Chuva

Foto de Sonia Delsin

PÁGINA VIRADA

PÁGINA VIRADA

Escorre. Água escorre.
Lava-me toda.
Escorre feito cascata sobre meu corpo...
deste meu tempo de agora.
Escolhi um tempo para esta chuva.
Escolhi este campo de trigo onde me deito.
E sinto esta chuva a escorrer por todos os tempos passados.
Por este tempo que não existe.

Esta chuva me purifica.
Me lava a alma.
Mesmo que ela não exista.
Que não exista este campo.
Nem esta exposição de minha nudez à chuva.
Mesmo que este meu corpo não exista.
Minha alma lá está e escorre tanta água.
Estou purificada... mesmo que o campo de trigo seja tão só...
uma estória contada.
Tão só uma página virada.

Foto de Raphael Miranda

O branco e o azul

Tudo na vida passa

até uva passa

só não passa se virar vinho

no coração

ficar somentes espinhos

no olhar

a tristeza de um menino

na sua frente

o desespero eminente

de não ser mais contente

sem fada dos dentes

de viver na solidão

sem amor em suas mãos

se lembrar do coração

que te tirou da escuridão

e ao se tocar

vai olhar e não achar

aquele que te deu um lar

na morada do conto de fadas

e vai notar

que o cavalo branco corre só

que a realidade faz o conto virar pó

sem castelo e sem rei

o tesouro se perdeu

o principe envelheceu

o amor enfim derreteu

o vermelho do peito de ferro

que nunca se fere

ao menor dos atos

como o de amar ou gostar

no sonho de cavalgar

com o branco e o azul

entre as nuvens do céu claro

o sol brilhará forte

como quem vem do norte

se chuva acontecer

o jardim vai florecer

no peito de quem um dia

irá adormecer

nos braços de quem

sempre existiria

nos contos de Gonçalves Dias.

Macaé, 14 de Setembro de 2009, "O branco e o azul" de Raphael Miranda.

Foto de Raphael Miranda

O branco e o azul

Tudo na vida passa

até uva passa

só não passa se virar vinho

no coração

ficar somentes espinhos

no olhar

a tristeza de um menino

na sua frente

o desespero eminente

de não ser mais contente

sem fada dos dentes

de viver na solidão

sem amor em suas mãos

se lembrar do coração

que te tirou da escuridão

e ao se tocar

vai olhar e não achar

aquele que te deu um lar

na morada do conto de fadas

e vai notar

que o cavalo branco corre só

que a realidade faz o conto virar pó

sem castelo e sem rei

o tesouro se perdeu

o principe envelheceu

o amor enfim derreteu

o vermelho do peito de ferro

que nunca se fere

ao menor dos atos

como o de amar ou gostar

no sonho de cavalgar

com o branco e o azul

entre as nuvens do céu claro

o sol brilhará forte

como quem vem do norte

se chuva acontecer

o jardim vai florecer

no peito de quem um dia

irá adormecer

nos braços de quem

sempre existiria

nos contos de Gonçalves Dias.

Macaé, 14 de Setembro de 2009, "O branco e o azul" de Raphael Miranda.

Foto de Raphael Miranda

O branco e o azul

Tudo na vida passa

até uva passa

só não passa se virar vinho

no coração

ficar somentes espinhos

no olhar

a tristeza de um menino

na sua frente

o desespero eminente

de não ser mais contente

sem fada dos dentes

de viver na solidão

sem amor em suas mãos

se lembrar do coração

que te tirou da escuridão

e ao se tocar

vai olhar e não achar

aquele que te deu uma lar

na morada do conto de fadas

e vai notar

que o cavalo branco correr só

que a realidade faz o conto virar pó

sem castelo e sem rei

o tesouro se perdeu

o principe envelheceu

o amor enfim derreteu

o vermelho do peito de ferro

que nunca se fere

ao menor dos atos

como o de amar ou gostar

no sonho de cavalgar

com o branco e o azul

entre as nuvens do céu claro

o sol brilhará forte

como quem vem do norte

se chuva acontecer

o jardim vai florecer

no peito de quem um dia

irá adormecer

nos braços de quem

sempre existiria

nos contos de Gonçalves Dias.

Macaé, 14 de Setembro de 2009, "O branco e o azul" de Raphael Miranda.

Foto de Bruna matias

Apenas Eu

EU?
TALVEZ EU SEJA APENAS UM VULTO DE EXISTENCIA
ENTRE O CEU E O INFERNO,
UMA CHUVA PASSAGEIRA QUE SURGE NO BREU DA NOITE
E DESAPAECE EM UMA MANHA RASGADA PELOS RAIOS DE SOL
UMA SIMPLES CONFUSÃO NA INCERTEZA DE VIVER OU MORRER.
TALVEZ O SIM E O NÃO NA CONFUSÃO DE IR E VIR,
O PASSADO DE HOJE E O PRESENTE DE AMANHA,
MAS NUNCA O FUTURO DE AGORA.

TALVEZ EU SEJA O REFLEXO NO ESPELHO
INVERTIDO DO QUE DEVERIA SER,
TALVEZ EU SEJA A CONTRAMÃO NA RODOVIA INTERDITADA,
TALVEZ EU SEJA O SIM E O NÃO ENTRE ESSE OU AQUELE,
UMA APARIÇÃO ENVIADA POR NÃO SEI QUEM...
OU TALVEZ EU SAIBA...

UM SIMPLES SER POR TER, O QUE OUTROS NÃO TEM.
APENAS SER PARTE DE CADA COISA QUE ME RODEIA
OU O NADA DO QUE EXISTIU
UM ESPAÇO EM BRANCO DE UMA CARTA ESCRITA EM VERSOS
OU A ESCRITA COLORIDA DE UM DESENHO PRETO E BRANCO.
A LIGAÇÃO ENTRE COISAS DISTANTES,
OU O MEDO DE PESSOAS PRESENTES...

EU SOU O QUE SOU,
SOU APENAS EU.

Foto de Arnoldo Pimentel Filho

NADA É ETERNO

Nada é eterno
Nem as vezes
Que entrei em seus olhos
Pela ponte dos meus sonhos

Nem os dias de chuva
Que a vi embarcar do ônibus
Com os cabelos molhados
Para nunca mais

Nem os muros que separam
A vida do tempo
No fim do meu pomar

Nem meus olhos
Que se fecharam
Para me abandonar

Foto de LU SANCHES

Enriquece Minha Vida

Amor...
Tão belo
Puro
Sincero
Verdadeiro

Sol que ilumina
Na negra noite incendeia
Se a chuva cai é cristalina...
Vento que trás o aroma das campinas

Lua cheia de brilhantes
Enriquece minha vida!
Felicidade que transborda
Em uma tarde colorida...

Foto de Edson Passos oliveira

"A Luz Da Minha Mãe"

Meu primeiro dia de vida
Meu primeiro choro
Meu primeiro contato
Eu já sentia seu amor
Que me fez sentir amado
E protegido por você mamãe

O tempo passou, pouco a pouco
Você acompanhou meus passos
Meus risos, meus choros
E se alegrava com minhas alegrias
E se lamentava com meus fracassos

Sempre ofereceu sua palavra
Seu conforto, seu ombro amigo
No momento que mais prcisei
Você estava ali, bem perto
E o alicerce se fez

Aquele menino aprendeu, cresceu, caiu
Das voltas que o mundo dar
Eu chorei sua partida
A dor infinita
A chuva sobre meus olhos

Eu senti o escurecer
Um abismo sem fim
E uma luz que não chegava
Passo a passo seguir
Pra ver se achava a saída

Ao chegar perto da saída
Vi a luz da minha mãe
E a chuva que caia sobre meus olhos
Veio sobre a boca o sorriso
E a luz que eu procurava

Eu nunca a perdi
Pois ela estava dentro de mim
E essa luz eu a levo
Nos momentos de luz ou treva
Pois você mamãe é tudo isso pra mim.

Edson Dias

27/08/2009

21:41hs

Foto de cafezambeze

PANDORO - INCULO E OS HOMENS LEÃO (UM CONTO AFRICANO)

PANDORO - INCULO E OS HOMENS LEÃO

NA SERRA DA MURRUMBALA, A NOITE NA PEQUENA ALDEIA SE AGITOU.
LUZES DE TOCHAS E CANDEEIROS SURGIRAM NA ESCURIDÃO,
ZANZANDO DE UM LADO PARA OUTRO, QUAL VAGA-LUMES.

O LEÃO BATERA NA PORTA!
ELE ARRANHARA A PORTA!
O LEÃO LEVARA A VELHA MULHER!

OS HOMENS SE REUNIRAM ARMADOS COM AS SUAS AZAGAIAS.
DE MANHÃ NÓS VAI E PEGA ELE! NÓS PEGA ELE!
NÃO! AGORA! TEM QUE SER AGORA!
GRITAVA, IMPLORAVA DESESPERADO INCULO, O FILHO DA VELHA SENHORA.
MAS A NOITE ESTAVA ESCURA COMO BREU...AMANHÃ NÓS VAI! INSISTIAM.

INCULO CHAMOU SEUS DOIS FILHOS.
NÓS VAI SÓZINHO! PEGA O CANHANGULO E AS AZAGAIAS!
INCULO E SEUS FILHOS SE EMBRENHARAM NA MATA QUE LOGO ENCOBRIU A
CHAMA DAS SUAS TOCHAS.

DEVAGAR, ATENTOS A UM RAMO QUEBRADO, UMA PEDRA VIRADA, UM FARRAPO
DA CAPULANA DA SUA MÃE...
HAVIA UMA TRILHA RECENTE SIM, MAS DE LEÃO?
INCULO ACREDITAVA EM FANTASMAS, MAS ERA A SUA MÃE E NÃO SERIA
FANTASMA OU O TEMÍVEL PANDORO QUE O FARIAM PARAR.

HORAS DE AGONIA SE PASSARAM. INCULO, NÃO SÓ DE NOME, TEMIA O PIOR.
NA SUA MENTE SE FORMAVA UMA IMAGEM DE HORROR. OS HOMENS LEÃO!
GENTE QUE COMIA GENTE. ELE JÁ OUVIRA FALAR E NÃO ACREDITARA.

JÁ RAIAVA O DIA, QUANDO ELE FINALMENTE OS AVISTOU NUMA PEQUENA CLAREIRA.
ERAM CINCO, OS DESALMADOS REUNIDOS À VOLTA DOS RESTOS DE UMA FOGUEIRA.

O CORPO DESCARNADO DE SUA MÃE, JAZIA ABANDONADO PERTO DELES.
INCULO SOFOCOU O CHORO. CHAMOU SEUS FILHOS E TIROU-LHES
DA MÃO O VELHO CANHANGULO. A ARMA ESTAVA PRONTA.
MIRANDO CUIDADOSAMENTE, ELE DISPAROU UMA CHUVA DE
METRALHA NOS FAMIGERADOS BANDIDOS.
DE PRONTO, ELE E SEUS FILHOS SE LEVANTARAM URRANDO E
ARREMESSANDO SUAS AZAGAIAS.
OS COVARDES HOMENS LEÃO, FORAM TRUCIDADOS SEM PIEDADE.

ENTÃO, INCULO CHOROU COMO UMA CRIANÇA.

RECOLHEU CARINHOSAMENTE OS RESTOS MORTAIS DE SUA MÃE
E VOLTOU PARA A ALDEIA. NÃO FALOU COM NINGUÉM.
NO MESMO DIA, ENTERROU SUA VELHA MÃE E FOI EMBORA COM
TODA A SUA FAMÍLIA. DO INCULO, NINGUÉM MAIS NA ALDEIA FALOU.
A VERGONHA QUE SENTIAM OS IMPEDIA.

NOTAS:
PANDORO = LEÃO
INCULO = GRANDE
AZAGAIA = ARMA DE ARREMESSO
CANHANGULO = ARMA DE FOGO DE CARREGAR PELA BOCA, NORMALMENTE DE GRANDES DIMENSÕES
CAPULANA = PANOS COLORIDOS QUE AS MULHERES ENROLAVAM NO CORPO À LAIA DE VESTIMENTA

Foto de claudinha.guima

TIC TAC de uma vida

O Som "Is This Love" de Bob Marley me levava ao meu destino.
Tudo igual... Como sempre fora, tudo acontecia conforme o programado.
Como tudo na minha vida era marcado com horários regiamente pré-definidos. Horários de entrada e Saída, horário da volta pra casa, esse sim não podia falhar em hipótese alguma, nada podia fugir do padrão.
Nenhuma ocorrência poderia ser tão urgente a ponto de me tirar desse cronograma tétrico e macabro.
Do lado de fora as árvores vinham no sentido contrário, correndo, atrasadas para cumprirem seus próprios cronogramas e eu ali, em meio àquelas imagens esporádicas que passavam apressadamente, pela janela do meu carro.
Não havia espaço ali, para o belo. As imagens desesperada que via passar correndo por mim, como insights de uma vida, era a prova que tinha de que eu fazia parte daquela história contada em lágrimas silenciosa e triste.
A chuva repentina começou a cair... Acariciavam a pele de parte do meu braço que descançava n a janela do carro, só assim podia senti-la, não podia parar, as horas não se estancariam no relógio invisível que me lembravam a todo instante, com seu TIC TAC insistente, que era momento de correr, de seguir em frente... Não, elas não parariam para eu poder sentir a chuva em todo o meu corpo, não haveria tempo para “coisas fúteis” assim.
Ele estava lá, junto com a chuva, “correndo” da chuva... Voando rápido. Seus olhos fixos em um ponto distante, onde eu não podia enxergar. Ele tinha pressa também, mas como pode ter pressa se ele estava livre, tinha toda a vida para ir onde bem entendesse, não haviam relógios que pudessem marcar seu tempo. Mas ele queria continuar em sua “corrida” aérea, próximo a minha janela, sequer notou que eu o observava, sequer percebeu minha presença ali.
Cheguei a desejar tocá-lo, mas não podia interromper aquele momento. Queria congelar a imagem, oferecer uma carona, mas não podia fazê-lo. Nossos caminhos eram diferentes, ele seguiria em frente, rumo ao sol, fora da chuva, a procura de uma caminho cheio de luz e eu? Eu permaneceria ali, contando as horas, calculando o tempo preciso e quem sabe, no dia seguinte, poder encontrá-lo novamente.

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