AI, QUE SINA A MINHA!
Deus, eu devo ter pedido.
Devo sim.
Gosto de pensar que seja assim.
Devo ter pedido para nascer poeta.
Para nascer meio anjo-torto, meio borboleta.
Sempre fiz careta.
Para o espelho.
Para as vidraças na rua.
Sempre me enamorei da lua...
Sempre compus versos ao luar.
Ao sol quente.
Sempre fui diferente.
Minha mãe dizia quando alguém me procurava.
Só pode estar lendo.
Ou escrevendo.
Passei mais da metade da minha vida me estendendo.
Para espaços meus.
Espaços que somente os poetas conhecem.
Paraísos próprios dos sonhadores.
Ah, quanto falei de amores!
De alegrias, de dores.
Minhas?
Nem sempre.
Falei da dor e da alegria do mundo.
Falei de tudo que alcancei.
Que minha sensibilidade captou.
Que sina a minha!
Mas me amo como sou.