Chuva

Foto de pctrindade

VELHOS TEMPOS

Houve um tempo, em que os anjos brincavam neste quintal, ao olhar des-preocupado de Deus, pois não havia maldade. Eram anjos de todas as cores, sem raça definida, mesmo porque não existia um conceito que definisse a palavra raça. Eram anjos de aparência diferente, porém iguais.
Era possível encontra-los em qualquer lugar, pois viviam entre nós também que já pertencíamos a uma hierarquia mais antiga e nossa missão era fazê-los sentirem bem.
Houve um tempo em que o sol sabia controlar a medida certa de seu calor e dividir fraternalmente seu domínio com a chuva e o vent
Houve um tempo em que as estrelas não escondiam mistérios, e o papel da lua era apenas embelezar, sem a responsabilidade do domínio de rios e mares.
Houve um tempo em que não era preciso compor canções, pois todas elas pairavam de maneira etérea, ao alcance de qualquer ouvido e a poesia, estava configurada na alma e expressa no olhar.
Houve um tempo em que não existia saudade, e a maior distância conhecida era o tempo de fechar os olhos sonhar e acordar longe.
Era o tempo da felicidade que palavras seriam impossíveis de descrever mesmo ao mais arguto sábio.
Mas um dia, Deus sentado em sua varanda celestial, ao olhar seus anjos brincando, entediou-se, mas não por seus poderes supremos, e sim por estar cansado de ser mantenedor da harmonia e então resolveu repartir sua supremacia delegando
poderes e individualidades. Criou o livre arbítrio num estalar de dedos.
Os animais que antes enfeitavam seu quintal, notaram as diferenças entre si, o mesmo acontecendo com os anjos que passaram a olharem-se estranhando fisionomias, cores e vozes. O Criador instituiu raça e sexos.
Agora, novamente na varanda, Deus chora baixinho ,olhando seu quintal vazio, sombrio e silencioso .
Fecha seus olhos e vê seus anjos desentendidos, dispersos e morrendo em batalhas, ansiosos por tomarem seu lugar.
Adeus hierarquia
Abre os olhos novamente, olha para o alto e vê a lua que, já não cheia como criou, preocupada também em estender seus domínios.
Num gesto de desespero, usa seu infinito poder, conclamando o vento para transportá-lo às estrelas longínquas, onde restabelecerá suas forças, e de lá governará esse universo obscuro longe de nossos olhos.
Mas engana-se quem pensa estar Ele sentado em algum trono. Não,Ele adora simplicidade, e continua sentado numa varanda, só que agora cósmica, e tem à sua frente um vasto quintal também cósmico, onde brincam poucos anjos, todos resgatados de nosso quintal terreno.

*

Foto de pctrindade

BREVE DEFINIÇÃO DE SAUDADE

A saudade é o perfume da solidão.
É o pesadêlo do dia, o cansaço da noite...a insônia.
A saudade é gôta da lágrima no papel da carta.
É o olhar esquecido, o desasossego do corpo...a dor.
A saudade pode chegar no luar, na chuva...na canção.
Pode fazer morada no pensamento, na palavra...na alma.
A saudade é a memória do ter vivido.
A saudade...é a essência da ausência.

Foto de maria guimaraes

CHUVA PERFUMADA

CHUVA PERFUMADA

Há uma chuva risonha caindo dentro de mim...
Perfumada, macia, encantada...
Minha alma ri, brinca com os pingos da chuva
Que caiem lá fora...
Pérolas... cordões de diamantes...
Beleza sem fim.
O sol está com ciúmes,
Esconde-se, teima em não aparecer,
Tal é a luz que vê dentro de mim...
Leio um poema, poeta só meu...
Riu-me como uma criança,
Tenho mais que o mundo...
Tenho-te...
Com quem sempre sonhei,
E ao acordar estavas lá...
Real como eu te imaginei...

SONHA COMIGO

Sonha comigo, ainda que o sonho
Seja uma mentira, sonha comigo...
Sonha que há purpurinas na noite
Em que me amarás...
Sonha comigo, no lado de lá da vida,
Imaterial, como uma nuvem, um elemento...
Sonha comigo, enquanto vês
Um quadro de Van Gogh
Ou uma escultura de Rodin,
Sonha comigo, com risos abertos na madrugada
Do sonho, com cânticos
Que nunca ouviste mas saberás inventar...
Sonha comigo, quando o sol
Tomba no poente, e te doira o olhar
Perdido no tempo...
Sonha comigo, quando já não
Há mais nada em ti com que sonhar...
Sonha comigo...

PENSANDO EM TI
Lentamente abro as cortinas da janela,
Que dá lá para fora. O sol bate no muro branco,
As sombras das arvores dançam na sua brancura...
O céu está imensamente azul,
Um par de rolas namoram além...
E eu fico aqui olhando o nada,
Pensando em ti...
Penso em palavras que dissemos,
E outras escondidas nas metades das que não dissemos...
Penso em risos, e olhos a brilhar...
Em ficarmos parados, calados,
Como que a definir sentimentos,
A criar uma corrente que atravessa
Os nossos pensamentos...
Depois, falamos e lembramos tempos, coisas...
Fico aqui a ver o sol, e as folhas das arvores
Desenharem sombras, no muro branco...
E perco-me na memória do tempo, e em ti....

LENDA

Há um vento sibilante entre as fragas.
As ondas trazem consigo as algas
Verdes que se espalham pela praia.
Olhando o mar, sento-me aqui e espero.
Espero como Penelope esperou Ulisses,
Tecendo o manto de palavras não proferidas, adiadas...
O sol caminha para o ocaso,
Nostalgicamente belo, esplendoroso...
O dia caminha para a noite, e eu, como Penelope,
Desfaço o manto de palavras que urdi
Neste dia que chega ao fim.
Amanha, recomeçarei, e noutro dia,
E noutro , infinitamente,
Com os olhos presos no horizonte da vida,
Esperando acabar de tecer este manto
De palavras, para um dia te oferecer...

GUARDA EM TI...
Guarda em ti tudo o que trazias quando nasceste,
E os Deuses, e as fadas te fadaram, e predisseram...
Guarda em ti, a fala da cigana que te sinou...
Guarda em ti o coração antigo da sabedoria,
Da vontade, e da razão.
Guarda em ti também o coração novo,
Do homem nascido em ti,
Que ri, que brinca, que sonha...
Guarda em ti, todos os rituais antigos,
Que os Deuses te ensinaram...
Guarda em ti, as lagrimas como pérolas,
Que só o coração puro pode doar...
Guarda em ti, a força da vontade, e do querer.
Guarda em ti, como dádiva
Divina, o riso, o amor, e o sonhar...

Foto de pctrindade

LÁGRIMAS

LÁGRIMAS

Nesta tarde olhando os pingos da chuva estampados em minha vidraça, bateu uma saudade incomensurável de você.

As gotinhas pareciam fragmentos de um passado distante, porém sempre presente nos detalhes de meu cotidiano.

A gotinha da esquerda me fez lembrar um dia em nossa juventude, no qual parecíamos dois desvairados valsando nas areias da praia sob uma garoa fina em plena madrugada, e a água ajudando colar nossos corpos.

A gotinha mais acima trouxe de volta um momento também romântico, naquele restaurante quase vazio, onde comíamos entre risos quase contidos, tendo como fundo musical “As Time Góes Bye”, ao piano de um senhor alemão.

A gotinha da direita trazia com ela a sessão do Cinema Jangada, cujo filme não me lembro, mas lembro perfeitamente daquele “amasso” gostoso que provocava sussurros talvez de inveja ao casal sentado atrás.

A gotinha abaixo, escorrendo, na verdade não é uma gotinha; é sim o reflexo da lágrima que rola em meu rosto.

É a lágrima de um tempo feliz.

É a lágrima de uma tristeza por não saber aonde você se abriga da chuva nesse momento e se também tem uma vidraça do passado.

É a lágrima da saudade que escorre, seca e torna a escorrer de novo sempre que chove.

É a lágrima dedicada a você.

Foto de DeusaII

Voltaste!

O sol nasceu no horizonte
E uma fria chuva caiu sobre mim...
Ansiosa esperei que voltasses...
Sofri tormentos, ânsias loucas...
E no fim... nos meus braços
Quente, suave, ficaste.
Senti teu calor... teu corpo colado ao meu
Teus sentidos em minha direcção,
Teu olhar que me queimava...
Senti... que voltavas para mim...
Não por metade... mas por inteiro...
Meus olhos choraram, então...
Finas lágrimas escorriam por minha face....
E minha alma por fim sorria...
O vazio esbateu-se, o escuro clareou
E meus sentimentos adormecidos despertaram...
Voltaste para mim... como sempre te quis...
Inteiro... sem medos, sem reservas...
E tudo o que tinha morrido em mim,
Voltou a renascer... como se nunca tivesses ido!

Foto de Carmen Lúcia

Ainda te espero, amor...

Ainda te espero, amor...
Assim como as manhãs esperam pelo sol
que pincela de alegria o arrebol
e de esperança a circundar recomeços...

Ainda te espero, amor...
Assim como o belo, seu expectador,
a olhar extasiado o que sua alma encantou
e como relicário, dentro de si guardou.

Ainda te espero, amor...
Assim como o estio, pela chuva que virá
calando a cigarra que a seca vem agourar
quando o cheiro de terra molhada inundar...

Ainda te espero, amor...
Ainda que em outra vida...
Nosso amor sempre será assim,
sem planos ou trajetórias traçadas,
sem fronteiras demarcadas,
sem previsão de fim.

Carmen Lúcia

Foto de LU SANCHES

Regadas ao Vinho

Segure minha mão
venha viver o sonho
Amor e Paixão...
Juntos iremos viajar

Belas coisas do mundo
Quero lhe mostrar
Dar-te-ei meu amor
Beijos ao acordar

Em nossa estrada
Não haverá espinhos!

Brindaremos a felicidade
Com chuva de flores
Regadas ao vinho

Contemplaremos o por do sol
Na imensidão do infinito
Ouvindo a homenagem dos pássaros
Há nosso amor tão bonito

Foto de dindalupe

Atitude

ATITUDE( POR LUPE)

ME FAÇA TIRAR OS PÉS DO CHÃO
ME FAÇA VIAJAR PELA IMENSIDÃO
ME FAÇA ANDAR NA CHUVA
SEM SENTIR SEUS PINGOS A ME MOLHAR
ME FAÇA RESPIRAR NATURALMENTE
ME FAÇA EVOLUIR ,SEM TER QUE ESTUDAR,
ME FAÇA COMER SEM TER QUE MASTIGAR
ME FAÇA SORRIR,SEM OUVIR UMA PIADA
ME ALCANCE SEM ME DEIXAR CORRER,
ME FAÇA ROMPER LIMITES SEM A NECESSIDA DE COMPETIR
ME FAÇA TE OUVIR ,SEM BALBUCIAR UMA UNICA PALAVRA
FAÇA MEU CORAÇÃO BATER,PARA VIVER
FAÇA TUDO ISSO ,MAS ESTEJA PRESENTE NA FESTA DA MINHA VIDA.

Foto de Artur Alves

Demência Amorosa

Ao render da guarda,
O dia traz aquele amargo de boca, triste
Um resto de tudo resto no fundo do copo,
Que nos sobra para quem sempre a sobra resiste!

Um final de vida, já no começo
Leve os cabelos esbranquiçados na gastura dos tempos,
Uma tristeza moinha como a dor que dele se alimenta
Um final de corpo que cresce com a demência...

A lua contempla-me nesta casa, no fundo da rua,
No fim deste bairro velho e triste,
As lágrimas da chuva tacteando as pedras da calçada,
Como o cego tacteei toda a minha vida...meio perdida,

A idade não nos seca as lágrimas do rosto,
Não nos varre a útopia sórdida dos sonhos impossiveis,
Cresce-nos na incerteza do sofrimento que em nós resiste,
Sentimo-lo sorrindo, porque é nosso, é só nosso e fica!

Tudo se desvanece, tudo é solidão e abandono...
O sofrimento é duro, rigoroso e tem mau feitio,
Mas está presente, nos bons e maus momentos
Uma sombra amiga que nos lembra o que vivemos,
Um passado sombrio para o presente tristemente só!

Somos vencedores da madrugada esquecida,
Porque todos o abandonam, todos o rejeitam,
A curva do sofrimento é longa e triste mas resiste,
E não desvanece como tudo o resto...

tristemente só, Não!
Sofro acompanhado...eu e a minha dor sozinhos, eternamente sós!

Foto de Carmen Lúcia

Versos & Reversos

A luz traz a paz que refaz;
também pode cegar quando é demais.

O começo sempre traz um desafio;
e o fim, o mais denso calafrio.

O amor pode levar ao paraíso;
também a perder o juízo.

A chuva umedece a terra pra fecundidade;
também pode conduzir à calamidade.

O mar dá margens para os sonhos;
mas destrói os castelos mais risonhos.

A lua é tão meiga e brilhante;
para o lobo parece irritante.

O sol é o astro que ilumina e aquece;
também o fogo que fulmina e estremece.

Em erupção, o vulcão lança sua lava
que uma paixão incandescente apaga.

A mulher traz no ventre a semente...
que, lamentavelmente, pode não vir a ser gente.

Tão triste ouvir falar em aborto...
Pode ocorrer mais um poeta morto.

_Carmen Lúcia_

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