Blog de Sonia Delsin

AI, QUE SINA A MINHA!

Deus, eu devo ter pedido.
Devo sim.
Gosto de pensar que seja assim.
Devo ter pedido para nascer poeta.
Para nascer meio anjo-torto, meio borboleta.
Sempre fiz careta.
Para o espelho.
Para as vidraças na rua.
Sempre me enamorei da lua...
Sempre compus versos ao luar.
Ao sol quente.
Sempre fui diferente.
Minha mãe dizia quando alguém me procurava.
Só pode estar lendo.
Ou escrevendo.
Passei mais da metade da minha vida me estendendo.
Para espaços meus.
Espaços que somente os poetas conhecem.
Paraísos próprios dos sonhadores.
Ah, quanto falei de amores!
De alegrias, de dores.
Minhas?
Nem sempre.
Falei da dor e da alegria do mundo.
Falei de tudo que alcancei.
Que minha sensibilidade captou.
Que sina a minha!
Mas me amo como sou.

O PASSADO

O passado.
Longo véu a cobrir.
Existiu?
Existiu.
Vai continuar a existir?
Só se a gente permitir.
O passado pode nossa alegria destruir.
Lembranças devemos enterrar.
Ainda mais aquelas que nos fazem chorar.
O passado é um morto.
Dele precisamos nos libertar.
Ainda mais se vivemos volta e meia o véu a retirar.

TENHO TIDO TANTO TEMPO

Tenho tido tanto tempo...
Pra escrever.
Pra pensar.
Pra viver.
Tenho tido tanto tempo para refletir.
Penso tanto no existir...
Passo horas sozinha.
Numa hora estou a chorar.
Noutra a rir.
Emoções não vou mais reprimir.

AVE MARIA

Rezo junto a Ave Maria.
Sinto quando a ouço uma grande tristeza.
E uma imensa alegria.
Pavarotti.
Tu partiste.
Aqui deixaste.
Tua voz estrondosa.
Deixaste sim, para nós, tua potente voz.
Ouço a melodia.
Ela me contagia.
Fecho os olhos.
Vejo a Virgem caminhando.
Estou chorando.

NOTURNO

Frédéric Chopin.
Que eu posso dizer de Noturno?
Respeitosamente estou a escutar.
Quase nem consigo respirar.
Noturno tem a beleza leve da lua entre nuvens deslizando.
Tem a leveza da bailarina triste.
Noturno é noite.
Existe.
Estou aqui tão quieta.
Estou escutando.

BRAHMS

É lógico que eu falaria dele.
Danço para lá e pra cá.
No meu imaginar.
Brahms estou a escutar.
Parece que vou ao fundo do mar.
E subo ao céu.
Uma escadaria gigantesca me leva.
Degrau a degrau a subir.
Escalando, vou escutando... escutando.
Minha alma vai se elevando.
Enlevando.
Estou aqui e em outro lugar.
Posso as mãos de Brahms estreitar.
Parece que danço.
Alcanço um outro ambiente.
O mestre a tocar.
Fico tão contente.
Começo a rezar.
A música deste mestre me tira do ar.

OS GRANDES MESTRES

Sou capaz de falar?
Beethoven estou a escutar.
Sou capaz de escrever?
O que posso dizer?
Que minha alma fica assim despedaçada.
Mas que ao mesmo quero dar risada.
Que a música me deixa enlevada.
Os grandes mestres da música estão a dormir enquanto aqui eu fico a ouvir

BACH

Bach entrou aqui tão imponente.
Fez do meu ambiente algo diferente.
Veio cheio de classe.
Encheu o ar de uma férrea vontade.
Mudei de cidade.
De estado, país.
Me vi sob um céu gris.
Me vi a correr.
Perseguindo um trem.
Não vi mais ninguém.
Só eu a correr.
Num sonho tão longínquo.
Me vi a morrer...

DIGA, VIVALDI!

Venha.
Fale ao meu coração.
Segrede.
Sussurre em meu ouvido tua melodia.
A tarde está tão fria.
Tremo aqui.
A pensar...
No que o tempo consegue guardar.
Acordes que irão sempre escutar.
Gerações a passar.
A música no ar.

SIMPLESMENTE O ACASO?

Nunca me compreendeste.
Nem eu.
Disseste.
Que nunca fui tua.
Nem tu foste meu.
Simplesmente na vida um encontro entre nós aconteceu.