Carne

Na noite passada meus sonhos permitiram-me tocar-te. O beijo desejado ardendo em meus lábios, queimando, incendiando meu coração e derretendo minha alma. Queria que meus sonhos trouxessem você aqui, ao menos esta noite, não na minha cabeça, mas com carne e espírito equilibrados e o amor tomando conta de você, liberado pela minha face.
Será que meus sonhos não são fortes o suficiente para que você sucumba às minhas vontades? Será que terei de esperar eternamente para que minhas ilusões sejam desmanteladas e meu ser seja despedaçado? Mas eu já me fiz em mil pedaços e você não quis juntar.
Talvez eu esteja pedindo demais, como um mero tolo que quer conquistar a mais bela princesa do reino. Talvez seja destino dos tolos como eu não ter alegrias em seu coração. Talvez seja sina para não poder trazer paz. Talvez seja uma carga, carregar tanto amor em meu peito e não ter a quem gritar isso.
Talvez um dia você me ouça. Talvez você perceba o que guardo comigo. Talvez você queira compartilhar do mais nobre, sóbrio, ardente e profundo amor que um coração pode suportar. Talvez você veja em mim a luz que eu vejo envolver você todo o tempo.
Talvez mais uma vez eu apenas esteja divagando sobre situações que jamais irão acontecer. Talvez meu coração queira tanto você que mais uma vez fantasie estórias mirabolantes para te ter por um segundo. Talvez você simplesmente ignore o que trago comigo e sobreviva com a facilidade da ignorância.
Mas suposições não aliviam minha dor, nem tampouco acalmam a fúria que devasta minha existência. Nada disso pode resolver meus problemas. Apenas você pode trazer paz para meu coração desolado. Não adianta enganar-me: você não quer trazer esta paz. Não, ao menos, ao custo que ela lhe trará. Não vale de nada tentar ludibriar minha mente com mentiras e artimanhas que entorpecem momentaneamente minha clara visão da vida medíocre que me cerca.
Então eu me pergunto: porque você não acaba logo com isso? Podes fazê-lo do jeito fácil ou difícil, para mim obviamente. Entretanto, permites que eu continue a mergulhar neste poço de melancolia, depressivamente cavado pelo meu subconsciente para enterrar minhas felicidades.
Estão se acabando as últimas forças que vivem em mim. A chama da felicidade se extingue a cada segundo, minha visão vai ficando inebriada, entontecida, enegrecida. Na noite passada meus sonhos permitiram-me tocar-te. Ao menos isso ainda posso.

Sem oásis que me proteja deste sol que me queima, sem sombra do teu ser, sem repouso possível, espero assim amor, assim como espera o abutre que me segue, espero assim a morte, assim como espero eu que ela chegue. Morro de sede sem te ver, morro de sede pois esta é impossível de saciar. Perdido num deserto de gente, procuro em cada duna, em cada ser a água para a minha sede, o lugar onde repousarei o meu corpo pela última vez, vazio de carne, perdido sem alma. Espero assim como me espera ele, esse vazio de ser, de sentir e de viver. Sem oásis que me proteja espero assim sem ver…

Abrace meu corpo;
sinta minha respiraçao ofegante,
deixe meu lábios encontrarem tua nuca. Deixe minhas mão percorrerem tuas curvas e encontrarem teus seios e,
ao encontrar-los, deixe-me tocá-los (assim poderei sentir teu coraçao e, no paroxismo da loucura, o ouvirei gritando prazere silenciando teus medos).
E que nossos poros traspirem não suor, e sim, desejo!
Que nossos lábios digam não o "pare",
e sim o "vem"!
Que nossas mãos toquem não só a carne, como também o céu!
e que o gozo traga nao a dúvida se foi bom,
mas sim a certeza do "EU TE AMO!"