Cabelos

Foto de Arnault L. D.

Borboletas na escuridão

A fria brisa dá-me um beijo,
com lábios úmidos de Lua.
Meu coração compassa lento,
fecho os olhos e o desejo.
Abre-se em mim, qual na rua,
vias, desertas, para o vento.

As estrelas, todas moram,
na doçura da imensidão.
Ficam a esperar a treva
e as mariposas, que retornam,
borboletas na escuridão...
Na noite são; e o vento leva...

Madrugada, quero a solidão,
das luzes a névoa embotar,
na neblina que se esparsa,
a dizer não, ao que for visão.
A guardar pra si o limiar,
na ténue luz, que se esgarça.

Espero o frio a congelar,
contraste a pele que me ardia,
cabelos, olhos, a umedecer,
no hálito que a névoa é ar.
Sopra-me, distante o dia...
Noite fria, dá-me o anoitecer...

Foto de Rute Mesquita

Meu doce amargo


Meu doce amargo,
Os meus olhos despes
ao não te ver neste largo
onde à muito me deste
um anel de noivado.

Lembro-me,
como eras doce,
como me veneravas.
Como lá pelas doze
aqui comigo te encontravas.

Recordo-me,
do teu olhar cintilante,
onde me via reflectida.
Do teu espírito jovem e inquietante,
que me deixava sem saída.
Daqueles teus afagos,
logo pela manhã.
Daqueles doces e amargos,
que fizeram de mim, tua romã.

Sentada,
aguardando-te neste largo,
onde boas lembranças já não habitam…
Acabada,
num calor pardo,
as tristezas me ressuscitam.

Como és amargo,
em ir sem nada me dizer…
deixando-me a meu próprio cargo,
depois de ao céu me teres feito erguer.

Como és cruel,
em te demolires a meu peito…
Vou tirar este anel,
não mereces o meu respeito.

A correr e a chorar lá vai aquele rosto
de menina…
Entre o morrer
ou um bom aconchegar,
está a minha pequenina.
(disse o seu pai vendo o repetido episódio e lamentando)

Acabou assim a primavera,
de enlaces.
O inverno apresava uma nova era
sem esperar que para ele te preparasses.

Passaram-se meses, anos…
E como as suas lembranças
naquela casa ainda eram tão assistas.
Ainda habito nas esperanças,
daqueles imensos planos,
aos quais deste as tuas desistas.

O livro de receitas,
aparecia sempre que cozinhava.
Para evitar os meus enganos,
naquelas feitas
como meu homem sempre me lembrava.
Aquele meu pente,
que nunca o deixava no lugar,
tinha agora um ar reluzente,
quando nos meus cabelos o fazia tocar.

...Como se tu fosses ele.
Adoravas os meus cabelos…

E assim comecei a acreditar,
que com fé talvez ele se revele,
e voltemos aos tempos belos,
da primavera a espreitar.

Numa noite,
na qual as trovoadas rompiam os céus.
Sai de casa sem desajeite,
fui para aquele largo proteger os meus,
antes que aquele tempo os desrespeite.

Pesada, daquela chuva,
por entre tremeliques de frio.
Senti tocar-me uma luva
e o iluminar do meu fio
onde tinha a aliança.

Conforto-me e aqueço-me,
naquela esperança,
incandescente.
Quando sou atingida por um raio…
Fico inconsciente...
e ergo-me.

Afasto-me do meu corpo,
vejo-o irreconhecível no chão…
Quando ia para soltar um grito louco,
sinto um aperto de mão.

Era ele, a minha doce amargura.
Sorriu e disse-me: ‘tontinha, achas mesmo que
te ia deixar?’
E uma tamanha injustiça me perfura,
como pude eu me conformar?

Como se ele lê-se os meus pensamentos,
disse: ‘Minha princesa,
peço que me perdoes por ter ido sem avisar
mas, quero
que saibas que estive em todos os momentos,
só esperava que nisso acreditasses,
para te poder vir buscar,
à muito que te espero.’

As palavras afagavam-se
no iluminar daquelas almas que falavam por si.
Os seus medos ausentaram-se,
mas, esta história não acaba aqui.

Foto de Rute Mesquita

Eternas memórias

No meu olhar,
guardo o teu lindo sorriso.
Aquele meu luar,
ai, como tanto dele eu preciso.

Nas minhas mãos,
guardo o macio da sua pele.
Ai, como eram estas as naus,
que nela navegavam sem um único repele.

Nos meus cabelos,
guardo as suas carícias.
‘Como são belos’,
dizias tu das tuas delícias.

No meu corpo,
guardo o seu suor.
Ainda me lembro de como te deixava louco,
de amor.

As minhas lágrimas,
escorrem compulsivamente.
Não vejo as suas esgrimas…
Já não leio a sua mente…

Sinto-me desprotegida,
frágil…
Desde a sua partida,
nunca mais fui ágil.

Desejo-te,
todas as noites.
Vejo-te,
cavalgar na minha direcção
mas, logo acordo,
para minha revolta,
para minha grande desilusão.

São estas as minhas memórias,
eternas.
Aquelas cujas murmuras,
fazem tremer as minhas pernas.

São estas, que nos mantêm vivos,
que mantêm esta chama acesa.
São estas as causas dos meus árduos cultivos,
sempre à espera da luz da tua presença.

Foto de darktuga

Amar

Eu gostava de ler,
Os teus lábios.
Eu cria apenas ter,
Um momento pra beija los!

Eu só cria poder ver,
Como é lindo o teu olhar. Eu queria poder,
Olhar para neles sonhar!

Eu sempre te irei amar,
Teu corpo belo como o luar. Sonhos meus de encantar, Andam livres como o mar!

Teus lábios eu quero beijar,
Teus olhos eu quero sonhar,
Teus cabelos ondulados como o mar,
eu apenas tou a aprender amar!

Versos que criei,
Ao meu amor entreguei.
Ela sorriu para mim,
Quando leu até ao fim!

Foto de dani.l

Gauchinha da Fronteira

Lá vem a gauchinha da Fronteira.
Traços indígenas, pele morena.

Toda feliz, sempre faceira.

Seu corpo é pequeno e seus cabelos negros como a noite.
Olhos brilhantes e um sorriso deslumbrante.

Todos param para olhá-la,
Sua voz firme é impossível não notá-la.

A fronteiriça é assim,
Com seu sotaque carregado,
Uma beleza sem fim.

Foto de Rute Mesquita

Os segredos do bater do seu coração

‘(…) Encosta-te a mim, põe a tua cabecinha no meu peito e adormece a ouvir o meu coração a bater (…) A bater para que um dia tenhamos a nossa viva e que vivamos juntinhos para sempre! (…) Adormece ao meu peito.’

E lá estava eu com a cabeça pousada a seu peito no seu abraço de tal forma envolvente que me fazia sentir pequenina. Aquele abraço quente e terno que me protege. Aquele mesmo abraço no qual muitas vezes caí. Caí de loucura, caí de desejo ou até mesmo de fraqueza.
Estavas ali, eu sabia disso agora mais que nunca. Pois ouvia o teu coração, que realizava os meus sonhos a cada bater. Sentia o teu respirar num movimento pacífico de sobe e desce, como se no mar boiasse o meu corpo.
Enquanto, eu escutava atentamente e emocionadamente os segredos do seu interior a sua mão macia e grande tocava delicadamente os meus cabelos, quase que fio por fio, como se tocasse uma viola com muita serenidade e paixão.
Num jogo terno, carinhoso e sensual no qual as palavras se ausentam em prol daqueles toques. Os toques das nossas mãos que se aventuravam à exploração pormenorizada de cada detalhe do corpo um do outro. Aquelas mãos que pareciam agora viver por si, pareciam ser independentes.
Fechámos os dois os olhos e apertámo-nos. Não nos queríamos separar, não queríamos ser dois, queríamos ser ‘uno’, uma coisa só.
Então eu começo a imaginar curtos episódios de como será uma vida contigo a meu lado, começando por um simples amanhecer, na verdade será o amanhecer mais perfeito da minha vida, no qual desperto com o ‘bom dia’ daquele sol radiante a transparecer-se pela janela, o qual me pede para abrir os olhos, como se me aguardasse uma surpresa. E era mesmo uma surpresa, o sol queria que eu abrisse aqueles meus olhinhos ainda adormecidos e que a primeira imagem que os mesmos enviassem ao meu cérebro fosse aquele doce olhar daquele ser quente e perfumado que se encontrava a meu lado, iluminado por uma áurea.
Imagina, estar na cozinha, a dedicar-me com muito carinho para te tratar como um rei e tu me surpreenderes com um abraço carinhoso, enquanto mexo aquela receita, que depois dos teus carinhos ficará completa. Ou até mesmo vermos televisão, juntos num sofá confortável, em que eu estaria sentada e te pedia para que te deitasses no meu colo e tu assim o fazias, correspondendo com um olhar profundo e cintilante.
Imagina-nos, os dois deitados na relva do nosso jardim, passando horas e horas a olhar o céu que parece correr diante os nossos olhos, enquanto soltávamos gargalhadas ao darmos nomes às formas das nuvens e acabarmos sobre um céu estrelado, sobre a luz de uma noite de lua cheia e passar uma estrela cadente e pedirmos um desejo: ‘Desejo, que isto possa ser real, que tenhamos a nossa vida e que sejamos muito felizes’. Enquanto, o desejei senti que outra voz se sobrepunha à minha, foi então que eu, ao abrir os olhos e ao me sentir de volta aos balanços do seu peito, percebi que ele tinha imaginado tudo aquilo comigo e desejado exactamente o mesmo que eu e que tal como disse o seu coração bate para que um dia tenhamos a nossa vida e que possamos viver juntinhos para sempre.
E assim adormecemos tranquilos, esperançosos, felizes e sempre sonhadores.

Foto de carlosmustang

AURORA BOREAL

Eu vi, posso testemunhar
Um rosto, para me encantar
Não era meu espelho, nem poucos cabelos
Uma questão de viver melhor

Era questão de saber a questão
Resposta é pra qualquer um
Que a gente gosta
Amor cego vê aurora boreal

Quem existe, devia achar bom!
E sonhar com a conquista
Mesmo que amor exista!

É tão bom, é sonhar
Acabar em seus braços
Me fazer te encantar.

Foto de Belinha Sweet Girl

O beijo

E depois de uma noite de amor enlouquecida
Ela está de pé, na janela do quarto,
Sentindo a brisa da manhã
E o sol morno do alvorecer.

Ele caminha em direção a ela e, sem pressa,
Afasta o cabelo sedoso do pescoço da guria
E inspira o suave perfume dela, que exala longe,
E abraça a moça com carinho.

O simples inalar dele despertou nela o desejo,
O toque das mãos dele sobre seu rosto induziu
Ao tocar dos lábios dos amantes,
O beijo, de sensação estonteante.

No calor da troca de sentimentos através da boca,
Ela segurou firme os cabelos dele,
Numa tentativa de prendê-lo,
E fazer com que o momento sublime se prolongasse.

E quando faltou o fôlego, o beijo cessou.
Ambos sorriem, satisfeitos.
Num silêncio bobo, a troca de olhares confessa:
Quando os lábios se atraem, se esquece do mundo.

Foto de Arnault L. D.

Meu

O amor que você me deu,
eu guardei junto a mim,
um papel de bala, um presente,
um bilhete que escreveu.
Pétalas de uma flor, carmim,
cor dos cabelos, sol poente...

O cheiro bom do perfume,
beijos com sabor de menta,
pelos dourados, pele rosa,
olhos, verde vaga-lume,
a dança mais intima e lenta,
buque de flor do campo e rosa.

Uma caixa inteira de amores,
as palavras e a quietude,
cacho de cabelo e fotografia,
caixa de musica e as cores,
do vestir e do desnude,
deste amor, que me trazia...

Do amor, que foi dado,
vou lhe fazer um apelo,
não peça de volta se esqueceu,
se me pedi-lo será negado.
Não me pode tomar, se ao faze-lo,
ele agora é meu, o amor meu.

Foto de joaobala

um amigo no armário

Uma menina sem vida nasce entre as cinzas
E floresceu feita flor no jardim,
Ao florescer diante o sol ardente sente medo,
E se esconde dentro do armário e lança a chave fora.

Os dias vão passando vem a escola e passa a escola
E a vida insistida a bater na porta que não abre.
Os cabelos longos e negros quando posto para
Traz revela a mulher que antes nenina ñ tinha
O colo que amamenta uma nova geração.

Alguém precisa abrir o armário mais quem,
Terá a chave certa para abrir o coração dessa mulher,
Linda mais com olhar medroso e triste,
Pois a vida que passara roubou a infância
De menina e com desejos sombrios se percebe
Agora já é uma mulher e precisa viver.

Por si própria sai do armário e logo sente
A fúria do mundo pessarte as costa, mais
Decidida ela quer viver e viver neste mundo
Sombrio sem amor é ter um dia infernal a pôs
O outro.
E o amor bate a porta com flores e rosa carregada
De mentiras falsas intenções, ela aceita e vive cada
Dia como se fossem os últimos dias de sua vida.

Projetos se erguem ao seu redor, trabalhos
Da uma esperança de um futuro cuja escondida
No armário ñ conseguia ver mais agora ela quer viver
Mais o mundo que se vê, só as bebidas e drogas
Contaminando amigos e família logo se vê estou
Sozinha precisa sobreviver dando um passo de cada vez
Mesmo que a tristeza a faz lembrar,
Era triste e frio mais era melhor viver no
Armário do que viver neste mundo.

joaobala 16/07/2011

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