procuro-te e não estás aqui...
O medo invade, nutre meus fantasmas
e só tua presença os combate e os afasta.

Leva-me...
Serei aquela estrela que veneras,
pra ti serei eterna primavera,
seja qual for a estação que se revela...
Flores cobrirão nossos caminhos,
um grande amor aquecerá o nosso ninho
e será eterno como nossa primavera.
Sem mais ausências e esperas!

(Carmen Lúcia)

Foto de DeusaII

Não te quero mais!

A chuva cai lá fora de mansinho
E sinto a tristeza assolar minha mente.
Meu mundo outrora brilhante
Desabou sobre mim
E eu aqui... deixei-me ficar.
Isolo-me do mundo, da vida
E não crio nem recrio nada
Apenas fico para aqui sozinha com a minha dor
Sentindo meu corpo definhar
Minha mente paralisar
E meu coração a despedaçar-se
Sou apenas uma sombra de mim própria
E a felicidade fugiu de mim
Para nunca mais voltar.
E então, envolta em meus pensamentos
Sinto um frio gélido a percorrer todo o meu corpo
A destroçar todos os meus sentidos,
Sinto o medo a invadir cada poro do meu ser
E dentro de mim penso: “não te quero mais”.
Deste a volta à minha vida
Devolveste-me a magia para depois ma tirares
Acreditei que tu eras possível para mim...
Que o que se contruiu, não ias destruir...
Fizeste-me dar largas às minhas fantasias
Paraste o meu tempo,
Um tempo que era só meu...
E deixaste-me perdida, sem mais palavras...
Quebraste tudo em mim, e já não reconstruíste
Deixaste-me sozinha, abandonada ao meu próprio destino.
Fizeste com que todos os meus fantasmas voltassem
E depois... sem mais... Foste embora.
Por isso meu amor... não te quero mais
Apesar da dor que sinto cá dentro
Apesar da confusão, da troca de emoções
Apesar do encantamento em que me deixaste
Não te quero mais....
Vai... meu amor... segue tua vida...
Que a paz e a felicidade de acompanhem....
Na tua jornada pelo teu destino...
Deixa-me aqui ao sabor da corrente...
Deixa-me entregue aos meus medos...
Mas vai.... e por favor...
Não voltes mais!

Foto de bob_j

Indiz

Defina o amor
pra você e pra mim
então a paixão
te levará pra sair
por aí

defina o amor
do seu jeito assim
são as estrelas que estão a cair
a anestesia
que me faz sentir
emergir

procuramos razões
pra acreditar num mundo
de imperfeições

nos vemos perdidos
em labirintos
de ilusões

de fantasmas
que nos tragam
e nos cospem depois

transpiramos desejos
exalamos os medos
dos nossos corações

defina o amor
me faça sorrir
é a solidão
da rosa que nasce
num jardim de jasmim

me de sua mão
me faça um carinho
e me jogue no chão

e minta pra mim
pois a verdade
se encontra
num oceano
sem fim

eu definiria o amor
antes de partir
mas você não entende
você não pode me ouvir

Foto de So_fia_So

AMOR PROIBIDO

LONGE NÃO SERIA O MAL.

SE O LONGE TIVESSE UM FIM.

MAS O LONGE VEIO PARA FICAR

E O FIM SERÁ TESTEMUNHADO

PELO MEU OLHAR.

CULPAR-ME?

DESISTIR?

AUTOCRITICAR-ME?

POR TUDO JÁ PASSEI.
EM MOMENTOS AINDA PRESENTES
TODOS OS FANTASMAS ME CERCAM.

CONCLUO, CONTUDO
NÃO VALER A PENA
ATIRAR-ME DA JANELA.

SE CULPADA SOU,
ASSIM VOU CONTINUAR
ATÉ AO DIA EM QUE ACABAR
A HISTÓRIA QUE ENCANTA
MAS NÃO É DE ENCANTAR.

NÃO VALE A PENA A TORTURA.
VOU AMÁ-LO
ATÉ A LUA
PERDER A LUZ.
O CANSAÇO ME VENCER
OU SURGIR ALGUÉM
QUE ME ILUMINE
TODO O DIA,
SEM QUE HAJA NOITE
EM MIM
E VIVER
SEJA UM POUCO
DE UM POEMA
QUE SE SABE DE COR
E SE DECLAMA
ENTRE OS AMANTES.

POR AGORA,
NÃO POSSO PEDIR MAIS.
APESAR DE TUDO
O QUE ESTÁ ERRADO,
CONSIGO VIVER EM PAZ.
E A ELE
CONSEGUI ENSINAR-LHE
QUE O ÓDIO QUE O MATAVA
SE APAGOU
NA LUZ QUE LHE TRANSMITI
E FEZ NASCER
UM NOVO E BOM HOMEM.
SÓ POR ISSO VALEU
A PENA
TÊ-LO RESGATADO DO MAL
QUE O CERCAVA,
ENLOUQUECIA
E ESTAVA
PRESTES A TIRAR-LHE A VIDA.

PELO BEM QUE LHE FAÇO,
ME ALEGRO EM MEU ERRO,
FELICIDADE LHE DOU,
AMOR SINTO
COMO CHAMA
QUE DELE VEM.
SINTO A SUA GRATIDÃO TOTAL.
A SUA LUCIDEZ,
SUA PREOCUPAÇÃO.

QUE FAZER
PERANTE UM AMOR
(PER)FEITO
MAS QUE NÃO PODE CAMINHAR
AO LUAR,
LIVRE, SOLTO,
A RIR
E SEM LIBERDADE?

Foto de Codinome_UmaCocaCola

Escolhas

O nosso futuro é tão incerto e ao mesmo tempo tão previsível, pois ele se baseia nas consequências de nossas escolhas realizadas no presente. Então não se desespere, tenha certeza que você irá superar todas as coisas que virão.
Tenha medo dos fantasmas do passado, pois esses sim nos assombrarão até o último dia de nossas vidas, já que não podemos voltar e mudar escolhas já tomadas.

By Codinome_UmaCocaCola

Foto de LUNNA FRANK

VÉU DAS SOMBRAS

Existe um véu onde cobre a mal amada
Que o coração fechou
Onde nas sombras vagueiam
Solidão e restos de amor
Ecos de fala ressoam
Amplificadas da paixão
Que se desfez na poeira
O amor do mal e o bem
Existe um céu em labirintos
Onde vaga minha sombra imortal
Entre almas e fantasmas
Celebrando o véu rasgado
Deixando transparecer a dor
Do amor que existe em mim
by Lunna

Foto de Carmen Lúcia

Sem lembranças

Recomeço do agora...
Olho as cinzas esvoaçando,
meu interior se esvaziando
levando suavemente o passado
que perde espaço
no decorrer das horas.

Lembranças felizes permeiam o ar,
querem voltar,
teimam em ficar
apesar da decisão irrevogável,
relutância inexorável
de não as levar,
de me libertar.

Difícil resolução tomada
após ter sido amparada
por essas ausências vividas,
pelas reminiscências floridas
no jardim de um tempo
que já se perdeu,
não sobreviveu.

Respiro suas fragrâncias
que não mais inebriam
a imaginação,
só fantasiam a alucinação...
Fantasmas que não mais amedrontam,
perderam o fascínio, são sombras.
Apenas vagueiam
cerceando os caminhos
de pura ilusão.

Recomeço do agora...
Sem pressa, sem hora,
vazia do ontem,
esquecida do outrora.(?)
Fechada a lembranças
que trago fincadas
no cerne baldio
de meu coração.

_Carmen Lúcia_

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