Parece já ser tarde. O olhar que insiste em traçar a bissectriz a uma calvície nascida pelo rigor da meia-idade, despoletou uma reacção impossível de ser travada. A única funcionária responsável pelo atendimento na repartição da segurança social encerra o serviço cinco minutos antes da hora prevista.A jovem que tilinta um piercing no nariz está a ter uma crise de choro, gritando a plenos pulmões que irá ser censurada pela mãe se não entregar a declaração de imposto, e quiçá impedida de ir à festa da espuma prevista para o fim de semana que bate à porta.O paciente do único psiquiatra da freguesia tenta encontrar uma explicação para o momentâneo desenrolar de eventos, mas ao que parece não está a conseguir.
A ruborescência tomou conta de uma face assustada, e que luta por escapar de uma realidade asfixiante.Uma idosa, vagarosamente amparada por um par de muletas ferrujentas, pede ajuda para se sentar porque está a ser assoberbada por uma crise de artrite reumatóide. Cai antes de o conseguir, parece ter fracturado a anca, e é necessária a presença urgente de técnicos de emergência médica.
Uma mãe jovem tenta, sem sucesso, fazer parar uma avalanche de lamentos de um menino em idade de pré-primária, que insiste querer lanchar um pastel de nata com um sumo de laranja.João está encostado à parede. Percebeu que está num daqueles momentos cinematográficos. Cresceu consolado por uma realidade alternativa, que ainda hoje define os momentos épicos da sua vida. De repente, e vindo do nada, apareceu ali naquele cubículo o Tuco Ramirez, de ‘O Bom, o Mau, e o Vilão’.
João está com as mãos amarradas atrás das costas, empoleirado num crucifixo de madeira carunchosa, e com o nó de força enrolado no pescoço. O careca será um Clint ‘Blondie’ Eastwood de circunstância, moldado por uma raiva que João parece não entender. O careca mexe no bolso do casaco nervosamente, e deixa transparecer um vulto com uma forma cónica.Já chove, e entram os técnicos de emergência médica.
A barata que, lutava amargamente por escapar aos passos do bulício, conseguiu chegar sã e salva a uma cadeira, contígua ao assento onde o careca desfia a sua raiva. Lentamente rasteja um caminho que parece a via sacra, e está já a poucos centímetros da mão direita do careca. Um gesto brusco fá-la tombar, e cair no frio dos mosaicos azuis. É esmagada, inadvertidamente, pelo pé esquerdo de um dos técnicos de emergência médica que socorrem a senhora das muletas. A fractura confirma-se, assim como o desfiar de rosários de uma alma que afirma esperar a visita de uma ‘senhora de negro’, com quem afirma já ter tomado chá por diversas vezes. (continua)
Comentários
Pittuii, Cumplicidade
Meu professor, como consegue? Transformar uma visita ao hospital em um conto policial , e esse de hoje, tão dramático? Leitura interessante e, fique tranquilo, tem vest;igios de enigma e instigante. Meus neurônios agradecem o exercício de hoje, lição de casa feita! Meu admirar e beijo.
Cumplicidade
Minha dilecta aluna...
....a história passa-se num centro de segurança social.:-)
Acho que foi simples. Basta só saber, e tentar descrever, que cada pessoa comporta-se de forma diferente, em situações de pressão.
Beijo, e mil obrigados pelos incentivos.
mais continue suplico ;) Luh
mais continue suplico ;)
Luh ***
Luh ***
:-)
Só já tem mais um capítulo.
:-)
E o final é,...não digo como é...
:-)
Obrihado pelo comentário, e beijo.
por favor
quando escrever um livro por favor avise para eu comprar na hora
aguardando seu final :)
Luh ***
Luh ***
:-)
A história terá um final, na minha opinião, pouco consentaneo com o desenvolvimento da história.
Mas eu tb ainda não sou mais que um aspirante a criador de suspense...
:-)
ola
Mais. Excelente!
Abraço
Correia
Obrigado pelo incentivo:-)
Vou já colocar de seguida o terceiro e ultimo capitulo.
JOnas Melo/pttuii
Meu caro! você consegue fazer com que os leitores consigam prender a atenção e a respiração, ao ler seu escrito, é muito interessante conseguir esse feito, também tem a curiosidade e o suspense para saber o que tem ainda por vir, me fez lembra muito, os meus dois mestres preferidos Machado de Assis e Flaubert. Bem vou ficar aguardando o final dessa historia, pois sou também louco por esse estilo de escrever.
Jonas Melo !!!!!
Jonas Melo !!!!!
Olá Jonas
Obrigado pela atenção às particularidades do conto. Escrevi-o de uma só vez, e acho que acertei bem na divisão dos capítulos.
O ultimo capitulo sai já de seguida.
Obrigado.....