Blog de João Victor Tavares Sampaio

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Muito Além da Rede Globo - Capítulo 15

Muito além dos massacres e atentados, nas Escandinávias e Arábias, muito além dos romantismos cegos e julgamentos realistas, existe o amor do cotidiano, magno, o amor da ave maria do morro, dos ranchos das goiabadas, geleias gerais, e tropicálias, o amor singelo das mães que ganham seus filhos, ou os têm roubados, o amor que segura sem prender, que embala sem sufocar, amor simples e humano, que erra, em tentar acertar sempre.

Eu sou a favor de tudo o que é frágil, em não ser acovardar de ser maior.

Eu sou a favor das Alexandras e Gracieles.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Tereza

É melhor ser rei no inferno
Do que servir no paraíso
Diriam alguns

A realidade é cortante;
Quero que meu amor seja como rocha
Para suportar o que a flor não resiste

A flor é fraca e tem a vida curta
A flor tem breve beleza
Tem glória passageira

Não me importo com meu destino
Contanto que seja ao seu lado
Reunido em comunhão indivisível
Na incerteza de caminhos e epitáfios

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Canto Inglês

Desfalece
Desce à mansão dos mortos
O último dos portos

Pelo amor que se carece
Usou o muito do talento
Um bem desatento

Morreu como algo que se esquece
Que rende à tantos depois de ti
Ao custo de si

Nesse filme revisitado
Sem o por quê do causar
Foi-se em contemporizar
Em luto anunciado

Foto de João Victor Tavares Sampaio

O Nunca da Terra – Versão Vigente

Olha minha linda:
O mundo não faz sentido e nem é um conto de fadas
E não adianta tentar fazer a cabeça do contrário

Por que se te disserem o inverso é mentira
E se disserem o mesmo que eu,
Talvez

Larga tudo e foge comigo
Segura minha mão
Para voar além das nossas expectativas

Os esclarecidos falam demais
Sobre os segredos que sabem e não contam
Mas o amor é maior que todos os mistérios
Soterrados sob o Nunca da Terra

Foto de João Victor Tavares Sampaio

O Nunca da Terra – Versão Intermediária

O mundo não faz sentido
Mas há quem está tentando nos fazer à cabeça do contrário

Pelo que presenciei
A vida
É decidida em instantes
E as aparências contam muito
E os confidentes contam tudo

Essa é minha linha curva de raciocínio
Você sabe,
Eu acho...
Todas as coisas não são explicáveis,
Todas as coisas não são bem assim:
O que te dizem que é verdade é mentira
E o que te dizem que é mentira,
Talvez

Porque a gente é madura
Quando reconhece o acaso
Por trás de uma certeza

Porque o detalhe é complexo
E o complexo é superficial
E tanto faz como tanto fez

Porque o segredo das coisas não é viver bem
E sim morrer por uma boa causa

Eu vejo as pessoas com ternura
E acredito que todos têm sua chance
Por que o Sol é milhares de vezes
Maior do que a Terra

Contradição, gritante e tímida
Corta a carne do próprio pescoço
Depois de se engolir

Rasurando o destino
Irreverente em ser peão
De um jogo sem as peças

Se ganha um Cristo para a cruz
Formando o sucesso de mais um perdedor

Corajoso em ser covarde
Sendo mais em ser ruim
Sendo bom em adiantar meu fim
Revirando o estilo socrático
Espalhando a desinformação pelos quatros ventos e pelos sete mares
Violando o túmulo da esquerda
Atravessando o samba
Retirando medalhas fincadas em peitos de bronze
Curtindo o couro do inimigo
Glorioso de sua grama verdejante

Graças aos lampejos de uma genialidade absurda
Cabeças são servidas ao molho
De chaves que abrem o mundo para a porta

Com doçura
Sendo repartido:
A pátria que me dá o nome não me dá a vida
Eu não pedi pra nascer
E é minha culpa
Não fazer questão de sumir

Sumir devagar
O mais lento possível,
Sumir no tempo
Abraçado ao descaso,
Desaparecer minguando aos poucos
Encolher e diminuir
Na sina do meu fracasso,
Caindo como estrela
Como cometa já apagado,
Sendo esquecido pelas pessoas e devorado pelos organismos
Olhando para o lixo e sorrindo
Feito palhaço esfomeado
Que se mistura aos gurus pensantes das calçadas

Toda importância é injustificada
Visto que o caos é quem decide os meios

Nunca a impossibilidade foi tão exaltada

Foto de João Victor Tavares Sampaio

O Nunca da Terra - Versão Inicial

O mundo não faz sentido
E esses caras estão tentando nos fazer a cabeça do contrário

Pelo que presenciei
A vida
É decidida em instantes
E as aparências contam muito
E os confidentes contam tudo

Essa é minha linha curva de raciocínio
Você sabe,
Eu acho...
Todas as coisas não são bem assim:
O que te dizem que é verdade é mentira
E o que te dizem que é mentira,
Talvez

Por que a gente é madura
Quando reconhece o acaso
Por trás de uma certeza

Por que o detalhe é complexo
E o complexo é superficial
E tanto faz como tanto fez

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Muito Além da Rede Globo - Capítulo 14

Amar custa caro, e não falo aqui de dinheiro.

O amor tem um custo tão grande quanto o seu tamanho. Esse negócio de perfeição é papo furado. O amor é a supremacia da imperfeição, a tentativa de sobrevivência, a última cartada em direção ao futuro, seja lá como seja, o amor é o reflexo da nossa cara, frente ao espelho da realidade, é o medo de falhar, falhando em já sentir medo, é sentir tesão pela vida e prazer em continuar, é cair de pé, perder sem se perder, é ser contraditório e não admitir a derrota evidente ao belo e confortável, é subir num cruz sem volta, para um morte obscura de glória ou esquecimento.

O amor é dramático, causa da luta da felicidade inatingível, eterna em ser abreviada, o amor é o suspiro no golpe fatal.

O amor é verdade e incomoda, à certeza do pensado pelos unidos para separar.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Narradoramente Allaunlógico

Sinceramente
Entre ser um mero Zé Roubinho
E um Herói Sobrevivente
Eu prefiro o sopro da saudade
De uma morte viva e sem idade
Sacrifício por carinho

Eu prefiro o último suspiro

Eu prefiro ser brasileiro
Um gosto na boca de feijão,
Apesar do atoleiro
Quase político das psicanálises
Eu prefiro a imensidão
Que aguardar hemodiálises
Vampiro e sonso europeu

Eu prefiro defender o que é meu

Você pode estar me achando pessimista;
Engano:
Numa visão mais intimista
Verá que o sangue vale o plano
De um passado futurista
Para um futuro sem prisão
Pois no altar de um vigarista
Nunca se encontra solução
Da problemática do insano
Na soma existencialista
Por um farsante fariseu

O Brasil nada mais é que um retrato do mundo
Do chinês e de sua costura
Trabalho e postura
Ou do boliviano
Do chover australiano
Congelamento islandês
E calor senegalês:

O Brasil é mais que uma zona
É a vida à tona
E nisso, ser herói e sobrevivente
Surpreende até o descrente
Dessa possibilidade:
O brasileiro e sua habilidade
De ser povo e ser artista
Tem o dom equilibrista
Ao tom da adversidade

Foto de João Victor Tavares Sampaio

O Orfanato

- O Orfanato

No orfanato
Toda linhagem de enjeitado
Toma a forma de legião

Todo o povo da região
Passa-nos com o ego apontado
Acusando nossa rejeição

E a sombra que aqui relato
Desnuda a treva em ebulição
Sonho irrealizado

Presente desembrulhado
Futuro em suspensão
A humilhação em seu recato
Frio, destrato

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O Sol é falso, losango angular.

Umas poucas crianças cantam.

Outras tantas crianças gritam.

A volta da escola é lenta e singular,
Pois não há ninguém há esperar.

O vento espalhar seu vento, e a folhagem.

Uma nuvem nos faz pajem.

Nosso ritmo é policial e folhetinesco.

Reside o medo do grotesco.

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Os moleques do orfanato são feios e não têm receio em admiti-lo, já que no verso de sua condição morava o adverso, o ridículo dos corações partidos, a brevidade de sua relevância.

Um deles riu-se automaticamente:
- Somos completos desgraçados!

Esta frase correu sem gírias ou incorreções.

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Os moleques
Sabendo serem desgarrados
Destravavam seus breques
Em serem desencontrados

Faltava-lhes o saber da identidade
Descobri-se em um passado plausível
Ver-se na evolução da mocidade
Em um lar compreensível

Mas não lhes foi dada explicação
Nem sentido da clemência
Nem pedido, nem razão
Para sua permanência

Viviam por viver
Por invencionice
Viviam por nascer
Sem que alguém os permitisse

Abandonados
No porão de um orfanato
Sendo assim desfigurados
No humano e seu retrato

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Os moleques eram órfãos
E eu estava no meio deles sem me envergonhar!
Minha vida é curta
Dura, diante dos comerciais contrários!
Meu cárcere é espesso, grosseiro, não derrete nem sob mil graus!
Subo mil degraus e não encontro o final da escada
E a realidade é tão séria como o circo ao incêndio dos palhaços,
Pois nem meu hip-hop consola mais a sombra da minha insignificância
E nem toda a ostentação suporta o peso da veracidade

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O mundo me usa
Ao agrado parnasiano
E me recusa
O verso camoniano
Não tenho honra nem musa
Não tenho templo nem plano
A vida é pouca e Severina
Louca e madrasta carnificina

Solidão
No meu retiro na multidão

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Somos uma falange
Outrora negada pelo sistema
Zunido como abelhas de um enxame
Invadindo os isolamentos propositais;
Nação sem cara
Homericamente mostrando seu rosto
Olhando a palidez da polidez
Sendo enfim mortos de fome.

Sendo enfim cheios de vida!
O braço que nos impede a pedir banha-nos com seu sangue;
Nós somos encharcados
Havendo assim a benção que ignoraram em prestar
A afirmativa de um futuro inevitável;
Matamos e nutrimos
O pavor que nos atira para a vida;
Somos assim não só uma falange como uma visão intransponível.

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Em esperar ter condições
Só restaria estacionar
Ao choro das lamentações

E logo quando o meu lugar
For definido às lotações
Na margem sem quem se importar

Ou mantenho insurreições
Ou vou me colocar
Abaixo das aspirações

Se calar minhas intenções
Alguém vai me sacanear
E se buscar santas missões
Cair no desenganar

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Estamos descontrolados!

- Foi ele, tia, eu vi!
- Não, eu não fiz nada!

- Cala a boca molecada!
Ou vai entrar na porrada
Cambada de desajustados!

Nem suas mães os quiseram
Desde o dia que vieram
E ainda bem que não nasci
No mesmo mal em que estiveram

Enquanto existir distração
Restrito será seu contato:
Problemas não chamam a atenção
Ao veio da escuridão
Silêncio do assassinato

Eu me calo e penso então
Em como o mundo é ingrato
Por sobras ajoelhadas
Firmo-me em concubinato
Em estruturas niveladas
Para minha exploração

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A noite chega aos esquecidos
E com ela sonhos contidos
De um sono forçado

Sinto-me encarcerado
No meu instinto debelado
Pelo pânico dos inibidos

E os olhares entristecidos
Cerram-se em luto fechado
Da morte sem celibato

Estamos envelhecidos
Tão jovens e tão cansados
Estamos aprisionados
Na cela de um orfanato

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Resistência Poética da Poesia

Discursos e convicções
Virtudes
Debate acalorado
Abobalhado
Na descrença da velhice
Ou luxúria das juventudes
Prostituições
Entre outras marcas
Barcas
Furadas
Charadas
E bombásticas declarações
Reflexões
No espelho maquiado
Hosana para chatice

Fazei política
Filosofia
Pedagogia
Demagogia
Lenda mítica
Amargurada
Fazei caras e bocas, caretas!
Carnavais e micaretas!
Enfim, nada
Adote um cachorro

Poema
Pois é, sem poesia...
Enchendo a cara nos feriadões
Holerite
De pequenas frustrações
Pequena burguesia
Freguesia
Dermatite
Subindo o morro

Não é esperado
Nosso instinto desesperado
Pelo andróide do estado
E pela imensa minoria

Páginas

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