Cinzas

Foto de Sonia Delsin

LABAREDA

LABAREDA

Escrevi o seu nome na minha alma.
A fogo.
Escrevi enquanto o ardor do seu olhar me queimava.
Parece que aquela chama me consumia enquanto eu escrevia.
Fui exorcizando todos meus demônios.
Todo estigma antigo.
Corria tanto perigo.
E não percebia.
Eu pensava que vivia...
E morria.
Mas das cinzas que me tornei eu renasci.
Como fênix é que eu venho aqui.
Dizer.
Dizer que você acabou adentrando em meu ser.
Da pele em fogo labareda você se tornou no interior que lhe guardou.

Foto de Sonia Delsin

UMA CENTELHA DE AMOR

UMA CENTELHA DE AMOR

Meu coração menino descobriu uma centelha sob as cinzas.
Era um tempo em que o rio corria para o mar sem novidades.
Um tempo estagnado.

Ele sentiu algo novo...
Algo inédito.
Um pulsar diferente. De repente como ele se fez contente!

Meu coração descobriu uma chispa, uma pequena fagulha.
E permitiu que ela acendesse.
Deixou que acontecesse.

Aquilo foi tomando forma.

Foi se incendiando, o fogo aumentando, aumentando.
Era uma fornalha já.
E pensar que só uma centelha estava adormecida lá.

Ele não tinha mais domínio sobre o incêndio que se formava.
Porque todo seu ser dominava.
E aquilo o inebriava.

Então apareceu o tempo dizendo que não era hora.
Que não tinha dado ainda permissão.
Que estava sendo muito ousado aquele coração.

O fogo quis se apagar. Conseguiu de uma forma diminuir.
Mas não se deixou destruir.
Porque a centelha permaneceu ali.

Com o correr dos dias vinham tristezas e alegrias.
O peito forte batia, insistia. A chispa queria reacender.
Vinha o tempo e a conseguia conter.

Até que a mão do destino condoída do pobre coração
resolveu abrir mão da proibição.
Deixou que reacendesse a paixão.

Que o fogo se alastrasse, que seu ser se inebriasse...

Soninha

Foto de Henrique Fernandes

OLHAR DE POETA

.
.
.

Paro o meu olhar pensativo e sério
Sobre uma árvore sozinha na paisagem
Despenteada pelos ventos de Outono
Assim como eu desfolho as minhas folhas
Numa escrivaninha que sabe os meus sonhos
Tal como aquela árvore estou em mudança
Ela pelo vento e eu pelo fogo da vontade
Reduzindo a cinzas os males de ontem
Sobrevivi a tristes acontecimentos
Libertado do sofrer por família e amigos
Preenchendo a minha paisagem de todas as cores
Desenhando traços sorridentes na minha tela
Pendurada ao nível das minhas mãos
Agradecidas pelo talento da minha vocação
Renascendo para a vida com minhas vivências
Acompanhado por uma qualquer fantasia de tantas
Mas acima de tudo como aquela árvore
As minhas raízes enterram-se profundas
Alimentando-se nas veias da confiança
Nessa terra que reclamará sem benevolência
A si a podridão da nossa carne mortal
Mas a razão bela da primavera sugará
Nossa alma inocentemente imortalizada
Na eternidade que o tempo expõe infinito
Comigo, aquela árvore ali despenteada
Deixaremos ambos de ser, seres solitários
Diante dela escrevo verbos de encorajar
Sobre o conforto da minha fiel escrivaninha
Escrevendo o meu faz de conta tão real
Como as folhas que regressarão aquela árvore

Foto de Minnie Sevla

Menina Cabocla

Eu sinto-me acocorada em um rabo de fogão
a lenha.
As labaredas estalando, em cores de tons alaranjados.
A lenha queimando e deixando os restos
das cinzas amontoados.
Panelas pretas de carvão exalando o cheiro gostoso da comida
roceira. No forno o pão de queijo e a broa de fubá
assando e eu menina criança, mulher de olhar
triste, profundo, faceiro.
E eu menina esperança de encontrar
no estalar do fogo o aquecer de minh’alma
solitária, envergada, gélida.
Cubro as pernas finas e esbranquiçadas
com meu vestido de chita, os pés descalços
se ajeitam num espaço tão pequeno.
Eu menina cabocla, que tão poucas vezes
sorri, morando em um casebre com telhas
que na tempestade o vento sucumbi.
Não sei o que é luxo, mas sei sonhar...
quando pego a lata pra buscar
água no poço pra lavar a casa e meus irmãos se banhar.
A cabeça dá voltas pelo mundo de riqueza, casarões,
homens distintos a me rodear.
Eu sou assim: sou menina, sou criança,
sou mulher, sou esperança, sou cabocla,
imagem refletida nas poças da simplicidade
onde se traduz sonhos foscos de felicidade.

Minnie Sevla

Foto de Carmen Lúcia

Estranhos

A que ponto chegamos...
Do tudo que fomos
Ao nada que somos...
Dois estranhos...
Onde foi que erramos
E dos sonhos nos dispersamos?
O pouco que restou se desgastou...
O amor se acabou...
Será que um dia nos amamos?
Ou apenas nos enganamos...
Quando a rotina se instala,
O coração se cala...
Camufla-se, finge que fala
E dissimulado se talha...
Os dias fluem iguais...
As mesmices costumeiras,
Traiçoeiras, embusteiras, cruciais...
Das labaredas da paixão
Às cinzas da desilusão...
Da vida em comunhão
À cruel separação...
Serão os atalhos do caminho
Ou ironia do destino
A nos persuadir, confundir, fazer desistir?
E hoje, estranhamente, somos estranhos...
Em que parte paramos,
Permitindo à vida passar?
Por que a vimos passar
E nos esquecemos de amar?

Foto de Cecília Santos

PIERRÔ SEM COLOMBINA

PIERRÔ SEM COLOMBINA
#
#
#
Pierrô seu olhar é triste.
Onde anda seu sorriso.
Cadê sua Colombina!
Seus olhos a procuram
pelo salão.
Em meio a confetes e
serpentinas.
Seu amor sua paixão.
Colombina onde andas!
Seu Pierrô te espera.
Com a mesma paixão.
Não deixe seu pranto rolar
nessa triste solidão.
O Carnaval acabou.
E o Pierrô sozinho,
continua no salão.
Esperando sua Colombina,
que no Carnaval que passou.
Foi seu amor, sua alegria.
Mas quarta feira chegou.
De cinzas seu sonho
se tornou.
E pela avenida abandonada,
foi chorando sua dor.
Sem a Colombina, e sem amor!

Direitos resevados*
Cecília-SP/01/2008*

Foto de Sonia Delsin

FENIX

FENIX

Sob as cinzas eu desfalecida desacreditava da vida.
Mortalmente ferida.
Tudo era finito.
Acabado meu mundo bonito?
Ali sob as cinzas.
Embaixo do manto da dor eu jazia.
Me desfazia.
Morria...
E dentro d’alma um poema nascia.
Um poema que falava do sol.
Um poema que falava dum novo amanhecer.
Como? Se eu estava a morrer?
O poema queria nascer.
Insistia...
E eu tão fraquinha no céu escrevia.
Com letras miúdas eu rabiscava o poema.
Igual uma tela de cinema.
Eu escrevia letra a letra lentamente.
Era um poema diferente.
Brilhava intensamente.
Ali, à minha frente.
A dor, que era tanta, foi se aliviando.
As letras todas do poema brilhando...
Fiquei olhando...
A minha obra admirando.
Fui me sentando.
Me levantando.
Eu o lia com voracidade.
Ele me prometia que eu estava pronta a voar...
Percebi que o poema me convidava a recomeçar.

Foto de Dirceu Marcelino

RESPINGOS DE PAIXÃO IV - A BRASA DO FOGÃO

Cheguei,
Agora ao meu chalé
Estou um pouco cansado
Deito-me em uma rede
Da varanda preguiçosa.

Adormeço.

Acordo,
Com certo frio.
Preciso me esquentar,
Esquentar minha alma.

Vou até o fogão,
Fogão de lenha,
Pego um tição,
Tição
Que parecia apagado
Assopro-o.

Vejo que as cinzas voam, (VOA)
Aparece um vermelhinho
Sinal de uma brasinha,
Este foi de Joaninha.

Nem li tua poesia,
Mas sei que escreveste
Pois, li teu comentário.

Bem, não sou “bidu”
É melhor ir dar uma lida,
Quero criar mais vida.
Ah! Sim, o nome é

“Fada madrinha.
Sim. É isso que ela é,
Fada, fadada
A ter sonhos,
P’ra ela é mais alguém
Ah” Como tem!...”

Veja:
Pegou sua varinha
E acendeu
O fogão p’ra mim.
"Chama da paixão"
Deu um assomprão

E a brasinha
Que estava enfraquecendo,
Acendeu.

Não foi bem um assoprão,
Ao contrário,
Foi um "sugão"
Que arrancou do coração
O fogo,
Da paixão.

E, ainda lhe põe lenha,
Senta-se sobre o fogão
E ali permanece
Acesa,
Assoprando as brasas
E colocando lenha,
Sujando a mão,
Com um sorriso maroto,
Toda faceira.

Mostra
Como é o carinho
Da Rosa,
Do botão
Que se abre palpitante
Como é próprio
De quem herdaste

Essa Arte,
Como de minha Avó
"Vovó Julieta,
Tia Maria,
Todas Portuguesas

Do "Ninho".
Sim foram elas,
Minhas ascendentes
Portuguesas,

Elas me ensinaram
A esquentar
Meu ninho,
Acender meu coração

Com poesias,
Arte que me extasia
E faz que minha vida,
Seja sonho,

Sonho com a Mulher
Portuguesa
Irmã da Brasileira,

Como minha mãe,
Minha esposa,
Minhas filhas,
Minhas netas.

Todas falam esta

M a r a v i l h o s a

Língua Portuguesa.

Foto de NiKKo

Amor. É isso o que eu sinto.

Você me rouba de cena, entorpece minha mente
e deixa-me sem os pés no chão.
Mas sei que você é o fogo que me acende,
eleva-me aos céus e me da asas para a ilusão.

Você me faz desejar ser muito mais do que sou.
Leva-me a navegar nesse seu mar de desejos,
faz-me entregar-me nessa onda de sentimentos
que me invade a alma e transborda em beijos.

Você me deixa com um sorriso nos lábios
por imaginar você dormindo em meus braços.
Fazendo-me descansar no teu, as minhas fadigas,
relaxando ali, de todos os meus cansaços.

Quando olho teus olhos brilhando de ternura
que ao me olharem, me transmitem tanta emoção.
Faz-me sentir segura e tranqüila, tal qual um barco
que atracou em seu porto, depois de um furação.

E deixo minha alma por você ser desvendada,
que confesso que não temo o que está por vir.
Teu amor me faz sentir o destino em minhas mãos
porque ele me devolveu-me a vida e a razão de sorrir.

Assim sei que estou cativa desse sentimento
e confesso não quero dele me esconder.
Amo você. E isso me dá uma paz enorme.
Amor... acredite eu não vou de ti, me esquecer.

E a luz desse nosso amor anunciará ao mundo
que a Fênix ao mundo dos vivos retornou.
Que ela deixou nas cinzas do passado, velhos sonhos.
Que um amor puro e sincero ela encontrou.

Foto de Inês Santos

Jogo ardente....

JOGO ARDENTE

Ardo em martírio…
É a minha sentença…
Compactuo num jogo sem equilíbrio!
Mas, para quê? a presença…

Estou queimada pela desavença…
Jogo de regras, doentio…
Para quê? a esperança…
Se estou atediada com a chama do vazio…

Estou consumida com fogo, (atribulada!)
Estou em cinzas de fraqueza, (sou magoada)
Não tenho amparo, nem encanto…
Ò calor! Como dói… (sofro tanto)

Entreguei-me ao ardor da escuridão!
Sou jogador reles, sem ambição…
De alma cinzenta, impura!
Que verdade escaldante e dura…
Vou continuar arder…
Neste jogo até morrer…

Inês Santos

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