Cabelos

Foto de Naja

ENVELHECER SEM MEDO

ENVELHECER SEM MEDO

O que é envelhecer sem medo? É não se estremecer ao perceber que os primeiros cabelos brancos despontam espaçados em seus então, belos cabelos que tinham uma só cor? É saber que com o tempo toda a cabeça será grisalha e em breve tornar-se-á totalmente branca?.
É ver surgir as primeiras ruguinhas em seu rosto e não se importar porque faz parte da vida...da natureza?
É achar o momento certo para evitar o sol, é a reposição de hormônios, ou não submeter-se a isso, é usar forte maquiagem para disfarçar e não se importar em recorrer a esses recursos, ou simplesmente recusar-se a fazê-lo?
É não temer ficar em grupos de jovens sabendo-se ser a mais velha de todos?
É simplesmente não se importar? Será isso envelhecer sem medo?
Será dizer, sentir-se por dentro do mesmo modo que se sentia ao ter seus trinta anos, com todos os sentimentos, sensações, alegrias e tristezas, amor, tudo enfim natural do ser humano independente de idade e sexo?
O que pode sentir uma mulher que nada tem a não ser a si mesma? Onde buscar alento para sentir alegria por estar viva e ainda ter anos para aproveitar, nessa vida de sinceridades e mágoas?
A aparência nesse mundo de consumo, onde a beleza e juventude são cultuadas
como princípio de felicidade, é preciso se estar muito bem preprados para enfrentar
esse início, pois a tendência é sempre piorar.
Na juventude perdemos muito tempo preparando um futuro, uma profissão, durante anos nos dedicamos a outras pessoas, ficando nós mesmos em segundo plano e quando abrimos os olhos, o tempo passou e já quase nada mais resta.
Como fazer para ser natural, se não quisermos mascarar a velhice que se aproxima, por até acharmos ridículo, pois nada há para disfarçar; pintura não resolve o problema do tempo. O tempo não perdoa, ele vem e não quer saber; fica claro e explícito, nada se poderá fazer.
naja
Publicado no Recanto das Letras em 17/11/2007
Código do texto: T740912

Foto de Cecília Santos

SONHOS DE MENINA

SONHOS DE MENINA
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Se eu pudesse prender dentro de mim,
os sonhos e a magia.
Queria voltar a ser menina.
Menina sapeca, sempre de bem com à vida
Correndo na grama molhada, catando margaridas.
Se eu pudesse prender dentro de mim,
os raios do sol.
Tingiria os cabelos das espigas de milho,
com as cores do arco-íris.
Transformando-as nas mais lindas bonecas,
como minha mãe fazia!
Se eu pudesse prender dentro de mim,
as noites tranqüilas.
Seguiria os faróis dos vaga-lumes até capturá-los
e colocá-los dentro do vidro.
Quando tinha uma boa quantidade soltava-os,
achando que se transformariam nas estrelas do céu.
Ah! se eu pudesse fazer tudo isso de novo acontecer!
Queria fechar meus olhos, adormecer sonhar.
E quando acordasse...
Queria ser menina outra vez!

Direitos reservados*
Cecília-SP/11/007*

Foto de Dirceu Marcelino

ERAM DOIS AMIGOS INSEPARÁVEIS

Dois meninos.
Moradores da mesma cidade.
Um de olhos azul outro verdes.
Eram orgulhos da cor de seus olhos?
“_Ah! Meninos vaidosos”.
Falava nossa professora, Dona Marta.
Foram poucos os episódios de que um não participou na vida do outro.
Um deles ainda no “parque infantil”, neste ainda não haviam se encontrado.
Foi quando o de “olhos verdes” fora expulso da escola em face de se envolver em uma briga juntamente com seu irmão de três anos.
Não aceitaram a justificativa do menino de cinco anos e naquela época ele não sabia se defender.
Vamos pular vários episódios, pois, o objetivo deste conto é apenas justificar o porquê da carta-poesia postada aqui e endereçada ao primeiro depois de muitos anos.
Mas, tem fatos marcantes que precisam ser mencionados:
Tal como a apresentação para incorporação ao Exército Brasileiro.
Lembra-se: Todos nós bem arrumados. Você com um terno que parece que fora tirado do baú de seu pai, o mesmo com que ele viera da Espanha.
Eu, com uma roupa esporte.
Na rua um comboio de mais ou menos vinte caminhões do Exército Brasileiro e no ponto de ônibus do Mercado Municipal não parava de descer jovens cabeludos, muitos naquela época queriam imitar os “Beatles”.
Lembro-me que no momento de subir no caminhão meus cabelos longos caíram na testa e meu pai com os olhos lacrimejados dizia:
_ “Pare com isso. Você agora vai ser soldado!”.
Sinceramente, só fui entender isso depois que já estávamos na barbearia do quartel.
Justamente, quando via os que estavam na fila saírem de “coco pelado”.
Cerca de oitocentos jovens com dezoito anos de idade deixavam caídos ali no chão da barbearia madeixas de vários tipos de cabelo, dava-se para perceber que pouca era ruiva, outras loiras, mas a maior parte de cabelos negros e castanhos escuros.
Como os meus. Os seus eram loiros.
Quanta recordação poderia falar do quartel, ei!
Lembra-se daquele que ocorreu dias depois dos cortes de cabelos.
Sabe que como “cabo da guarda” soube por ele próprio que fora uma vingança, pois, não se conformava com o fato de lhe cortarem os cabelos.
Com ele aprendi que cadeia não regenera ninguém, o pior é que ele dando baixa do quartel, entrou em outra corporação importante e a desonrou, pois cometeu um crime maior: “latrocínio”. Justamente contra um industrial alemão que instalava uma indústria em nossa cidade. Esse não é assunto para comentarmos aqui. Muito grave.
Mas eu tenho que mencionar nossa viagem para aquela pequena cidade vizinha, onde participaríamos do desfile comemorativo de aniversário da municipalidade, quando um comboio de seis caminhões nos levou.
Você dirigia um deles e eu estava na carroceria.
Você teria com certeza condições de narrar melhor o acidente ocorrido, pois via a frente uma estradinha de terra batida, o aclive acentuado e a curva à esquerda. Eu na carroceria só pude ver e pressentir o caminhão que derrapava, empurrado pelo obus 105 mm, peça de artilharia muito pesada que ao mesmo tempo servisse para segurar o veículo não o deixando que caísse abruptamente o tombava, devagarinho, dando-me tempo de pressentir a metralhadora ponto 50, tombar e seus ganchos inferiores caírem sobre meu pescoço, mas eu o colocar como um “boxista” entre os ferros e evitar ser atingido.
Salvo desses fomos para o desfile.
Você dirigindo aquele caminhão com a frente amassada e o vidro dianteiro quebrado e eu como sempre na carroceria, com mais dez soldados.
Lembro-me que conforme treinamento feito durante semanas no quartel todos os soldados deveriam descer e depois sob a ordem do comandante todos deveriam subir rapidamente, dando-se às mãos, o que lhes proporcionava subir com facilidade, mas eu, como sempre ficava isolado, sozinho, pois era o “cabo serra fila”.
A que dificuldade foi subir naquele caminhão, primeiro que me desconcentrei ao ver entre os assistentes que se acotovelam uma linda morena de “olhos verdes”.
Ela me olhava de tal modo que me atraía, me seguravam, me dominavam, mas acredito que quando ela percebeu que eu iria passar vergonha pois os caminhões já estavam sendo acionados, ela me liberou e então em movimento mágico pulei e não sei como já me vi segurando os guidões da metralhadora.
Sim. Espécie de guidões, semelhantes ao de uma bicicleta.
E, naquela posição o comboio circulou por toda a praça e ao retornar, novamente, eu vi ali defronte ao cinema, mas sobre a calçada da Praça Rodrigues de Abreu aquela musa.
Alguém poderá perguntar, mas como ele sabe o nome da praça se aquela era a primeira vez que tinham ido aquela cidade. Bem, aí é outra estória, a ser contada no capítulo II do “menino que queria ser maquinista de trem”.
Antes de perseguir o objetivo deste conto, ainda tenho de contar mais uma breve estória, pois ela está registrada nos anais da história do Brasil.
Refere-se ao período ditatorial, mas sobre um episódio no QG do II Exército época de subversão e quando alguém soltou da porta do ginásio de esportes do Ibirapuera um veículo carregado de bombas que adentrou pelo acesso do quartel semi-subterrâneo e explodiu espetacularmente, matando uma das sentinelas. Sua foto consta de arquivos da internet.
Com esse episódio o jovem de “olhos verdes” acabou sendo promovido a sargento.
Posteriormente, terminado o período do serviço militar obrigatório, nos separamos por vários anos, mas outra vez, o destino nos uniu.
Fomos nos encontrar em Campo Grande – MS.
Em uma academia e depois designados para trabalhar na região da tríplice fronteira entre os Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e Paraguai. Esta região ainda fazia fronteira com uma parte do Estado de São Paulo.
Sei que em contos não se devem por nomes. Mas o faço, pois é um conto baseado em fatos verdadeiros.
Verdadeiros mas desconhecidos das autoridades responsáveis, dos chefes, dos governantes.
Talvez, saibam eles de alguns dados estatísticos, do número de carros furtados que são levados para o Paraguai, interessante, ainda hoje da mesma forma que acontecia há vinte anos.
O “menino de olhos verdes” agora se transformara no Delegado Regional e o “menino de olhos azuis” no Delegado de Polícia da cidade mais importante da sub-região. Mas a deste ficava exatamente na confluência da tríplice fronteira.
Este episódio ocorreu em porto Caiuá, local onde estava sendo construída uma usina hidrelétrica no Rio Paraná e a estrada se delineava exatamente sobre a barreira de contenção.
A operação consistia na abordagem dos veículos suspeitos ainda sobre as balsas que faziam travessia dos veículos do Estado do Paraná para Mato Grosso do Sul.
Na primeira incursão foram apreendidos quatro carros, dois Del Rey e dois Monza, furtados na cidade de São Paulo, no dia anterior, cujos veículos eram conduzidos até as pequenas cidades do Paraná, e ali permaneciam aguardando o momento adequado para serem atravessados. Depois faltariam cerca de cem quilômetros para alcançar uma das inúmeras cidades fronteiriças “Del Paraguay”.
Logicamente, desconhecíamos no que consistia esse “momento adequado”.
Outro fato interessante, mas, por favor, não dêem risadas, más é verdade, os presos eram levados para a única cadeia da cidade e ela era de “madeira”. Aliás, a maioria das casas daquela cidade era de madeiras, naquela época. Não sei hoje.
Só viemos, a saber, na segunda operação, quando afoitos em realizar um trabalho maior escalamos doze policiais que deveriam agir em duplas.
O Delegado Regional chefiava, mas também fazia parte de uma dupla operacional, seu companheiro era um Agente de Telecomunicações. Este tinha a incumbência de se comunicar com os demais componentes e transmitir-lhes as ordens operacionais.
Mas que operação, pois, logo após a descida dos carros da balsa, quando tudo deveria estar concluído, o que vê o Delegado Regional, cada grupo de seus agentes, sim, perto dos carros apreendidos, mas aos seus lados, também, outros homens armados, desconhecidos e entre eles ainda teve a chance de reconhecer um famigerado bandido procurado justamente por ser famoso nesse tipo de tráfico de veículos.
O que restou ao delegado regional, ao ver aqueles homens armados caminhando em sua direção, a não ser, lembrar-se do brocardo:
-“Pernas para que te quero”.
Subir então no veículo que acabara de aprender, praticamente, obrigar o preso e o Agente de Telecomunicações a adentrarem no veículo, tomar o assento no banco de motorista, acelerá-lo e arrancar provocando muita poeira e deixar atrás de si uma nuvem.
Acredita que essa ação os deixou momentaneamente desorientados, pois já estava a uma distância de 40 ou 50 metros quando os viu subindo em suas camionetes, alguns na carroceria e começavam a acioná-las e em comboio a persegui-lo.
Poderia dizer que foi uma delícia, se não fosse trágico, mas lembra-se como se fosse agora do ronco acelerado do Monza, vermelho, lindo... “Vrrooouuummmmmmmmmmm” e o chiado dos pneus nos pedregulhos do chão de terra batida “tchuaaaaaaaaaaaaaa”.
A corrida do carro que batia a “Kart” e assoalho em algumas saliências irregulares da estrada que na verdade era a barreira da futura hidrelétrica.
Olhando para trás via que se formava uma nuvem de poeira que com certeza inviabilizava a perseguição dos bandidos e desse modo foi possível ao término da barreira, adentrar em solo pedregoso sem deixar rastros e desse modo adentrar num paiol e enfiar o veículo sob um monte de feno, que parece que ali fora adrede preparado para esconder o veículo como vemos nos filmes americanos.
O feno cobriu o veículo, desceu do mesmo cuspindo capim, o bandido com um monte enroscado em sua algema, o agente reclamando de estar sujando seus equipamentos.
O delegado regional puxou o preso pela algema, praticamente o arrastou e com palavras de ordem obrigava o agente de telecomunicações a segui-lo e assim subiram em um morro, onde em local alto e camuflado, se assentaram. Dali se podia ter uma visão geral da planície formada pelas margens do grande rio e da estrada que se descrevia agora sinuosa para o oeste.
Dentre os veículos perseguidores três camionetes Ford e duas de marcas Chevrolet, além de um Fiat 147.
Sorte que coube aos dois ocupantes do Fiat fazer a verificação neste paiol, onde o Monza estava escondido. Negligentes os bandidos, deram uma espiada e sequer tiveram o cuidado de cutucar com varas o monte de feno. Depois de alguns minutos também seguiram para o Oeste.
E, nós ali.
Passadas cerca de seis horas viu-se ao longe sobre a barreira o ônibus interestadual que se dirigia para a cidade sede da sub-região, dando tempo de escrever, em uma caixa de bala CBC, um bilhete pedindo ajuda.
Entre as dobras da caixa colocou o Delegado Regional outro bilhete, que teve tempo de redigir, afinal ficou ali várias horas.
Depois de mais algumas horas chegou o reforço, o pior, que entre eles retornavam alguns dos mesmos policiais que tinham participado da nefasta operação.
Mas agiam como se nada tivesse acontecido.
Posicionou-se o Delegado Regional adequadamente de modo que pudesse reagir com armas, mas logo percebeu que tudo aparentava certa normalidade, iria fazer o jogo deles, talvez fosse naquele instante a estratégia adequada.
E, assim, retornaram para a sede.
O “bandido” foi autuado por receptação. Presidiu o flagrante o Assistente do Delegado Regional que foi o condutor.
Ah! Que trabalho em vão, o “cidadão” autuado, no dia seguinte foi posto em liberdade por ordem judicial.
Mas, tudo isso se repetiria depois, quando convidado para uma pescaria o ingênuo Delegado Regional foi e lá depois de ter pescado um grande “serubim”, que ajudou a limpar, no momento de saboreá-lo começaram a lhe contar a estória do “Delegado Bigode”.
Bem, esta estória, será narrada em outro conto, talvez, até o término do concurso, logicamente, se esta for bem recebida.
Ah! Sim.
Vocês querem saber por que contei tudo isso.
É simples.
Só quis justificar porque não entreguei a poesia ao amigo ODAIR ANTONIO ORTIZ, diretamente a ele e naquela época.
Justamente, porque, ela a carta-poesia, fora o bilhete que escrevera em um papel de revestimento de maço de cigarros e a introduziu, entre as frestas da “caixinha de balas CBC”. A mesma caixinha e papel que tem guardada em seus arquivos.
Normalmente, esqueço-me do teor das poesias que escrevi horas antes.
Aconteceu recentemente.
Escrevi para “baianinha” e perdi em meus escritos no próprio computador.
Espero encontrá-la. Mas ainda ontem quando não conseguia revisar este texto, em razão de erro de formatação, reescrevi a poesia “Baininha”, mas exatamente, no momento em que falava com ela pelo MSN.
Amigo com tudo isto estou lhe querendo dizer, que da mesma forma que tenho amigas, musas, você foi uma pessoa importante na minha vida, veja, fiz uma poesia, pensando que iria morrer.
Imaginava que você continuasse naquele Estado, como outros de nossos colegas continuaram.
Mas o destino não quis assim, outra vez nos encontramos aqui em nosso Estado, trabalhamos novamente juntos, divertimos em alguns momentos, trocamos nossas confidências e até fomos confundidos com buques de flores que mandamos.
Finalizando, para corroborar nossas brincadeiras, veja como fiz para você tomar conhecimento da poesia que ainda tenho aqui guardada em casa, no papel celofane, revestimento do maço de cigarros e da caixa de balas CBC, que a recuperei, pois afinal. Eu era o Delegado Regional. E, finalmente, desejo lhe dizer que tivemos a oportunidade de acabarmos com Defensores, pois sempre quis sê-lo, como quis quando tinha apenas quatro anos de idade e não conseguia dizer à minha Diretora que agira em “legítima defesa de terceiro” de meu irmão que contava apenas três anos e eu mais velho: cinco.

Foto de Deoleones

SONHO

Sonho
Hoje tive um sonho!
Era um grande campo coberto de flores.
Flores amarelas.
Ao fundo uma velha torre.
Tirei os sapatos soltei os cabelos e corri no meio delas.
O vento acariciava o meu rosto, os meus cabelos.
Tu!!!
sorrias para mim.
lentamente, senti as tuas mãos na minha cintura
aos poucos, deixei-me cair.
Flores amarelas fizeram de cama
o teu corpo as minhas vestes.
Na tua boca matei a sede,
em ti o meu desejo.
Hoje tive um sonho!
Era um grande campo de flores.
Flores amarelas!!
Deoleones

Foto de Fernanda Queiroz

Lembrar, é poder viver de novo.

Lembranças que trás ainda mais recordação, deixando um soluço em nossos corações.
Lembranças de minhas chupetas, eram tantas, todas coloridas.
Não me bastava uma para sugar, sempre carregava mais duas, três, nas mãos, talvez para que elas não sentissem saudades de mim, ou eu em minha infinita insegurança já persistia que era chegado o momento delas partirem.
Meu pai me aconselhou a plantá-las junto aos pés de rosas no jardim, por onde nasceriam lindos pés de chupetas coloridas, que seria sempre ornamentação.
Mas, nem mesmo a visão de um lindo e colorido pé de chupetas, venceram a imposição de vê-las soterradas, coibidas da liberdade.
Pensei no lago, poderiam ser mais que ornamento, poderia servir aos peixinhos, nas cores em profusão, mesmo sem ser alimentação, prismaria pela diversão.
Já com cinco anos, em um domingo depois da missa, com a coração tão apertadas quanto, estava todas elas embrulhadas no meu pequenino lenço que revestia meus cabelos do sol forte do verão, sentamos no barco, papai e eu e fomos até o centro do lago, onde deveria se concentrar a maior parte da família aquática, que muitas vezes em tuas brincadeiras familiar, ultrapassavam a margem, como se este fosse exatamente o palco da festa.
Ainda posso sentir minhas mãos tateando a matéria plástica, companheira e amiga de todos os dias, que para provar que existia, deixaram minha fileira de dentinhos, arrebitadinhos.
Razão óbvia pela qual gominhas coloridas enfeitaram minha adolescência de uma forma muito diferente, onde fios de metal era a mordaça que impunha restrição e decorava o riso, como uma cerca eletrificada, sem a placa “Perigo”.
O sol forte impôs urgência, e por mais que eu pensasse que elas ficariam bem, não conseguia imaginar como eu ficaria sem elas.
A voz terna e suave de papai, que sempre me inspirava confiança e bondade, como um afago nas mãos, preencheu minha mente, onde a coragem habitou e minhas mãos pequeninas, tremulas, deixaram que elas escorregassem, a caminho de teu novo lar.
Eram tantas... de todas as cores, eu gostava de segura-las as mãos alem de poder sentir teu paladar, era como se sempre poderia ter mais e mais ás mãos, sem medos ou receios de um dia não encontrá-las.
Papai quieto assistia meu marasmo em depositá-las na água de cor amarelada pelas chuvas do verão.
Despejadas na saia rodada de meu vestido, elas pareciam quietas demais, como se estivessem imaginando qual seria a próxima e a próxima e a próxima, e eu indecisa tentava ser justa, depositando primeiro as mais gasta, que já havia passado mais tempo comigo, mesmo que isto não me trouxesse conforto algum, eram as minhas chupetas, minhas fiéis escuderias dos tantos momentos que partilhamos, das tantas noites de tempestade, onde o vento açoitava fortes as árvores, os trovões ecoavam ensurdecedores, quando a casa toda dormia, e eu as tinha como companhia.
Pude sentir papai colocar teu grande chapéu de couro sobre minha cabeça para me protegendo sol forte, ficava olhando o remo, como se cada detalhe fosse de suprema importância, mas nós dois sabíamos que ele esperava pacientemente que se cumprisse à decisão gigante, que tua Pekena, (como ele me chamava carinhosamente) e grande garota.
Mesmo que fosse difícil e demorado, ele sabia que eu cumpriria com minha palavra, em deixar definitivamente as chupetas que me acompanharam por cinco felizes anos.
Por onde eu as deixava elas continuavam flutuantes, na seqüência da trajetória leve do barco, se distanciavam um pouco, mas não o suficiente para eu perdê-las de vista.
Só me restava entre os dedinhos suados, a amarelinha de florzinha lilás, não era a mais recente, mas sem duvida alguma minha preferida, aquela que eu sempre achava primeiro quando todas outras pareciam estar brincando de pique - esconde.
Deixei que minha mão a acompanhasse, senti a água fresca e turva que em contraste ao sol forte parecia um bálsamo em repouso, senti que ela se desprendia de meus dedos e como as outras, ganhava dimensão no espaço que nos separava.
O remo acentuava a uniformes e fortes gestos de encontro às águas, e como pontinhos coloridos elas foram se perdendo na visão, sem que eu pudesse ter certeza que ela faria do fundo do lago, junto a milhões de peixinhos coloridos tua nova residência.
Sabia que papai me observava atentamente, casa gesto, cada movimento, eu não iria chorar, eu sempre queria ser forte como o papai, como aqueles braços que agora me levantava e depositava em teu colo, trazendo minhas mãozinhas para se juntar ás tuas em volta do remo, onde teu rosto bem barbeado e bonito acariciava meus cabelos que impregnados de gotículas de suor grudava na face, debaixo daquele chapéu enorme.
Foi assim que chegamos na trilha que nos daria acesso mais fácil para retornar para casa, sem ter que percorrer mais meio milha até o embarcadouro da fazenda.
Muito tempo se passou, eu voltei muitas e muitas vezes pela beira do rio, ou simplesmente me assustava e voltava completamente ao deparar com algo colorido boiando nas águas daquela nascente tão amada, por onde passei minha infância.
Nunca chorei, foi um momento de uma difícil decisão, e por mais que eu tentasse mudar, era o único caminho a seguir, aprendi isto com meu pai, metas identificadas, metas tomadas, mesmo que pudesse doer, sempre seria melhor ser coerente e persistente, adiar só nos levaria a prolongar decisões que poderia com o passar do tempo, nos machucar ainda mais.
Também nunca tocamos no assunto, daquela manhã de sol forte, onde a amizade e coragem prevaleceram, nasceu uma frase... uma frase que me acompanhou por toda minha adolescência, que era uma forma delicada de papai perguntar se eu estava triste, uma frase que mais forte que os trovões em noites de tempestade, desliza suava pelos meus ouvidos em um som forte de uma voz que carinhosamente dava conotação a uma indagação... sempre que eu chegava de cabeça baixa, sandálias pelas mãos e calça arregaçada á altura do joelho... Procurando pelas chupetas, Pekena?

Fernanda Queiroz
Direitos Autorais Reservados

**Texto não concorrendo.**

Foto de Maria Goreti

ONDE ESTÁS, MINHA VÊNUS?

Onde estás, minha Vênus?
Procuro-te.
Encontro-te escondida,
Em um canto,
Perdida, desconsolada e infeliz,
Num canto da minha alma,
Num canto do meu ser,
Distante do meu viver!
Vem, totaliza-me, você faz parte de mim.
Solta-te minha amiga, preciso de ti.
Mostra-te por inteira,
Deixa-me te conhecer.
Libera tua libido, vem até aqui.
Vem feliz,
Vem inteira,
Vem, mostra-te para mim.
Mostra-te ao mundo, assim como és,
Assim como deves ser.
Leve, linda, solta, sensual, mulher pra valer.
Isto!... assim!...
Vem minha querida,
Não tenhas medo,
Aqui não está escuro,
Aqui é porto seguro.
Vem, vem, vem ver.
Olha-te no espelho,
Vê a luz dos teus olhos,
Os raios de sol nos teus cabelos,
Que ao sopro dos ventos
Em contato com as curvas do teu corpo,
Tornam-se canção.
E ao soltar-te assim tão faceira,
Brincando e dançando,
Inteira... verdadeira...
Sê feliz, minha amiga!
Não importa onde, quando e como.
Sê feliz,
De qualquer maneira!

©Maria Goreti Rocha
Vila Velha/ES - set/03

Foto de carlosmustang

"SOBRE A JANELA DA LUA"

Eu vi num piscar
É tão estranho pisar!
E então
Tive vontade de chorar
Por algo, que nem sei se existiu!
Se foi assim, por quê partiu?

Eu não precisava passar num teste!!!
Bastava esperar mais um "email"...
E porque não fizeste
Tive algum receio!

E até minha escova, ao qual tanto usei
E quantas vezes com ela,
Meus cabelos penteei...
Hoje quebrou-se, pela fadiga da rotina.

Talves fosse melhor eu ser careca
E ela ter ficado ali quieta
Já que então por anos...
Sempre fez o mesmo.

E tudo então
Precisou de manutenção.
Pois havia se quebrado!

Tentei abrir uma janela
Ao qual avistava-se a Lua!
Mas de tanto fechar e abrir-se
As dobradiças emperraram...
Naquele triste início de noite
Não mais à ví...

Foto de Cecília Santos

DEVANEIOS

DEVANEIOS
#
#
#
Enquanto a noite calmamente
adormece.
Meus devaneios despertam nessa
quietude.
Como se fossem tocados por uma
varinha de condão.
Tudo muda, tudo se transforma.
Um mundo mágico se descortina ao
meu redor.
Sinto a brisa cariciosa que
me envolve.
Sinto os perfumes que
de longe vem.
Vejo o brilho prateado da lua.
Corações bordados no céu.
Adornados pelo brilho das
estrelas.
Sinto-te ao meu lado,
como antes.
Se eu estender minha mão,
posso tocar-te.
Seus cabelos posso afagar.
Seu rosto posso beijar.
Quando meus olhos abro,
vejo que ao meu lado.
Só tenho o manto da
escuridão.
As lágrimas que dos meus
olhos rolam.
São de saudades e
de solidão.

Direitos reservados*
Cecília-SP/10/2007*

Foto de Dirceu Marcelino

A BAIANINHA

BAIANINHA

Sequer me lembro de seu nome.
Talvez, em razão de um bloqueio inconsciente.
Um trauma, provavelmente, de uma namoradinha fugaz. Daquelas que surgem de repente e momentaneamente em nossas vidas e depois desaparecem.
Desaparecem mais deixam marcas profundas em nosso inconsciente, como disse.
Só recordei-me dela, provavelmente, em razão do conflito que estou sofrendo.
Conflito de transferência de personagens.
Pois, tudo indica que transferi o amor imaginário para outra pessoa imaginária, mais real que a primeira, posso dizer, pois esta existe mesmo que a conheça virtualmente.
Mas não consigo compreender porque me lembrei da “baianinha” desta maneira.
Encontrava-me parado na esquina da Avenida São João, em São Paulo.
Aguardava um amigo que passaria de carro e me levaria ao Fórum de São Paulo.
Fazia frio. O vento fustigava minhas costas, pois, esquecera o paletó no carro do amigo e para se livrar das rajadas de vento encostei-me em uma banca de jornal.
Escolhi aquele local, pois ficava a uma distancia de uma linda morena, parecidíssima com aquela “baianinha”.
Mas está já não era tão jovem.
E, justamente, por não ser tão jovem passou-me a fazer recordar de outra musa virtual.
Aquela que impregna minha mente em todos os instantes.
Musa de olhos verdes, penetrantes e femininos.
Lindos e indecifráveis.
Olhos de gata que vejo me espreitando por todos os cantos. No meio da multidão e até em meu sono.
Tanto pensava nela, que fiquei meia hora ligando meu celular. Revezando em ligar para o cliente e para ela. Ninguém atendia e o vento frio continuava a fustigar minhas costas.
Bastava-me encontrar um bar e ir tomar um cafezinho e automaticamente sairia do frio.
Mas não sei ao certo porque não o fiz.
Provavelmente, era porque queria permanecer vendo a morena.
E o que vi.
Uma mulher esbelta, pernas torneadas exibidas de forma formosa em um salto alto de no mínimo 12 cm.
Rosto tão lindo, olhos negros, cabelos da mesma cor, longos e bem penteados, um lábio carnudo e sensual que se delineava naquela face de princesa.
Mas o que me cativava.
É que ela abraçava e aconchegava ao seu corpo um menino de seis ou sete anos de cabelos pixaim,
Pensei:
“_É um baianinho”.
Ah! Preconceito. Porque um “baianinho”.
Agora. Passados alguns dias, consigo decifrar meus pensamentos.
Mas antes de chegar a esta interpretação, já mantivera contato com minha musa virtual.
Transmite-lhe num primeiro momento o que sentira.
Contei-lhe que havia naquele frio pensado nela.
Mandei-lhe uma poesia. Sequer sei se leu. Pois, pedi-lhe agora que me mandasse, pois perdi minha cópia e ela também não encontrou a sua.
Na realidade, não consigo me lembrar exatamente das palavras que escrevo nas poesias. Já houve casos de vê-las em mãos de outrem e sequer saber que eram minhas.
Mas, retornemos à “baianinha”, pois é dela este conto, “Baianinha” da qual jamais havia relembrando nos últimos quarenta anos.
Conto-lhes que aquela “baianinha” foi a primeira moça que me beijou.
Eu era um adolescente inocente.
Um caipira do interior.
Ela, afinal, era uma “baiana” que viera da Bahia, com toda sua família, permanecerá por algum tempo na Capital de São Paulo e agora estava ali, morando perto de mim, em uma pacata cidade do interior.
Por isso achava-a esperta, a final ela já era viajada.
E eu sequer conhecia uma praia.
Na verdade ela saiu de minha vida, tão rápido como entrou.
Só a vi mais uma vez: Em plena avenida São João.
No mesmo local, onde agora passava frio.
E, como a vi.
Estava fardado, pois era um policial.
Ao vê-la corri de encontro dela.
Percebi que se assustou.
Titubeou.
Olhou-me nos olhos
Vi que os delas brilharam.
Não sei os meus.
Mas no mesmo instante aquele brilho se transformou numa vermelhidão e algumas lágrimas verteram de seus lindos olhos escuros e ela se afastou, rapidamente, ao final correndo.
Corri atrás. Não alcancei a e só parei quando um velho senhor me disse:
_”Soldado pare! Essa putinha é boa gente”.
_ “Deixe-a”.
_“Ela é uma pobre menina”.
_ “Não a prenda”.
_ “Essa linda menina é sozinha”.
Não entendi naquele momento, o que o velho quis dizer:
Só agora compreendo, deveria ter lhe dito:
_”Senhor! Não quero prendê-la. É ela que me traz preso desde a adolescência”.
E, agora te digo.
Ainda estou preso até a envelhescência.
Só agora compreendo.
Porque olhava a linda morena, que subiu ao ônibus, sentou-se em uma banco do lado direito, de onde poderia me ver melhor e comigo conversava com os olhos.
Igual a “Baianinha”.
O ônibus saiu rapidamente e ela olhava-me com os olhos umedecidos, virou-se para trás, igual a “Baianinha” que de mim fugira e não sei por que tenho a sensação de tudo acontece agora, em minha envelhescência com outra também “Baianinha”.
Uma “Baininha” tão linda, como aquela fadinha, ressurgiu virtualmente como uma companheira de jogos de xadrez.
Tão inteligente e sábia.
Tão honrada e trabalhadora.
Uma bela professora.
Não pode ser a mesma, pois é mais nova.
Mas pode ser
A filha.
Era isso que eu queria que aquela “Baianinha” fosse:
Uma Mulher como você.
Agora minha Musa.

Foto de Sirlei Passolongo

Inocência

      
      

Enquanto você dormia,
Fiquei a deslumbrar você
Em silêncio, desenhei seu rosto,
Afaguei seus cabelos...
E apenas com o olhar
Tracei todo o seu corpo.

Pude observar seus detalhes,
Sua respiração...
Ah! Como desejei congelar o tempo
Pra ficar mais um pouco a te admirar,
E ter você de forma tão inocente.
Olhava aquele que era meu homem
E naquele momento era um anjo,
Adormecido... Quase um menino.

E desejei entrar em sua mente,
Saber dos sonhos que lhe rondam,
Se os seus desejos
São os mesmos que me tomam
E o sol sorriu... Anunciando
Mais um dia para nosso amor.

(Sirlei L. Passolongo)

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