Cidade

Foto de Dirceu Marcelino

JARDIM ENCANTADO DO TABACO PERFUMADO - DUETO (preparativo para video-poema ) Homenagem a JOANINHA VOA

*
* Homenagem a JOANINHA VOA
*

Me faça sua
Me ponha de fora
Da tela do ecrã
Da televisão

Me ame
E me aperte
Desse jeito
Qu`eu gosto
Eu me ajusto
A você meu amor

Me diga seu gosto
Me viro com ardor
Teu fio de prumo
É o rumo

Faz-mo conhecer
E vê como
Eu te vou merecer!...

JoaninhaVoa, In "Vidas"
(2008/05/02)

***
Primeiro diga que me ama
Não faça como fez até agora,
Quando só te vejo no ecrã
Da tela de tua televisão.

Vai! Diga-me que ama.
Então te aperto
Assim desse jeito,
Que gostas na cama.

Em ti eu ajusto
Meu corpo com ardor
E te digo que te amo,
No compasso justo,
Do fio de teu prumo

Devagar eu me ajeito
Contigo eu me arrumo
Pois, quero te conhecer

E te amar devagarzinho

Até o dia alvorecer. DIRCEU (2/5/2008 )

***
Eu digo a toda a hora
Te amo amor...
Mas você não ouve
Nem vê!

Então só me resta
Ficar na tela no ecrã
No encanto da TV
Mas você não ouve
Nem vê!

Então eu Voo
Dizendo a toda gente
Eu te amo amor...
Mas você não ouve
Nem vê!

Então só me resta voar
Mais alto...
E gritar ainda mais
Como num tornado
Te amo amor...

Só então surge
Como que um raio
Tua voz dizendo

"Take it easy
my love my eternity"

E aí eu penso
E penso! Que sei
Como a vida pode
Ousar pregar
Partida! Desta cidade
Num vai de ré
Não finca pé

"Take it easy
my love my eternity"

Você é o culpado... inspira-me
e depois não finco o pé do pé
da tela e da TV!

Abraço, de JoaninhaVoa ( 3 /5 2008 )

Foto de Joaninhavoa

Fazendo Amor

Intemporal o tempo...

E tua língua molha
Meus lábios num vagar
De macho onde ternura
E rudeza se fazem exaltar

Atento em ti os meus sentidos
Abres-me com o dom da palavra
Em que os medos são anseios e desejos
Em que a emoção disfarça

Intemporal o tempo e tua boca...

Abre-se e fecha-se num vagar
De movimentos na cabeça
Na cidade onde o rio o mar abraça
Começa a desaguar
Estremecendo e as pernas a fechar

Intemporal o tempo passa a marcar
E abraça a lava que ferve, incandescente
E a lava com revolução suave
Cantando a Canção Amar

JoaninhaVoa, In "Meus Amores"
(2008/05/08)

Foto de ANACAROLINALOIRAMAR

MEU ERRO....(II)

Meu erro, foi não lutar
a continuar com você ficar.
Foi não mostrar minha emoção
o quanto era importante para meu coração.

Meu erro, foi não demostrar,
não ser transparente,o
quanto a gente sente
quando alguém esta ausente.

Meu erro, foi seguir meus impulsos,
achando que em uma pequena briga,
poderia te deixar, e me dominar,
longe de ti ficar.

Meu erro, foi não entender,
que um dia , poderia acontecer,
te perder, viver sem você.
e correr o risco, de nunca mais o ter.

Meu erro, será, se não pedir,
para me perdoar,
e voltar a me amar,
e sermos eternos amantes,
vivermos esse e outro instantes,
como era antes.

Não controlei minha ansiedade,
briguei com você com vontade,
sem maldade,matei minhas vontades,
hoje estou partindo da cidade,
porque estou a te amar,
e tenho medo,
de nunca mais me perdoar

Errar foi um engano,
achando que poderia
tirar você dos meus planos.
Hoje meu engano,
me tira o sono,
me tira a paz.
Não poderia imaginar
que meu erro,
poderia me fazer sofrer demais.

Anna
03/05/08

Foto de killas

A VIDA É UMA BUSCA

A vida é uma eterna busca,
Pelo comboio da felicidade,
Mas este descarrilou,
Antes de chegar à cidade.

Por vezes passa, mas não pára,
Passa na ponta dos dedos,
Vemo-lo sempre a passar,
E aos seus incontáveis segredos.

Quando para é por pouco tempo,
Acha que está fora do seu elemento,
Trata logo de se ir embora,

Para tudo à uma hora,
Até para ser feliz,
Neste mundo do diz que diz.

Foto de Sirlei Passolongo

A Saudade Do Caipira

Seu moço!
Eu vim da roça.
Lá deixei minha palhoça.
Esposa em estado de graça.
E cinco filhos pra criá.

Deixei uma vaca no pasto,
Quase sem leite nas tetas.
Uns pezinhos de mandioca,
Que a seca não deixou vingá.

Antes de sair de lá...
Comprei sarilho pro poço,
Esperança da água de novo
Quem sabe nele brotá.

Lá, deixei meu violão,
Um papagaio espoleta
E tudo que pus na maleta
Foi a esperança de vortá.

Aqui na cidade grande
A solidão me invade...
Quase morro de saudade,
Vendo ano a ano passá.

Sem saber da minha terra.
Se meus filhos já são homens
Ou se morreram de fome
E minha mulher como tá?

Não sou homem de leitura.
Paguei pra escrever as linhas
E sem resposta alguma,
Minha esperança definha.

Seu moço!
Essa minha história...
Já se foram vinte anos,
e eu nesse desengano
Sem nunca vortá pra lá.
Mas a fé em Padrim Ciço
Não me deixa desanimá.

(Sirlei L. Passolongo)

Direitos Reservados a Autora.

Foto de Mor

UM GRITO DE GUERRA

UM GRITO DE GUERRA

MOR

Ser prefeito é ser um administrador junto com os vereadores serão logo os gestores de um município de uma cidade com seus distritos. Tudo isso tendo em mente o bem estar de seus munícipes com o crescimento econômico e social como um todo.

Para chegar a esse ápice de uma boa administração depois de eleitos está plêiade de homens tem por missão servir ao seu município sem peias políticas a eles resta só um caminho é fazer uma boa administração despida de toda e qualquer ranço político.
Com seu pensamento dirigido aos bons empreendimentos sem visão política e partidária eles serão os responsáveis por tudo de bom ou de ruim que acontecer no período do seu mandado em seu município.

Vamos acabar com essa de que partido é quem manda em administração publica que realmente manda são seus administradores capazes de realizarem uma boa administração, sempre visando o melhor para o seu município, mas para isso impõe que esses homens de dispam do maldito orgulho de aparecerem na mídia nas inaugurações, o que realmente deve são suas obras que será a maior publicidade diante dos seus contribuintes, que naquele momento vem aplicação honesta dos tributos pagos ao erário.

Aqui faço um apelo como cidadãos desse país façam política no momento das eleições, mas nunca façam política para administrar a coisa pública.
É isso que vêm denegrindo a ética de nossos políticos administrarem um País, um Estado, um Município.

Difícil é entender estes entes públicos pago pelos contribuintes, quando no seu múnus de administrar a coisa pública não o faz com lisura e honestidade, tudo isso dói no coração dos contribuintes são a más versões do dinheiro dos mesmos e que muitas vezes vai enriquecer a iniciativa privada com custos muitos elevados, um exemplo bem claro é a publicidade pública evasiva sem retorno ao erário que a faz deveria ser banida de todo tipo de administração pública que tem origem na esfera dos governos Federais e Estaduais e Municipais a publicidade deveria ser a obra pronta e entregue a sociedade seria o clímax do administrador público naquele momento, certa vez um estudante secundarista escreveu num trabalho escolar assim: “Quem deveria cortar a fita numa inauguração de qualquer obra pública deveria ser os contribuintes e não o governo que a realizou, ele foi um mero administrador do dinheiro do contribuinte”, será que nossos administradores teriam uma idéia luminosa como à deste estudante? Ou continuarão administrando tudo na base dessa esdrúxula e suja política que vivemos nesse instante em nosso país.
E ainda mais quem paga o pato de tudo isso é o contribuinte brasileiro.

São José/SC, 23 de abril de 2008.
www.mario.poetasadvogados.com.br
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Foto de Dennyse Psico-Poeta

Embriagada

De madrugada
Em um quarto vazio.
Rua deserta
De uma cidade qualquer.
Embriagada por um dia cansativo
Por um sono interrompido
Uma música
Um hino
Por saudades de um menino.
Na madrugada a voz baixa
O sentimento numa caixa
Vai ficar?
vai passar?
O quê?
Só o tempo pra falar e acontecer.
As horas passam
E eu continuo aqui...
Como expressar o que acontece em mim?
Como saber se acontece com ele...
Se acontece algo dentro dele...
Ele investe
E eu insisto.
Ele fala
E eu grito.
Ele pergunta
E eu penso.
Eu respondo
E ele tá tenso.
Gosto dele assim,
Mas o quero mais perto de mim
Face a face para fazer um pedido
Quero olho no olho
Quero frases no ouvido.
Na madrugada
Embriagada
Penso em você.
Que tá distante
Que se esconde
Que pode me perder.
Na madrugada
Apaixonada
Faço uma canção.
Ouço um sino
Ouço o menino
Ele embala o meu coração...

Foto de Bira Melo

RAINHA DAS FLORES

Vivo numa cidade
Pacata, atrasada, sei não...
Limpinha, bonita e atraente
É um bom pedacinho do sertão.

Lá não tem luxo,
Luxo, nem bailes ou sedas
Lá somente, somente tem bares
E nos ares da maledicência
Me disseram é o dono dos mares.

Leio livros,
Cordéis,
Pinto quadros,
Ouço músicas,
Vejo MTV
E por morar em tão bela cidade...
Só não quero morrer por ali.

Moro numa cidade
Que para o Castro Alves
A Sultana das Flores, era ela
Para mim é a Rainha, sei não...
Embora triste esteja agora por ela, ou não...
Contemplo e vislumbro de minha janela
Seu belo luar do sertão.

Bira Melo*
*direitos autorais reservados "in" Anjinho de Carvão.

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"LEIRIA, BÉLA CIDADE"

“LEIRIA BÉLA CIDADE”

PIUIIII....PIUIIII...PIUIII....
Lá vem o trem, lotado de versejador...
Chega um pouco atrasado aqui...
Mas, muito cheio de amor!!!

Tem poetas de todas as localidades...
Poetas cheios de humor...
Poetas que escrevem a saudade...
Mas, sobretudo poetas que relatam o amor!!!

Vamos parar em Leiria, uma linda cidade...
Ali vai embarcar a Darsham...
A poetisa da verdade...
Vamos dar uma pequena volta...
Para embarcar o Manuel neves...
Ele esta em Lourosa...
Mas partiremos em breve...
Iremos a Olhão...
Arrebatar a Vânia Santos...
E partiremos na escuridão...
No trem dos encantos...
Com nome de Diva lusa...
Embarcaremos em Lisboa Amália Lopes...
Aqui ninguém se recusa...
As emoções chegam aos golpes!!!

O trem do irmão Marcelino...
Desliza suave nos trilhos da alegria...
Faz-nos sentir a todos, meninos...
Compondo em extrema sincronia!!!

Da viagem encantada...
Jamais iremos esquecer...
Ler e escrever sobre esta incrível jornada...
Faz meu coração reviver!!!

Foto de Lou Poulit

CANTOS RECENTES DO POETA PASSARINHO (PROSA E VERSO)

BLASFÊMIA

Porque eu não quis o fardo de perdê-la, com cada dardo de luz a sua estrela moça me apunhala; mas o tempo entre nós, de dedo em riste, fez-me triste pela sua intangível plenitude. Em quietude, reflito. E me lembro da sua pele tesa, ansiosa sobre trêmulas fibras, me comendo como a uma jovem presa predada às sombras frescas do dia (hoje dessa minha tristeza). Como esquecer suas tramas ingênuas, de uma mulherice de reações rosadas vestida de saltos e brilhos para a noite? Como resgatar tão tênues limites tangidos pelo olhar, quando dissimulando bramidos e silêncios de um improvável e profundo mar fazíamos concessões fugazes, como espumas na areia?

Porque como um bardo adolescente eu quis detê-la, e ao seu instinto inevitável na ponta dos pés, a sua estrela ferida por outro vagueia ao rés dos meus exílios e possui os brancos fartos dos meus pelos, sem pressa, até dos meus cílios, ferrenhas grades dos porões dessa minha lágrima tardia e inconfessa. Reflito. À beira de penhascos resvalo, e reflito. Sob o trepidar dos cascos da memória me ralo, mas ainda reflito. Mesmo ao engasgo com que rasgo os vazios subterrâneos da minha decrépita esperança, desesperadamente reflito!... Até que refletir seja apenas um estratagema, ignóbil, imperdoável e ironicamente necessário, que à transitoriedade de tudo blasfema: o amor não tem idade!

Mas é tarde. Porque entre a reflexão e a lágrima já não há vago, é tarde. Porque a certeza que trago caminha de bengala, porque não se cala mas já não trama, é tarde. Porque o fim de quem ama não está no decurso do tempo nem no percurso da distância, mas na vagância de não amar; nem na demência da moral nem na presença de juízo, mas na ausência de saudade; o fim de quem ama está em não se exercer o tempo. A melhor de todas as minhas descobertas fora encontrar, nas flores abertas, o divino de cada mulher, em que devia crer como menino; mas a pior de todas as minhas íntimas blasfêmias, foi não me prostrar ao que sempre houvera crido nas fêmeas.

(Itaipú, mar/2008)

AMANTE EU ME QUIS

Amante eu me quis
E ela quis-se prenda
Cio e cena, senda
De uma bela atriz;

Jugo e julgamento
Paguei preço justo
Mas depois, que susto...
Mesmo hoje inda tento

Inda quero e busco
Tombo ávido e brusco
Nos dorsos da vida:

Quem sabe, com sorte
Morro inda de morte
Do amor comovida.

(Itaipú, mar/2008)

ERGUE-SE A VIDA

De sob o tempo indolente de um caminho íngreme e da sua penitência, de descer sem resvalar para saber como voltar, de não ter a quem contar como devesse ser julgada, e saber que a solidão voluntária mais que um direito é uma dádiva, ergue-se ávida a vida.

De sob julgamentos ilegítimos, os ritmos do destino crido, o protagonista interino, ferido pelo próprio veredicto, o bailarino das sombras, refém das próprias luzes, exilado no silêncio e na castidade, banido remido da cidade profana, nele ergue-se a vida, soberana.

Porque o amor não é óbvio como a nudez que se revela, porque se a procela íntima jura e insulta, a paixão mesmo impura indulta a florada dos espinhos... O amor não tem caminhos e caminha mesmo longe dos aplausos, como um monge velado por sua estrela, selado por seu arcano... Meu amor é pela vida um amor humano.

(Itaipú, mar/2008)

ANTES

Antes que me profane esse céu que eu mesmo criei por querê-la, tanto, de minha alma tardia como seu leito tardio... Antes que me sacuda um aplauso de mim mesmo arredio, e a chama expire e repouse sobre a cinza o pavio e soluce a sombra do que antes fomos... Antes que a paixão, descida dos seus tronos, renuncie à nossa milenar cumplicidade... Antes que essa saudade me deserde dos seus hormônios, pelos meus poros, posseiros das minhas estrelas, juízes dos meus himeneus... Mas antes!... Antes que meus rasgos desalinhados sejam remendados por impura compostura e se recomponha o herdeiro das idéias, dos golfos nas traquéias por impostura, a criatura completa perdida da sua costela, incontinente em sua cela: solidão... Oh, antes que uma vergonha aflita me possua e a desdita lembrança dela, inconha e nua, toque fundo no berço o sonho que já não sonha... Poesia!... Oh, minha poesia, arrebata-me das palmas desse papel frio e sedento! E colha-me em teu colo colossal... E recolha meu corpo estilhaçado, poro a poro, esse impagável fardo em que ainda agora eu ardo e evaporo, incomodado, sobre uma chama abissal.

(Carioca, mar/2008)

POR QUE SE ME DESTE?

Porque se me deste manhã, quando já não havia um luar que me oferecesse a sua esmola, implora esse meu amor agnóstico por um crepúsculo de relâmpagos e lama, arrastando-se o leito cósmico, em que se alargue bem, e aos poucos, com roucos protestos, o inventário dos meus futuros restos, aos punhados, desapunhalados dos tremores que acarinham o gozo que me assola... Eis, enfim, a mais desejada esmola!... Ah, por amor mais se amarga a ausência do que se alarga o silêncio na distância, e mais se erguem vãs defesas do que se embarga a manhã de ilesas estrelas... Pois o amor não tem sentido em si mesmo, porque dar-se exige quem o receba, ao alcance do tato! E porque o fato... É que não suporto mais essa espera! Apenas um momento quisera. Depois quis o tempo de espera. Mas o amor exagera e agora só quer tudo, o tempo todo. Não transige, não mente e mais se sente nada, tanto, tanto... Oh, por que tanto assim se me deste, Manhã?

(Carioca, mar/2008)

ESPANTALHO

Amo... Eu amo essa mulher. E se tanto eu não a amasse hoje que ruge e fulge no poço o anjo quando ela se debruça sobre o céu grisalho, eu seria tão injusto quanto um fútil amante, plantando em meu peito um inútil espantalho. Pois que se deite comigo à nossa colheita e abarrote as suas entranhas de sementes e acolha esse rio meu de estrelas cadentes (e o seu silêncio morno) à espreita
dos nossos futuros percalços, inseguranças, intrigas, ciúmes, brigas e tudo que desune. Protegido, esse nosso amor permaneça imune e ao mais profundo arrebatamento desça.

Amo... Eu amo essa mulher. E se tanto eu não a amasse em lucidez, nem fosse a sua tez a aurora dos meus escuros (toda vez que o amor se mete em apuros), o espantalho, refém do próprio espanto, em vez de um encanto seria um anjo degredado. Pois que venha o amor à mesa, e a sua chama acesa ao fio dos olhares, sobre a comovente juventude dela e a minha paixão, essa cadela indecente... Pois que se mantenha o indignado julgamento alheio longe do dorso amado, sem nenhum arreio, veio profundo dessa droga genérica, minha liberdade homérica e indigente.

Ah, como eu amo essa mulher, tanto... Com o vigor de cada fio branco, quitado com a minha velha juventude inquieta, que me arde o peito franco de poeta enquanto guarde o quanto exerça o espantalho, emancipada do talho, a emoção da minha amada.

(Itaipú, mar/2008)

CALÇADAS DESSA NOSSA VIDA URBANA

Calçadas dessa nossa vida urbana... A insana crença de ser e estar sempre dando uma chance ao destino, ser solto no mundo e, ao mesmo tempo, estar como na sala, receber e ser também recebido e, em compartilhada privacidade, desarmar o proibido. Sobretudo a nossa libido, assenhorada, indultados de habitá-la.

Alçadas pela divina verve humana (que assim profana que se preserve) ao dossel da densa solidão da urbe, por mais que lhe conturbem as dívidas das tão vívidas ilusões tão frágeis, ah, as nossas calçadas intermináveis são retos labirintos de preces devotadas, de penitências e caçadas. Nenhum decreto, nenhuma vela acesa... Qualquer promessa liberta a alma, ilesa de ser no fundo só e íntima do exíguo (ínfima queixa que nem vale à pena); à lua plena, quem precisa de liminares em lugares onde os olhares, como floradas, defloram a jurisprudência do desejo?

Pois na minha calçada predileta, hei de plantar ainda uma placa. Mas uma placa de poeta, como convite póstumo a Baudelaire e Pessôa, onde escreverei: "VOILÁ LA VOLUPTÉ". Por que não? As paixões são também portuguesas, como as volupitosas pedrinhas de Copacabana! E em baixo: "MOI ET TOI". Onde habitamos e somos habitados...Oh, as calçadas dessa nossa vida urbana.

(Itaipú, mar/2008)

ME ABDUZA

De manhã, a manchete de hoje era um salto de espinha abaixo, sem truques nem cambalachos, sem volta, sem escolta... Implume, à beira do ninho. Imberbe ao fim do caminho.

Mesmo sem ter a quem pedir ajuda ou conforto, nem morto, meu coração, eu te renego. Não te nego o direito (nem ao torto) agora que enfim tuas dívidas cairão do prego, que virá ela pousar plena ao meu tão sonhado alcance... Não caia o poleiro, o verso não canse. Porque voa essa pássara no rumo em que lhe aguarda o amor e a poesia... Pois, que à revelia ela arda! Pois que a valia de arder é ter amado.

Mas não espero ser meramente amado pelo seu amor medido em eras de anos-luz. Nem apenas seduzido. Quero ser em verdade abduzido! Varrido e vasculhado, desidratado pela cauda de um cometa, que me reduza à uma lágrima de mulher... Ah, Pássara, me abduza.

(Itaipú, março/2008)

SE FOSSE TANTO O AMOR CRUEL

Tomou-me, ufano e covarde à faina da velha bateia, à tarde, de ser notado por tardios, preciosos olhares, roubados ao céu e ao mel mas curvados ao seu e ao meu: um desertado amor magoado.

Era tanta, tanta a sua mágoa, a dessedentar-se no meu espanto, que pensei: se fosse tanto o amor cruel não cantaria seu canto a cotovia, não haveria o sonho de amar, nem (que falhassem) tantos venenos, e nossos enganos seriam pequenos.

Devolveu-me esse amor (que ainda arde) a mim mesmo, depois e a esmo, numa calçada sem esquinas: se fosse tanto o amor cruel as minhas amadas seriam todas bailarinas e aos seus palcos (tão mais ardidos) talvez me faltassem proteínas.

(Carioca, março/2008)

PINTURA FRUGAL

Súbito, nas palmas da lua o tema...
Plena e deserta a tela implora a cena
Como um teorema a ser consumado.
Ávida e nua, dádiva a ser consumida.

O amor usa de sofismas só seus
Para nos converter em cismas suas.
É demônio e é santo. Até deus!
Doando luares como hóstias cruas.

Traços, aguadas, promessas, primícias
Devassas servidas, doces sevícias...
A arte é um coito que nunca termina.
Pierrô afoito. Oh, afoita colombina!

No epicentro de um pouco épico tombo
E no assombro de um gozo nem tão estético
Em que a febre viceja (e a alma a deseja)
O artista verseja, quase profético:

Pintura frugal, a dar-se a mim estreito
Hás, limiar, de dar-se além do leito.

(Carioca, março/2008)

CANTOS GAIOS

Eis a vida, aos pés da sorte.
Um sonho galgo, galgando gratas misérias
Sem temer tombos e trombos que suporte
Nos largos ombros do anjo que lhe vier.

Donde vejo essa, na estratosfera
Perdoaria Dalila e acudiria Prometeu
Porque a eternidade é uma quimera
Para um amor tão generoso como o meu.

Do que entre fatias fugazes de amenidades apenas
Fazendo mágicas tenazes (nem tão amenas)
Seria eu eterno e inteiro entre seus dedos
Mais à vontade do que no caderno do jornaleiro.

Ah, eu pagaria com juros as minhas juras
Doando-me a ler todo dia o jornal de ontem
Só para recair de todas as minhas curas!
E loucamente amar de novo... Oh, cantem

Ao precipício entre os olhares e aos seus soslaios
Meus pássaros, os meus cantos gaios, cantem.

(Carioca, fevereiro/2008)

ESGUICHO

Um esguicho aspergindo agonia tingiu o nicho escuro da minha auto-estima, com tons claros de uma líquida e morna alforria. Eu corria tanto. Corria e corria... Como um bicho sem paz eu zanzava, sem sair jamais do lugar em que estava; preso no visgo, vesgo de amor eu não via meus escombros na poça (a que fiz jus!), do corte certeiro de um raio de luz.

Dissimulada, a estrela que fez isso (do instinto intangível, íngreme e insubmisso o poeta dócil, submerso no esgarço do velame e acoleirado pelo verso ao firmamento) quer apenas que eu ame. Ame e ame... E escame o brilho d’alma ao vento. Mas o amor teme a própria catarse e por uma múltipla entorse (do salto para dentro) exila-se num centro em que tudo se lhe roce.

Ah, o amor que desnuda e desarma... O penitente que em sua Compostela espera ungir-se com os estilhaços da janela, no entanto preserva os cordeiros do vitral; até que converta-se a noite atéia em dia, e a alcatéia em coral e a teia casta da anorexia em um esguicho lustral.

(Carioca, fevereiro/2008)

UM RAIO INSUSPEITO E ARREBATADOR

Um raio insuspeito e arrebatador entre opostos exílios, antes tramados por escolhas colhidas à razões tolhidas, nos fez amantes desertados.

Quando nada os detém, olhares detonam uma reação em cadeia servida à ceia de um desejo vasto, em que sós nossas testemunhas somos, ideais sem pejo de aias e mordomos, comensais intrépidos em tépidos covis...

Oh, tépidos covis da madura idade!
Oh, ledos covis sem cocho ou grade!

Um olhar insuspeito e arrebatador do exílio colheu-me e comeu-me à flor da minha abissal leviandade; a lágrima fringiu-se e evaporou-se, cingiu-se de cinzas o peito que a trouxe, decerto, meus covis hoje correm a céu aberto.

(Engenho Novo, fevereiro/2008)

JARDIM DO ABISMO

Nem eu me lembrei do tempo nem ele se apercebeu da minha ausência, mas se agrisalharam os meus pelos... Nem eu quis vertê-los nem capturei os seus buquês, mas os momentos voaram do cálice... Seixos que um dia, talvez, encaixem-se, a memória amontoa, assim à toa, cobertos de pó nos recônditos do absurdo... Em cada beijo um estalo, eco surdo de lirismo, que roga um resvalo à nudez das paredes. Ah, os dias sem amar... Ajardinam o fundo do abismo.

(Largo da Carioca, fevereiro/2008)

TEZ SEM EXTREMOS

Ah, porque ela não tem na tez extremos
(Salvo os olhos, que também são morenos)
Pouso a alma e vejo o meu próprio reflexo
Porque o sexo, estância além do mundo

Rio profundo, caminho estelar
Grafara n’alma, ao silêncio das curvas
Feitas sem o zelo de me tomar
Dos limites: A morte não me quis.

Restou, feliz, este amor são e salvo
Alvo das suas perguntas tolinhas
Rangendo as janelas donde as rolinhas
Nos espiavam, pelas persianas;

Em preces profanas, tão doidivanas
Sim, eu amei... E como nunca soubera;
Porque não era o fim a antiga era
Porque eu não estava ainda preparado.

Pouso alado (ao lado a tez sem extremos)
No ermo lúcido do amor em que cremos.

(Carioca, fevereiro/2008)

VENHA

Venha, porque eu tenho
Bem mais do que fui
E donde hoje eu venho
A dor não possui;

Venha, porque trago
Bem mais do que cabe
Neste meu vago
Que ninguém mais sabe;

O meu sonho é um salmo
Na tez d’alma escrito
Com letras de um palmo
E ainda a ser dito:

Se o afago perpassa
A tona do lago
E é luz o seu cio...
É o amor que trago

Guardado e tardio...
Divina devassa.

(Carioca, fevereiro/2008)

QUISERA O AMOR QUE EU AMASSE

Quisera o amor que eu amasse
Tanto, tanto ele quisera
Que ao desarmar-se o amor que era
Ele antes me devassasse.

Quis o amor assim tocar-me
Tanto, tanto, o sol ao lis
Que o céu que de mim eu fiz
Devassou a minha carne!

Será sempre o amor assim.
E eu serei sempre o que sou
Sem saber mais que soubera.

A me armar, como arlequim
O amor vem (quem nunca amou?)
Deserdar-me do amor que era.

(Carioca, fevereiro/2008)

ME SABER ME BASTA

Eu dissimulava por onde fosse. Cantava o tempo todo. Sussurrava, depois quase gritava. Ah, eu cantava, cantava, cantava... A música era a da amada, sua preferida. Eu a tomava emprestada. Se pudesse, seria capaz de roubá-la! Eu dissimulava perdidamente. Colhia todos os olhares do caminho mas só ficava mesmo com os dela... E com a carne úmida dos sorrisos e o risinho tímido dos mamilos e o andar, que mal tocava os pisos, e os glúteos. Glúteos? Oh, comprimi-los...

Eu dissimulava enquanto ria de mim mesmo. Não por auto-piedade ou desestima. Eu dissimulava piamente! Ela era um templo, uma porta entreaberta. No nicho, uma absolvição além da palma, roçando a alma como açoite de dia, de tarde e de noite, vazando entre os dedos da mão tenaz. Sonhada... Uma graça fugaz sob a coberta de credos e dogmas deserta. Generosamente incontinente. Mas até seu resíduo era emprestado, como tudo o que era dela crido. Até que da vidraça fez-se o alarido de miríades de estrelas, janela afora vazada.

Mas não doeu nada, não doeu nada... Eu mesmo fiz isso. Avidamente eu mesmo fiz isso... Não há mais no que crer. Me saber me basta.

(Itaipú, fevereiro/2008)

O ESPELHO E A BAILARINA

Esse amor meu de poeta...

Cuja paz decreta e se professa ungida
Que, impune, confessa ser a própria sobrevida
Do réu imune, ao rés de mais uma vez tocá-la
Com um arrepio de sopro, pele tão desejada...

É uma montanha que jamais se cala!
Mas resvala e em profundo silêncio se esbate
No magma de um improvável vate.

Dentro dela habita uma estrela antiga
Que sussurra uma cantiga e nina a emoção
De ser a mansão e a monção da bailarina
De infladas cortinas e peito pronto a se fender...

Oh poesia das entranhas do ensandecido
Sou eu que fendo! Sou eu que fendo! Eu, a montanha...
Ao gume úmido, entre arabesques colhido...

Na poça, em que de versos me embriago seu
Tombam a lua e o gozo com que pago eu
As minhas brancas súplicas no breu da fonte...
Então... É a poça que seduz o lago?...
Ou a dor de amar? Que a ninguém se conte...

Esse amor meu de homem...

Cujos olhos comem a carne emancipada
E que verte o sonho e o seu torpe inchaço
No levitado abraço do amor da amada
Não aconselha jamais o que se cobre...

Mas esse nobre amor meu sempre a espelha
Concede a verdade e a fantasia e as espalha
Aos dentes da noite e aos palcos do dia...

Que dentro do espelho havia nela um abismo
Por cujas paredes o seu sismo, que a desvalia
Refém das suas areias e dos meus espumados dedos
Escorregava e em mim cravava velhos medos.

Oh céus dos meus sentidos
Eu fui o mar! Eu fui o mar! E o espelho-mar...
Mas sou agora os rochedos... No olhar, bramidos...

A moça, estrela cujo sonho na poça repousa
A senhora da lousa, de sapatilhas desatadas
Confia como as fadas no amor frugal, mas ferina
Despetala o seu amor de bailarina, cada centelha à mó
Do aço nu... Do espelho amado que a espelha só.

(Itaipú, Fevereiro/2008)

HOJE A CELEBRO, TÃO GUARDADA

Não era minha, nem tua
A mão que encrespava o mar
Pastoreava o vento
E escavava os grãos de areia...

Nem na vinha, nem na lua
Nem ao amor restava amar
Tão doce, o resto lento
Mais que o sonho pastoreia...

Era d’alma dos amantes
Que, indelével, o tempo habita
Montando em pelo a delícia
De sermos assim da vida

Ermos d’estrelas distantes...
A lembrança mais bonita
(a mais eterna primícia)
a emoção na voz contida

Celebrada, tão guardada:
Como, Sempre, és tão amada...

(Itaipu, mai/2007)

PREDESTINAÇÃO
(Poema Tríptico)

Manhã I

Há dias, Mulher, em que dias hibernam
Como cios em que se deveria amar.
E dias que tardios anunciam:
O amor vem... E nada o poderá evitar!

Como ígneos folguedos cósmicos
Astros saltam reluzindo, acima do mar
Das profundezas do desejo vindos.
E na areia a luz de um gozo rendado
Extrema unção de um amor guardado
Prenda-fruto do silêncio e da madrugada...

Ambas fugidias...
Nossa alma vagueia
Como fossem dois dias.

Tarde II

No entorno do sol se ergue uma ciranda
De palmas morenas escritas por Deus...
Os sonhos meus andam apenas
Centúrias pequenas, que eu mesmo cri.

No entorno da rua em que habitam passos meus
Não quis Deus nenhum cão nos portões
Mas vagalhões vieram de longe
Ilhar de olhares vários meus olhos perdulários
E varrer do poente os meus azimutes de monge...
O rastro não mente, eu mesmo o escrevi.

Areia antiga...
Que amor te trouxe, Branca, a perdê-los
Os brancos fios dos meus cabelos?

Noite III

No fundo do covil, ao rés do céu,
Prostrou-se (quem viu?) o cajado como um manto.
Nenhum fogo apagado aquece tanto...
Só a morte em que não se morra, só a borra de aço-mel.

Ah, Tristezas, que me fizeram dulcíssimo mecenas
Palmas morenas (em que eu não previ proezas)
Te aguardam, madalenas,
Porque uma só Madalena haverei de tocar, tanto...
Mesmo antes de chegar, sanha e pranto
Essa vaga já me alarga, com o tanto que é feliz.

Desencanto: Dalva-Lis...
De lãs que não vesti mas, por um triz, já me afaga.
Há manhãs, Mulher, que jamais teriam paga.

(Itaipú, 30/ago/2007)

ANIVERSÁRIO DA MIXINHA

Hoje celebro uma estrela, extrema estrela velada pelos véus de antigas eras, de fogaréus, de esperas, quimeras, deveras dada; que em silêncio crepita n’ara desdita que lhe valha a dor do peito. Acalenta. E por direito se apascenta dos lapsos de um anjo canalha...

Hoje celebro uma fêmea, efêmera crença minha, roubada a um conto de fadas por arcanos, comezinha; e por anos de vigília, ppr um gozo que eviscere a plenitude, em que se esmere a rapsódia do claustro. Fausto íntimo, fausta chama, que só não cala a quem não ama.

Hoje celebro uma luz que só nus temos por nossa; querer bem a um anjo alado, de um querer que não se apossa, é um amor iluminado, que não se pode tocar sem que se toque a si mesmo, por inteiro. É o amor mais verdadeiro... Inconho amor, já por si mesmo tão naturalmente celebrado.

(Itaipú, maio/2007)

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